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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Entrevista com Leonardo Born. A formação da gráfica Born e seu período de aprendiz na Sociedade Metalgráfica.

Entrevista cedida provavelmente a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Data provável é julho de 1975.

De todos os litógrafos entrevistados, Leonardo Born, da Gráfica Born mostrou-se mais entusiasta de seu antigo trabalho e não escondeu certo saudosismo pela arte litográfica, orgulhando-se de ter sido dos últimos a abandonar aquele sistema de impressão. Inaugurou o Offset com a edição do primeiro jornal grego do Paraná.

Em seu depoimento gravado em julho, Leonardo fala da época em que as fábricas de bebidas costumavam distribuir miniaturas, conta sobre o seu aprendizado na Sociedade Metalgráfica e mostra, com muito empenho, a importância do trabalho de dois alemães, Alexandre Schroeder e Germano Kristein no desenvolvimento da litografia no Paraná, especialmente pela introdução da decalcomania no Brasil, confeccionadas inicialmente numa pequena litografia da antiga rua Assunguy.

Entusiasta de seu mestre, tenta achar livros alemães sobre litografia que teria ganho dele: enterrou tudo no quintal durante a guerra e não consegui mais localizar.

A Gráfica Born foi criado em julho de 1947 por três sócios dos quais apenas dois ainda vivem: Leonardo Born, nosso entrevistado, e Irvino Born, seu primo. Situada à Rua Mateus Leme, está gráfica começou a operar em Offset em 1954, sendo o primeiro trabalho no novo processo, a confecção de um jornal em grego, o primeiro da América Latina. Sem compreender uma só palavra daquele idioma, Leonardo e Irvino limitavam-se a imprimir o jornal que era redigido e composto pelo jornalista grego, que também era o diretor e patrocinador. “O jornal durou cerca de dez anos e terminou com a morte de seu criador. As tiragens eram de 1000 exemplares mensais, distribuídos para todo o país especialmente para a colônia grega de Florianópolis”.

Apesar de dispor do equipamento para impressão em Offset, a Gráfica Born continuou um bom tempo a trabalhar com pedras litográficas e seus donos afirmam com certo orgulho, terem sido os últimos em Curitiba a deixaram a litografia em segundo plano; e afirmam, não sem certo ressentimento, que hoje em dia é praticamente impossível só trabalhar com pedras:

A matéria prima é difícil e cara, e não há mais profissionais no ramo. Os velhos mestres já foram embora e os últimos estão indo agora. Hoje é tudo na base do fotolito. A única máquina de impressão litográfica que ainda funciona na cidade é da Companhia Campos Hidalgo. Mas foi adaptada para imprimir zinco. Nela são feitas as latas de sabão e cêra.

A especialidade da Gráfica Born tem sido rótulos, apesar de já ter confeccionados diplomas, o jornal grego, além de pequenos rótulos para miniaturas de bebidas:

Estavam muito na moda. Todo fabricante distribuía as garrafinhas de brinde, até que o governo passou a exigir imposto e nossos fregueses desistiram. Nós fizemos algumas miniaturas bem interessantes, como aquelas com times de futebol nos rótulos. Duas muito disputadas foram do Coritiba Foot ball Club e Palestra Itália, grandes rivais na época.”

Leonardo acha que o melhor rótulo feito na Gráfica Born foi para a Cerveja Guairacá, da antiga Cervejaria Providência, e diz que fazia muito rótulo para Gengibirra, Cerveja de Sanso, e que de modo geral, quem dava a ideia para os rótulos, era mesmo o freguês: “Eles faziam o rascunho direitinho como queriam e a gente obedecia”. Na sua opinião, os melhores rótulos que viu em toda a sua carreira foram aqueles confeccionados pela Litografia Progresso: “o Alves sempre teve bons técnicos e era muito exigente. Teve, também, o melhor impressor, o Adolfo Kloss, e foi sócio, no início de Schroeder, um dos melhores mestres que trabalharam em Curitiba”.

Na Gráfica Born o trabalho sempre foi dividido em dois setores específicos: o de Irvino – impressão e preparo de pedras, e o de Leonardo – desenho. Leonardo desenhou sempre todos os rótulos, apesar de nunca ter frequentado um curso de desenho, além da aula semanal do Colégio Progresso. E desenhar na pedra ele aprendeu com 14 anos, quanto obteve seu primeiro emprego na Sociedade Metalgráfica, - “no tempo que ela funcionava perto do Passeio Público”. Leonardo e Irvino começaram juntos e ambos foram aprendizes de dois técnicos alemães considerados excelentes - Schroeder e Kristein -. 

Estes dois sabiam de tudo. Começaram com uma pequena litografia aqui na Mateus Leme, onde o Leão e o Fontana mandavam alguns rótulos para imprimir. Os alemães conheciam a técnica muito bem mas não tinham capital, e acabaram fechando sua litografia”.

