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quarta-feira, 20 de março de 2013

Miguel Raicosky e a Impressora Pontagrossense.

Apesar da transcrição datilografada estar faltando, foi localizada uma já digitalizada. O autor da transcrição original não está identificado. Por conta das pesquisas, acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

O sobrenome do seu Miguel é apresentado coma  grafia  de três maneiras, Raicosky, Raicoski e Raicosk, isso em três textos diferentes. Não tento contato com a família e, com a escassez de documentos sobre o tema,  não posso afirmar com exatidão com a grafia correta, mas pela questão da escrita a mais provável é com y no final.


Entrevista com Miguel Raicosky 

Foi um depois da missa das nove. Miguel Raicosky saiu da Catedral de Ponta Grossa acompanhado pelo sogro e foi olhar a oficina Gutemberg que estava à venda. Coisa pequena: um prelinho manual, uma guilhotina manual, tudo pequeno. Seu Miguel olhou, gostou e acabou comprando por 15 contos de réis. Começou a trabalhar por conta própria em agosto de 1939 e em 1932 com grande euforia, comprou um prelo a pedal. Em 1940 instalou também uma litografia na firma que já tinha então o nome fantasia de Impressora Pontagrossnese e razão social Traple e Raicosky.


Em seu depoimento, gravado em Curitiba no dia 18 de agosto de 1975, Seu Miguel fala das dificuldades de transporte para atender seus clientes do noite do país e conta que era atendido por três litógrafos de Curitiba que faziam aqui os desenho que seriam impressos em Ponta Grossa.


1. Por favor seu nome e data de nascimento. 

Miguel Raicosky Sobrinho, Nasci no dia 10 de junho de 1905 na cidade de Ponta Grossa onde sempre vivi e onde comecei a trabalhar aos 10 anos de idade, em cima de um caixão para poder alcançar a mesa de trabalhos gráficos no Diário dos Campos. Nesta época, o jornal tinha como redator chefe o jornalista Hugo Borges dos Reis que depois transferiu-se para São Paulo.
 
2. Desde o início de sua vida profissional dedicou-se a funções gráficas?  

É, do Diário do campos fui trabalhar na Litografia Guimarães e de lá passei para o meu próprio estabelecimento no ano de 1929. Na firma do Guimarães fui chefe do departamento de tipografia.
 
3. Quando abriu o seu próprio estabelecimento o que produzia?  

Bem, eu soube que uma pequena oficina de Ponta Grossa estava à venda, coisa pequena, um prelinho manual, guilhotina manual, tudo pequeno. Então, no domingo, depois da missa das nove horas, saí da catedral em companhia do meu sogro e fui visitar a Tipografia Gutemberg que já estava fechada por um desentendimento entre seus sócios. Olhei tudo, achei que podia começar ali o meu próprio negócio e acabei comprando por 15 contos de réis. Comecei a trabalhar no dia 29 de agosto de 1929. Já em 1932 fui melhorando e comprei meu prelo com pedal.
 
4. Qual era a produção em sua fase inicial?  

Bem, os funcionários eram somente eu e mais três meninos, quer dizer, eu mesmo cortava o papel, fazia as provas, imprimia, entregava ... 
 
5. Começou a fazer rótulos desde o início?  

Não, comecei fazendo só tipografia: papel de carta, notas, duplicatas, cartões, fichas, essas coisas para o escritório. Só mais tarde é que fomos comprando maquinário, ampliando nosso trabalho, iniciamos a impressão litográfica e começamos a fazer rótulos.
 
6. As máquinas litográficas foram compradas na Alemanha?  

Não, compramos em São Paulo, de uma oficina gráfica que estava em reforma, adquirindo equipamento mais moderno. Inicialmente compramos 3 prelos mais tarde compramos outra máquina do Fontana, porque as emendas eram muitas e não estávamos dando conta.
 
