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terça-feira, 28 de maio de 2013

Fragmento de texto sobre a exposição de litografia de 1975

Fragmento de texto, sem autoria, encontrado na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Digitalizado do datilografado por Alan Witikoski. Acredito que o texto tenha sido produzido por Rosirene Gemael.

Rótulos Antigos.

Para o mês de outubro, a Casa Romário Martins já tem praticamente montada, a exposição de Rótulos Antigos, que, mostrará coleções de rótulos, cartazes e pedras litográficas, material reunido depois de dois meses de trabalho através de cerca de oitenta contatos entre gráficas, descendentes de proprietários de litografias já extintas, e nas próprias indústrias. A idéia inicial era diferente. Localizamos uma coleção de cerca de 2OO rótulos toda desenhada por uma mesma pessoa entre 1914 e 1916 preservada por um colecionador. Pretendíamos, então, nos restringir na tentativa de obtenção deste material e sua exposição. Porém, ao observarmos detalhadamente a coleção, constatamos  que documentava uma fase importante de nossa indústria gráfica, em sua fase "litográfica" tão artesanal e da qual restam pouquíssimos resíduos. E constatamos também, que através daqueles rótulos, obtém-se informações das mais variadas naturezas, como, por exemplo, hábitos de consumo de urna determinada época, e entre outras coisas, um tipo de economia, um tipo de estabelecimento industrial e de um tipo específico de comércio. 

Caracterizados para nós como "fontes de informações" achamos que devíamos passar imediatamente para uma verdadeira "busca" de rótulos desta época (1914-1916), de épocas posteriores e se possível, dos primórdios da fase litográfica. O que mostraremos em nossa exposição é o resultado de um trabalho que será realizado indefinidamente, de acompanhamento de uma atividade que não pretende rotular-se de "pesquisa" mas apenas de coleta de material que seria fatalmente destruído. 

(Na maioria de nossos contatos verificamos a quase total ausência de preocupação de arquivos, documentação e preservação deste material, que segundo depoimentos tem sido, regularmente vendido como entulho).

Incentivo a Documentação

Descobrindo nos compradores de papel nossos maiores "concorrentes" para a obtenção de velhos documentos, fotografias e outros materiais de interesse, além de enriquecer nosso próprio acervo, procuramos incentivar nas pesquisas, as pessoas envolvidas pela preocupação pela documentação. Nos casos mais favoráveis, chegamos inclusive a receber a promessa de organização de pequenos museus, que serão catalogados por nós . A iniciativa mais concreta partiu da Indústria Todeschini, que preserva grande volume de material de interesse histórico e que vai partilhar a organização de um museu. No casos em que não conseguimos  sensibilizar as pessoas que detém as decisões, obtivemos ,porém, a promessa, de sermos consultados antes que determinados sejam “postos fora". Para guardar este material, no entanto, a Casa Romário Martins precisará dispor de mais espaço físico. Neste sentido, já foram mantidos contatos com o prefeito Saul Raiz para que se proceda a desapropriação da casa ao lado da Casa Romário Marfins, com o que atingiremos dois objetivos: a preservação de mais um prédio antigo no setor Histórico, e a organização de um Museu da Cidade.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 03

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 

Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

3. A consolidação da produção gráfica e o desenvolvimento da Litografia paranaense.

Em 1902, a Baronesa do Serro Azul vende a Impressora Paranaense para Francisco Folch, que de há muito exercia a sua direção técnica, que concentra-se nas atividades tipográficas e litográficas. A firma alcança a Medalha de Ouro na Exposição do Cinquentenário (1903), pelas litografias exibidas.

Efetivamente, é nas duas primeiras décadas do século que se multiplica o número de empresas gráficas especializadas, muitas das quais até hoje em franca atividade. Graças à adiantada estrutura técnico-industrial curitibana se pode produzir revistas satíricas “Olho da Rua” e “A Carga”, impressas em policromia e papel couchê. Em 1911 surge o “Paraná Moderno”, o primeiro a imprimir fotografia (clichê com retícula), dos irmãos Weszfog. “A Noite” e o “Commercio do Paraná” são os dois primeiros periódicos impressos em linotipo. 

Exemplo do perfeccionismo técnico e artístico de Folch é a revista “Paraná”, de Romário Martins, que se comparava às melhores revistas brasileiras da época. Em 1912, Folch fez fusão com a litografia de Max Schrappe, de Joinville, que possuía uma filial no Recreio Cruzeiro, no Batel, montada em 1910.

A Impressora Paranaense não poupou esforços nem recursos para manter-se na vanguarda do setor gráfico, acompanhado a evolução dos processo de impressão, como bem atestam alguns rótulos atribuídos ao litógrafo Raschendorf (1914-1917), bem como a implantação de moderna clicheria, em 1929. Neste mesmo ano, provavelmente, a sua equipe de desenhistas-litógrafos criou as figurinhas que embrulhavam as famosas Balas Zequinha, no formato 5x7, obedecendo às indicações dos donos da empresa que as fabricava., A Brandina, dos Irmãos Sobania. Os exemplos pioneirismo se repetem a cada novo passo, como ocorreu em 1936, com a implantação do sistema “Offset-tied”.