Leonardo se empolga bastante quando fala dos mestres alemães e não esconde sua admiração por ele: 

"Foi o Kirstein, na pequena firma da Mateus Leme que fez a primeira decalcomania do Brasil, desenhada por Schroerder. Aprendemos com eles inclusive chegamos a fabricar decalcomanias aqui na firma por uns quatro anos. Depois desistimos porque os pedidos de rótulos eram muitos. Acabamos vendendo a matéria prima para o Fontana. Assim como nós, muita gente aprendeu a técnica e o desenho na pedra com os dois alemães”, porque eles eram mestres na Sociedade Metalgráfica. Quando o Schroeder morreu, o jornal alemão, Dass Kompass, escreveu muito bonito, mais ou menos assim: ”faleceu um dos maiores pioneiros da indústria gráfica do Paraná”.

Leonardo não se cansa de exaltar as qualidades de Schroeder: 

“Ele me contou que nasceu na cidade de Hamburgo. Quando jovem foi andar de patinete na neve, quebrou o pé que acabou perdendo, por isto tinha que usar sapatos especiais. Homem aleijado e ainda percorreu todo o mundo ... era um verdadeiro artista. Em gravura, então, ele era ótimo. Fazia gravuras na pedra que só ele e mais um outro da Impressora Paranaense sabia fazer. Ao invés de desenhar, gravava na pedra, dentro da pedra. Saiam aqueles rótulos lindos de charutos, cabeçalhos de papel de carta.” 

Leonardo foi aprendiz de Schroeder durante quatro anos, e lembra quando seu mestre perdeu um dedo:   

”Foi durante o trabalho, justamente quando ele fazia gravura. O dedo já estava machucado e depois acabou entrando ácido e ele teve que amputar. Mas continuou trabalhando do mesmo jeito. Schroeder foi um dos primeiros mestres que eu cheguei a conhecer. Saiu da Alemanha e foi parar na cidade portuária de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde trabalhou por pouco tempo na litografia de um alemão.

Do Rio Grande do Sul veio a Curitiba devido o clima e aqui começou a trabalhar na Impressora Paranaense. Mas não era fácil trabalhar com ele. Era muito enérgico. Eu não me mexeria na mesa no começo; só depois é que ele conversava comigo. Os dois eram muito enérgicos. Um dia um aprendiz parou na minha mesa e começamos a falar de futebol: o Schroeder deu bronca na gente e disse para o aprendiz não parar mais na mesa. O Kirstein era um chefe geral, lidava mais com os operários, fazia orçamentos, e o Schroeder era desenhista, litógrafo, fazia croqui, cono o Doubek, dava as  ideias. No final conversamos e ele até me emprestava os livro que sempre recebia de um amigo da Alemanha. Ele era estudioso e ensinava tudo." 

Segundo este depoimento, Schroeder conhece na Impressora Paranaense o Rômulo Cesar Alves com o qual se associou e iniciou um novo empreendimento gráfico:  

“Ele sofreu muito na época da guerra pelo fato de ser alemão. Já estava trabalhando com o Alves e na janela da litografia estava escrito – Schroeder e Alves – com o nome alemão na frente. Um dia quando ele chegou no estabelecimento para trabalhar seu nome estava riscado. Isto foi no ano de 1914, logo depois do Brasil entrou em guerra. O Schroeder ficou magoado e nem entrou mais na litografia. Quanto ele saiu da Sociedade Metalgráfica a família também ficou magoada. Mas direito pois era muito novo e não acompanhei. Mas parece que tinha um contrato de dez anos que terminou e o pessoal da Sociedade não quis renovar. Ele saiu e logo depois morreu. Mas antes de sai já estava doente”. 

Leonardo explica o antigo processo de impressão: 

1- “O processo litográfico era complicado. Primeiro pegava-se uma pedra pequena que era toda desenha à mão. Depois a pedra era preparada, tirava-se a prova, e passava-se o desenho para a pedra grande, matriz, que ia para a máquina. Cada cor tinha que ser passa separadamente. Primeiro o amarelo, depois o vermelho, azul e o preto. O mais difícil de tudo, é que a impressão é direta e por isto os desenhos e os escritos tinham que ser feitos sempre ao contrário”. E depois, todo o material era importando. As pedras vinham da Alemanha, Itália e Bélgica. As pedras eram inglesas e alemãs, a tinha vinha da França. 

Entusiasta da litografia, “que é difícil, mas artística," Seo Leonardo fala que na sua fase mais remota, a litografia do Paraná esteve na mão desenhistas alemães. Era o Schroeder, o Kirstein, o Adolfo kloss, Alberto Thile, todos de origem germânica. Pois foi inclusive um alemão Alois Senefelder que inventou a litografia. Ele precisava marcar o número de peças de roupa que a mãe lavava, e começou a marcar numa pedra. Assim é que começou a litografia.”

