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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Entrevista de Rodolpho Doubek sobre os pioneiros da fotografia do Paraná

Esta entrevista faz parte de várias outras que narram a história dos fotógrafos pioneiros do Paraná. Estão disponíveis na Fundação Cultural de Curitiba.

Entrevista de Rodolpho Doubek, no dia 03 de março de 1984, para a jornalista Rosirene Gemael em sua casa na rua Nilo Peçanha, 205, por volta das 14h. Transcrição de Cristina Gebran. Digitalização do datilografado por Alan Witikoski.

RG: Rosirene Gemael
RD: Rodolpho Doubek


RG: O senhor podia começar dizendo o seu nome completo e aonde o senhor nasceu?
RD: Como eu digo, na Páscoa passada, no domingo de Páscoa eu fiz setenta e outro anos. Porque eu nasci num domingo de Páscoa, e é a terceira vez que repete o Domingo de Páscoa com o meu aniversário, 15 de abril. Meus pais Antonio José Doubek, veio ao Brasil com três anos. Minha mãe, filha de alemães também Ema Ida Raschendorfer oriunda, ela nascida aqui, mas os pais oriundos da Áustria. E aqui nasceram os Doubek, meu irmão Hugo falecido, eu segundo filho, Amanda que é professora aposentada de música e piano e canto e Amália, falecida também. É isso.

RG: O Senhor começou a trabalhar desde cedo, né?
RD: Bem, eu comecei a trabalhar com o Germano Roessler, pintor decorador, e de lá pra isso eu já falei de 52 para me aprimorar eu frequentei a escola do Andersen. Depois com a morte do mestre eu continuei com o filho, Thorstien, mais quatro anos lá, então eu sou assim, um pintor de meio tijela ... Bem e depois o exército e do exército me ofereceram o meu primo Arnaldo Raschendorfer me puxou prá litografia. Fiquei trabalhando com ele lá uns quatro ou cinco meses como litografo e depois ele foi ao Rio se especializar, aliás ele foi trabalhar no Serviço Militar do Rio. Ele era sargento também na época. E ele me arranjou um lugar lá no Kirstein e Schroeder, na Impressora Paranaense, Impressora Paranaense, não, como é? Metalgráfica e lá eu trabalhei por nove anos. Neste interim Arnaldo Raschndorfer ele se formou, ele voltou prá Curitiba e estudou agronomia e pegou um serviço no Departamento de Geografia do Estado como chefe de secção técnica e então ele me puxou prá lá. Da litografia eu sai e fui trabalhar no Estado onde eu permaneci até 1966 quanto eu me aposentei. Foi na gestão, eu entrei no serviço público na gestão do Manoel Ribas, e saí na gestão do Pimentel.

RG: E nessa trajetória profissional como é que o senhor acabou voltando prá fotografia?
RD: Acontece que o Arthur Wischral, ele era muito amigo do Arnaldo Raschndorfer. E o Arnaldo Raschndorfer fazia aqueles primeiros letreiros prá ele. E de repente, foi nem sei que ano ele faleceu o foi de repente o meu primo Arnaldo Raschndorfer faleceu assim de repente e aí eu continuei a fazer o serviço para o Wischral.

RG: Como era feito assim, como que era o processo? Como é que eram feitas as letrinhas?
RD: Pois é, como eu disso naquele tempo surgiu aquele invólucro de celofane nas carteiras de cigarro. Como aquilo era lisinho seu Wischral recortava os quadradinhos e me trazia, porque eu não fumo.

RG: Ah, ele aproveitava do cigarro mesmo? 
RD: Ele mesmo. Agora eu não sei se ele fumava ou não. Eu nunca vi ele fumar. Mas ele me trazia o celofane e eu então escrevia o assunto da fotografia ao pé da letra, em baixo.

RG: Mas porque com celofane?
RD: Porque em cima da chapa não aceitava e ia estragar a chapa né, no vidro não pega bem o nanquim ao passo que no celofane pegava que era uma beleza.

RG: Isso no tempo do negativo de vidro. Da chapa de vidro?
RD: E porque no papel branco a gente fazia as linhas auxiliares, a altura né, colocava o celofane em unia e depois de acordo com a linha a gente ia escrevendo o assunto. Prá não sair mais alto que... 

RG: O senhor escrevia como, nanquim?
RD: Nanquim e uma pena especial. Uma pena de fotografia mesmo. Fazia uma letra bem fininha. E assim foi indo.

