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domingo, 19 de agosto de 2012

Miopia social do design

Um fato curioso ocorre para quem atua na área de Design ao ser perguntado sobre sua profissão, sempre vem acompanhado de uma pergunta como: mas você trabalha com o quê? Ou o que você faz para viver? Então é artista? Você gosta de desenhar?

Quem atua na área de design certamente já passou por situações na qual sua profissão parece ser mal compreendida. Possivelmente o fato das diferentes nomenclaturas serem elaborados no Brasil, somada a confusão da tradução (post) colaboraram para a consolidação de uma imagem “turva” sobre o design e o designer no Brasil

Inúmeras vezes são relatadas descrições curiosas sobre as visões do design. Alguns exemplos desfrutam de até certo ar clássico como: então você goste de desenhar? O fato é que ainda a um longo percurso até que o design tenha o reconhecimento e facilidade de entendimento que outras áreas desfrutam como as engenharias, arquitetura, medicina, direito entre outras. Claro que o fato do design ser uma atividade reconhecida por esta nomenclatura relativamente recente, colabora para certa demora em sua assimilação. Neste ponto o designer poderia conciliar uma parcela de instrutor/esclarecedor sobre sua profissão.

Devido a fatores que não estão em foco aqui, como, por exemplo, a regulamentação da profissão, a qualidade do ensino do design e etc, criaram-se no mercado visões de design diferenciadas, ou que torna a afirmação de uma “identidade” do que é a profissão de Designer, principalmente no Brasil, difícil, não só para o mercado, como para os próprios profissionais. Esta flutuação de possibilidades de atuação tem um lado positivo, ao proporcionar várias áreas como mercados consumidores, porém por não impor barreiras, não permite que o reconhecimento do trabalho, ou seu entendimento perante um publico maior tenha êxito.

No desenvolvimento de um projeto de logotipo, em alguns casos, o custo parece incompreensível para alguém fora da área. Entretanto uma abordagem mais educativa ou instrutiva, apresentando os passos e a existência de toda uma pesquisa, de estudos e métodos sobre o produto/serviço aplicado no desenvolvimento, normalmente são eficientes para, se não concretizar um projeto, apresentar uma perspectiva nova a quem tem pouco conhecimento sobre a área, reforçando a importância do design e orientando para a formação de uma parceria para o desenvolvimento do futuro projeto com profissionais adequados. Caso outras pessoas sejam consultadas para fornecer um projeto de logotipo, o solicitante terá uma visão mais ampla, e caso realmente tenha uma preocupação com a imagem do seu produto/serviço, procurará profissionais adequados para atender suas exigências, evitando assim construir vínculos com profissionais duvidosos, ou meramente instrumentais. Esta perspectiva é baseada também na capacidade e vontade dos contratantes/cliente em efetivamente desenvolver um trabalho de qualidade e sólido.

Faz-se necessário compreender que um designer ao ter contato com um futuro parceiro/cliente deveria, num primeiro momento, ter uma atenção especial em construir uma imagem adequada para o trabalho do designer, esclarecer como o design pode auxiliar no desenvolvimento e crescimento de seu produto/serviço, ao invés de continuar com as  eternas reclamações sobre clientes e afins. É fácil criticar o outro lado, o duro é tentar se adequar para buscar uma mudança de pensamento e percepção. Se todos os profissionais se unissem em prol de uma correta orientação, talvez o mercado fosse mais maduro em alguns aspectos.  

De certo modo é possível dizer que o design sofre de certa miopia social, na qual o designer tem um papel, e até responsabilidade, na correção deste "desvio" de foco proporcionado por alguns aspectos aqui abordados.

sábado, 18 de agosto de 2012

Design e Desenho e Desígnio?

Este pequeno texto não tem por objetivo levantar a “famosa” discussão do que é ou não Design, ou o que deveria ser considerado como sendo Design, não que se deva colocá-la num segundo plano, mas focar a construção do termo, para assim, buscar um entendimento do porquê o termo Design ser interpretado como é. 

O caminho do termo Design tem uma relação íntima de como sua significação foi construída, sendo associado em diferentes formas e as mais diferentes áreas. Note que esta agregação de áreas, torna o Design uma área do conhecimento “charmosa”, inquieta, mutante e não “contida”, sempre se espalhando e quebrando as finas paredes que tentam conter o seu conceito.

O termo/expressão/palavra Design tem seu sentido alterado no transcorrer do tem­po. Estas transformações não são, nem serão definitivas, nem estão condicionadas apenas ao Design, a língua e todo o discurso que a envolve (comunicação - interpretação) na sociedade é uma constante mutação. Este “fenômeno” é amplamente estudo por correntes semióticas.

