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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Entrevista: Rodolpho Doubek comenta sobre a Sociedade Metalgráfica

A página de apresentação estava faltando, assim acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

Notas:
No texto existem alguns pontos interessantes. O que trata da aproximação dos litógrafos com as artes plásticas, as funções dentro de uma littografia, no caso a Litografia Metalgráfica e, quais e como eram criados os materiais gráficos.


1. Para começar, queríamos seu nome completo
Rodolfo Doubek. Nasci em Curitiba, num domingo de Páscoa, 15 de abril de 1906.

2. O senhor sempre gostou de desenho?
Sempre, desde guri sujava as paredes.

3. E estudou desenho?
Sim. Entrei no curso de pintor decorador da Escola Alfredo Andersen em 1926 ou 1928, não lembro direito. Depois abandonei e só voltei mais tarde, quando Andersen já havia morrido e o ateliê era orientado pelo filho dele. Daí estudei pintura mesmo e desenho, por quatro anos.

4. Conviveu durante quanto tempo com o Andersen?
Um ano e meio, mais ou menos.

5. Por que motivo o senhor abandonou a escola da primeira vez: acabou um curso específico ou desinteressou-se?
É fiquei doido pelo esporte, principalmente atletismo e basquete e acabei abandonando a pintura temporariamente. Comecei na Sociedade Duque de Caxias. Depois fui para o exército e lá me tornei mais desportista ainda, porque assim me livraria do trabalho do quartel. Mais tarde pratiquei esporte também na Sociedade Rio Branco.

6. O senhor chegou a participar de competições?
Ninguém acredita, mas eu sou campeão brasileiro de basquete. Foi em 1930. Neste ano São Paulo e o antigo Distrito Federal brigaram com a Confederação Brasileira de Desportos e se retiraram. Concorremos com Minas Gerais e o Estado do Rio, e vencemos.

7. Participou de outras?
As Ligas Atléticas do Paraná e do Rio Grande do Sul costumavam organizar campeonatos sul-brasileiros de atletismo, basquete e vôlei, e sempre os gaúchos levavam a melhor. Mas aí também fui campeão sul-brasileiro de basquete, pois conseguimos vencer uma vez em Porto Alegre.

8. Quando o senhor voltou a estudar na Escola Alfredo Andersen já havia deixado o esporte de lado?
Continuei no esporte, mas daí tudo já era mais regrado, e a escolha sob a orientação do filho de Andersen não era a mais a mesma de antes. No fim, larguei também aquilo e fui trabalhar como litógrafo na Sociedade Metalgráfica.

9. Este foi então seu primeiro emprego?
De profissão fixa foi, e fiquei na Sociedade cerca de nove anos.

10. Começou a pintar quadros na época?
Bem, eu já pintava desde a época em que era decorador, mas aí só fazia cópias.

11. E este trabalho do pintor decorador como era?
Fazia frisos, motivos gregos nas paredes. Naquele tempo usava-se muito chapeado e pintura à mão. Me especializei nisto e trabalhei nove anos.

12. Há ainda hoje alguma residência com parede decorada pelo senhor?
Duvido. Engraçado, numa de suas mudanças, o Departamento de Terras foi parar no Edifício Lins, na antiga rua Conselheiro Barradas, (do Clube Concórdia) e no quarto que antes fora ocupado pelas crianças ainda havia o meu friso.

13. Muita gente dedicava-se a este tipo de trabalho?
Naquele tempo não havia muito pintor. A maioria era de origem alemã, e eu era muito disputado. Todo mundo me convidava para trabalhar, mas sempre fiquei na firma do Roessie que era meio parente meu.