RG: E o senhor só fazia esse serviço pra ele? 
RD: Só isso. Só, a única coisa era prã isso. 

RG: E durante quanto tempo o senhor fez isso ai? 
RD: Ah, isso eu não posso dizer. Eu só sei dizer que eu ganhei uma caixa cheia de, acho que uns duzentos ou mais de duzentos cartões. 

RG: E em que época isso? 
RD: A mocinha, isso agora. Eu sai do serviço público em 66 me aposentei mas anos antes eu já não trabalhava mais como desenhista, era chefe de secção. Mas foi muito antes que eu fiz esse serviço pro Wischral. Eu sou muito esquecido. Já não sei.

RG: Mas ainda trabalhava com chapa de vidro? Não era negativo ainda. Era chapa de vidro? 
RD: Não. Isso eu nem sei. Ele só me trazia o celofane e o letreiro. Ou ele só me indicava pra fotografia ao largo ou é parte estreita. Quando era em pé tinha que fazer mais estreito. E geralmente tinha espaço suficiente. Mas não posso dizer quantos anos sabe?
 

RG: Era o Wischral mesmo que fotografava? 
RD: Como? 

RG: Eram fotografias do Wischral?
RD: Do Wischral. Ele mesmo fotografava sim.  Fazia o Postal. É pena que é falecido. Eu como colecionador de cartões tinha um interesse enorme pra conhecer os negativos que tinha arquivado. Mas ele me deixou ir ver. Depois eu soube que aquilo estragou tudo com chuva. Que coisa né? 

RG: Ele não deixava ver, porque será? 
RD: Não sei

RG: Agora a parte maior do trabalho dele o senhor tem idéia se era mais fotografia ou mais o postal?
RD: Não. Ele fazia outras fotos também. Se não me engano ele trabalhou pro Estado também. Não sei pra-que órgão Porque toda casa, que vamos dizer que hoje seria tombada, antes de derrubar ele tirava fotografia. 

RG: Ah, era esse o trabalho dele? 
RD: Eu respeito até o ... David Carneiro talvez possa lhe dar uma dica sobre isso. Porque ele me falou do Wischral que ele tirava as fotos das casas antes de serem derrubadas.

RG: Corno e que era o WischraI como pessoa? 
RD: Também não tinha Eu tinha mais um convívio com as produções de cartões postais nessas ocasiões. Ou nos domingos se encontrava lá, na feira ou nas exposições de pintura também, então a gente trocava idéias, mas não assim generalizadas, nada de concreto. 

RG: E *** ... que o senhor trabalhou com ele, o senhor lembra? 
RD: Não sei. Isso é que eu não posso me lembrar. Se eu soubesse quando faleceu Arnaldo Raschendorfer isso já ... Isso deve ser lá nos anos 40. 40 a 50 mais ou menos assim.

RG: E esses  postais que o senhor colocava a legenda eram todos de fotografia aqui do Paraná?
RD: Do Paraná e de Santa Catarina.

RG:  Ah, de Santa Catarina também? 
RD: Também. Mas você conhece na maioria você conhece, muitos são do Raschendorfer também né? É como eu digo. Pra cada letreiro  que eu fazia eles me davam um cartão. E aquilo foi avolumando. E tinha até uma caixa cheia, tinha, agora já foram incluídos na coleção e trocados, tinha duplos também. 

RG: E esse trabalho pagava bem? 
RD: Não. Não pagava nada. Só fazia letreiro, fazia no serviço lá no Estado. 

RG: Não tinha remuneração? 
RD: Não. Não fazia em casa, fazia lã. Era coisa rápida né. E também não fazia, fazia um, três, quatro vezes né. Aquilo ia rápido.

RG: Quer dizer desse período que o senhor trabalhou ele o senhor tem todos os cartões guardados?
RD: Eu tenho sim. Mas tenho também do Raschendorfer. O Raschendorfer era mais caprichado, ele tinha mais jeito, ele era um cartógrafo formado bem. Ao passo que eu era mais grosseiro. Estão aí.

RG: Então o seu contato com os postais com o Raschendorfer, o senhor teria material de que época pra cá? 
RD: E como eu digo, do ano que o Raschendorfer, o Arnaldo faleceu, de lá pra cá eu fiz. É pena que eu ... 

RG: O senhor parou? 
RD: Não. Ele é que parou. 