O Design (referindo-se ao termo/expressão/palavra e seu sentido), deriva do inglês, e  atua como um substantivo (propósito, plano, intenção, meta) e verbo to Design (simular, projetar, esquematizar, proceder de forma estratégica). MARTINS (2007) sustenta que a origem do Design é a palavra italiana di­segno, que derivou em dessein (francês), deseño (espanhol), desenho (português) e Design (inglês). Para ROSSI (2008) a origem é decorrente do termo latim medieval Designare significando Designar, diagramar, achar meios para, formar alinhando-se com a ação de projetar. O ato de desenhar também era entendido com um meio de projetar e designar formas. Assim, quando referenciado, o termo Design possui dois conceitos conectados, um mais direto, do ato de desenhar, progressivamente substi­tuído pela palavra inglesa draw, draft e um indireto, o Designar, projetar, esboçar, em inglês, Design, project.

Embora sua origem possa relacioná-la com produção de um signo (de - signo), o de­senho na língua portuguesa e o Design da língua inglesa não se mantiveram como sinônimos. A alteração do sentido da palavra ocorrida nos países da língua inglesa se acentua principalmente com a Revolução Industrial. Com as inúmeras alterações nos hábitos e usos, e as novas necessidades oriundas das atividades produtivas dentro do universo sócio-técnico-cultural, houve uma diferenciação entre o ato de desenhar (to draw) e a atividade de desenhar no sentido de projetar, designar, esquematizar (to Design) (MARTINS, 2007).

Com a concretização do projeto industrial propagado com a Revolução Indus­trial, a aplicação do Design foi confundida e traduzida dentro da sua concepção original “desenho”, porém com uma aplicação diferente. Esta falha na sintonia, somada à busca por eliminar a aplicação de termos estrangeiros na língua portuguesa, fez com que no Brasil, Design, durante um determinado período, fosse traduzido como Dese­nho Industrial.

A polissemia que a palavra Design assumiu dentro do contexto nacional, somado a sua aplicação e atuação dentro de diferentes contextos, de certo modo, pulverizou uma concepção e pré-conceito sobre o que é, o que faz, e para que existe o Design na sociedade brasileira. O fato do surgimento de diferentes nomenclaturas para os cursos de formação e, até o próprio reconhecimento entre os profissionais, tornou turva a visão de uma parte da sociedade brasileira sobre o Design.

Referências:
ROSI, Dorival C. Design, Desígnio e Desenho. Triades em revista. N.00. Outubro de 2008.
MARTINS , Luiz G. F. A etimologia da palavra desenho (e design) na sua língua de origem e em quatro de seus provincianismos: desenho como forma de pensamento e de conhecimento. In: XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, São
Paulo. 2007.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Mas afinal o que é tosco?

De acordo com Silveira (1986) tosco tem origem no latim vulgar (tuscu), sendo uma alusão as pessoas que viviam no bairro Etrusco de Roma. Durante certo, período os Etruscos lutaram contra Roma, entretanto entre os anos 295 a.c. e 300 a.c. graças a uma lei romana que designava todos os itálicos como romanos, foram absorvidos pelo Império. Alguns aspectos de sua cultura, como sua religião, língua e técnicas de cerâmicas continuam sob investigação.

A significação conhecida da palavra tosco, como rude, malfeito, grosseiro, mal acabado, vem deste contexto histórico. Os Etruscos eram rivais e posteriormente fizeram parte da cultura romana, como eram externos ao Império Romano, foram considerados um povo Bárbaro. Não tardou para a criação de uma palavra para designá-los, no caso tosco (tuscu).
Outra origem está relacionada a uma gíria lusitana (SILVEIRA,1986), toscar considerada não um adjetivo, mas um verbo. Seu significado é ver ou avistar ao longe, perceber, compreender.

Conjugando no Presente do Indicativo.
Eu tosco
Tu toscas
Ele tosca
Nós toscamos
Vós toscais
Eles toscam.

Assim, tosco pode resultar em algumas interpretações. Uma delas é relacionar este olhar romano sobre o desconhecido, fora dos padrões estabelecidos, ou seja, o mal acabado, o rude, malfeito sobre a perspectiva dos romanos, pode na verdade, abrir uma nova perspectiva de interpretações e propostas diferentes daquelas estabelecidas. Neste sentido converge para o significado do verbo, o ver ao longe, avistar, perceber, compreender. Este tema de estranhamento cultural e depreciação de uma cultura não dominante, mesmo que a cultura subjugada tenha influencia na cultura dominadora, é um bom tema de pesquisa e está permeando por estas re-significações do termo tosco.
A origem da palavra tosco apresenta nuances sobre o processo de atribuição de significações. Nascendo de um sentido pejorativo em um determinando contexto histórico de uma sociedade em detrimento de outra, até ser reinterpretado como um verbo em um sentido e contexto completamente diferente.
Partindo da reinterpretação, o tosco design ou design tosco, seria um design capaz de compreender, perceber, apresentar outras possibilidades, novas práticas, outros meios de expressão, olhar além de um senso comum e de uma interpretação estável e única.