Efetivamente, segundo o boletim de Belas Artes (Rio de Janeiro) em seu número especial de outubro/novembro de 1945, a arte litográfica foi inventada por Alois Senefelder, pobre músico de um teatro de Munique, compositor nas horas vagas. Para Imprimir suas obras faltavam-lhe recursos; lembrou-se então, de ser seu próprio editor, para tanto procurando um novo processo, fácil de executar sem o auxílio de oficinas complicadas. Depois de tentar a gravura em cobre, dispendiosa e lenta, lembrou-se de empregar pedras polidas. Suas tentativas andavam a meio quanto a sorte intercedeu, do seguinte modo: “Acabava eu de desbastar um bloco de pedra - conta Senefelder – quanto minha mãe veio perdir-me para anotar um rol de roupas. A lavanderia estava a espera, e para não retardá-la, lancei mão da tinta que ali estava, composta de cera, sabão e negro de fumo, anotando provisoriamente o rol num canto da placa de pedra que acabara de polir, pensando em copiá-la mais tarde, quando encontrasse papel. Quando tentei apagar o que ali escrevera, lembrei-me de tentar reproduzir aquele texto”. Estava descoberto o princípio da litografia. Senefelder, de inicio, pensava aplicar o sistema apenas à reprodução de músicas. Logo depois verificou que um grande campo se abria para reprodução de obras de arte. Patenteou seu método na Baviera em 1799 e em seguida em Londres. A nova invenção foi usada em Viena, Paris, Stutgart e na Itália, mas praticamente tentativas preliminares. A verdadeira solução do problema coube a dois franceses – Conde de Lateyrie e Eugelmann – que em 1812 e 1814 estiveram em Munique aperfeiçoando o processo. Compraram eles o direito de Senefelder, montando suas oficinas especiais, uma em Mulhose outra em Paris, em 1816”. 

Apesar de modesto, ocupando ainda hoje as mesmas dependências da época de sua criação, a Gráfica Born conserva grande parte do material que confeccionou. Seo Leonardo, uma do proprietários preocupou-se em guardar dois ou três rótulos de cada um que desenhou nestes vinte e oito anos de atividades.

A Gráfica Born conserva também considerável coleção de pedras litográficas, guardadas numa estante no estabelecimento, “ou porque foram bem feitos e podem ser usadas como modelos, ou porque ainda poderão ser usados”. Outro tanto de pedras está “encostada” no fundo do quintal e vem sendo vendido só para prova para o Trombine”.

Seo Leonardo conserva vários exemplares do jornal grego, decalcomanias que chegaram a confeccionar há vinte e cinco anos passados, diplomas e alguns trabalhos de sua autoria, da época em que era funcionário da Sociedade Metalgráfica. Seo Leonardo tinha ainda, exemplares do jornal alemão Koss Kompass e livros alemães sobre litografia, “que eu escondi para não ser queimado na época da guerra, e não consigo encontrar mais”. Seus instrumentos de trabalho como litógrafo – também estão guardados, “e eu ainda uso, de vez em quando”.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 03

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 

Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

3. A consolidação da produção gráfica e o desenvolvimento da Litografia paranaense.

Em 1902, a Baronesa do Serro Azul vende a Impressora Paranaense para Francisco Folch, que de há muito exercia a sua direção técnica, que concentra-se nas atividades tipográficas e litográficas. A firma alcança a Medalha de Ouro na Exposição do Cinquentenário (1903), pelas litografias exibidas.

Efetivamente, é nas duas primeiras décadas do século que se multiplica o número de empresas gráficas especializadas, muitas das quais até hoje em franca atividade. Graças à adiantada estrutura técnico-industrial curitibana se pode produzir revistas satíricas “Olho da Rua” e “A Carga”, impressas em policromia e papel couchê. Em 1911 surge o “Paraná Moderno”, o primeiro a imprimir fotografia (clichê com retícula), dos irmãos Weszfog. “A Noite” e o “Commercio do Paraná” são os dois primeiros periódicos impressos em linotipo. 

Exemplo do perfeccionismo técnico e artístico de Folch é a revista “Paraná”, de Romário Martins, que se comparava às melhores revistas brasileiras da época. Em 1912, Folch fez fusão com a litografia de Max Schrappe, de Joinville, que possuía uma filial no Recreio Cruzeiro, no Batel, montada em 1910.

A Impressora Paranaense não poupou esforços nem recursos para manter-se na vanguarda do setor gráfico, acompanhado a evolução dos processo de impressão, como bem atestam alguns rótulos atribuídos ao litógrafo Raschendorf (1914-1917), bem como a implantação de moderna clicheria, em 1929. Neste mesmo ano, provavelmente, a sua equipe de desenhistas-litógrafos criou as figurinhas que embrulhavam as famosas Balas Zequinha, no formato 5x7, obedecendo às indicações dos donos da empresa que as fabricava., A Brandina, dos Irmãos Sobania. Os exemplos pioneirismo se repetem a cada novo passo, como ocorreu em 1936, com a implantação do sistema “Offset-tied”.

Em 1914 retorna ao Brasil o litógrafo alemão Germano Henrique Guilherme Kirstein, trazendo para Curitiba uma prensa de mão, com a qual, em 1917, fez as primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil, experimentalmente, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, com a finalidade de serem utilizadas em copo, aplicadas a fogo, utilizando retrato do então Presidente Wenceslau Braz. 