RG: Quando ele parou? 
RD: Ai não tinha mais ... E como eu digo, se tivesse registrado o ano da foto era fácil né. Mas não se registrou. 

RG: Esse letreiro que o senhor colocava era só a editoração do  autor?
RD: É, e as iniciais do fotógrafo, tem quadradinho assim com A.W. as duas. Depois o número da fotografia, a região e o Estado. 

RG: Número da fotografia? 
RD: Parece que tinha número. Fácil de verificar. Uma exposição de mapas municipais no Rio, mas ainda no tempo do Raschendorfer então nós trabalhamos noite e dia pra organizar a exposição, fizemos os mapas municipais. Mapa do Paraná, e tinha cartões, mas esses não sei de quem eram os cartões postais. Acho que uma infinidade e esses nós colocamos sabe?

RG: Ah, colocar por cima a fotografia? 
RD: Eram indígenas. Nós colorimos e foi mandado esse material pra lá. Paraná tirou primeiro lugar de todos os Estados que apareceram no Rio. Fizeram uma inscrição, o Paraná tirou o primeiro lugar. 

RG: O senhor se lembra em que ano foi isso? 
RD: Poxa mocinha. Eu tenho o livro ai, mas procurar agora e achar? Foi no tempo do Getúlio de próprio punho lá, lá na saída ele escreveu um telegrama de congratulações pro Paraná, pro Governador aqui. E o telegrama quer dizer, chegou o telegrama, mas o original ficou lá no (?). Não sei que, como é, que chama aquilo, é uma sigla né? Lá no Passeio Público sim  uma cozinha que tinha uma bandeirinha. Não sei aonde.... e daí eles mandaram essas preciosidades. 

RG: Mas o senhor costumava muitas vezes colorir fotografia ou foi só uma vez? 
RD: Não, não. acontece que naquela época nós nos esforçávamos, só pra deixar mais bonito. né? Então nós colorimos aquilo, compramos umas tintas especiais para colorir e fizemos o Marroquino, o meu companheiro e eu. Que era uma coleção de fotografias. 

RG: Era muito complicado fazer isso? 
RD: Não. Mais ou menos só. Não era como por exemplo, eles rediam a fotografia de uma celebridade lá, de um diretor qualquer, então, a gente pode pintar com a tinta por cima. Isso nós não fazíamos. Era também uma tinta em tubo, pegava un pedaço de algodão embrulhava num palito, assim, coisa grosseira, né, não é coisa fina, porque a fotografia de cartão postal preta e branco, ela não permite colorir, por exemplo, aqui o marrom, aqui porque já é escuro demais. Essas coisas.

RG: Agora, há quanto tempo que o senhor coleciona fotografias? Cartão Postal. É cartão postal que o senhor colecionava né, não ó fotografia em geral não? 
RD: Você lembra aquela primeira vez que você veio aqui? 

RG: Lembro. 
RD: Então nós estávamos falando sobre o Schroeder e Kirstein, não foi? Ai eu tinha um álbum de cartões ai você viu aquilo e viu aqueles cartões da Alemanha e você achou interessante e pediu pra fazer uma exposição. Então eu fiquei entusiasmado, fui na casa do meu primo lã, do Stenzel que eu sabia que eles tinham falecido tudo, mas o material tava todo naquela casa. Então nós fomos lá, então ele me deu oitocentos cartões, depois eu fui numa outra tia, lá em cima, no Arnaldo Raschendorfer dai era o Stenzel, né o pai do Enyo Stenzel e lá em cima eram os Raschendorfer, eram os pais do Arnaldo Raschendorfer, toda essa gente assim. Então eles me deram aquele apoio. E ai organizamos aquela exposição continha ate duas trocas de cartões, de tanto cartão que tinha. Quer dizer que você é a culpada. Depois quando houve a criação da sociedade dos colecionadores de cartão eu fui lá, mas não me inscrevi né, só mais tarde, depois que me convidaram pra tomar parte, aí eu sou sócio deles. Aí comecei a ir muito lá. 

RG: E hoje o senhor calcula quantos cartões que o senhor tem? 
RD: Deve estar perto de seis mil, seis mil e quinhentos. 

RG: Seis mil e quinhentos? 
RD: É.

