Páginas

Mostrando postagens com marcador Produção. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Produção. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 04

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 

Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

4. Mercado gráfico editorial e um breve resumo dos equipamentos utilizados.

As três de fevereiro de 1919, sob a direção de Benjamin Lins, secretário por De Plácido e Silva, é lançada a “Gazeta do Povo”. O vertiginoso crescimento experimentado por esse matutino ao longo de sua existência, desde os primeiros passos, tem obrigado a um constante aperfeiçoamento de seu parque gráfico, visando encurtar o espaço de tempo entre a coleta, o processamento e a apresentação da notícia ao leitor.

Mais de 70 anos já se passaram quando a primeira rotoplana imprimia lentamente as então quatro páginas do jornal, mais tarde ampliadas para oito. Passando pelas velhas linotipos que derretiam o chumbo, pelo valor e fuligem das oficinas. Em sete de setembro de 1922 a Gazeta publicava uma edição especial de 88 páginas em cores (bicolor) comemorativa ao primeiro centenário da independência do Brasil.

A Gazeta do Povo foi o primeiro jornal paranaense e o segundo no Brasil a adotar o revolucionário processo com rotativa de grande porte. A seguir, em 1973, publicou a primeira foto colorida da imprensa do Paraná, importando equipamento americano. Mais tarde, foi implantado o sistema de fotocomposição eletrônica operado por computadores de terceira geração. Em nova ação pioneira, a Gazeta recebe em 1975 o sistema Compuscan Super Alpha, primeira máquina do mundo que lê textos datilografados (leitura óptica) e os transforma em fita perfurada, sendo a primeira a ser utilizada em toda a América Latina.

Com a Compuscan vieram um computador para elaboração de textos, mais veloz, e uma máquina automática para a preparação de chapas de impressão. Depois, um processador de filmes em 90 segundos, o Kodalith, e a moderna rotativa Urbanite Goss Mielhle Dexter, que imprime 30 mil exemplares a cores por hora. Seguiu-se o Compugraphic 8600, equipamento de fotocomposição computadorizado, ponto de referência de técnicos gráficos do país inteiro. As últimas inovações foram a implantação de duas fotocompositoras a laser e dois sistemas paginadores que usam telas computadorizadas gigantes para a montagem das páginas.

Atualmente, com seus mais de 120 mil exemplares dominicais, com mais de duzentas páginas “standard” e tablóides, a Gazeta do Povo se transformou num dos principais jornais metropolitanos e numa das mais avançadas empresas jornalísticas do país.

Em 1927 surge a “Illustração Paranaense”, primeira revista impressa em papel couchê, criada por João Batista Groff.

A 17 de julho de 1951 surge “O Estado do Paraná”,  sob a iniciativa de Aristides Merhy, impresso numa rotoplana, que durante quatro anos soltou um jornal  diário de doze páginas (e a média de trinta aos domingos). Em 1955 uma rotativa Man, alemã, fazia a proeza de rodar dezesseis páginas, com cor adicional em quatro delas, que rodava a também  o vespertino “Tribuna do Paraná” (fundado a 1º de outubro de 1956), com uma qualidade só superada pelo Offset. Em 1958, o Estado publicou, em edição extra, em primeira mão nacional, por ocasião da Copa do Mundo de futebol na Suécia, a radiofoto trazida de São Paulo que mostrava o capitão Belini erguendo a taça Jules Rimet.

Em 1959 houve a publicação da primeira foto batida sob a água na piscina do Clube Curitibano, e algumas fotos do Estado foram republicadas nas revistas americanas Life e Time.

Em 1962 passa ao controle do empresário Paulo Pimentel, conhecendo inovações até de logotipo (a 20 de julho de 1965) e rompe um velho tabu ao publicar uma foto de futebol na primeira página. Em 1967 publicava, em primeira página, a primeira radiofoto captada em Curitiba.

