Evolução das artes gráficas em Curitiba.
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.Transcrito do datilografado por Alan Witikoski
3. A consolidação da produção gráfica e o desenvolvimento da Litografia paranaense.
Em 1902, a
Baronesa do Serro Azul vende a Impressora Paranaense para Francisco Folch, que
de há muito exercia a sua direção técnica, que concentra-se nas atividades
tipográficas e litográficas. A firma alcança a Medalha de Ouro na Exposição do
Cinquentenário (1903), pelas litografias exibidas.
Efetivamente, é nas duas primeiras décadas do século que se multiplica o número de empresas gráficas especializadas, muitas das quais até hoje em franca atividade. Graças à adiantada estrutura técnico-industrial curitibana se pode produzir revistas satíricas “Olho da Rua” e “A Carga”, impressas em policromia e papel couchê. Em 1911 surge o “Paraná Moderno”, o primeiro a imprimir fotografia (clichê com retícula), dos irmãos Weszfog. “A Noite” e o “Commercio do Paraná” são os dois primeiros periódicos impressos em linotipo.
Exemplo do perfeccionismo técnico e artístico de
Folch é a revista “Paraná”, de Romário Martins, que se comparava às melhores
revistas brasileiras da época. Em 1912, Folch fez fusão com a litografia de Max
Schrappe, de Joinville, que possuía uma filial no Recreio Cruzeiro, no Batel,
montada em 1910.
A Impressora Paranaense não poupou esforços nem recursos para manter-se na
vanguarda do setor gráfico, acompanhado a evolução dos processo de impressão,
como bem atestam alguns rótulos atribuídos ao litógrafo Raschendorf (1914-1917),
bem como a implantação de moderna clicheria, em 1929. Neste mesmo ano,
provavelmente, a sua equipe de desenhistas-litógrafos criou as figurinhas que
embrulhavam as famosas Balas Zequinha, no formato 5x7, obedecendo às indicações
dos donos da empresa que as fabricava., A Brandina, dos Irmãos Sobania. Os exemplos
pioneirismo se repetem a cada novo passo, como ocorreu em 1936, com a
implantação do sistema “Offset-tied”.
Em 1914 retorna ao Brasil o litógrafo alemão Germano Henrique Guilherme
Kirstein, trazendo para Curitiba uma prensa de mão, com a qual, em 1917, fez as
primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil, experimentalmente, utilizando-se
de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, com a finalidade de
serem utilizadas em copo, aplicadas a fogo, utilizando retrato do então
Presidente Wenceslau Braz.
O gravador alemão Alexandre Schroeder, que estabeleceu-se em Curitiba no início
do século e trabalhou algum tempo na Impressora Paranaense, onde conheceu
Rômulo Cesar Alves, que funcionava à rua São Francisco n.º 37 (hoje n.º 215),
com a participação de outros sócios, o Barãozinho do Serro Azul (Ildefonso
Serro Azul) e Evaldo Wendler. A regra da casa era o rigor quanto à perfeição do
trabalho, procurando a melhor impressão. Não obstante, a permanência de
Schroeder nessa firma foi bastante curta, motivada pelo preconceito quanto à
sua origem germânica. A Litografia Progresso teve sua atuação intensa na vida
curitibana, sobretudo no período entre guerras, criando etiquetas e rótulos, a
bem dizer, para todas as indústrias e casas comerciais da cidade; nesse período
a cidade se torna centro universitário, a economia paranaense se tonifica e o
pinho vai substituindo o mate como eixo industrial.
Em 1920 Schroeder associou-se a Kirstein, fundando a Litografia “Schoroeder e
Kisrtein”, à rua Assunguy (atual Mateus Leme), números 57 e 59; essa associação
seria de grande importância para o desenvolvimento da nossa indústria gráfica,
pois ambos tinham, desde o início, o propósito de intensificar os ensaios para
a produção das decalcomanias, chegando inclusive a fazer a primeira experiência
de decalcomania em louça. Esse esforço pioneiro interessou o industrial
Francisco Fido Fontana que, com os dois especialistas alemães e outros
empresários locais, formaram a Sociedade Metalgráfica Limitada, visando
“Indústria e comércio de estamparia, litografia, tipografia fabricação de latas
e outros”, que entrou em operação a 15 de agosto de 1954, instalada num sobrado
da atual Avenida João Gualberto, n.º 9.
Na qualidade de desenhista chefe da Metalgráfica, Schroeder executada trabalhos
de alto nível artístico, marcadas pelo bom gosto na escolha das cores e pela
execução limpa e meticulosa. Com o seu falecimento, ocorrido em 1934, assumiu o
seu posto Rodolpho Doubek: “fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde
foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo”. Na
composição dos textos dos cartazes litográficos emerge toda uma sociedade, com
suas crenças, valores e mesmo problemas, impregnados em casa uma das palavras
do velho apelo ao consumo. A perda do reinado da litografia como soberana
absoluta em processos de impressão nunca foi admitida como lógica por Doubek,
apesar de alguns estabelecimentos em Curitiba só terem abandonado a litografia
por volta de 1955/1958 (nota: existem informações que pode ter sido posterior, e como meio de reprodução artística se mantém).
A litografia conviveu lado a lado com todo o florescimento e apogeu do mate,
que inclusive condicionava a sua atividade. Para promover as diversas marcas de mate,
produziu-se o mais variado material, desde rótulos de barricas até papéis de
carta, cartões-postais, folhetos, marcadores de livros ou mesmo cupons e
vales-brinde.
Os demais clientes das litografias eram principalmente fabricantes de doces,
bolachas, produtos alimentícios e bebidas, estas com os rótulos mais cuidados e
sofisticados (vinhos, runs, uísques, vermute, gengibirra, gasosas, guaraná,
capilé, etc.), além de cigarros, charutos e produtos de perfumaria. Em Curitiba
havia também algumas cervejarias e fábricas de “phosporos”, que não puderam
sobreviver muito tempo à concorrência das filiais das grandes empresas, e assim
se foi também a litografia, atropelada pelo Offset.
Durante toda uma certa época, os rótulos e embalagens desses produtos
industrializados de grande consumo se constituíram num importante meio de
comunicação popular, através de seus desenhos, a população tomava conhecimento
dos modismos em voga e participava de uma visão do mundo, realista ou onírica,
cuja repetição constante, durante anos, criava uma nova imagem mental,
constituindo um dado referencial compartilhado com outras pessoas.
Posteriormente, a Sociedade Metalgráfica limitou-se a produzir exclusivamente
decalcomanias, sendo incorporada às Fábricas Fontana, que transformaram-se na
mais importante organização do gênero em todo país.