RG: Uma boa parte deles vindos da Europa? 
RD: A maioria. Aliás a maioria modo de dizer agora já suplantaram os de cá. Porque só o que ele, por exemplo, esses aqui quando meu sobrinho fez uma limpeza, então ele disse, o tio achei uma porção de cartão avulso E eram os cartões que eram dos meus pais, que eu nunca sabia onde é que estavam. Então ele, são esses daqui. Quarenta e nove cartões registrados, carimbados. E esses aqui são os primeiros cartões registrados e carimbados. Esses estrangeiros aqui. Esses aqui são... 

RG: Esses estrangeiros era a correspondência que a sua família daqui mantinha com a família que estava na Europa? 
RD: Esses aqui também são. Como é que é?

RG: Esses estrangeiros aqui, vamos dizer, como e que vieram parar aqui na mão da pessoa que lhe deu? Era alguém da família que morava lá?
RD: Eram parentes e amigos de meu pai.

RG: Que mandavam da Europa? 
RD: É, que mandavam de lá pra cá. Esse aqui, cartão era da Condor. A Condor depois passou pra um Riograndense, como e que chama ela? A VAarig. A Varig terminou agora. Ou ainda existe? 

RG: Existe. Esse é aquele que era bem antigo né? 
RD: E, esse cartão é o Breicher daqui. Isso 1906 ou 16? Eu não enxergo mais?

RG: Parece onze.
RD: Geralmente eles escrevem, mas nunca põe a data, né? Então esse cartão era do meu pai , mantiveram e do Martinelli (edifício, não sei se eles vão derrubar ou declarar como ...

RG: Nesse não tem assinatura. 
RD: Não. Quero ver quem escreveu. Essa família dos Vura o Marcos Vura, ele casou com uma tia minha, irmã do papai. Então ele teve os filhos, Erma foi o primei que faleceu, esse foi o ultimo que faleceu, esse tio faleceu, as mulheres faleceram todas e o Albino também faleceu. Esse aqui era um, ele chegou a ser aviador antes de ser aposentado, foi declarado, eu não o sei como é que são os postos dos aviadores, quando chegam a sua série. Mas ele ia buscar os aviões nos Estados Unidos, aviões de guerra, daqui pra combater na Itália. 

RG: O senhor chegou a conhecer o Volk, não?
RD: Não. Só de vista. Esse aqui, cartão é das famílias do teatro alemão ai, o Kirchgassner. Pena que ...

RG: E é postal né? 
RD: É postal. 

RG: Costumavam fazer postal de família também assim? 
RD: Não. Era também usavam porque o tamanho postal já vinha também em pacote, sabe, então eles tiravam fotografia e mandavam fazer cartão postal. Tá aqui o tio o Albino e a Elma, Também era daquela família que faleceram todos.

RG: Mas mandar assim pra parente, pra amigo, fotografia?
RD: Naquele tempo sempre isso, usava-se muito.

RG: Esse cartão aqui e de 1908. 
RD: E...feito em alemão aqui. Feito pelos alemães de Santa Catarina. Eu tenho cartão aí pra procurar. 

RG: Mas como o senhor diz, a legenda escrita em alemão? 
RD: Escrita em alemão. Esse aqui por exemplo é Porto Alegre, né, e é um cartão francês. 

RG: E como e que era isso? 
RD: O papel de fotografia já vinha com o timbre. eles compravam e usavam pra fotografia. 

RG: Já vinha impresso lá do lado do bilhete postal.?
RD: É. O bilhete já vinha impresso. 

RG: Agora, quando o senhor trabalhou com aquele fotógrafo, ele só fazia postal de paisagem ou não?
RD: Não. Ele fazia de tudo que o que é  tipo, né. Principalmente os de família. Mas tudo nesse papel já preparado pra mandar.

RG: Mas eu digo aqueles?
RD: Além disso as fotos maiores também. E poucos que faziam cartão postal pra venda, assim, flores, paisagens, eram vistas, o Wischral , o Henkel, já nem sei mais, até o Haupt fazia também, mandava fazer e vendia.

RG: Mas eu digo naqueles que o senhor colocava o letreiro, era sempre de paisagem?
RD: É, sempre de paisagem. Só paisagens. 

RG: E dai aquilo era pra vender? 
Geralmente da Estrada de Ferro, sabe. Então daquele  trajeto, ah enfim, fazia de Santa Catarina, a orla marítima que é bonita, que você vê aqui isso era dos Ramos Pinto, aliás isso vinha dentro das caixas de linho, de Portugal pra cá. 