7. Quando começou a trabalhar na litografia onde foi buscar os profissionais? 

Olha, o principal funcionário da fase da litografia era o Guilherme Traple, admitido desde o início como sócio, pois inclusive o nome do estabelecimento era Raicosky e Traple. O Guilherme já era profissional no ramo da litografia em Curitiba antes de transferir-se para Ponta Grossa. Já havia trabalhado na Metalgráfica Pradi e era um bom técnico. Quando decidiu ir à nossa cidade empregou-se inicialmente na oficina do Madalosso que trabalhava com latas.
 
8. Em que data a tipografia passou a ser também litografia? 

Bem, de 1929, data em que abri a oficina, até o ano de 1940 era tipografia e papelaria. Só a partir de 1940 é que começamos a trabalhar com as pedras, na rua XV de novembro , n.º 444. De início tínhamos 14 funcionários e, apesar da razão social da firma ser Raicosky e Traple, o noem fantasia era Impressora Pontagrossense. Este foi o segundo nome da firma que até então denominava-se Tipografia Expresso.
 
9. Nesta época Ponta Grossa contava com muitas litografia?  

Não, a nossa era a única.
 
10. Mas não foi a primeira ...  

A segunda. Primeira foi a do Guimarães, que operava com o sistema de pedras e máquinas planas. Foi nela, aliás, que tive o meu primeiro contato com a impressão litográfica, pois apesar de ser diretor da tipografia sempre dava uma mão na parte litográfica. Houve ainda outra firma que já citei, do Madalosso, que só trabalhava com latas.
 
11. Das litografia de Curitiba a parte técnica sempre esteve sob responsabilidade de alemães em Ponta Grossa também?  

Também, também. Naquela época os profissionais que trabalhavam em pedra ou tinham nascido na Alemanha ou eram descendentes de alemães. O próprio Seu Emilio que era mestre do Guimarães era nascido na Alemanha.

12. A litografia Guimarães terminou em que ano?  

Calculo que tenha terminado no ano de 1935.
 
13. E os desenhistas ou cromistas?  

Olha, é engraçado. Algum desenho era feito lá mesmo, em Ponta Grossa, mas muito pouco. A maior parte deste trabalho era executada em Curitiba. Tínhamos aqui um grupo de desenhistas vinculados a outras impressoras e que trabalhavam também para nós.
 
14. Mas como é que trabalhavam: eram vinculados a Impressora Pontagrossense ou trabalhavam para o Senhor como freelancer?

Eles não tinham vínculo com a minha Impressora. Trabalhavam particularmente. A gente trazia o serviço a Curitiba, eles executavam e depois nos mandavam. Fazia aqui inclusive as matrizes. Gravavam em zinco e depois a gente, lá em Ponta Grossa, tirava a cópia que seria transportada para a pedra matriz da máquina. Estes desenhistas eram todos de origem germânica, estavam ligados a outras impressoras e faziam o nosso trabalho em casa à noite, ou nos fins de semana.
 
15. Lembra o nome destes desenhistas?  

Sempre foram os mesmos: Otto Schnneck, Alfredo Oeler e Albino  Hoetlich.
 
16. Devia ser muito difícil trabalhar em Ponta Grossa dependendo dos desenhistas de Curitiba, se eram eles que deviam criar o rótulo, que antes de ser executado precisava ser apresentado a apreciação do freguês ... 

Era muito complicado mesmo. Mas de um modo em geral o freguês já trazia a ideia e, raramente, pedia uma criação nossa. Fazíamos o croqui, submetíamos a apreciação e dificilmente eram feitas alterações. Mas quem desenvolvia esta ideia era o desenhista que era o elemento mais criativo, o profissional mais qualificado.
 
17. Quer dizer que os desenhistas não eram registrados como funcionários da sua empresa. Não eram registrados, não. Aceitavam encomendas e recebiam por trabalho realizado.