O gravador alemão Alexandre Schroeder, que estabeleceu-se em Curitiba no início do século e trabalhou algum tempo na Impressora Paranaense, onde conheceu Rômulo Cesar Alves, que funcionava à rua São Francisco n.º 37 (hoje n.º 215), com a participação de outros sócios, o Barãozinho do Serro Azul (Ildefonso Serro Azul) e Evaldo Wendler. A regra da casa era o rigor quanto à perfeição do trabalho, procurando a melhor impressão. Não obstante, a permanência de Schroeder nessa firma foi bastante curta, motivada pelo preconceito quanto à sua origem germânica. A Litografia Progresso teve sua atuação intensa na vida curitibana, sobretudo no período entre guerras, criando etiquetas e rótulos, a bem dizer, para todas as indústrias e casas comerciais da cidade; nesse período a cidade se torna centro universitário, a economia paranaense se tonifica e o pinho vai substituindo o mate como eixo industrial.

Em 1920 Schroeder associou-se a Kirstein, fundando a Litografia “Schoroeder e Kisrtein”, à rua Assunguy (atual Mateus Leme), números 57 e 59; essa associação seria de grande importância para o desenvolvimento da nossa indústria gráfica, pois ambos tinham, desde o início, o propósito de intensificar os ensaios para a produção das decalcomanias, chegando inclusive a fazer a primeira experiência de decalcomania em louça. Esse esforço pioneiro interessou o industrial Francisco Fido Fontana que, com os dois especialistas alemães e outros empresários locais, formaram a Sociedade Metalgráfica Limitada, visando “Indústria e comércio de estamparia, litografia, tipografia fabricação de latas e outros”, que entrou em operação a 15 de agosto de 1954, instalada num sobrado da atual Avenida João Gualberto, n.º 9.

Na qualidade de desenhista chefe da Metalgráfica, Schroeder executada trabalhos de alto nível artístico, marcadas pelo bom gosto na escolha das cores e pela execução limpa e meticulosa. Com o seu falecimento, ocorrido em 1934, assumiu o seu posto Rodolpho Doubek: “fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo”. Na composição dos textos dos cartazes litográficos emerge toda uma sociedade, com suas crenças, valores e mesmo problemas, impregnados em casa uma das palavras do velho apelo ao consumo. A perda do reinado da litografia como soberana absoluta em processos de impressão nunca foi admitida como lógica por Doubek, apesar de alguns estabelecimentos em Curitiba só terem abandonado a litografia por volta de 1955/1958 (nota: existem informações que pode ter sido posterior, e como meio de reprodução artística se mantém).

A litografia conviveu lado a lado com todo o florescimento e apogeu do mate, que inclusive condicionava a sua atividade.  Para promover as diversas marcas de mate, produziu-se o mais variado material, desde rótulos de barricas até papéis de carta, cartões-postais, folhetos, marcadores de livros ou mesmo cupons e vales-brinde.

Os demais clientes das litografias eram principalmente fabricantes de doces, bolachas, produtos alimentícios e bebidas, estas com os rótulos mais cuidados e sofisticados (vinhos, runs, uísques, vermute, gengibirra, gasosas, guaraná, capilé, etc.), além de cigarros, charutos e produtos de perfumaria. Em Curitiba havia também algumas cervejarias e fábricas de “phosporos”, que não puderam sobreviver muito tempo à concorrência das filiais das grandes empresas, e assim se foi também a litografia, atropelada pelo Offset

Durante toda uma certa época, os rótulos e embalagens desses produtos industrializados de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular, através de seus desenhos, a população tomava conhecimento dos modismos em voga e participava de uma visão do mundo, realista ou onírica, cuja repetição constante, durante anos, criava uma nova imagem mental, constituindo um dado referencial compartilhado com outras pessoas. 

Posteriormente, a Sociedade Metalgráfica limitou-se a produzir exclusivamente decalcomanias, sendo incorporada às Fábricas Fontana, que transformaram-se na mais importante organização do gênero em todo país.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 02

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

2. Panorama da produção gráfica no Paraná no século XIX (1850 - 1900) 

Em 1857 publicou-se o primeiro órgão literário paranaense, “O Jasmim”, em formato pequeno, que teve vida curta.

A década que se inicia em 1880 seria da mais alta significação para as atividades gráficas paranaenses. Poucos anos antes, fixara-se em Curitiba o dentista Luís Antonio da Silva Coelho, natural do Rio de Janeiro, o qual logo mobiliza ativo grupo de intelectuais e funda a “Revista Paranaense”, cujo primeiro número sai a 15 de junho de 1881 e no qual colaboraram diversos escritores e poetas; a revista seguia esmerado padrão gráfico e era impressa em excelente papel.


A grande inovação devida a Luís Coelho foi o prelo mecânico, que foi o posto a funcionar a 6 de outubro de 1880 e marcou época. Encorajado pelas novas perspectivas, de quem eram evidência o lançamento da “Gazeta Paranaense” e  do primeiro jornal em língua alemã, o “Der Pioner”, Luís Coelho vê chegado o momento de criar-se aqui uma litografia; faz contato, então, na Côrte com Narciso Figueras, desenhista catalão que trabalhara em gravura sobre pedra em Barcelona, o qual anima-se a vir para Curitiba. Aplicando algumas economias na aquisição de equipamentos para o seu estabelecimento, que instala por volta de 1884. A impressão litográfica era trabalhosa, exigindo talento para o desenho.