Mais de duas décadas após sua fundação, o Estado do Paraná cresceu tanto que necessitou de uma completa mudança em seu parque gráfico, optando  a sua diretoria pela inovação técnica, instalando, a 31 de março de 1974, a primeira rotativa em Offset do país, a Goss Urbanite, composta de três unidades de impressão em branco e preto e uma de três cores que permite as fotografias em policromia (usadas na primeira página diariamente desde fevereiro de 1978), e equipada ainda com um funil superior extra, permitindo o encarte automático de tablóides. O sistema de fotocomposição é o Photon, com computadores modelos 44, 48 e 412, cada um substituindo dez linotipos, os quais podem trocar até quatorze vezes numa mesma linha o tipo do corpo, que começaram a operar a 1º dezembro de 1973.

Os computadores são comandados por uma Varicomposer e outros tecladoras Varicomp 2000, com teclado direto de perfuração, e outras duas Varicomp 3200, as primeiras a entrar em operação no Brasil, com memória e equipamento especial de correção e leitura direta em visor de fita. O Estado do Paraná foi apontado pela empresa Lorillex, fabricante de tintas, como um dos mais bem impressos do país. Com o avanço tecnológico, o jornal incorporou em sua linha de produção 16 terminais de computador Gepeto, inclusive na redação, funcionando ininterruptamente. Em janeiro de 1987 foi adquiro o equipamento alemã Cromograph, passando o Estado a ser um dos jornais na vanguarda da policromia; essa máquina tem como principal função “ler” a foto colorida, separando-a em cores primárias (vermelho, azul, amarelo, preto e branco); também transforma impulsos em raio laser, que sensibilizam o filme do fotolito, gravando a imagem correspondente à cor já separada, e é capaz de publicar uma foto colorida até o tamanho  de uma página inteira de jornal.

Em 1º de novembro de 1989 começou a operar o RNPT (Reuter News Picture Terminal), único existente no país, que recebe até 120 fotos enviados por fax e as armazena em sua memória, para posterior seleção e transferência para papel fotográfico.

Um dos mais atuantes veículos de comunicação do Paraná, o jornal “Diário Popular” começou a circular no dia 04 de março de 1963, dirigido pelo jornalista Abdo Aref Kudri, e evoluindo em consonância com o desenvolvimento do país. A empresa começou com uma máquina manual plana, que imprimia folha por folha. Em meados de 1966 evoluiu para uma grande conquista: uma impressora plana automática (rotoplana), cuja vantagem era um dispositivo que puxava o papel para a impressão, denominado de “chupeta”. Logo depois viria a rotativa tipográfica (linotipo), que exigia a composição a chumbo quente. Em 1972 passou para o sistema a frio, em Offset, adquirindo-se simultaneamente um sofisticado maquinário para o processo de composição por computadores eletrônicos equipados com laser, caraterizando um dos parques gráficos mais completos do Paraná.

Como se vê, as técnicas mais moderna de impressão foram e vão sendo logo instituídas em nosso meio, culminando com a revista “Gráfica”, de Osvaldo Miranda, o Miran, como é mais conhecido, um dos melhores profissionais de design gráfico do país, criador do jornal “Raposa”, editado pela Fundação Cultural de Curitiba em 1983, publicação de humor com muitas ilustrações e brincadeiras gráficas. O mesmo teve a ideia de se fazer uma revista que registrasse todos os trabalhos gráficos que estavam sendo feito no Brasil e que mostrasse as qualidades dos profissionais nessa área, incluindo comunicadores visuais, designers gráficos, ilustradores e cartunistas. A revista Gráfica foi criada para concretizar essa ideia, procurando usar uma linguagem homogênea de apresentação dos trabalhos e retratando em si mesma o melhor da qualidade gráfica brasileira, que em alguns casos assume até mesmo uma posição de vanguarda.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 03

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 

Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

3. A consolidação da produção gráfica e o desenvolvimento da Litografia paranaense.

Em 1902, a Baronesa do Serro Azul vende a Impressora Paranaense para Francisco Folch, que de há muito exercia a sua direção técnica, que concentra-se nas atividades tipográficas e litográficas. A firma alcança a Medalha de Ouro na Exposição do Cinquentenário (1903), pelas litografias exibidas.