 
18. E o trabalho do desenhista era caro?  

Olha, para a época era bem cobrado. Na verdade era um trabalho mais especializado, de profissional qualificado. Pela capacidade que tinham, era justo cobrar um bom preço. Depois o trabalho que faziam não era um trabalho comum então o preço era alto. Mas compensava, porque não podíamos prescindir deles.
 
19. Os fregueses da litografia eram só de Ponta Grossa? 

Tínhamos uma clientela muito boa em Ponta Grossa mas trabalhávamos muito para o Rio Grande do Sul, aquela região de Caxias, Bento Gonçalves e mais tarde fizemos também para o Norte do país, principalmente para engenhos de açúcar de Pernambuco. Tínhamos inclusive um representante nosso em Recife.

20. E a Impressora Pontagrossense tinha condições de atender todos os pedidos? 

Naquela época havia muita dificuldade de transporte, o serviço ficava encaixotado um tempão antes de chegar no destinatário. Era comum uma mercadoria ficar mais de um mês no Porto de Paranaguá esperando embarque, fora o tempo da viagem em si. Quer dizer, não havia capital que chegasse para trabalhar assim ... eram todos serviços grandes que ficavam parados depois de prontos e a gente esperando receber ... Além disso, como o desenvolvimento do Noite é mais recente, ele dependiam do Sul nesta parte de rotulagem e os pedidos eram muitos. Basta dizer que nós, particularmente atendíamos apenas 20% dos pedidos que recebíamos, não tínhamos condições de produzir mais, pois trabalhava-se como regra em prazos de 60 dias devido a demora do transporte.
 
21. Qual era o maquinário da litografia?  

Tínhamos 4 prelos e uma quantidade enorme de pedras. E todo o material empregado era importado: as próprias pedras, o papel telure, o material técnico para transporte ..

22. Até que ano a Impressora Pontagrossense trabalhou com pedras litográficas?  

Até o ano de 1945 quando partimos para o sistema Offset.
 
23. Porque decidiu a trocar a litografia pelo novo processo? 

Porque já estávamos sentido necessidade de maior produção e também de maior qualidade. O novo sistema apresentava uma tecnologia mais avançada e dava melhores condições de trabalho.
 
24. Os mesmos funcionários que trabalhavam com a litografia foram assimilados no nosso sistema?  

Alguns foram aproveitados, outros, no entanto, tiveram que ser substituídos.
 
25. A Impressora Pontagrossense terminou ou a Cartográfica Industrial, sediada em Curitiba é sua continuação? 

Bem, em 1963 montamos a firma aqui com o nome fantasia de Cartográfica Industrial, caracterizada com filial da Impressora Pontagrossense que permaneceu operando ainda por mais 2 anos em Ponta Grossa. Daí então fechamos a firma lá, eu me aposentei, e só ficou a Cartográfica que é dirigida por meus filhos. Eles começaram a trabalhar comigo desde pequenos. Hoje a firma é dirigida por Luís Norton Raicoski, diretor, técnico, Edos e Aronides Raicoski.

terça-feira, 12 de março de 2013

Artigo sobre a Litografia Paranaense: Jornal da Tarde 1976

Digitalização do artigo do Jornal da Tarde, publicada em 20 de julho de 1976. Transcrito do original por Alan Witikoski para aplicação em pesquisa acadêmica. Todo o crédito, assim como a escrita original, está mantida. O autor não está indicado no artigo.

Está matéria inicia uma série de três, com os resultados de uma pesquisa realizada em torno dos cartões postais que circulavam ou foram impressos em Curitiba no inicio do século, mostrando vários aspectos do passado. Desde os rudimentos de nossa publicidade, alguns humoristas e suas caricaturas, até os tiques sociais tradicionais, presentes em piqueniques onde as moçoilas sempre de vestido branco e comprido, chapéu, ou as festas escolares de fim de ano, professores encharpelados, alunos de calças e suspensórios. E mostra, também o inicio das artes gráficas em Curitiba, e o que era possível fazer, com os recursos disponíveis na época. Época em que a impressão era feita através de pesadas pedras calcáreas importadas.