14. As, o senhor não trabalhava por conta própria, havia uma firma constituída só para este fim?
É era empregado. Era a firma Germano Roessie onde trabalhavam pai e filho, só para fazer decoração em paredes. Trabalhei com eles até 1928. Depois quando saí do exército trabalhei com um primo que era litógrafo. Ele sentou praça, e em virtude de seu desenho cartrográfico, foi mandado para o Rio de Janeiro, trabalho no Serviço Geográfico Militar. Quando voltou, ingressou na Universidade e fez curso de Agronomia. Continuou trabalhando no Estado e como tinha muito serviço particular de litografia, pediu para que eu trabalhasse com ele. Fiquei durante alguns meses.

15. Chegaram a constituir firma e registar uma litografia?
Não, não havia litografia. Naquele tempo era comum os desenhistas serem procurados particularmente. E assim foi. O meu primo me ensinou a fazer letras, trabalhamos juntos e depois, quando terminou a enxurrada de serviço, ele me arranjou emprego na Sociedade Metalgráfica.

16. Qual era o seu setor na Sociedade Metalgráfica?
Só litografia. Desenho sobre pedra e zinco. Mais tarde, com o falecimento do senhor Schroeder, que era um dos chefes da firma, passei a ser o Primeiro Desenhista. Daí trabalhava mais o croqui, dando ideias, estas coisas.

17. Então o senhor convivei muito pouco tempo com Schroeder ...
Bem pouco. Acho que foi um ano, um ano e meio.

18. Muitos litógrafos antigos afirmam hoje terem aprendido com o Schroeder. O senhor lembra de outros mestres no seu tempo?
Não, não lembro.

19. O trabalho do Schroeder era bom realmente?
Para a época era muito bom. Começamos quando a Sociedade ainda era uma metalografia. Trabalhávamos com a impressão sobre metal, folha de Flanders, fazendo embalagens de latas. Latas para banhas, por exemplo, com aquele bruta porco na frente. Era um serviço bem grosseiro. Só mais tarde é que começamos a trabalhar papel. Fazíamos rótulos, especialmente para barricas de mate. Agora, decalcomanias fizemos desde o ínicio.

20. O senhor tem ideia de quem tenha introduzido a decalcomania aqui? Parece que várias pessoas concordam que tenha sido a dupla Schroeder e Kirstein.
Os dois juntos. O Kirstein sabia a técnica, o Schroeder desenhava, e eles fabricaram as primeiras.

21. E isto parece que foi feito antes da Sociedade Metalgráfica. Numa firma que pertencia aos dois é isto mesmo?
Isto mesmo, era a firma Schroeder e Kirstein.

22. Mais tarde é que eles passaram para a Sociedade Metalgráfica?
É, depois se associaram a firma Fontana, constituíram a Sociedade Metalgráfica e introduziram a impressão em metal.

23. O senhor sabe alguma coisa à respeito da saída do Schroeder da Sociedade? Parece que a família tem muita mágoa à respeito.
Pois é, eu só soube disto por intermédio do filho dele, no último sábado. Só sei que o Schroeder morreu de pneumonia, contraída quando foi ao enterro de um filho do proprietário da Impressora Paranaense. Choveu neste dia, ele resfriou-se e depois complicou.

24. Á respeito do seu trabalho na Sociedade Metalgráfica, o que fazia o primeiro desenhista?
Vinham pedidos de todos os tipos: rótulos, mapas, e até música. Fizemos cartazes propaganda em geral. Tudo o que aparecia e que podíamos fazer, fazíamos.

25. Só para cliente de Curitiba?
Não, de toda parte. Trabalhamos até para o Uruguai, principalmente para exportadores de mate. Tínhamos representantes em todos os Estados do país.

26. A Sociedade Metalgráfica começou fazendo só decalcomanias e latas?
Quem pode lhe contar isto é o Constante Moro, porque eu não participei do começo.