Em 1914 retorna ao Brasil o litógrafo alemão Germano Henrique Guilherme Kirstein, trazendo para Curitiba uma prensa de mão, com a qual, em 1917, fez as primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil, experimentalmente, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, com a finalidade de serem utilizadas em copo, aplicadas a fogo, utilizando retrato do então Presidente Wenceslau Braz. 

O gravador alemão Alexandre Schroeder, que estabeleceu-se em Curitiba no início do século e trabalhou algum tempo na Impressora Paranaense, onde conheceu Rômulo Cesar Alves, que funcionava à rua São Francisco n.º 37 (hoje n.º 215), com a participação de outros sócios, o Barãozinho do Serro Azul (Ildefonso Serro Azul) e Evaldo Wendler. A regra da casa era o rigor quanto à perfeição do trabalho, procurando a melhor impressão. Não obstante, a permanência de Schroeder nessa firma foi bastante curta, motivada pelo preconceito quanto à sua origem germânica. A Litografia Progresso teve sua atuação intensa na vida curitibana, sobretudo no período entre guerras, criando etiquetas e rótulos, a bem dizer, para todas as indústrias e casas comerciais da cidade; nesse período a cidade se torna centro universitário, a economia paranaense se tonifica e o pinho vai substituindo o mate como eixo industrial.

Em 1920 Schroeder associou-se a Kirstein, fundando a Litografia “Schoroeder e Kisrtein”, à rua Assunguy (atual Mateus Leme), números 57 e 59; essa associação seria de grande importância para o desenvolvimento da nossa indústria gráfica, pois ambos tinham, desde o início, o propósito de intensificar os ensaios para a produção das decalcomanias, chegando inclusive a fazer a primeira experiência de decalcomania em louça. Esse esforço pioneiro interessou o industrial Francisco Fido Fontana que, com os dois especialistas alemães e outros empresários locais, formaram a Sociedade Metalgráfica Limitada, visando “Indústria e comércio de estamparia, litografia, tipografia fabricação de latas e outros”, que entrou em operação a 15 de agosto de 1954, instalada num sobrado da atual Avenida João Gualberto, n.º 9.

Na qualidade de desenhista chefe da Metalgráfica, Schroeder executada trabalhos de alto nível artístico, marcadas pelo bom gosto na escolha das cores e pela execução limpa e meticulosa. Com o seu falecimento, ocorrido em 1934, assumiu o seu posto Rodolpho Doubek: “fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo”. Na composição dos textos dos cartazes litográficos emerge toda uma sociedade, com suas crenças, valores e mesmo problemas, impregnados em casa uma das palavras do velho apelo ao consumo. A perda do reinado da litografia como soberana absoluta em processos de impressão nunca foi admitida como lógica por Doubek, apesar de alguns estabelecimentos em Curitiba só terem abandonado a litografia por volta de 1955/1958 (nota: existem informações que pode ter sido posterior, e como meio de reprodução artística se mantém).

A litografia conviveu lado a lado com todo o florescimento e apogeu do mate, que inclusive condicionava a sua atividade.  Para promover as diversas marcas de mate, produziu-se o mais variado material, desde rótulos de barricas até papéis de carta, cartões-postais, folhetos, marcadores de livros ou mesmo cupons e vales-brinde.

Os demais clientes das litografias eram principalmente fabricantes de doces, bolachas, produtos alimentícios e bebidas, estas com os rótulos mais cuidados e sofisticados (vinhos, runs, uísques, vermute, gengibirra, gasosas, guaraná, capilé, etc.), além de cigarros, charutos e produtos de perfumaria. Em Curitiba havia também algumas cervejarias e fábricas de “phosporos”, que não puderam sobreviver muito tempo à concorrência das filiais das grandes empresas, e assim se foi também a litografia, atropelada pelo Offset

Durante toda uma certa época, os rótulos e embalagens desses produtos industrializados de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular, através de seus desenhos, a população tomava conhecimento dos modismos em voga e participava de uma visão do mundo, realista ou onírica, cuja repetição constante, durante anos, criava uma nova imagem mental, constituindo um dado referencial compartilhado com outras pessoas. 

Posteriormente, a Sociedade Metalgráfica limitou-se a produzir exclusivamente decalcomanias, sendo incorporada às Fábricas Fontana, que transformaram-se na mais importante organização do gênero em todo país.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Breve Histórico sobre a Impressora Pontagrossense

Da Impressora Pontagrossense pouca coisa foi preservada um balanço realizado 30 de dezembro de 1950, um exemplar do Jornal da Manhã de Ponta Grossa, em sua edição de 25 de janeiro de 1964, um exemplar da Revista Operária de Ponta Grossa do dia 30 de novembro de 1929, uma lista de preços do antigo estabelecimento gráfico Express e um exemplar da revista Vida Princesina de novembro-dezembro de 1952.

O artigo da Revista Princesina tem como título “Raiscosk e Traple” e inicia assim:
Tivemos o agradável ensejo em visitarmos nesta cidade a conceituada e acreditada firma Raicosk e Traple, da qual são componentes os nossos prezados patrícios senhores, Miguel Raicosk e Guilherme Traple, autêntico vanguardeiros no comércio tipográfico na Princesa do Campos. Teve o seu marco inicial em 28 de agosto de 1929, quando um grupo de profissionais resolveu criar nesta cidade, em modesta tenda, uma oficina tipográfica que pelo labor continuo de seus componentes, chegou a suprir em grande parte a necessidade dos nossos meios comerciais, avançando sempre para a senda do progresso, pois cada ano que transcorria mais se avolumava seu capital, seus maquinários, acompanhando em cada fase a evolução natural do ciclo artísticos das composições e o perfeito acabamento das encomendas que lhes foram confiadas”.