[Primeira Chamada] O passado Ilustrado – I

[Segunda Chamada] Da prensa manual, às gravações e relevo.

Mais que uma forma de servir como instrumento para troca de correspondência, os cartões postais, no inicio do século, eles próprios, tinham suas mensagens a passar, extrapolando as imagens atuais, restritos hoje quase que exclusivamente a paisagens, e quando muito animais ou temas folclóricos. As temáticas dos velhos cartões postais uma série de colocações tanto na cultura, como das preocupações, e dos valores estéticos da época.
Na exposição, segunda Semana do Colecionado - Memória Visual que abre as 20h30min desta sexta-feira, na Casa Romário Martins. Poderão ser analisados cartões postais humorísticos, de publicidade, ou litografados com detalhes em seda, documentando paisagens urbanas, misses do passado, o folclore alemão, a moda feminina e masculina das décadas de vinte e trinta, e entre outras coisas, elencos de companhias teatrais, de ópera e circos que se apresentaram em Curitiba no inicio do século. Entre os cartões mais diferentes dos atuais, aquele, alusivo a um crime cometido por uma moça alemã em 1907, que vem ilustrado com a fotografia da própria e a legenda: “A Filha do prefeito de Beier a qual assassinou o seu noivo, engenheiro-chefe Pressler, no dia 14 de maio de 1907, foi executada à tiros a 23 de julho às 06:30 horas da manhã em Freiburg.”

Influência Alemã

Nesta exposição serão mostrados os 114 painéis contendo cada um, entre oito e onze postais, reunidos em acervos de quatro famílias: Bassler, Doubek, Raschndorfer e Stenzel – pelo litografo, desenhista e colecionador Rodolfo Doubek, que além de colecionador, trabalhou com postais indiretamente, fazendo e desenhando as legendas para aqueles com paisagens do interior e o litoral do Paraná e Santa Catarina, fotografado por Arthur Wischral, a partir da década de vinte. Doubek é descendente de alemães, assim como o são as quatro famílias em cujos “porões” andou pesquisando e procurando material, fato que não pode ser colocado como uma simples coincidência. Na verdade, tanto os postais estrangeiros que circularam em Curitiba no inicio do século, como aqueles que eram feito aqui mesmo, trazem uma forte influencia alemã. Por várias razões.
A primeira delas diz respeito as artes gráficas, e ao próprio processo de impressão em utilização nesta época, a litografia, que surgiu na Alemanha e naquele mesmo país teve seu maior desenvolvimento inicial. Tanto assim que ao ser introduzida no Brasil, era comum que nossas primeiras empresas gráficas mandassem buscar técnicos no exterior: Espanha, Itália, Suíça, mas especialmente na Alemanha. A própria Impressora Paranaense, nossa gráfica antiga de maior tradição, costumava, inclusive a mandar seus técnicos estrangeiros para sistemáticos cursos e estágios de atualização em uma importante escola de Ley Pazag naquele país.
Lógico, portanto que importássemos maior quantidade deste material da Alemanha, do que de outros países mesmo costumavam importar também de lá os cartões postais.
Outro fator que se relaciona intimamente com este é o que diz respeito a própria presença alemã no Paraná também desde o início deste século e final do século passado. Quando em 1862 se iniciava e posteriormente se intensificava a imigração teuta. Curitiba sempre ficou entre as cidades paranaenses escolhidas para fixação de residência de muitos alemães, cuja presença se fez notar, em curto espaço de tempo, no vários ramos de atividade da cidade, incluindo-se a indústria, o comércio, as instituições culturais e esportivas. Um exemplo pode ser tomado do próprio nome de estabelecimentos tradicionais “Painos Essenfelder”, “Fábrica de Balas, Doces e Bolachas Lucinda” (que já foi também confeitaria tradicional no centro da cidade e destilaria que produzia inclusive “Whisky”), “Müller e irmãos”, “Impressora Paranaense” (gráfica das mais antigas, que já no início do século fazia impressões para todos o país, e rodou o jornal Dezenove de Dezembro, o primeiro da imprensa paranaense), “Decalcomanias Fontanta”, ou “Sociedade Metalgráfica” (na qual trabalhavam dois alemães Schroeder e Kirstein, pioneiros da litografia no Paraná e introdutores da decalcomania no Brasil), antiga “Cervejaria Providência” (de Luiz Leitner, que produziu a primeira cerveja de baixa fermentação no parque Batel). Também a antiga “Sociedade Beneficente Rio Branco”, o “Clube Concórdia”, a “Sociedade de Educação Física Duque de Caxias”, “Sociedade Beneficente Cabral”, “Graciosa Country Club”, “Sociedade Thalia” são entidades sociais-esportivas fundadas pelos alemães, além do “Coritiba Futeboll Club” que é de origem alemã “coxa branca” alemã.