RG: E virava postal. 
RD: Esse aqui é um bilhete do Brasil ainda, do tempo não digo do império, mas do começo, antes da reforma fotográfica. Esses daqui são de agora. Esse ... esse é minha tia. Imagina se não tivesse. Carmem não, Djanira, 1910, a Carmem é a filha. Desejo à Antonio e família, enviamos boas festas e muitas felicidades do Beto e Anita, Chiquinho e Arthurzinho. O Chiquinho e  o Arthurzinho morreram os dois, porque tinham ataque epilético. O Chiquinho morreu assim. Esse era pior, o Arthurzinho, eles foram morar em Santos com pais e ele remava e acho que deu um ataque e ele morreu afogado. 

RG: O Senhor faz ideia, seu Doubek dos postais que o senhor tem, quanto por cento deles é referente ao Paraná? 
RD: Eu acho que dois terços é do Paraná. Mais ou menos assim. Eu nunca, nem registro eu não tenho. Eu precisava contar certinho pra ver. Mas eu não tenho, mas esses daqui, só conheço (?) tem uma irmã da patroa que casou com o filho dela em 1 910. 

RG: O senhor acha que dois terços são do Paraná? É partir de que data mais ou menos? 
RD: Moça, do Paraná, contando agora esses que eram dos meus pais acho que do começo de 1910. Não, antes, 1906 pra cá. Porque de 1906 tem uma porção. Eu acho que eu tenho mais é de 1906, sabe? Dos antigos né? 

RG: O senhor tem condição de saber quem foi o fotógrafo que fez? 
RD: Não. 

RG: Não são assinados? 
RD: Não. Aqui do Paranã é preciso dar uma olhada. Aliás, não tem uns de 1906 se não me engano foi uma livraria que mandava fazer mas agora é preciso procurar moça. Por exemplo, esse aqui de Santos é de 1907. 

RG: Senhor Doubek, vou perguntar uma coisa pro senhor. Antes do senhor colocar letra nos postais do Wischral era, o seu tio, primo. 
RD: Meu primo. 

RG: E antes dele alguém fez? 
RD: Ah. Não sei. Eu acho que não. Porque eu tenho fotografias do Wischral que atrás só tem um carimbo tosco assim. 

RG: Sei. 
RD: Sabe? Depois que eu acho que ele teve a ideia, quando apareceu o celofane de fazer os negativos, colocar na chapa e ir tirando as cópias. 

RG: As famílias faziam postal, costumavam fazer postal sempre?
RD: Se você ia tirar uma fotografia de você, então quantas cópias quer? Uma dúzia. Fazia em cartão postal. Era corriqueiro, todo mundo fazia. Então a maioria é cartão postal. Não sei se é grande ou pequeno, mas é postal.

RG: O senhor conhecer outros fotógrafos além do Wischral?
RD: Não só amadores. Por exemplo, o Arnaldo Raschndorfer ele fotografava as tantas também, mas só prá ele. Só prá ele, assim comercialmente cheguei a conhecer o Henkel que era litografo. Conheci ele por causa da litografia. Então ele vinha lá emprestar penas prá litografia, etc e esse intercambio mas sobre fotografia não. Só que depois ele fez aquelas fotografias do Natal, depois de feita assim, aquilo vendia bastante.

RG: Ele trabalhava com litografia e fotografia?
RD: É Lá na Impressora Paranaense. E nas horas vagas ele era fotografo. Fazia excursões e tirava fotografia de tudo.

RG: E o Weiss, o senhor não chegou a conhecer?
RD: Não, o velho Weiss não. Talvez assim de ir lá, mas nós nunca tiramos fotografia com ele.

RG: No seu tempo de criança, aonde a família tirava fotografia? 
RD: Nossa? Nós não tiramos fotografia. Quando eu casei o fotógrafo  já veio aqui em casa. Mas eu nem sei mais quem era. Parece que era o Jacobs, Foto Brasil. Agora dos meus pais, esse negócio eu não sei. Naqueles tempos a gente era, não tenha (?) sabe como é, e di ficil saber desse negócio. 

RG: O senhor conhece muita gente que coleciona, que guarda fotografia ou cartão postal? 
RD: Não. Porque todos que eu pergunto já são, são netos e eles mudam das casas, vão pra apartamento, que hoje são um apartamento então eles jogam fora tudo que é coisa antiga. Agora tem muitos que guardam mesmo, tem muitos, mas é difícil precisar quem. 