E no segundo parágrafo: 
“Hoje, do remanescentes daquele pugilo de denodados trabalhadores avulta a figura laboriosa de Miguel Rascoski Sobrinho, que em 1940 prevendo as necessidades do meio, o progresso de nossa terra, sentiu a necessidade de melhor ampliar o seu comércio se aliando em sociedade ao profundo conhecedor do “metier” Sr. Guilherme Traple, verdadeiro artista do ramo, criação da Impressora Pontagrossense, firma esta de elevado crédito, que gira com um capital equivalente a mais de 2 milhões de cruzeiros.”

Depois de enumerar a produção tipográfica da Impressora Pontagrossense o artigo prossegue abordando a figura de Guilherme Traple que “como acima dissemos é um artista na verdadeira concepção da palavra, pois à sua pessoa está confiada a secção de litografia que produz com rara perfeição todo  serviço no gênero, em cores variadas, desenhos artísticos para cartazes, rótulos em geral, materiais para propaganda, etc.”

Alusões ao parque gráfico: 
... Ainda recentemente foi adquirido, sob importação alemã, uma autêntica “ORIGINAL HEIDELBERG”, máquina automática que imprime um mínimo de 5 mil exemplares. Outra conquista de vulto consiste na compra recentíssima de uma rotativa para impressão, com tinta de anilina e clichês de borracha, com rebobinador, cortador de folhas, cortador longitudinal e transversal, em 3 cores, o que vem concorrer para a presteza e perfeição absoluta no concernente aos pedidos ou encomendas que esta firma vem atendendo, não só do nosso estado, mas também e todos os recantos do país. Outra secção digna de citação é a de fabrico de caixas em geral, para calçados, bombons, erva-mate, etc. Os senhores Raicosky e Traple, cavalheiros de fino trato, mantém sob sua orientação nada menos de 50 operários, hábeis e capacitados, que são verdadeiros amigos de seus chefes, pois trabalham em ambientes sadios, com horas de trabalho pautadas dentro do que determinam as Leis Trabalhistas, descanso, remunerações, etc., estando todos satisfeitos em ambientes onde o trabalho se casa perfeitamente com o sentido de estar de produtividade.” 

Acompanham o artigo, fotos de seus fundadores, de maquinário e outra, do mostruário “da bem aparelhada organização Impressora Pontagrossense” na Exposição Industrial de Ponta Grossa em 19 de setembro de 1951 na qual a firma de Raicosk e Traple obteve diploma e medalha de ouro.

O jornal da manhã, de 25 de janeiro de 1964 sob o título “chlicherie-Notável Empreendimento Enriquecerá Parque Industrial de Ponta Grossa”, inicia com uma declaração de Miguel Raicosk:
"Há um longo tempo vimos estudando um esquema de ampliação dos meios de produção com a aquisição de equipamentos especializados, com recursos próprios, visto que, apesar dos esforços, não conseguimos com os órgãos oficiais um financiamento mínimo para dotar Ponta Grossa de moderna clicherie, conjuntamente com aquisição e montagem de uma máquina de impressão Offset, que achamos de adquirir e a qual possibilitará a execução de trabalhos gráficos poli crômicos de propaganda ou cartonagem. ”

Pouquíssimo material confeccionado pela Impressora Pontagrossense foi preservado. Quando o estabelecimento deixou de funcionar os “velhos papéis foram sendo postos fora, para não tomar lugar.” Uma semana antes de dar seu depoimento a Casa Romário Martins uma enorme caixa de velhos impressos, rótulos e embalagens foram queimadas. Por ocasião do nosso primeiro contato, foi “localizada” uma caixa de sapato que acidentalmente escapara da queimada. Nela coletamos alguns rótulos da Impressora Pontagrossense, que agora são mostrados na exposição, e também rótulos confeccionados por outras litografias que haviam sido levados à Impressora para serem reimpressos.

Nota:
Apenas de não constar uma assinatura no artigo, pode-se imaginar que a autoria provável é de Rosirene Gemeal por volta de 1975.
Digitalizado do original datilografado por Alan Witikoski.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Textos da exposição sobre a litografia paranaense em 1975

Material retirado da Casa da Memória (FCC) sobre a exposição ocorrida em 29 de outubro de 1975, que produziu diversos materiais sobre o tema. Digitalizado por Alan Witikoski do datilografado. Infelizmente o original não possui nota sobre o autor do texto, se alguém comprovar o autor, ele será devidamente referenciado.
 