Artes Gráficas

Este presença se fez notar em outros tantos estabelecimentos não mencionados, como a antiga e extinta há pouco tempo Casa Crystal de Lourival Wemdrel, e entre outras atividades, no próprio ensino, com a criação de colégios como o Bom Jesus e Divina Providência, e no pioneirismo de criação de um rudimentar primeiro Corpo de Bombeiros que atendia a colônia, antes da cidade ter sua própria corporação. Esta influência estendeu-se como não podia deixar de ser ao campo da fotografia, tão intimamente ligada as artes gráficas. Assim, entre os estabelecimentos primeiros na cidade, os estúdios mais importantes e com propriedade de Volk, Fleury, Weiss, (que funciona até hoje na rua Marechal Deodoro, sob o nome pitoresco de Studio Moderno), e Heissler, que dominaram em fotografia até as primeiras décadas deste século. As papelarias não fugiram a esta regra: Mas Roesner, João Haupt, a recém extinta Cesar Schalz. Destas papelarias, as importações de artigos estrangeiros (numa época em que quase tudo o que consumíamos era importado) eram efetuadas, de preferência e em maior no país de origem dos seus proprietários, isto é, na Alemanha. Assim, no que concerna à cartões postais, estes, em sua maioria provinham mesmo da Alemanha. E, como as papelarias de alemães eram preferidas pela colônia alemã estabelecida em Curitiba, os cartões eram adquiridos e utilizados como sistemático hábito social. Na cidade e no Estado.
A vanguarda dos alemães em artes gráficas e especialmente em fotografia pode ser observada nos riquíssimos detalhes que envolviam a execução de um simples cartão postal. Entre aqueles que serão mostrados pela Casa Romário Martins, muitos com detalhes em seda, purpurina, em alto relevo, verdadeiros trabalhos artísticos e admiráveis se levar em conta principalmente na litografia, todas as provas e mesmo a matriz de impressão precisava ser desenhada em pedra. Mas pedra calcárea (que também era importada) pesadíssima, difícil inclusive de ser removida de uma prancheta a outra, que exigia para isso, um suporte especial, na base da alavanca. Se um cartão era feito em quatro, cinco ou seis cores (e eles eram bastante comuns), cada cor exigia uma prova separada; quer dizer, eram necessárias então, seis ou sete pedras calcáreas. Os cartões com detalhes em dourado (purpurina, ou como era mais conhecido o material “ouro em pó”), ocorria nas gráficas em verdadeiro carnaval: bem no início de utilização do material, não haviam máquinas específicas para a sua aplicação que ocorria manualmente, na seguinte situação: abria-se uma mesa no quintal da gráfica, e os funcionários iam colocando o pó para aderir a uma cola já aplicada dourada. Acontece que o pó se espalhava pelo ar, e bronzeava a mesa, e os próprios funcionários ...