27. E como era feito o trabalho: hoje, quando a pessoa precisa de uma embalagem vai a agência de publicidade ou ao departamento específico de empresa e lá há pessoas, por exemplo, só para dar a ideia que só dão o texto, e outra que desenham.
Naquele tempo era bem diferente, não havia nada disto. Algumas firmas vinham com uma ideia mais ou menos bolada e cabia ao primeiro desenhista desenvolvê-la, fazer o desenho e submetê-lo a apreciação. Mas, geralmente era o próprio desenhista quem dava a ideia, desenvolvia, e punha o texto também. Uma exemplo foi a ideia de um cartaz que fiz para uma facção política, mais tarde a UDN, a Confederação dos Tinguis. Bolei uma pessoa segurando um pinheiro, evitando que ele caísse. Eles gostaram, inclusive dístico que foi completado apenas por uma palavra pelo Erasto Gaertner. Fiz assim: “O Paraná confia na capacidade e no esforço de seus filhos”, e mandou finalizar: ”filhos dedicados”.

28. Quer dizer que além de desenhar o senhor tinha que dar também o texto?
Quase sempre era a gente mesmo que punha o dístico.

29. Mas então era difícil, e o primeiro desenhista tinha que ser o homem dos sete instrumentos.
Não, porque naquele tempo a gente não levava tão à sério este negócio. E também havia o plágio. A gente aproveitava uma ideia daqui, outra dalí e formava o texto junto do anúncio. Eu pouco usava este recurso porque geralmente tinha o dom para bolar a ideia mais ou menos. Mas ideia razoável para aquele tempo, porque se fosse hoje em dia não. Está tudo modificado, avançadíssimo. No meu tempo era tudo simples; quando vejo os cartazes atuais, sinto-me envergonhado.

30. Aconteceu de levarem à Sociedade Metalgráfica algum produto para o senhor escolher o nome, um lançamento?
Não trabalhávamos sempre com marcas e nomes já registrados, e estes nomes eram sempre escolhidos pelo próprio dono da empresa.

31. Lembra de algum problema, algo fato marcante no seu serviço?
Aconteceu que já tínhamos a justiça em cima da fábrica. Um dos casos envolveu aqueles enfeites imitando madre-peróla que uma determinada indústria costumava colocar nas máquinas de costura. Uma firma, não quero dizer o nome, encomendou os tais enfeites e nós fizemos, copiando direitinho. Seu proprietário recebia máquinas velhas para consertar, consertava e depois colocava a placa. Outro caso tivemos com os desenhos da Walt Disney. Começamos a fazer decalcomanias de todos os tipos inclusive daquelas figurinhas bonitinhas e aí veio uma multa em cima. Com a multa, a fábrica já aproveitou e comprou os direitos de reprodução e continuamos.

32. Depois de quanto tempo a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrentes na confecção de decalcomanias?
Não sei. Só posso dizer que mais tarde surgiu uma fábrica em São Paulo, e depois surgiram fábricas de decalcomanias a quente que nós também fabricávamos. Era uma impressão normal, com breu em pó por cima. Depois ia ao forno, o breu derretia, e ficava preso na tinta. Dá punha-se o papel em cima, passava-se o ferro, e o desenho ficava.

33.As decalcomanias produzidas aqui eram vendidas em todo o Brasil?
As decalcomanias para crianças (figurinhas, bandeiras, personagens históricos, brasões) iam para todo país, pois tínhamos representantes em todos os Estados.

34. Quais eram os tipos de decalcomanias?
Fazíamos inclusive decalcomania para louça, atendendo pedido específico de temas, de acordo com o interesse do comprador: sobre datas, festejos, paisagens, etc. O volume de venda destas decalcomanias era tão grande que as outras, para crianças deixávamos em segundo plano. Era quase que só para a louça e os pedidos maiores vinham de São Paulo e Campo Largo.

35.A decalcomania para louça é muito diferente?
São tintas especiais, mas a decalcomania é tirada normalmente. Molha-se o papel na água, coloca-se na xícara ou no prato e deixa secar. Depois leva-se ao forno, lá ele derrete e fica para sempre. No finzinho da minha permanência na Sociedade Metalgráfica,, ao invés de desenhar a decalcomania na pedra já se estava usando a fotografia, o que facilitou em muito.