A exposição, “Rótulos e Embalagens Antigos ─ Litografia” é o resultado de um trabalho intensivo de coleta de material gráfico confeccionado em Curitiba pelo processo de impressão litográfico que antecedeu ao processo de impressão Offset. Para obtenção do referido material a Casa Romário Martins fez cerca de oitenta contatos entre industriais, descendentes e proprietários de antigas litografias de Curitiba.
Como resultado, mostraremos ao público, à partir de 29 de outubro:
Pedras litográficas confeccionadas em quatro estabelecimentos gráficos;
- Rótulos e embalagens confeccionados por cinco estabelecimentos;
- Coleção de duzentos rótulos confeccionados na Impressora Paranaense no período de 1914  a 1916;
- Coleção de rótulos e embalagens confeccionados pelo litógrafo Rodolfo Doubek no período entre 1929 a 1938, na Sociedade Metalgráfica;
- Coleção de caixas de fósforo mostrando a evolução da apresentação do produto;
- Coleção de embalagens de remédios manipulados desde o inicio do século;
- Coleção de cartazes publicitários confeccionados em três estabelecimentos gráficos;
- Álbum de rótulos de cervejas antigas de todo Brasil;
A exposição mostrará ainda:
- Painel fotográfico mostrando estabelecimentos gráficos antigos, o ambiente de trabalho de uma litografia, máquinas e litógrafos;
- Painel de documentos fotocopiados recortes de jornal referentes a litógrafos, litografias e sobre a introdução da decalcomania no Paraná;
- Painel especifico sobre a propaganda do Mate;

Todo o material será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos tomados pela Casa Romário Marins entre litógrafos e pessoas ligadas a litografia e que estarão a disposição do público para consultas. Durante a abertura será lançado o boletim, “Schroeder e Kirstein”, nome de dois alemão que segundo os depoimentos caracterizaram-se como verdadeiros pioneiros da indústria gráfica no Paraná e responsáveis pela introdução da decalcomania no Paraná e no Brasil.
Rótulos de barricas de mate, o nostálgico leque de compensado de velhos carnavais, e a bolota da Cervejaria Atlânctica, relíquia do folclórico Bar Okay, relembrando rodas de boemia, são algumas das peças que comporão a exposição, Rótulos e Embalagens Antigo ─ Litografia, que a Casa Romário Martins inaugura no próximo dia 29 de outubro.
E se a nota pitoresca será dada pelos rótulos de Cachaça com seus nomes bizarros: Nº 1, Só-Só, Arrasta pé, Três Tombos, Com esta que eu vou, a embalagem da pasta dentifrícia e os rótulos das cervejas Pomba, Providência e Cruzeiro farão lembrar uma época em que Curitiba tinha pelo menos dez cervejarias, além de centenas de outras pequenas indústrias.

Rótulos e Cartazes
Além de cerva de quatrocentos rótulos e embalagens, de variadas procedências, a Casa Romário Martins estará mostrando velhas latas floridas de biscoito que durante muito tempo serviram de “cestinho de bordado” para as vovós, uma coleção de caixas de fósforo desde o inicio do século, e as simpáticas garrafinhas de folha, brinde de uma cervejaria: elas eram rodadas nas mesas de bar, e quando paravam, apontavam o felizardo que teria que pagar ...
A exposição mostrará, também, o tempo que as firmas davam como brindes miniaturas de bebidas, canetas de pena, e o tempo em que o mate era exportado em barricas artesanais, hoje substituídas por sacos de plásticos. Não faltarão os cartazes de publicidade anunciando cervejas com apelos suis generis de, “auxilio a nossa agricultura”, ou o cartaz da Confederação dos Tingus.

Pedras e Fotografias

Pedras litográficas desenhadas em vários estabelecimentos gráficos darão ao público uma ideia do processo de impressão que antecedeu o Offset, quando o desenho de um rótulos precisava ser feito diretamente na pedra calcária, duríssima, importada e difícil de trabalhar. As possibilidades de correção eram mínimas e as palavras precisavam ser escritas da direita para esquerda.  Painéis fotográficos completarão a visão do processo litográfico, que será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos gravados pela casa Romário Martins com ex-litógrafos, descendentes e proprietários de antigas litografias.
Oscar Schrappe, da Impressora Paranaense, conta, entre outras coisas, como a Questão do Contestado influiu nos negócios da empresa; Rodolfo Doubek explica que no tempo da litografia não havia agência de publicidade e era o próprio litógrafo quem criava rótulos e embalagens, “colocando inclusive o dístico”, e Otto Schnneck fala no salário de aprendiz de litógrafo: “dava para comprar dois pares de sapato, e conta, também que uma das funções do aprendiz era procurar modelos para rótulos em revistas estrangeiras: “o trabalho não era copiado, mas tirava-se uma ideia”.

Decalcomania e Boletim

O depoimento de Miguel Raicosky, proprietário da Impressora Pontagrossense, hoje Cartográfica Industrial conta que apesar de ter oficina em Ponta Grossa dependia dos litógrafos curitibanos que faziam aqui o croqui de seus rótulos, trabalhando como “freelancer”, e Otto Stutz relembra que o litógrafo precisava fazer reduções à mão livre, de até vinte vezes porque era moda mostrar nos rótulos, a fachada de complexos industriais. A maioria destes depoimentos faz referências ao nome de dois alemães, Schroeder e Kirstein, apontados como pioneiros na litografia em Curitiba, e são notícias extraídas destes depoimentos que compõe o boletim que a Casa Romário Martins estará lançando no dia 29, sob o título “Schroeder e Kirstein”. Alexandre Schroeder nasceu na Alemanha onde aprendeu o ofício de litógrafo e veio ao Brasil no inicio do século. Estabeleceu-se em Curitiba e participou na criação de três estabelecimentos gráficos: Litografia Progresso, Sociedade Metalgráfica e Schroeder e Kirstein, este último juntamente com outro técnico, onde foram produzidas em escala industrial as primeiras decalcomanias do Brasil.