Efetivamente, é nas duas primeiras décadas do século que se multiplica o número de empresas gráficas especializadas, muitas das quais até hoje em franca atividade. Graças à adiantada estrutura técnico-industrial curitibana se pode produzir revistas satíricas “Olho da Rua” e “A Carga”, impressas em policromia e papel couchê. Em 1911 surge o “Paraná Moderno”, o primeiro a imprimir fotografia (clichê com retícula), dos irmãos Weszfog. “A Noite” e o “Commercio do Paraná” são os dois primeiros periódicos impressos em linotipo. 

Exemplo do perfeccionismo técnico e artístico de Folch é a revista “Paraná”, de Romário Martins, que se comparava às melhores revistas brasileiras da época. Em 1912, Folch fez fusão com a litografia de Max Schrappe, de Joinville, que possuía uma filial no Recreio Cruzeiro, no Batel, montada em 1910.

A Impressora Paranaense não poupou esforços nem recursos para manter-se na vanguarda do setor gráfico, acompanhado a evolução dos processo de impressão, como bem atestam alguns rótulos atribuídos ao litógrafo Raschendorf (1914-1917), bem como a implantação de moderna clicheria, em 1929. Neste mesmo ano, provavelmente, a sua equipe de desenhistas-litógrafos criou as figurinhas que embrulhavam as famosas Balas Zequinha, no formato 5x7, obedecendo às indicações dos donos da empresa que as fabricava., A Brandina, dos Irmãos Sobania. Os exemplos pioneirismo se repetem a cada novo passo, como ocorreu em 1936, com a implantação do sistema “Offset-tied”.

Em 1914 retorna ao Brasil o litógrafo alemão Germano Henrique Guilherme Kirstein, trazendo para Curitiba uma prensa de mão, com a qual, em 1917, fez as primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil, experimentalmente, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, com a finalidade de serem utilizadas em copo, aplicadas a fogo, utilizando retrato do então Presidente Wenceslau Braz. 

O gravador alemão Alexandre Schroeder, que estabeleceu-se em Curitiba no início do século e trabalhou algum tempo na Impressora Paranaense, onde conheceu Rômulo Cesar Alves, que funcionava à rua São Francisco n.º 37 (hoje n.º 215), com a participação de outros sócios, o Barãozinho do Serro Azul (Ildefonso Serro Azul) e Evaldo Wendler. A regra da casa era o rigor quanto à perfeição do trabalho, procurando a melhor impressão. Não obstante, a permanência de Schroeder nessa firma foi bastante curta, motivada pelo preconceito quanto à sua origem germânica. A Litografia Progresso teve sua atuação intensa na vida curitibana, sobretudo no período entre guerras, criando etiquetas e rótulos, a bem dizer, para todas as indústrias e casas comerciais da cidade; nesse período a cidade se torna centro universitário, a economia paranaense se tonifica e o pinho vai substituindo o mate como eixo industrial.

Em 1920 Schroeder associou-se a Kirstein, fundando a Litografia “Schoroeder e Kisrtein”, à rua Assunguy (atual Mateus Leme), números 57 e 59; essa associação seria de grande importância para o desenvolvimento da nossa indústria gráfica, pois ambos tinham, desde o início, o propósito de intensificar os ensaios para a produção das decalcomanias, chegando inclusive a fazer a primeira experiência de decalcomania em louça. Esse esforço pioneiro interessou o industrial Francisco Fido Fontana que, com os dois especialistas alemães e outros empresários locais, formaram a Sociedade Metalgráfica Limitada, visando “Indústria e comércio de estamparia, litografia, tipografia fabricação de latas e outros”, que entrou em operação a 15 de agosto de 1954, instalada num sobrado da atual Avenida João Gualberto, n.º 9.

Na qualidade de desenhista chefe da Metalgráfica, Schroeder executada trabalhos de alto nível artístico, marcadas pelo bom gosto na escolha das cores e pela execução limpa e meticulosa. Com o seu falecimento, ocorrido em 1934, assumiu o seu posto Rodolpho Doubek: “fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo”. Na composição dos textos dos cartazes litográficos emerge toda uma sociedade, com suas crenças, valores e mesmo problemas, impregnados em casa uma das palavras do velho apelo ao consumo. A perda do reinado da litografia como soberana absoluta em processos de impressão nunca foi admitida como lógica por Doubek, apesar de alguns estabelecimentos em Curitiba só terem abandonado a litografia por volta de 1955/1958 (nota: existem informações que pode ter sido posterior, e como meio de reprodução artística se mantém).