36. E era muito difícil desenhar decalcomanias?
Sim; era preciso saber alguma técnica, principalmente para a decalcomania em louça; As cores, por exemplo, não podiam ser impressas umas sobre as outras senão a louça rachava no forno. Mas além do conhecimento na aplicação da tinta, o processo era o mesmo.

37. E o desenho na pedra. É muito complicado?
Não até que é bom, muito bom.

38. Mas tem que ser feito com pena, não é?
Sim e com uma tinta especial em forma de bastão. Coloca-se esta tinta num vasilhame Côncavo e vai esfregando, esfregando, até aparecerem estrias mais claras. Depois deixa-se a tinta descansar e no outro dia já pode começar a trabalhar. A tinta é boa de trabalhar porque não borra, não se espalha, faz traços finíssimos ou grossos, como quiser.

39. Com que o senhor aprendeu a trabalhar na pedra?
Com o meu primo, aquele que falei no inicio da entrevista. O processo só é meio complicado porque a gente tem o desenho e para fazer a matriz tem que fazer cruzetas na extremidade. A matriz de cada cor tem que ter suas cruzetas coincidentes com as cruzetas das outras cores, senão borra tudo.

40. Porque o senhor que tem tantos quadros, preferiu ser litografo em vez de pintor?
Acontece que eu não sou pintor; o pinto nas horas vagas. Deixei de pintar porque meu primo chegou a ser chefe da Seção Cartográfica do Departamento de Terras do Estado e me levou para lá. Entrei no Serviço Público e por isto deixei a Sociedade Metalgráfica. Fui especializando em mapas, e depois em mandaram par ao Rio de Janeiro para um curso de cartografia com duração e dois meses. Entrei no Estado em 1938 e permaneci até me aposentar.

41. Os mapas eram feitos, então, em pedras litográficas?
No meu trabalho não. Eu desenhava em papel canso e mandava para as litografias. Eram elas que faziam o trabalho de impressão.

42. E decalcomanias, quais eram os temas mais frequentes?
Flores, animais, e principalmente bandeiras de todos os países, as armas da República, dos Estados, emblemas, além de motivos próprios para crianças como bonecos, animais e objetos.

43. Lembra alguma história interessante a respeito dos rótulos?
Interessante não. Aquilo era um trabalho tão corriqueiro. Aquele tempo o Norte do país com exceção do Recife era muito primitivo. Tinhamos muitos fregueses por lá, Ceará, Bahia, e era muito fácil contentá-los.

44. Quando o senhor entrou na Sociedade Metalgráfica, quem mais fazia rótulos em Curitiba?
Só a Impressora Paranaense, que era a mais antiga, e a Litografia Progresso.

45. A Litografia Pradi começou em que época?
Ah, não recordo, só sei que quando a Sociedade Metalgráfica se desfez das máquinas de imprimir em folhas de flanders, se não me engano, foi a Pradi quem comprou.

46. A Sociedade Metalgráfica acabou em que época?
Ela não acabou. Com a saída do Schroeder e depois, com o falecimento do Kirstein ela mudou-se para a rua João Negrão com o nome de Fábrica Fontana.

47. O Kirstein era bom profissional?
Era muito bom. Sabia de tudo, aquele. Era um homezinho, do mesmo tamanho do Schroeder, só que era magrinho e manco e o Kirstein era forte. Além disto, era um brincalhão de mão cheia. Posso contar uma coisa não muito boa? Quando apareceu a ordem do governo para todo mundo de inscrever, por causa da carteira de saúde, o Kirstein chegou na Sociedade onde trabalhavam muitas moças e disse: “Amanhã venham todas de calça limpa para receber o pessoal da Saúde Pública.