Nota:Acredito que existe uma falha cronológica no texto, Schroeder, de acordo com relatos, trabalhou na Impressora Paranaense, ainda na época de Jesuíno Lopes, onde conheceu Rômulo Cesar Alves. Com a compra por parte da familía Schrappe (de Santa Catarina) pediram demissão e fundaram a Litografia Progresso.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Entrevista: Rodolpho Doubek comenta sobre a Sociedade Metalgráfica

A página de apresentação estava faltando, assim acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

Notas:
No texto existem alguns pontos interessantes. O que trata da aproximação dos litógrafos com as artes plásticas, as funções dentro de uma littografia, no caso a Litografia Metalgráfica e, quais e como eram criados os materiais gráficos.


1. Para começar, queríamos seu nome completo
Rodolfo Doubek. Nasci em Curitiba, num domingo de Páscoa, 15 de abril de 1906.

2. O senhor sempre gostou de desenho?
Sempre, desde guri sujava as paredes.

3. E estudou desenho?
Sim. Entrei no curso de pintor decorador da Escola Alfredo Andersen em 1926 ou 1928, não lembro direito. Depois abandonei e só voltei mais tarde, quando Andersen já havia morrido e o ateliê era orientado pelo filho dele. Daí estudei pintura mesmo e desenho, por quatro anos.

4. Conviveu durante quanto tempo com o Andersen?
Um ano e meio, mais ou menos.

5. Por que motivo o senhor abandonou a escola da primeira vez: acabou um curso específico ou desinteressou-se?
É fiquei doido pelo esporte, principalmente atletismo e basquete e acabei abandonando a pintura temporariamente. Comecei na Sociedade Duque de Caxias. Depois fui para o exército e lá me tornei mais desportista ainda, porque assim me livraria do trabalho do quartel. Mais tarde pratiquei esporte também na Sociedade Rio Branco.

6. O senhor chegou a participar de competições?
Ninguém acredita, mas eu sou campeão brasileiro de basquete. Foi em 1930. Neste ano São Paulo e o antigo Distrito Federal brigaram com a Confederação Brasileira de Desportos e se retiraram. Concorremos com Minas Gerais e o Estado do Rio, e vencemos.

7. Participou de outras?
As Ligas Atléticas do Paraná e do Rio Grande do Sul costumavam organizar campeonatos sul-brasileiros de atletismo, basquete e vôlei, e sempre os gaúchos levavam a melhor. Mas aí também fui campeão sul-brasileiro de basquete, pois conseguimos vencer uma vez em Porto Alegre.

8. Quando o senhor voltou a estudar na Escola Alfredo Andersen já havia deixado o esporte de lado?
Continuei no esporte, mas daí tudo já era mais regrado, e a escolha sob a orientação do filho de Andersen não era a mais a mesma de antes. No fim, larguei também aquilo e fui trabalhar como litógrafo na Sociedade Metalgráfica.

9. Este foi então seu primeiro emprego?
De profissão fixa foi, e fiquei na Sociedade cerca de nove anos.

10. Começou a pintar quadros na época?
Bem, eu já pintava desde a época em que era decorador, mas aí só fazia cópias.

11. E este trabalho do pintor decorador como era?
Fazia frisos, motivos gregos nas paredes. Naquele tempo usava-se muito chapeado e pintura à mão. Me especializei nisto e trabalhei nove anos.

12. Há ainda hoje alguma residência com parede decorada pelo senhor?
Duvido. Engraçado, numa de suas mudanças, o Departamento de Terras foi parar no Edifício Lins, na antiga rua Conselheiro Barradas, (do Clube Concórdia) e no quarto que antes fora ocupado pelas crianças ainda havia o meu friso.

13. Muita gente dedicava-se a este tipo de trabalho?
Naquele tempo não havia muito pintor. A maioria era de origem alemã, e eu era muito disputado. Todo mundo me convidava para trabalhar, mas sempre fiquei na firma do Roessie que era meio parente meu.

14. As, o senhor não trabalhava por conta própria, havia uma firma constituída só para este fim?
É era empregado. Era a firma Germano Roessie onde trabalhavam pai e filho, só para fazer decoração em paredes. Trabalhei com eles até 1928. Depois quando saí do exército trabalhei com um primo que era litógrafo. Ele sentou praça, e em virtude de seu desenho cartrográfico, foi mandado para o Rio de Janeiro, trabalho no Serviço Geográfico Militar. Quando voltou, ingressou na Universidade e fez curso de Agronomia. Continuou trabalhando no Estado e como tinha muito serviço particular de litografia, pediu para que eu trabalhasse com ele. Fiquei durante alguns meses.

15. Chegaram a constituir firma e registar uma litografia?
Não, não havia litografia. Naquele tempo era comum os desenhistas serem procurados particularmente. E assim foi. O meu primo me ensinou a fazer letras, trabalhamos juntos e depois, quando terminou a enxurrada de serviço, ele me arranjou emprego na Sociedade Metalgráfica.