A difícil Impressão

Na verdade o processo de impressão sofreu uma evolução muito grande neste século, acompanhada por alguns estabelecimentos gráficos da cidade, As máquinas iniciais, conhecidas com máquina de Gutemberg eram utilizados tipos móveis e no caso da litografia nossos estabelecimentos primeiros usavam a pedra, devidamente preparada, onde se passava o rolo de tinta e um pano molhado em água, à mão ...
Depois a prensa era girada, de maneira a produzir pressão sobre o papel colocado sobre a placa, de modo que a tinta passasse da placa para o papel. Este foi o começo, e pode-se dizer, num processo semi-mecanizado, com as tais “prensa de transporte”. Somente por volta de 1907 ou 1908 talvez pouco antes, sobreveio a grande invenção e grande aperfeiçoamento das máquinas chamadas “litográficas rápidas”. Estas eram movidas a motor, e já não havia mais a necessidade de se passar um pano úmido nas pedras. A máquina, correndo automaticamente, no vai e vem, passava ela própria pelo rolo de tinta e pelo rolo de água. Pelo processo de cilindro que corria sobre a pedra, a folha era levada automaticamente, só que ainda margeada a mão.  Só bem mais tarde é que se desenvolveu nos Estados Unidos, o sistema de impressão offset que veio substituir com vantagens as máquinas rápidas. Foi aí o início da impressão indireta, processo considerado moderno até hoje, com gradativas evoluções.
O trabalho e os resultados alcançados pela litografia realçam ainda mais, quando se leva em conta, o número infinito de problemas que precisavam ser enfrentados pelos técnicos da época. A começar pelos resíduos de areia, presentes no papel utilizando para a impressão. Segundo Oscar Scharpp, da Impressora Paranaense, o problema provinha da capacidade do papel ser uma consequência de mistura do caulim dentro de uma massa. “O caulim puro não contem areia, mas o cailum utilizado nas fábricas de papel continha e areia suficiente para inclusive estragar as chapas de impressão. Um grão de areia puxado sobre a pedra deixava um sulco profundo que por sua vez armazenava tinta, e qualquer risco passava então a compor também a impressão como um detalhe adicional inesperado. Toda a sujeira aparecia na hora da impressão, era uma coisa tremenda que só foi superada com o tempo.”

A Lenta Evolução

Este aspecto, especifico em relação a evolução das artes gráficas, é um dos atrativos da exposição, segunda Semana do Colecionador Memória Visual. Ela permita toda uma avaliação dos recursos disponíveis da época e dos resultados alcançados com eles, e a evolução do próprio formato do cartão postal, inicialmente indeciso, as vezes em forma de algum objeto especifico – como um pandeiro – outros ainda menores que os atuais, e outros, com a ilustração ovalada, tendo o cartão retangular como moldura. Outro aspecto que sobressai ainda na exposição é o próprio hábito de se colecionar cartões postais, que se restringem ao passado. É lógico que eles continuam a ser fabricados, vendidos, guardados e consumidos. Mas não como antigamente. Talvez hoje muitos viajantes prefiram mesmo utilizar o DDD, o telegrama, o telex. Ou talvez ainda, por que os cartões atuais “não digam mais como diziam antes”, o que pode causar graves exclamações de algumas pessoas idosas, do tipo “já não se fazem mais cartões postais como antigamente”.
na verdade, em épocas passadas, os cartões funcionaram , quem sabe, como os almanaques, e as atuais revistas de curiosidades humorísticas e de fofocas, pois além da ilustração carregavam toda uma mensagem. Fosse referente a concluso de Miss Universo realizado no Brasil, e que se acontecesse hoje seria documentado pelas revistas Manchete, Ou fatos e Fotos, ou o crime da filha do prefeito de uma cidade alemã que de também se ocorresse hoje, seria Manchete no jornal O Globo, daria uma ponta em Fantástico, e receberia mil crônicas, talvez uma série de reportagens, do cronista, Carlos Heitor Cony. E os cartões postais humorísticos, quem sabe, substituíssem no inicio do século, as revistas de crítica e humor, como mais tarde aconteceram em Curitiba, com o nome de Bomba, ou Olho da Rua, e tanta outras. E serviram, sem sombra de dúvidas, para que a colônia alemã estabelecida no Paraná cultivasse seus valores culturais, as tradições de sua terra natal, e o folclore e paisagem, naqueles cartões repletos de trevos, porcos como símbolo de sorte, miosótis, árvores natalinas cobertas de neve, Papais Noéis avermelhados, castelo, igrejas velhíssimas, duendes e anões. E a Alemanha, sob todos os ângulos e aspectos: desde a reprodução de seus quadros famosos, até a documentação de seus crimes “bombásticos” como aquele da filha do prefeito. E até, e porque não, cartão postal contendo o menu de um navio de terceira classe do Loyd Alemão, oferecendo para o jantar, entre outras coisas, batata cozida,  ou ainda os cartões postais feitos aqui especialmente para serem vendidos e com seus recursos auxiliarem os órfãos e viúvas da guerra. 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Textos da exposição sobre a litografia paranaense em 1975