48. O senhor lembra mais alguma coisa sobre ele? Está difícil obter informações por que toda a família desapareceu.
Está família foi perseguida pelo destino. Ele teve dois filhos, ginastas de primeira ordem. Pois um morreu em consequência de uma operação de apêndice, e o outro afogou-se. Depois, para o casal não ficar só, resolveram adotar uma moça. Ela estudou era inteligente, foi bancária, mas acabou se suicidando. Antes de acontecer tudo isto, o Kirstein tinha em mente abrir uma fábrica de conservas em Paranaguá.

49. Parece que o Schroeder e o Kirstein tinham um amigo que soprava da Alemanha as últimas novidades no ramo, e eles introduziram aqui, como no caso da decalcomania.
Pode ser, não posso afirmar. Só sei que fazíamos coisas como cartazes em relevo, que naquele tempo ninguém conhecia. A pedra era preparada com asfalto e a parte que sairia no relevo ficaria descoberta, o ácido ia comendo. Isto diversas vezes até chegar na profundida necessária. Depois fazia-se o contrário, para se obter o positivo e o negativo, pois eram duas chapas.

50. Este tipo de cartaz foi usado para que, por exemplo?
Lembro que fizemos um sobre o Hotel Johnscher que foi pregado em trens. Tínhamos um contrato e o trabalho foi feito em uma semana. Fiz o cartaz durante uma noite e depois as matrizes. E até que ficou bonitinho. Dizia mais ou menos assim: ”Vai a Curitiba, hospede-se no Hotel Johnscher!”

51. Lembra do nome de pessoas que tenham sido bons litógrafos, reconhecidos pela maioria?
Havia um alemão muito bom, mas já esqueci o nome. O Wenceslau Fraple trabalhou, também com lápis litográfico, mas foi por pouco tempo.

52. O litografo ganhava bem?
Eu era o primeiro desenhista e quando saí da Sociedade Metalgráfica ganhava 16 mil réis por dia. Passei para o Estado ganhando 360 mil réis por mês, mas lá trabalhava meio dia, com mais liberdade. Na Sociedade, não, era trabalho no duro, das sete horas da manhã às cinco horas da tarde.

53. Como era composta a equipe de trabalho: quem trabalhava além do primeiro desenhista?
Havia os litógrafos e na Sociedade chegamos a trabalhar até com três. O melhor deles era Rodolfo Koerpel rápido e eficiente, já falecido.

54. O que precisava ser para chegar a primeiro desenhista?
Primeiro desenhista precisava, além de saber desenhar, ter ideias para desenvolver o croqui.

55. Antes do senhor, o primeiro desenhista sempre foi o Schroeder?
Sempre, desde a fundação da Sociedade.

56. Porque os rótulos de gasosa eram tão parecidos?
É que o produto era muito baratinho e não pagava rótulos caros. Então as fábricas usavam a mesma matriz, só mudando o nome do produto. O mesmo desenho.

57. E este anúncio da Cerveja Imperial Pilsen com a garrafinha recortada, é que sobre para a mesa, a ideia foi sua?
Não, foi copiado de uma revista alemã. Depois fizemos uma garrafinha em folha com um prego e dois palitos atrás. A pessoa tirava os palitos, rodava a garrafa e quando ela parava apontava o gargalo para a pessoa que teria que pagar a conta do bar.

58. Alguns poucos rótulos levavam dourado.
Estes rótulos eram considerados de luxo. Davam mais trabalho porque eram impressos em verniz e imediatamente passava-se em chumaço de algodão com purpurina em cima e deixava secar.

59. Muito rótulos foram feitos em letras góticas, por que? Era moda?
Não, é que letras góticas eram a minha especialidade.

60. E este rótulo da Fábrica Princesa, de Ponta Grossa parece diferente dos demais.
Este foi o meu de mais folego. Eu dei a ideia, fiz o desenho e eu mesmo quis passar para a pedra. Deu muito trabalho porque eram cinco cores, cada uma numa pedra diferente, e levei de três a quatro dias para desenhar cada pedra. Devo ter levado um mês para concluí-lo.