RG: Lá Sociedade Rio Branco, sempre tinha muita festa, teatro, não tinha um fotógrafo que sempre trabalhe lá na Sociedade? 
RD: Lá ultimamente nós pegava o do Foto Brasil, o Jacobs agora antes, ultimamente até agora nós íamos tirar uma cópia da diretoria atual é como eu digo, ela não ficou boa porque falta aquela técnica dos fotógrafos de antigamente, aqueles aparelhos grandes e hoje faz assim "tic" e a ampliação não sai grande coisa né, e depois eles não tem o senso de colocar as pessoas como deve ser, bonito assim e sai daquele jeito. 

RG: Quer dizer que no fim o senhor tem aqui então fotógrafos que o senhor juntou de quatro famílias?
RD: Três famílias. Praticamente quatro porque tem lá da família Bassler, eles me deram uma porção de cartões também sabe. A família Bassler cuja filha casou com o Hering, um primo meu. Então, por isso a gente tinha assim mais intercâmbio, lá com eles e depois tinha o câmbio bastante com a família Raschendorfer, nos tinha pouco, mas agora com essa chegada ai e essas que eu mostrei dos meus pais ai, não foram expostas ainda. 

RG: E quando nós começamos a conversar o senhor disse que o senhor Weiss tinha trabalhado na polícia? 
RD: O Alberto Weiss é. Agora qual era o tipo de serviço dele eu não sei mas ele trabalhou na policia. 

RG: O senhor costumava ir ao estúdio do Wischral ou não? Os senhor ia muitas vezes no estúdio do Wischral?
RD: Não, nunca fui. Ele que vinha lá no departamento. Nunca fui lã. 

RG: E era basicamente paisagem né seu Doubek? 
RD: É só paisagem. 

RG: O senhor lembra de algum fato importante que ele tenha feito postal, e que o senhor tenha colocado a legenda? 
RD: Não. Ele era corriqueiro sim. Sempre a mesma coisa , ele vinha lá com uns três ou quatro prá eu fazer o letreiro, da próxima vez ele trazia os, a paga, né? 

RG: E ele fotografava toda a região de Santa Catarina também? 
RD: Bom, pelas fotos ele pegava geralmente a Estrada de Ferro e o litoral. É, no entanto no interior, bem pouca coisa sabe? Eu sã tenho dele, eu tenho do Rio Negrinho,

quarta-feira, 20 de março de 2013

Miguel Raicosky e a Impressora Pontagrossense.

Apesar da transcrição datilografada estar faltando, foi localizada uma já digitalizada. O autor da transcrição original não está identificado. Por conta das pesquisas, acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

O sobrenome do seu Miguel é apresentado coma  grafia  de três maneiras, Raicosky, Raicoski e Raicosk, isso em três textos diferentes. Não tento contato com a família e, com a escassez de documentos sobre o tema,  não posso afirmar com exatidão com a grafia correta, mas pela questão da escrita a mais provável é com y no final.


Entrevista com Miguel Raicosky 

Foi um depois da missa das nove. Miguel Raicosky saiu da Catedral de Ponta Grossa acompanhado pelo sogro e foi olhar a oficina Gutemberg que estava à venda. Coisa pequena: um prelinho manual, uma guilhotina manual, tudo pequeno. Seu Miguel olhou, gostou e acabou comprando por 15 contos de réis. Começou a trabalhar por conta própria em agosto de 1939 e em 1932 com grande euforia, comprou um prelo a pedal. Em 1940 instalou também uma litografia na firma que já tinha então o nome fantasia de Impressora Pontagrossnese e razão social Traple e Raicosky.


Em seu depoimento, gravado em Curitiba no dia 18 de agosto de 1975, Seu Miguel fala das dificuldades de transporte para atender seus clientes do noite do país e conta que era atendido por três litógrafos de Curitiba que faziam aqui os desenho que seriam impressos em Ponta Grossa.


1. Por favor seu nome e data de nascimento. 

Miguel Raicosky Sobrinho, Nasci no dia 10 de junho de 1905 na cidade de Ponta Grossa onde sempre vivi e onde comecei a trabalhar aos 10 anos de idade, em cima de um caixão para poder alcançar a mesa de trabalhos gráficos no Diário dos Campos. Nesta época, o jornal tinha como redator chefe o jornalista Hugo Borges dos Reis que depois transferiu-se para São Paulo.
 