16. Qual era o seu setor na Sociedade Metalgráfica?
Só litografia. Desenho sobre pedra e zinco. Mais tarde, com o falecimento do senhor Schroeder, que era um dos chefes da firma, passei a ser o Primeiro Desenhista. Daí trabalhava mais o croqui, dando ideias, estas coisas.

17. Então o senhor convivei muito pouco tempo com Schroeder ...
Bem pouco. Acho que foi um ano, um ano e meio.

18. Muitos litógrafos antigos afirmam hoje terem aprendido com o Schroeder. O senhor lembra de outros mestres no seu tempo?
Não, não lembro.

19. O trabalho do Schroeder era bom realmente?
Para a época era muito bom. Começamos quando a Sociedade ainda era uma metalografia. Trabalhávamos com a impressão sobre metal, folha de Flanders, fazendo embalagens de latas. Latas para banhas, por exemplo, com aquele bruta porco na frente. Era um serviço bem grosseiro. Só mais tarde é que começamos a trabalhar papel. Fazíamos rótulos, especialmente para barricas de mate. Agora, decalcomanias fizemos desde o ínicio.

20. O senhor tem ideia de quem tenha introduzido a decalcomania aqui? Parece que várias pessoas concordam que tenha sido a dupla Schroeder e Kirstein.
Os dois juntos. O Kirstein sabia a técnica, o Schroeder desenhava, e eles fabricaram as primeiras.

21. E isto parece que foi feito antes da Sociedade Metalgráfica. Numa firma que pertencia aos dois é isto mesmo?
Isto mesmo, era a firma Schroeder e Kirstein.

22. Mais tarde é que eles passaram para a Sociedade Metalgráfica?
É, depois se associaram a firma Fontana, constituíram a Sociedade Metalgráfica e introduziram a impressão em metal.

23. O senhor sabe alguma coisa à respeito da saída do Schroeder da Sociedade? Parece que a família tem muita mágoa à respeito.
Pois é, eu só soube disto por intermédio do filho dele, no último sábado. Só sei que o Schroeder morreu de pneumonia, contraída quando foi ao enterro de um filho do proprietário da Impressora Paranaense. Choveu neste dia, ele resfriou-se e depois complicou.

24. Á respeito do seu trabalho na Sociedade Metalgráfica, o que fazia o primeiro desenhista?
Vinham pedidos de todos os tipos: rótulos, mapas, e até música. Fizemos cartazes propaganda em geral. Tudo o que aparecia e que podíamos fazer, fazíamos.

25. Só para cliente de Curitiba?
Não, de toda parte. Trabalhamos até para o Uruguai, principalmente para exportadores de mate. Tínhamos representantes em todos os Estados do país.

26. A Sociedade Metalgráfica começou fazendo só decalcomanias e latas?
Quem pode lhe contar isto é o Constante Moro, porque eu não participei do começo.

27. E como era feito o trabalho: hoje, quando a pessoa precisa de uma embalagem vai a agência de publicidade ou ao departamento específico de empresa e lá há pessoas, por exemplo, só para dar a ideia que só dão o texto, e outra que desenham.
Naquele tempo era bem diferente, não havia nada disto. Algumas firmas vinham com uma ideia mais ou menos bolada e cabia ao primeiro desenhista desenvolvê-la, fazer o desenho e submetê-lo a apreciação. Mas, geralmente era o próprio desenhista quem dava a ideia, desenvolvia, e punha o texto também. Uma exemplo foi a ideia de um cartaz que fiz para uma facção política, mais tarde a UDN, a Confederação dos Tinguis. Bolei uma pessoa segurando um pinheiro, evitando que ele caísse. Eles gostaram, inclusive dístico que foi completado apenas por uma palavra pelo Erasto Gaertner. Fiz assim: “O Paraná confia na capacidade e no esforço de seus filhos”, e mandou finalizar: ”filhos dedicados”.

28. Quer dizer que além de desenhar o senhor tinha que dar também o texto?
Quase sempre era a gente mesmo que punha o dístico.

29. Mas então era difícil, e o primeiro desenhista tinha que ser o homem dos sete instrumentos.
Não, porque naquele tempo a gente não levava tão à sério este negócio. E também havia o plágio. A gente aproveitava uma ideia daqui, outra dalí e formava o texto junto do anúncio. Eu pouco usava este recurso porque geralmente tinha o dom para bolar a ideia mais ou menos. Mas ideia razoável para aquele tempo, porque se fosse hoje em dia não. Está tudo modificado, avançadíssimo. No meu tempo era tudo simples; quando vejo os cartazes atuais, sinto-me envergonhado.

30. Aconteceu de levarem à Sociedade Metalgráfica algum produto para o senhor escolher o nome, um lançamento?
Não trabalhávamos sempre com marcas e nomes já registrados, e estes nomes eram sempre escolhidos pelo próprio dono da empresa.

31. Lembra de algum problema, algo fato marcante no seu serviço?
Aconteceu que já tínhamos a justiça em cima da fábrica. Um dos casos envolveu aqueles enfeites imitando madre-peróla que uma determinada indústria costumava colocar nas máquinas de costura. Uma firma, não quero dizer o nome, encomendou os tais enfeites e nós fizemos, copiando direitinho. Seu proprietário recebia máquinas velhas para consertar, consertava e depois colocava a placa. Outro caso tivemos com os desenhos da Walt Disney. Começamos a fazer decalcomanias de todos os tipos inclusive daquelas figurinhas bonitinhas e aí veio uma multa em cima. Com a multa, a fábrica já aproveitou e comprou os direitos de reprodução e continuamos.