61. E esta música “Adoração” porque o senhor guardou?
Guardei todos os meus trabalhos. A Sociedade imprimia muita música e esta, “Adoração”, tem letra e música de Emydio de A. Trilho que era tesoureiro da firma. Fiz a capa com lápis litográfico, e acho que ficou horrível.

62. Estas decalcomanias de vultos históricos, como o senhor desenhava?
Procurava modelos em livros e reduzia. Era copiado. Este D. Pedro que fiz, por exemplo, ficou com o nariz meio fora de jeito.

63. O senhor fez muitos cartazes, qual foi o primeiro?
Este, da Exposição Rodoferroviária e Feria Inter-Estadual Comemorativos do Cinquentenário da Estrada de Ferro do Paraná, do ano de 1935.

64. Chegou a receber algum prêmio?
Tirei, quando já estava na Sociedade Metalgráfica. Fizeram um concurso de cartazes para uma Companhia de Aviação e tirei o primeiro lugar. O engraçado que o prêmio era uma viagem de avião para São Paulo, e como eu tinha medo, vendi aos  filhos do Fontana.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Entrevista: José Eros Alves comenta sobre a Litografia Progresso

José Eros Alves nasceu em Curitiba no dia 20 de março de 1920 e praticamente criou-se dentro da Litografia Progresso, fundada em 1912 por seu pai, Rômulo Cesar Alves em sociedade com o litógrafo Alexandre Schroeder.

Em seu depoimento, gravado no dia 12 de agosto de 1975, Eros explica porque esta sociedade foi dissolvida, relacionando o fato com a Guerra e a Lista Negra de Importação dos Estados Unidos, fala no seu pai, nos litógrafos que passaram pela Litografia Progresso e relembra como ele e os irmãos faziam a praça de Curitiba no velo fiat da firma, visitando indústria a indústria.

Cita a Odisseia para confecção dos rótulos em dourado, faz questão de relatar uma importação de purpurina embargado no Porto de Paranaguá porque as autoridades pensaram tratar-se de ouro em pó, e não deixa de definir a Litografia como uma espécie de Cada da Moeda do Paraná.

Entrevista cedida a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

1. Quando e onde começou a funcionar Litografia Progresso?
A Litografia Progresso foi fundada a rua São Francisco antigo número 37, hoje 215, por Barãozinho do Cerro Azul, Alexandre Schroeder e meu pai, Rômulo Cesar Alves. O nosso telefone foi um dos primeiros, número 42. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, por ser um dos sócios de nacionalidade alemã, nossa firma entrou para a Lista Negra das importações. Meu pai comprou a parte dele, acabou comprando a parte do outro sócio também, e afirma passou a ser individual. Até 1941 permaneceu razão social Rômulo Cesar Alves e aí mudou para Rômulo Cesar Alves & Cia Limitada com a admissão dos seus filhos como sócios. Mais tarde também foram admitidos outros dois sócios
(Nota: os outros nomes encontram-se rasurados no original, provavelmente a pedido).


2. Mas a litografia começou mesmo com outro nome, não foi?
Sim, em 1912 foi fundada com o denominação Schroeder & Cia Limitadada, paesar de ter já nesta época o nome fantasia de Litografia Progresso. Aliás, nesta época, não se dizia indústria gráfica, mas sim artes gráficas.

3. Como foi mesmo a saída do Schroeder da firma?
Havia o quebra-quebra, a Lista Negra dos americanos na época da guerra. Nós importávamos tudo e a Alemanha foi cortada das importações. Tendo um sócio alemão a firma não podia importar e praticamente não podia trabalhar. Então ficou só o meu pai, que era brasileiro.