A litografia conviveu lado a lado com todo o florescimento e apogeu do mate, que inclusive condicionava a sua atividade.  Para promover as diversas marcas de mate, produziu-se o mais variado material, desde rótulos de barricas até papéis de carta, cartões-postais, folhetos, marcadores de livros ou mesmo cupons e vales-brinde.

Os demais clientes das litografias eram principalmente fabricantes de doces, bolachas, produtos alimentícios e bebidas, estas com os rótulos mais cuidados e sofisticados (vinhos, runs, uísques, vermute, gengibirra, gasosas, guaraná, capilé, etc.), além de cigarros, charutos e produtos de perfumaria. Em Curitiba havia também algumas cervejarias e fábricas de “phosporos”, que não puderam sobreviver muito tempo à concorrência das filiais das grandes empresas, e assim se foi também a litografia, atropelada pelo Offset

Durante toda uma certa época, os rótulos e embalagens desses produtos industrializados de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular, através de seus desenhos, a população tomava conhecimento dos modismos em voga e participava de uma visão do mundo, realista ou onírica, cuja repetição constante, durante anos, criava uma nova imagem mental, constituindo um dado referencial compartilhado com outras pessoas. 

Posteriormente, a Sociedade Metalgráfica limitou-se a produzir exclusivamente decalcomanias, sendo incorporada às Fábricas Fontana, que transformaram-se na mais importante organização do gênero em todo país.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 02

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

2. Panorama da produção gráfica no Paraná no século XIX (1850 - 1900) 

Em 1857 publicou-se o primeiro órgão literário paranaense, “O Jasmim”, em formato pequeno, que teve vida curta.

A década que se inicia em 1880 seria da mais alta significação para as atividades gráficas paranaenses. Poucos anos antes, fixara-se em Curitiba o dentista Luís Antonio da Silva Coelho, natural do Rio de Janeiro, o qual logo mobiliza ativo grupo de intelectuais e funda a “Revista Paranaense”, cujo primeiro número sai a 15 de junho de 1881 e no qual colaboraram diversos escritores e poetas; a revista seguia esmerado padrão gráfico e era impressa em excelente papel.


A grande inovação devida a Luís Coelho foi o prelo mecânico, que foi o posto a funcionar a 6 de outubro de 1880 e marcou época. Encorajado pelas novas perspectivas, de quem eram evidência o lançamento da “Gazeta Paranaense” e  do primeiro jornal em língua alemã, o “Der Pioner”, Luís Coelho vê chegado o momento de criar-se aqui uma litografia; faz contato, então, na Côrte com Narciso Figueras, desenhista catalão que trabalhara em gravura sobre pedra em Barcelona, o qual anima-se a vir para Curitiba. Aplicando algumas economias na aquisição de equipamentos para o seu estabelecimento, que instala por volta de 1884. A impressão litográfica era trabalhosa, exigindo talento para o desenho.


Quando Nivaldo Braga decide lançar, em 1887, a sua magnifica “Revista do Paraná”, já encontra a Litografia do Comércio, instalada por Figueras à rua Trajano, a estrutura litográfica indispensável. A composição tipográfica da revista era feita na tipografia Pêndula Meridional, que Luís Coelho adquirira e melhorara, permanecendo à Rua da Imperatriz (atual Rua das Flores), n,º 89. Ao ilustre lapeano se deve um dos primeiros “ex-libris” de Curitiba, rivalizando no pioneirismo com o do Dr. Joaquim de Almeida Faria.


Desavindo-se Nivaldo Braga e Narciso Figueras, decidiu este último a criar seu próprio periódico, a que deu o nome de “Galeria Ilustrada”, passando a divulgar as caricaturas desenhadas por ele próprio inspiradas na vida política local: sob o aspecto gráfico era da mais elevado qualidade, comáravel às melhores revistas brasileiras da época, ou mesmo dos grandes centros mundiais; mas era cara para o modesto padrão aquisitivo dos leitores curitibanos e paranaenses de então, e sua furação não se prolongou mais do que dezoito números.