Quando Nivaldo Braga decide lançar, em 1887, a sua magnifica “Revista do Paraná”, já encontra a Litografia do Comércio, instalada por Figueras à rua Trajano, a estrutura litográfica indispensável. A composição tipográfica da revista era feita na tipografia Pêndula Meridional, que Luís Coelho adquirira e melhorara, permanecendo à Rua da Imperatriz (atual Rua das Flores), n,º 89. Ao ilustre lapeano se deve um dos primeiros “ex-libris” de Curitiba, rivalizando no pioneirismo com o do Dr. Joaquim de Almeida Faria.


Desavindo-se Nivaldo Braga e Narciso Figueras, decidiu este último a criar seu próprio periódico, a que deu o nome de “Galeria Ilustrada”, passando a divulgar as caricaturas desenhadas por ele próprio inspiradas na vida política local: sob o aspecto gráfico era da mais elevado qualidade, comáravel às melhores revistas brasileiras da época, ou mesmo dos grandes centros mundiais; mas era cara para o modesto padrão aquisitivo dos leitores curitibanos e paranaenses de então, e sua furação não se prolongou mais do que dezoito números.

A atividade tipográfica alcançara já elevada expressão, já se considerando os tipógrafos suficientemente numerosos e prestigiados para criar um órgão de classe, a que deram o nome de Agremiação Tipográfica. Segundo um relatório do presidente da Associação Comercial, em 1896 já havia sete tipografias em Curitiba. É de 1º de março o primeiro número do “Diário da Tarde”, o periódico de mais longa circulação no Paraná, sendo editado até hoje (1991).

A erva mate vivia momento excepcional nesse fim de década, impondo aos industriais paranaenses grande esforço de organização para atender às exigências crescente dos compradores estrangeiros. Começou-se substituindo o invólucro, que deixou de ser o surrão de couro cru e passou a ser a barrica de pinho, sugerida, anos antes, por André Rebouças; o novo recipiente já não precisava ser anônimo, com a bolsa de couro, e pedia etiqueta identificadora do fabricante e do importador. De início esses impressos ou rótulos eram simples e de uma só cor; aos poucos os compradores foram exigindo maior requinte, marcas fantasiosas, de rebuscado desenho e variada policromia. Inconformado com a estrutura incipiente de feição artesanal que prevalecia nas oficinas gráficas da cidade, decide Ildefonso Pereira Correia ─ O Barão do Serro Azul ─ reforçar essa atividade, fundando a Impressora Paranaense, que seria a rigor, sucessora da Tipografia Paranaense, com as suas instalações ampliadas com serviços complementares de litografia; foi instalada à Rua do Riachuelo, passando a operar em 1888 sob a gerência de Jesuíno da Silva Lopes, filho de Cândido Lopes.

A qualidade dos trabalhos da Impressora era tanta, que sua diretoria chegou a ser pressionada para que fabricasse papel-moeda falso em benefício da Revolução Federalista. Na obstante as dificuldades do momento, a produção foi consideravelmente diversificada, ensaiando-se novas técnicas de impressão, sobretudo no terreno da policromia, que era desconhecida no Paraná; para esse avanço contribuíram tanto a Escola de Belas Artes, fundada alguns anos antes por Mariano de Lima, como a criação de empresa concorrente, a Litografia de Alfredo Hoffmann, estabelecida à mesma Rua do Riachuelo, n.º 79, que embora com equipamento mais modesto, contava com excelente equipe de tipógrafos e um especialista em litografia chegada do Alemanha, centro mundial das artes gráficas até a Segunda Guerra Mundial.

São desse tempo trabalhos de algo nível artístico e que situam a capital paranaense em posição de vanguarda no país: ilustrações religiosas, rótulos, etiquetas industriais, diplomas, etc.

O consagrado litógrafo Francisco Folch, de Barcelona, fez contato com o Barão, então no auge do entusiasmo pela sua empresa gráfica, que o contrata imediatamente para a Impressora Paranaense. É a Folch que se deve grande parte do renome que laureou a produção curitibana e tão lisonjeiras impressões inspirou, em 1897, aos visitantes da Exposição Industrial do Rio de Janeiro, como bem registrou o cronista do “O Paíz”:
Em litografia e tipografia ainda não vimos produtos mais lindos feitos entre nós [...] desenhos admiráveis e nitidez surpreendente [...] côres, muito bem combinadas e produzindo a par da beleza dos desenhos, resultados magníficos.”


Com a trágica morte do Barão, o controle acionário da Impressora passa às mãos de sua viúva, que, após ter suas finanças recuperadas, resolve promover a publicação de obras de autores locais, criando-se, em 1900, a “Biblioteca da Impressora Paranaense”, com livros de esmerado padrão tipográfico, que justificou a publicação de um dos primeiros jornais de propaganda a sair no Brasil, com o nome da empresa.