32. Depois de quanto tempo a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrentes na confecção de decalcomanias?
Não sei. Só posso dizer que mais tarde surgiu uma fábrica em São Paulo, e depois surgiram fábricas de decalcomanias a quente que nós também fabricávamos. Era uma impressão normal, com breu em pó por cima. Depois ia ao forno, o breu derretia, e ficava preso na tinta. Dá punha-se o papel em cima, passava-se o ferro, e o desenho ficava.

33.As decalcomanias produzidas aqui eram vendidas em todo o Brasil?
As decalcomanias para crianças (figurinhas, bandeiras, personagens históricos, brasões) iam para todo país, pois tínhamos representantes em todos os Estados.

34. Quais eram os tipos de decalcomanias?
Fazíamos inclusive decalcomania para louça, atendendo pedido específico de temas, de acordo com o interesse do comprador: sobre datas, festejos, paisagens, etc. O volume de venda destas decalcomanias era tão grande que as outras, para crianças deixávamos em segundo plano. Era quase que só para a louça e os pedidos maiores vinham de São Paulo e Campo Largo.

35.A decalcomania para louça é muito diferente?
São tintas especiais, mas a decalcomania é tirada normalmente. Molha-se o papel na água, coloca-se na xícara ou no prato e deixa secar. Depois leva-se ao forno, lá ele derrete e fica para sempre. No finzinho da minha permanência na Sociedade Metalgráfica,, ao invés de desenhar a decalcomania na pedra já se estava usando a fotografia, o que facilitou em muito.

36. E era muito difícil desenhar decalcomanias?
Sim; era preciso saber alguma técnica, principalmente para a decalcomania em louça; As cores, por exemplo, não podiam ser impressas umas sobre as outras senão a louça rachava no forno. Mas além do conhecimento na aplicação da tinta, o processo era o mesmo.

37. E o desenho na pedra. É muito complicado?
Não até que é bom, muito bom.

38. Mas tem que ser feito com pena, não é?
Sim e com uma tinta especial em forma de bastão. Coloca-se esta tinta num vasilhame Côncavo e vai esfregando, esfregando, até aparecerem estrias mais claras. Depois deixa-se a tinta descansar e no outro dia já pode começar a trabalhar. A tinta é boa de trabalhar porque não borra, não se espalha, faz traços finíssimos ou grossos, como quiser.

39. Com que o senhor aprendeu a trabalhar na pedra?
Com o meu primo, aquele que falei no inicio da entrevista. O processo só é meio complicado porque a gente tem o desenho e para fazer a matriz tem que fazer cruzetas na extremidade. A matriz de cada cor tem que ter suas cruzetas coincidentes com as cruzetas das outras cores, senão borra tudo.

40. Porque o senhor que tem tantos quadros, preferiu ser litografo em vez de pintor?
Acontece que eu não sou pintor; o pinto nas horas vagas. Deixei de pintar porque meu primo chegou a ser chefe da Seção Cartográfica do Departamento de Terras do Estado e me levou para lá. Entrei no Serviço Público e por isto deixei a Sociedade Metalgráfica. Fui especializando em mapas, e depois em mandaram par ao Rio de Janeiro para um curso de cartografia com duração e dois meses. Entrei no Estado em 1938 e permaneci até me aposentar.

41. Os mapas eram feitos, então, em pedras litográficas?
No meu trabalho não. Eu desenhava em papel canso e mandava para as litografias. Eram elas que faziam o trabalho de impressão.

42. E decalcomanias, quais eram os temas mais frequentes?
Flores, animais, e principalmente bandeiras de todos os países, as armas da República, dos Estados, emblemas, além de motivos próprios para crianças como bonecos, animais e objetos.

43. Lembra alguma história interessante a respeito dos rótulos?
Interessante não. Aquilo era um trabalho tão corriqueiro. Aquele tempo o Norte do país com exceção do Recife era muito primitivo. Tinhamos muitos fregueses por lá, Ceará, Bahia, e era muito fácil contentá-los.

44. Quando o senhor entrou na Sociedade Metalgráfica, quem mais fazia rótulos em Curitiba?
Só a Impressora Paranaense, que era a mais antiga, e a Litografia Progresso.

45. A Litografia Pradi começou em que época?
Ah, não recordo, só sei que quando a Sociedade Metalgráfica se desfez das máquinas de imprimir em folhas de flanders, se não me engano, foi a Pradi quem comprou.

46. A Sociedade Metalgráfica acabou em que época?
Ela não acabou. Com a saída do Schroeder e depois, com o falecimento do Kirstein ela mudou-se para a rua João Negrão com o nome de Fábrica Fontana.

47. O Kirstein era bom profissional?
Era muito bom. Sabia de tudo, aquele. Era um homezinho, do mesmo tamanho do Schroeder, só que era magrinho e manco e o Kirstein era forte. Além disto, era um brincalhão de mão cheia. Posso contar uma coisa não muito boa? Quando apareceu a ordem do governo para todo mundo de inscrever, por causa da carteira de saúde, o Kirstein chegou na Sociedade onde trabalhavam muitas moças e disse: “Amanhã venham todas de calça limpa para receber o pessoal da Saúde Pública.