2. Desde o início de sua vida profissional dedicou-se a funções gráficas?  

É, do Diário do campos fui trabalhar na Litografia Guimarães e de lá passei para o meu próprio estabelecimento no ano de 1929. Na firma do Guimarães fui chefe do departamento de tipografia.
 
3. Quando abriu o seu próprio estabelecimento o que produzia?  

Bem, eu soube que uma pequena oficina de Ponta Grossa estava à venda, coisa pequena, um prelinho manual, guilhotina manual, tudo pequeno. Então, no domingo, depois da missa das nove horas, saí da catedral em companhia do meu sogro e fui visitar a Tipografia Gutemberg que já estava fechada por um desentendimento entre seus sócios. Olhei tudo, achei que podia começar ali o meu próprio negócio e acabei comprando por 15 contos de réis. Comecei a trabalhar no dia 29 de agosto de 1929. Já em 1932 fui melhorando e comprei meu prelo com pedal.
 
4. Qual era a produção em sua fase inicial?  

Bem, os funcionários eram somente eu e mais três meninos, quer dizer, eu mesmo cortava o papel, fazia as provas, imprimia, entregava ... 
 
5. Começou a fazer rótulos desde o início?  

Não, comecei fazendo só tipografia: papel de carta, notas, duplicatas, cartões, fichas, essas coisas para o escritório. Só mais tarde é que fomos comprando maquinário, ampliando nosso trabalho, iniciamos a impressão litográfica e começamos a fazer rótulos.
 
6. As máquinas litográficas foram compradas na Alemanha?  

Não, compramos em São Paulo, de uma oficina gráfica que estava em reforma, adquirindo equipamento mais moderno. Inicialmente compramos 3 prelos mais tarde compramos outra máquina do Fontana, porque as emendas eram muitas e não estávamos dando conta.
 
7. Quando começou a trabalhar na litografia onde foi buscar os profissionais? 

Olha, o principal funcionário da fase da litografia era o Guilherme Traple, admitido desde o início como sócio, pois inclusive o nome do estabelecimento era Raicosky e Traple. O Guilherme já era profissional no ramo da litografia em Curitiba antes de transferir-se para Ponta Grossa. Já havia trabalhado na Metalgráfica Pradi e era um bom técnico. Quando decidiu ir à nossa cidade empregou-se inicialmente na oficina do Madalosso que trabalhava com latas.
 
8. Em que data a tipografia passou a ser também litografia? 

Bem, de 1929, data em que abri a oficina, até o ano de 1940 era tipografia e papelaria. Só a partir de 1940 é que começamos a trabalhar com as pedras, na rua XV de novembro , n.º 444. De início tínhamos 14 funcionários e, apesar da razão social da firma ser Raicosky e Traple, o noem fantasia era Impressora Pontagrossense. Este foi o segundo nome da firma que até então denominava-se Tipografia Expresso.
 
9. Nesta época Ponta Grossa contava com muitas litografia?  

Não, a nossa era a única.
 
10. Mas não foi a primeira ...  

A segunda. Primeira foi a do Guimarães, que operava com o sistema de pedras e máquinas planas. Foi nela, aliás, que tive o meu primeiro contato com a impressão litográfica, pois apesar de ser diretor da tipografia sempre dava uma mão na parte litográfica. Houve ainda outra firma que já citei, do Madalosso, que só trabalhava com latas.
 
11. Das litografia de Curitiba a parte técnica sempre esteve sob responsabilidade de alemães em Ponta Grossa também?  

Também, também. Naquela época os profissionais que trabalhavam em pedra ou tinham nascido na Alemanha ou eram descendentes de alemães. O próprio Seu Emilio que era mestre do Guimarães era nascido na Alemanha.

12. A litografia Guimarães terminou em que ano?  

Calculo que tenha terminado no ano de 1935.
 
13. E os desenhistas ou cromistas?  

Olha, é engraçado. Algum desenho era feito lá mesmo, em Ponta Grossa, mas muito pouco. A maior parte deste trabalho era executada em Curitiba. Tínhamos aqui um grupo de desenhistas vinculados a outras impressoras e que trabalhavam também para nós.
 
14. Mas como é que trabalhavam: eram vinculados a Impressora Pontagrossense ou trabalhavam para o Senhor como freelancer?