O momento era indiscutivelmente propício às promoções culturais, à confecção de livros de categoria. Coube à Livraria Econômia imprimir em duas obras de maior alcance didático que Curitiba vira até então: a “História do Paraná” de Romário Martins e a “Corografia do Paraná” de Sebastião Paraná. A oficina do jornal em língua alemã “Der Neobachter” produzia a revista “Azul”, que, como o nome diz, era impressa em cor azul, com tipo, vinheta e outros detalhes decorativos de grande requinte, e com retratos dos autores em sépia, litografados por Augusto Stresser, o que lhe oferecia harmonioso contraste.

O renome de Curitiba como adiantado centro de Artes Gráficas fora destacado, em 1895, pelo retrato em composição tipográfica que, do Presidente Prudente de Moraes, fizera Fernando Moreira, jovem tipógrafo de “A República”, sendo feita tiragem em seda, trabalho inédito, tanto aqui como no estrangeiro, causador de surpresa e admiração aos que o examinam, alcançando o mais elevado estágio na arte tipográfica.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 01

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski

1. O início da Produção gráfica oficial no estado do Paraná.


A atividade artesanal e artística em Curitiba, reduzidíssima até meados do século passado, vai adquirindo alguma intensidade a partir da emancipação da Província, em 1853, coincidindo com a implantação de novos serviços, decorrentes de novas necessidades, exigências e prerrogativas de capital, e com o momento imigratório que se engrossa sobretudo com profissionais urbanos e artesãos. 

Uma das caras mais tradicionais curitibanas, a da especialidade de artes gráficas, começa nessa época. Com a instalação da Província, figurou, no plano administrativo do Presidente Zacarias Goes e Vasconcelos, a instalação de uma tipografia que facilitasse a publicação dos atos de seu governo. Isso fez com que se transferisse para a nova província um profissional da arte de imprimir; aceitou a empreitada pioneira Cândido Martins Lopes, de Niterói. Para Curitiba trouxara, apenas, “pesada mesa de ferro, com prancha de composição e o tosco mecanismo que devia fixá-la. Por cima o rolo de correr; as caixinhas de tipo, algum material acessório, ferramentas”; com tal acervo constituiu a Typograpia Paranaense, a valor, cuja sede provisória instala no número 8 da rua das Flores, mudando-a pouco depois para o número 13. A 1º de abril de 1854 saía o primeiro número de “O Dezenove de Dezembro”, data na qual passou-se a comemorar o dia da Imprensa Paranaense.

Para publicação de atos oficiais, a folha recebia uma subvenção mensal de sessenta mil réis, como se depreende da leitura do próprio “O Dezenove de Dezembro”, na sua edição de 10 de junho de 1854, parte oficial, expediente  do dia 1º de maio de 1854:
Ao inspector interino da tesouraria. ─ Mande V.S. pagar ao proprietário da Typographia Paranaense Candido Martins Lopes, ou à pessoa a ele autorizada, a quantia de quatro centos mil réis por conta da prestação mensal de sessenta mil réis, que tenho marcado pela impressão dos actos officiaes no jornal Dezenove de Dezembro, que deve ser contado do passado mez de abril em diante.” 
No entanto, essa informação é contradita no “Relatório” do Presidente de 1º de julho de 1854:
”Devo dizer-vos, que tendo a tipografia vindo espontaneamente, nenhuma subvenção recebeu nem recebe do governo da Província, que limitou-se a fazer assinar uma porção de números de periódico para mandar distribuir por diversas autoridades e corporações, visto publicar o seu expediente.”
 
Durante toda a atividade de suas oficinas, o “Dezenove de Dezembro” constituiu-se em verdadeiro centro de aprendizado tipográfico e redatorial. Aquele que pode ser considerado o primeiro livro de grande porte publicado em Curitiba (com 203 páginas, sendo que os três anteriores meros folhetos ou livretos) vem à luz em 1863 pela Typographia Paranaense, o “Apontamento sobre suspeições e recusações Juriciário ...”, do bacharel Luís Francisco da Câmara Leal, a quem devemos a criação da Biblioteca Pública do Paraná. E, no final de 1880 ou inicio de 1881, a Typhographia imprime o possível primeiro livro de versos editado em Curitiba, “Sertaneja”, de autoria de Gabriel da Silva Pereira. O “Dezenove de Dezembro” deixa de circular em 1890, por não aceitar imposições políticas, sendo substituído, a 21 de abril, e usando-se as mesmas oficinas, pelo “Diário do Paraná”, órgão da União Republicana, dirigido por Nestor Victor.  Essas mesmas oficinas dariam vida, mais tarde, à Impressora Paranaense, como ver-se-á adiante.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Miguel Raicosky e a Impressora Pontagrossense.

Apesar da transcrição datilografada estar faltando, foi localizada uma já digitalizada. O autor da transcrição original não está identificado. Por conta das pesquisas, acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

O sobrenome do seu Miguel é apresentado coma  grafia  de três maneiras, Raicosky, Raicoski e Raicosk, isso em três textos diferentes. Não tento contato com a família e, com a escassez de documentos sobre o tema,  não posso afirmar com exatidão com a grafia correta, mas pela questão da escrita a mais provável é com y no final.