Material retirado da Casa da Memória (FCC) sobre a exposição ocorrida em 29 de outubro de 1975, que produziu diversos materiais sobre o tema. Digitalizado por Alan Witikoski do datilografado. Infelizmente o original não possui nota sobre o autor do texto, se alguém comprovar o autor, ele será devidamente referenciado.
 
A exposição, “Rótulos e Embalagens Antigos ─ Litografia” é o resultado de um trabalho intensivo de coleta de material gráfico confeccionado em Curitiba pelo processo de impressão litográfico que antecedeu ao processo de impressão Offset. Para obtenção do referido material a Casa Romário Martins fez cerca de oitenta contatos entre industriais, descendentes e proprietários de antigas litografias de Curitiba.
Como resultado, mostraremos ao público, à partir de 29 de outubro:
Pedras litográficas confeccionadas em quatro estabelecimentos gráficos;
- Rótulos e embalagens confeccionados por cinco estabelecimentos;
- Coleção de duzentos rótulos confeccionados na Impressora Paranaense no período de 1914  a 1916;
- Coleção de rótulos e embalagens confeccionados pelo litógrafo Rodolfo Doubek no período entre 1929 a 1938, na Sociedade Metalgráfica;
- Coleção de caixas de fósforo mostrando a evolução da apresentação do produto;
- Coleção de embalagens de remédios manipulados desde o inicio do século;
- Coleção de cartazes publicitários confeccionados em três estabelecimentos gráficos;
- Álbum de rótulos de cervejas antigas de todo Brasil;
A exposição mostrará ainda:
- Painel fotográfico mostrando estabelecimentos gráficos antigos, o ambiente de trabalho de uma litografia, máquinas e litógrafos;
- Painel de documentos fotocopiados recortes de jornal referentes a litógrafos, litografias e sobre a introdução da decalcomania no Paraná;
- Painel especifico sobre a propaganda do Mate;

Todo o material será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos tomados pela Casa Romário Marins entre litógrafos e pessoas ligadas a litografia e que estarão a disposição do público para consultas. Durante a abertura será lançado o boletim, “Schroeder e Kirstein”, nome de dois alemão que segundo os depoimentos caracterizaram-se como verdadeiros pioneiros da indústria gráfica no Paraná e responsáveis pela introdução da decalcomania no Paraná e no Brasil.
Rótulos de barricas de mate, o nostálgico leque de compensado de velhos carnavais, e a bolota da Cervejaria Atlânctica, relíquia do folclórico Bar Okay, relembrando rodas de boemia, são algumas das peças que comporão a exposição, Rótulos e Embalagens Antigo ─ Litografia, que a Casa Romário Martins inaugura no próximo dia 29 de outubro.
E se a nota pitoresca será dada pelos rótulos de Cachaça com seus nomes bizarros: Nº 1, Só-Só, Arrasta pé, Três Tombos, Com esta que eu vou, a embalagem da pasta dentifrícia e os rótulos das cervejas Pomba, Providência e Cruzeiro farão lembrar uma época em que Curitiba tinha pelo menos dez cervejarias, além de centenas de outras pequenas indústrias.