48. O senhor lembra mais alguma coisa sobre ele? Está difícil obter informações por que toda a família desapareceu.
Está família foi perseguida pelo destino. Ele teve dois filhos, ginastas de primeira ordem. Pois um morreu em consequência de uma operação de apêndice, e o outro afogou-se. Depois, para o casal não ficar só, resolveram adotar uma moça. Ela estudou era inteligente, foi bancária, mas acabou se suicidando. Antes de acontecer tudo isto, o Kirstein tinha em mente abrir uma fábrica de conservas em Paranaguá.

49. Parece que o Schroeder e o Kirstein tinham um amigo que soprava da Alemanha as últimas novidades no ramo, e eles introduziram aqui, como no caso da decalcomania.
Pode ser, não posso afirmar. Só sei que fazíamos coisas como cartazes em relevo, que naquele tempo ninguém conhecia. A pedra era preparada com asfalto e a parte que sairia no relevo ficaria descoberta, o ácido ia comendo. Isto diversas vezes até chegar na profundida necessária. Depois fazia-se o contrário, para se obter o positivo e o negativo, pois eram duas chapas.

50. Este tipo de cartaz foi usado para que, por exemplo?
Lembro que fizemos um sobre o Hotel Johnscher que foi pregado em trens. Tínhamos um contrato e o trabalho foi feito em uma semana. Fiz o cartaz durante uma noite e depois as matrizes. E até que ficou bonitinho. Dizia mais ou menos assim: ”Vai a Curitiba, hospede-se no Hotel Johnscher!”

51. Lembra do nome de pessoas que tenham sido bons litógrafos, reconhecidos pela maioria?
Havia um alemão muito bom, mas já esqueci o nome. O Wenceslau Fraple trabalhou, também com lápis litográfico, mas foi por pouco tempo.

52. O litografo ganhava bem?
Eu era o primeiro desenhista e quando saí da Sociedade Metalgráfica ganhava 16 mil réis por dia. Passei para o Estado ganhando 360 mil réis por mês, mas lá trabalhava meio dia, com mais liberdade. Na Sociedade, não, era trabalho no duro, das sete horas da manhã às cinco horas da tarde.

53. Como era composta a equipe de trabalho: quem trabalhava além do primeiro desenhista?
Havia os litógrafos e na Sociedade chegamos a trabalhar até com três. O melhor deles era Rodolfo Koerpel rápido e eficiente, já falecido.

54. O que precisava ser para chegar a primeiro desenhista?
Primeiro desenhista precisava, além de saber desenhar, ter ideias para desenvolver o croqui.

55. Antes do senhor, o primeiro desenhista sempre foi o Schroeder?
Sempre, desde a fundação da Sociedade.

56. Porque os rótulos de gasosa eram tão parecidos?
É que o produto era muito baratinho e não pagava rótulos caros. Então as fábricas usavam a mesma matriz, só mudando o nome do produto. O mesmo desenho.

57. E este anúncio da Cerveja Imperial Pilsen com a garrafinha recortada, é que sobre para a mesa, a ideia foi sua?
Não, foi copiado de uma revista alemã. Depois fizemos uma garrafinha em folha com um prego e dois palitos atrás. A pessoa tirava os palitos, rodava a garrafa e quando ela parava apontava o gargalo para a pessoa que teria que pagar a conta do bar.

58. Alguns poucos rótulos levavam dourado.
Estes rótulos eram considerados de luxo. Davam mais trabalho porque eram impressos em verniz e imediatamente passava-se em chumaço de algodão com purpurina em cima e deixava secar.

59. Muito rótulos foram feitos em letras góticas, por que? Era moda?
Não, é que letras góticas eram a minha especialidade.

60. E este rótulo da Fábrica Princesa, de Ponta Grossa parece diferente dos demais.
Este foi o meu de mais folego. Eu dei a ideia, fiz o desenho e eu mesmo quis passar para a pedra. Deu muito trabalho porque eram cinco cores, cada uma numa pedra diferente, e levei de três a quatro dias para desenhar cada pedra. Devo ter levado um mês para concluí-lo.

61. E esta música “Adoração” porque o senhor guardou?
Guardei todos os meus trabalhos. A Sociedade imprimia muita música e esta, “Adoração”, tem letra e música de Emydio de A. Trilho que era tesoureiro da firma. Fiz a capa com lápis litográfico, e acho que ficou horrível.

62. Estas decalcomanias de vultos históricos, como o senhor desenhava?
Procurava modelos em livros e reduzia. Era copiado. Este D. Pedro que fiz, por exemplo, ficou com o nariz meio fora de jeito.

63. O senhor fez muitos cartazes, qual foi o primeiro?
Este, da Exposição Rodoferroviária e Feria Inter-Estadual Comemorativos do Cinquentenário da Estrada de Ferro do Paraná, do ano de 1935.

64. Chegou a receber algum prêmio?
Tirei, quando já estava na Sociedade Metalgráfica. Fizeram um concurso de cartazes para uma Companhia de Aviação e tirei o primeiro lugar. O engraçado que o prêmio era uma viagem de avião para São Paulo, e como eu tinha medo, vendi aos  filhos do Fontana.