Entrevista com Miguel Raicosky 

Foi um depois da missa das nove. Miguel Raicosky saiu da Catedral de Ponta Grossa acompanhado pelo sogro e foi olhar a oficina Gutemberg que estava à venda. Coisa pequena: um prelinho manual, uma guilhotina manual, tudo pequeno. Seu Miguel olhou, gostou e acabou comprando por 15 contos de réis. Começou a trabalhar por conta própria em agosto de 1939 e em 1932 com grande euforia, comprou um prelo a pedal. Em 1940 instalou também uma litografia na firma que já tinha então o nome fantasia de Impressora Pontagrossnese e razão social Traple e Raicosky.


Em seu depoimento, gravado em Curitiba no dia 18 de agosto de 1975, Seu Miguel fala das dificuldades de transporte para atender seus clientes do noite do país e conta que era atendido por três litógrafos de Curitiba que faziam aqui os desenho que seriam impressos em Ponta Grossa.


1. Por favor seu nome e data de nascimento. 

Miguel Raicosky Sobrinho, Nasci no dia 10 de junho de 1905 na cidade de Ponta Grossa onde sempre vivi e onde comecei a trabalhar aos 10 anos de idade, em cima de um caixão para poder alcançar a mesa de trabalhos gráficos no Diário dos Campos. Nesta época, o jornal tinha como redator chefe o jornalista Hugo Borges dos Reis que depois transferiu-se para São Paulo.
 
2. Desde o início de sua vida profissional dedicou-se a funções gráficas?  

É, do Diário do campos fui trabalhar na Litografia Guimarães e de lá passei para o meu próprio estabelecimento no ano de 1929. Na firma do Guimarães fui chefe do departamento de tipografia.
 
3. Quando abriu o seu próprio estabelecimento o que produzia?  

Bem, eu soube que uma pequena oficina de Ponta Grossa estava à venda, coisa pequena, um prelinho manual, guilhotina manual, tudo pequeno. Então, no domingo, depois da missa das nove horas, saí da catedral em companhia do meu sogro e fui visitar a Tipografia Gutemberg que já estava fechada por um desentendimento entre seus sócios. Olhei tudo, achei que podia começar ali o meu próprio negócio e acabei comprando por 15 contos de réis. Comecei a trabalhar no dia 29 de agosto de 1929. Já em 1932 fui melhorando e comprei meu prelo com pedal.
 
4. Qual era a produção em sua fase inicial?  

Bem, os funcionários eram somente eu e mais três meninos, quer dizer, eu mesmo cortava o papel, fazia as provas, imprimia, entregava ... 
 
5. Começou a fazer rótulos desde o início?  

Não, comecei fazendo só tipografia: papel de carta, notas, duplicatas, cartões, fichas, essas coisas para o escritório. Só mais tarde é que fomos comprando maquinário, ampliando nosso trabalho, iniciamos a impressão litográfica e começamos a fazer rótulos.
 
6. As máquinas litográficas foram compradas na Alemanha?  

Não, compramos em São Paulo, de uma oficina gráfica que estava em reforma, adquirindo equipamento mais moderno. Inicialmente compramos 3 prelos mais tarde compramos outra máquina do Fontana, porque as emendas eram muitas e não estávamos dando conta.
 
7. Quando começou a trabalhar na litografia onde foi buscar os profissionais? 

Olha, o principal funcionário da fase da litografia era o Guilherme Traple, admitido desde o início como sócio, pois inclusive o nome do estabelecimento era Raicosky e Traple. O Guilherme já era profissional no ramo da litografia em Curitiba antes de transferir-se para Ponta Grossa. Já havia trabalhado na Metalgráfica Pradi e era um bom técnico. Quando decidiu ir à nossa cidade empregou-se inicialmente na oficina do Madalosso que trabalhava com latas.
 
8. Em que data a tipografia passou a ser também litografia? 

Bem, de 1929, data em que abri a oficina, até o ano de 1940 era tipografia e papelaria. Só a partir de 1940 é que começamos a trabalhar com as pedras, na rua XV de novembro , n.º 444. De início tínhamos 14 funcionários e, apesar da razão social da firma ser Raicosky e Traple, o noem fantasia era Impressora Pontagrossense. Este foi o segundo nome da firma que até então denominava-se Tipografia Expresso.
 
9. Nesta época Ponta Grossa contava com muitas litografia?  

Não, a nossa era a única.
 
10. Mas não foi a primeira ...  

A segunda. Primeira foi a do Guimarães, que operava com o sistema de pedras e máquinas planas. Foi nela, aliás, que tive o meu primeiro contato com a impressão litográfica, pois apesar de ser diretor da tipografia sempre dava uma mão na parte litográfica. Houve ainda outra firma que já citei, do Madalosso, que só trabalhava com latas.
 
11. Das litografia de Curitiba a parte técnica sempre esteve sob responsabilidade de alemães em Ponta Grossa também?  

Também, também. Naquela época os profissionais que trabalhavam em pedra ou tinham nascido na Alemanha ou eram descendentes de alemães. O próprio Seu Emilio que era mestre do Guimarães era nascido na Alemanha.