Rótulos e Cartazes
Além de cerva de quatrocentos rótulos e embalagens, de variadas procedências, a Casa Romário Martins estará mostrando velhas latas floridas de biscoito que durante muito tempo serviram de “cestinho de bordado” para as vovós, uma coleção de caixas de fósforo desde o inicio do século, e as simpáticas garrafinhas de folha, brinde de uma cervejaria: elas eram rodadas nas mesas de bar, e quando paravam, apontavam o felizardo que teria que pagar ...
A exposição mostrará, também, o tempo que as firmas davam como brindes miniaturas de bebidas, canetas de pena, e o tempo em que o mate era exportado em barricas artesanais, hoje substituídas por sacos de plásticos. Não faltarão os cartazes de publicidade anunciando cervejas com apelos suis generis de, “auxilio a nossa agricultura”, ou o cartaz da Confederação dos Tingus.

Pedras e Fotografias

Pedras litográficas desenhadas em vários estabelecimentos gráficos darão ao público uma ideia do processo de impressão que antecedeu o Offset, quando o desenho de um rótulos precisava ser feito diretamente na pedra calcária, duríssima, importada e difícil de trabalhar. As possibilidades de correção eram mínimas e as palavras precisavam ser escritas da direita para esquerda.  Painéis fotográficos completarão a visão do processo litográfico, que será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos gravados pela casa Romário Martins com ex-litógrafos, descendentes e proprietários de antigas litografias.
Oscar Schrappe, da Impressora Paranaense, conta, entre outras coisas, como a Questão do Contestado influiu nos negócios da empresa; Rodolfo Doubek explica que no tempo da litografia não havia agência de publicidade e era o próprio litógrafo quem criava rótulos e embalagens, “colocando inclusive o dístico”, e Otto Schnneck fala no salário de aprendiz de litógrafo: “dava para comprar dois pares de sapato, e conta, também que uma das funções do aprendiz era procurar modelos para rótulos em revistas estrangeiras: “o trabalho não era copiado, mas tirava-se uma ideia”.

Decalcomania e Boletim

O depoimento de Miguel Raicosky, proprietário da Impressora Pontagrossense, hoje Cartográfica Industrial conta que apesar de ter oficina em Ponta Grossa dependia dos litógrafos curitibanos que faziam aqui o croqui de seus rótulos, trabalhando como “freelancer”, e Otto Stutz relembra que o litógrafo precisava fazer reduções à mão livre, de até vinte vezes porque era moda mostrar nos rótulos, a fachada de complexos industriais. A maioria destes depoimentos faz referências ao nome de dois alemães, Schroeder e Kirstein, apontados como pioneiros na litografia em Curitiba, e são notícias extraídas destes depoimentos que compõe o boletim que a Casa Romário Martins estará lançando no dia 29, sob o título “Schroeder e Kirstein”. Alexandre Schroeder nasceu na Alemanha onde aprendeu o ofício de litógrafo e veio ao Brasil no inicio do século. Estabeleceu-se em Curitiba e participou na criação de três estabelecimentos gráficos: Litografia Progresso, Sociedade Metalgráfica e Schroeder e Kirstein, este último juntamente com outro técnico, onde foram produzidas em escala industrial as primeiras decalcomanias do Brasil.

Nota:Acredito que existe uma falha cronológica no texto, Schroeder, de acordo com relatos, trabalhou na Impressora Paranaense, ainda na época de Jesuíno Lopes, onde conheceu Rômulo Cesar Alves. Com a compra por parte da familía Schrappe (de Santa Catarina) pediram demissão e fundaram a Litografia Progresso.