Eles não tinham vínculo com a minha Impressora. Trabalhavam particularmente. A gente trazia o serviço a Curitiba, eles executavam e depois nos mandavam. Fazia aqui inclusive as matrizes. Gravavam em zinco e depois a gente, lá em Ponta Grossa, tirava a cópia que seria transportada para a pedra matriz da máquina. Estes desenhistas eram todos de origem germânica, estavam ligados a outras impressoras e faziam o nosso trabalho em casa à noite, ou nos fins de semana.
 
15. Lembra o nome destes desenhistas?  

Sempre foram os mesmos: Otto Schnneck, Alfredo Oeler e Albino  Hoetlich.
 
16. Devia ser muito difícil trabalhar em Ponta Grossa dependendo dos desenhistas de Curitiba, se eram eles que deviam criar o rótulo, que antes de ser executado precisava ser apresentado a apreciação do freguês ... 

Era muito complicado mesmo. Mas de um modo em geral o freguês já trazia a ideia e, raramente, pedia uma criação nossa. Fazíamos o croqui, submetíamos a apreciação e dificilmente eram feitas alterações. Mas quem desenvolvia esta ideia era o desenhista que era o elemento mais criativo, o profissional mais qualificado.
 
17. Quer dizer que os desenhistas não eram registrados como funcionários da sua empresa. Não eram registrados, não. Aceitavam encomendas e recebiam por trabalho realizado.

 
18. E o trabalho do desenhista era caro?  

Olha, para a época era bem cobrado. Na verdade era um trabalho mais especializado, de profissional qualificado. Pela capacidade que tinham, era justo cobrar um bom preço. Depois o trabalho que faziam não era um trabalho comum então o preço era alto. Mas compensava, porque não podíamos prescindir deles.
 
19. Os fregueses da litografia eram só de Ponta Grossa? 

Tínhamos uma clientela muito boa em Ponta Grossa mas trabalhávamos muito para o Rio Grande do Sul, aquela região de Caxias, Bento Gonçalves e mais tarde fizemos também para o Norte do país, principalmente para engenhos de açúcar de Pernambuco. Tínhamos inclusive um representante nosso em Recife.

20. E a Impressora Pontagrossense tinha condições de atender todos os pedidos? 

Naquela época havia muita dificuldade de transporte, o serviço ficava encaixotado um tempão antes de chegar no destinatário. Era comum uma mercadoria ficar mais de um mês no Porto de Paranaguá esperando embarque, fora o tempo da viagem em si. Quer dizer, não havia capital que chegasse para trabalhar assim ... eram todos serviços grandes que ficavam parados depois de prontos e a gente esperando receber ... Além disso, como o desenvolvimento do Noite é mais recente, ele dependiam do Sul nesta parte de rotulagem e os pedidos eram muitos. Basta dizer que nós, particularmente atendíamos apenas 20% dos pedidos que recebíamos, não tínhamos condições de produzir mais, pois trabalhava-se como regra em prazos de 60 dias devido a demora do transporte.
 
21. Qual era o maquinário da litografia?  

Tínhamos 4 prelos e uma quantidade enorme de pedras. E todo o material empregado era importado: as próprias pedras, o papel telure, o material técnico para transporte ..

22. Até que ano a Impressora Pontagrossense trabalhou com pedras litográficas?  

Até o ano de 1945 quando partimos para o sistema Offset.
 
23. Porque decidiu a trocar a litografia pelo novo processo? 

Porque já estávamos sentido necessidade de maior produção e também de maior qualidade. O novo sistema apresentava uma tecnologia mais avançada e dava melhores condições de trabalho.
 
24. Os mesmos funcionários que trabalhavam com a litografia foram assimilados no nosso sistema?  

Alguns foram aproveitados, outros, no entanto, tiveram que ser substituídos.
 
25. A Impressora Pontagrossense terminou ou a Cartográfica Industrial, sediada em Curitiba é sua continuação? 

Bem, em 1963 montamos a firma aqui com o nome fantasia de Cartográfica Industrial, caracterizada com filial da Impressora Pontagrossense que permaneceu operando ainda por mais 2 anos em Ponta Grossa. Daí então fechamos a firma lá, eu me aposentei, e só ficou a Cartográfica que é dirigida por meus filhos. Eles começaram a trabalhar comigo desde pequenos. Hoje a firma é dirigida por Luís Norton Raicoski, diretor, técnico, Edos e Aronides Raicoski.