12. A litografia Guimarães terminou em que ano?  

Calculo que tenha terminado no ano de 1935.
 
13. E os desenhistas ou cromistas?  

Olha, é engraçado. Algum desenho era feito lá mesmo, em Ponta Grossa, mas muito pouco. A maior parte deste trabalho era executada em Curitiba. Tínhamos aqui um grupo de desenhistas vinculados a outras impressoras e que trabalhavam também para nós.
 
14. Mas como é que trabalhavam: eram vinculados a Impressora Pontagrossense ou trabalhavam para o Senhor como freelancer?

Eles não tinham vínculo com a minha Impressora. Trabalhavam particularmente. A gente trazia o serviço a Curitiba, eles executavam e depois nos mandavam. Fazia aqui inclusive as matrizes. Gravavam em zinco e depois a gente, lá em Ponta Grossa, tirava a cópia que seria transportada para a pedra matriz da máquina. Estes desenhistas eram todos de origem germânica, estavam ligados a outras impressoras e faziam o nosso trabalho em casa à noite, ou nos fins de semana.
 
15. Lembra o nome destes desenhistas?  

Sempre foram os mesmos: Otto Schnneck, Alfredo Oeler e Albino  Hoetlich.
 
16. Devia ser muito difícil trabalhar em Ponta Grossa dependendo dos desenhistas de Curitiba, se eram eles que deviam criar o rótulo, que antes de ser executado precisava ser apresentado a apreciação do freguês ... 

Era muito complicado mesmo. Mas de um modo em geral o freguês já trazia a ideia e, raramente, pedia uma criação nossa. Fazíamos o croqui, submetíamos a apreciação e dificilmente eram feitas alterações. Mas quem desenvolvia esta ideia era o desenhista que era o elemento mais criativo, o profissional mais qualificado.
 
17. Quer dizer que os desenhistas não eram registrados como funcionários da sua empresa. Não eram registrados, não. Aceitavam encomendas e recebiam por trabalho realizado.

 
18. E o trabalho do desenhista era caro?  

Olha, para a época era bem cobrado. Na verdade era um trabalho mais especializado, de profissional qualificado. Pela capacidade que tinham, era justo cobrar um bom preço. Depois o trabalho que faziam não era um trabalho comum então o preço era alto. Mas compensava, porque não podíamos prescindir deles.
 
19. Os fregueses da litografia eram só de Ponta Grossa? 

Tínhamos uma clientela muito boa em Ponta Grossa mas trabalhávamos muito para o Rio Grande do Sul, aquela região de Caxias, Bento Gonçalves e mais tarde fizemos também para o Norte do país, principalmente para engenhos de açúcar de Pernambuco. Tínhamos inclusive um representante nosso em Recife.

20. E a Impressora Pontagrossense tinha condições de atender todos os pedidos? 

Naquela época havia muita dificuldade de transporte, o serviço ficava encaixotado um tempão antes de chegar no destinatário. Era comum uma mercadoria ficar mais de um mês no Porto de Paranaguá esperando embarque, fora o tempo da viagem em si. Quer dizer, não havia capital que chegasse para trabalhar assim ... eram todos serviços grandes que ficavam parados depois de prontos e a gente esperando receber ... Além disso, como o desenvolvimento do Noite é mais recente, ele dependiam do Sul nesta parte de rotulagem e os pedidos eram muitos. Basta dizer que nós, particularmente atendíamos apenas 20% dos pedidos que recebíamos, não tínhamos condições de produzir mais, pois trabalhava-se como regra em prazos de 60 dias devido a demora do transporte.
 
21. Qual era o maquinário da litografia?  

Tínhamos 4 prelos e uma quantidade enorme de pedras. E todo o material empregado era importado: as próprias pedras, o papel telure, o material técnico para transporte ..

22. Até que ano a Impressora Pontagrossense trabalhou com pedras litográficas?  

Até o ano de 1945 quando partimos para o sistema Offset.
 
23. Porque decidiu a trocar a litografia pelo novo processo? 

Porque já estávamos sentido necessidade de maior produção e também de maior qualidade. O novo sistema apresentava uma tecnologia mais avançada e dava melhores condições de trabalho.
 
24. Os mesmos funcionários que trabalhavam com a litografia foram assimilados no nosso sistema?  

Alguns foram aproveitados, outros, no entanto, tiveram que ser substituídos.
 
25. A Impressora Pontagrossense terminou ou a Cartográfica Industrial, sediada em Curitiba é sua continuação? 

Bem, em 1963 montamos a firma aqui com o nome fantasia de Cartográfica Industrial, caracterizada com filial da Impressora Pontagrossense que permaneceu operando ainda por mais 2 anos em Ponta Grossa. Daí então fechamos a firma lá, eu me aposentei, e só ficou a Cartográfica que é dirigida por meus filhos. Eles começaram a trabalhar comigo desde pequenos. Hoje a firma é dirigida por Luís Norton Raicoski, diretor, técnico, Edos e Aronides Raicoski.