A atividade tipográfica alcançara já elevada expressão, já se considerando os tipógrafos suficientemente numerosos e prestigiados para criar um órgão de classe, a que deram o nome de Agremiação Tipográfica. Segundo um relatório do presidente da Associação Comercial, em 1896 já havia sete tipografias em Curitiba. É de 1º de março o primeiro número do “Diário da Tarde”, o periódico de mais longa circulação no Paraná, sendo editado até hoje (1991).

A erva mate vivia momento excepcional nesse fim de década, impondo aos industriais paranaenses grande esforço de organização para atender às exigências crescente dos compradores estrangeiros. Começou-se substituindo o invólucro, que deixou de ser o surrão de couro cru e passou a ser a barrica de pinho, sugerida, anos antes, por André Rebouças; o novo recipiente já não precisava ser anônimo, com a bolsa de couro, e pedia etiqueta identificadora do fabricante e do importador. De início esses impressos ou rótulos eram simples e de uma só cor; aos poucos os compradores foram exigindo maior requinte, marcas fantasiosas, de rebuscado desenho e variada policromia. Inconformado com a estrutura incipiente de feição artesanal que prevalecia nas oficinas gráficas da cidade, decide Ildefonso Pereira Correia ─ O Barão do Serro Azul ─ reforçar essa atividade, fundando a Impressora Paranaense, que seria a rigor, sucessora da Tipografia Paranaense, com as suas instalações ampliadas com serviços complementares de litografia; foi instalada à Rua do Riachuelo, passando a operar em 1888 sob a gerência de Jesuíno da Silva Lopes, filho de Cândido Lopes.

A qualidade dos trabalhos da Impressora era tanta, que sua diretoria chegou a ser pressionada para que fabricasse papel-moeda falso em benefício da Revolução Federalista. Na obstante as dificuldades do momento, a produção foi consideravelmente diversificada, ensaiando-se novas técnicas de impressão, sobretudo no terreno da policromia, que era desconhecida no Paraná; para esse avanço contribuíram tanto a Escola de Belas Artes, fundada alguns anos antes por Mariano de Lima, como a criação de empresa concorrente, a Litografia de Alfredo Hoffmann, estabelecida à mesma Rua do Riachuelo, n.º 79, que embora com equipamento mais modesto, contava com excelente equipe de tipógrafos e um especialista em litografia chegada do Alemanha, centro mundial das artes gráficas até a Segunda Guerra Mundial.

São desse tempo trabalhos de algo nível artístico e que situam a capital paranaense em posição de vanguarda no país: ilustrações religiosas, rótulos, etiquetas industriais, diplomas, etc.

O consagrado litógrafo Francisco Folch, de Barcelona, fez contato com o Barão, então no auge do entusiasmo pela sua empresa gráfica, que o contrata imediatamente para a Impressora Paranaense. É a Folch que se deve grande parte do renome que laureou a produção curitibana e tão lisonjeiras impressões inspirou, em 1897, aos visitantes da Exposição Industrial do Rio de Janeiro, como bem registrou o cronista do “O Paíz”:
Em litografia e tipografia ainda não vimos produtos mais lindos feitos entre nós [...] desenhos admiráveis e nitidez surpreendente [...] côres, muito bem combinadas e produzindo a par da beleza dos desenhos, resultados magníficos.”


Com a trágica morte do Barão, o controle acionário da Impressora passa às mãos de sua viúva, que, após ter suas finanças recuperadas, resolve promover a publicação de obras de autores locais, criando-se, em 1900, a “Biblioteca da Impressora Paranaense”, com livros de esmerado padrão tipográfico, que justificou a publicação de um dos primeiros jornais de propaganda a sair no Brasil, com o nome da empresa.

O momento era indiscutivelmente propício às promoções culturais, à confecção de livros de categoria. Coube à Livraria Econômia imprimir em duas obras de maior alcance didático que Curitiba vira até então: a “História do Paraná” de Romário Martins e a “Corografia do Paraná” de Sebastião Paraná. A oficina do jornal em língua alemã “Der Neobachter” produzia a revista “Azul”, que, como o nome diz, era impressa em cor azul, com tipo, vinheta e outros detalhes decorativos de grande requinte, e com retratos dos autores em sépia, litografados por Augusto Stresser, o que lhe oferecia harmonioso contraste.

O renome de Curitiba como adiantado centro de Artes Gráficas fora destacado, em 1895, pelo retrato em composição tipográfica que, do Presidente Prudente de Moraes, fizera Fernando Moreira, jovem tipógrafo de “A República”, sendo feita tiragem em seda, trabalho inédito, tanto aqui como no estrangeiro, causador de surpresa e admiração aos que o examinam, alcançando o mais elevado estágio na arte tipográfica.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 01

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski

1. O início da Produção gráfica oficial no estado do Paraná.


A atividade artesanal e artística em Curitiba, reduzidíssima até meados do século passado, vai adquirindo alguma intensidade a partir da emancipação da Província, em 1853, coincidindo com a implantação de novos serviços, decorrentes de novas necessidades, exigências e prerrogativas de capital, e com o momento imigratório que se engrossa sobretudo com profissionais urbanos e artesãos. 

Uma das caras mais tradicionais curitibanas, a da especialidade de artes gráficas, começa nessa época. Com a instalação da Província, figurou, no plano administrativo do Presidente Zacarias Goes e Vasconcelos, a instalação de uma tipografia que facilitasse a publicação dos atos de seu governo. Isso fez com que se transferisse para a nova província um profissional da arte de imprimir; aceitou a empreitada pioneira Cândido Martins Lopes, de Niterói. Para Curitiba trouxara, apenas, “pesada mesa de ferro, com prancha de composição e o tosco mecanismo que devia fixá-la. Por cima o rolo de correr; as caixinhas de tipo, algum material acessório, ferramentas”; com tal acervo constituiu a Typograpia Paranaense, a valor, cuja sede provisória instala no número 8 da rua das Flores, mudando-a pouco depois para o número 13. A 1º de abril de 1854 saía o primeiro número de “O Dezenove de Dezembro”, data na qual passou-se a comemorar o dia da Imprensa Paranaense.

Para publicação de atos oficiais, a folha recebia uma subvenção mensal de sessenta mil réis, como se depreende da leitura do próprio “O Dezenove de Dezembro”, na sua edição de 10 de junho de 1854, parte oficial, expediente  do dia 1º de maio de 1854:
Ao inspector interino da tesouraria. ─ Mande V.S. pagar ao proprietário da Typographia Paranaense Candido Martins Lopes, ou à pessoa a ele autorizada, a quantia de quatro centos mil réis por conta da prestação mensal de sessenta mil réis, que tenho marcado pela impressão dos actos officiaes no jornal Dezenove de Dezembro, que deve ser contado do passado mez de abril em diante.” 
No entanto, essa informação é contradita no “Relatório” do Presidente de 1º de julho de 1854:
”Devo dizer-vos, que tendo a tipografia vindo espontaneamente, nenhuma subvenção recebeu nem recebe do governo da Província, que limitou-se a fazer assinar uma porção de números de periódico para mandar distribuir por diversas autoridades e corporações, visto publicar o seu expediente.”
 
Durante toda a atividade de suas oficinas, o “Dezenove de Dezembro” constituiu-se em verdadeiro centro de aprendizado tipográfico e redatorial. Aquele que pode ser considerado o primeiro livro de grande porte publicado em Curitiba (com 203 páginas, sendo que os três anteriores meros folhetos ou livretos) vem à luz em 1863 pela Typographia Paranaense, o “Apontamento sobre suspeições e recusações Juriciário ...”, do bacharel Luís Francisco da Câmara Leal, a quem devemos a criação da Biblioteca Pública do Paraná. E, no final de 1880 ou inicio de 1881, a Typhographia imprime o possível primeiro livro de versos editado em Curitiba, “Sertaneja”, de autoria de Gabriel da Silva Pereira. O “Dezenove de Dezembro” deixa de circular em 1890, por não aceitar imposições políticas, sendo substituído, a 21 de abril, e usando-se as mesmas oficinas, pelo “Diário do Paraná”, órgão da União Republicana, dirigido por Nestor Victor.  Essas mesmas oficinas dariam vida, mais tarde, à Impressora Paranaense, como ver-se-á adiante.