4. Em outro depoimento foi contado que um dia o Schroeder chegou para trabalhar e viu seu nome cortado do letreiro da janela da firma, o senhor confirma?
Este caso ocorreu mesmo, eu lembro que meu pai contava. Foi por causa disto que ele resolveu desfazer a sociedade. Até o Brasílio Marques, filho do Generoso Marques, aconselhou meu pai a separar-se do sócio, porque estava sofrendo problemas imensos.

5. Mas ele chegou mesmo a sofrer algum problema?
Chegou, pois foi proibido de importar ...

6. Inicialmente a Litografia Progresso confeccionava que tipo de material?
Só rótulos. Depois é que foi evoluindo, aperfeiçoando, comprando maquinário e diversificando a produção.

7. E o equipamento, como era?
No ano de 1939 adquirimos um novo parque industrial, um prelo BB 76 x 96, o maior prelo de Curitiba, que imprimia uma folha inteira. Naquele tempo éramos especialistas em todo tipo de rótulos, fazíamos gráficos para a estrada de ferro, mapas para o Serviço Nacional de Terras e Geografia do Estado, e fomos, durante muitos anos, praticamente a Casa da Moeda do Paraná, fornecíamos os selos para a Secretária da Fazenda. Selos de consignação, selos de existência, (lei criada pelo interventor Manoel Ribas) e, selos adesivos. Fizemos também os antigos diplomas da Universidade Federal do Paraná, com patente nossa, um processo exclusivo de impressão em pergaminho. Mais tarde ainda, enriquecemos o parque industrial com um setor de tipografia para confecção de blocos, envelopes, papel de carta e notas fiscais.

8. A Litografia trabalhou com pedras até que ano?
Bem, depois das pedras ainda passamos para as chapas de zinco, porque as pedras eram importadas, e esta importação era difícil. Elas mediam de 10 a 12 cm de largura, eram pesadíssimas e complicadas. Devido ao uso excessivo, as pedras afinavam e a gente precisava colar, com uma cola especial, uma placa de mármore para poder utilizar o outro lado. Só depois é que utilizamos o offset, mas não posso precisar o ano.

9. A Litografia Progresso fornecia impressos só para o Paraná?
Fornecíamos do Amazonas ao Rio Grande do Sul, enfrentando aquelas dificuldades todas no despacho das mercadorias. Para o Norte, a gente embarcava via Paranaguá; esperava longos meses um navio costeiro ou do Loyde Nacional. A carga ia assim até Belém do Pará onde pegava a companhia que fazia o rio Amazonas, levando em média 120 a 150 dias para chegar em Manaus.

10. Aqui no Paraná, quais eram os clientes da Litografia Progresso?
Naquela época, o forte do Paraná era a indústria extrativista e especialmente o mate. Aquele engenhos tradicionais, dos quais só existem dois atualmente. A erva era exportada em barricas e os rótulos redondos, obedeciam a vários tamanhos: Inteiros, meios, quartos e oitatvos de barricas, cortados em máquinas especiais, tipo balancim. Imprimimos também etiquetas para balas de fábricas que nem existem mais como  Beneoito, Gianpaoli, Irmãos Sobania, João Marcassa, Pedro Kulo, Francisco Lashoski. Na parte de bebidas, tínhamos muito mais fábricas do que temos hoje. A antiga Atlanctica,o Rigolino, Cervejaria Providência, Cervejaria Brasileira, hii, eram muitas. Fábricas pequenas, mas realmente paranaenses. Havia uma indústria farmacêutica fazendo pasta dentifrícia, vinho reconstituinte, não havia os cartéis estrangeiros de laboratórios como há hoje.

11. Então a cliente era realmente grande ...
Muito grande. Em Curitiba, nós fazíamos a praça. Depois do almoços, nós os filhos pegávamos o carro da firma, um fiat, e um visitávamos um e outro, e era uma coisa. Nas fábricas de bebidas, por exemplo, obrigavam a gente a beber seus produtos.

12. E qual era o espírito da Litografia Progresso?
Meu pai, além de técnico, sempre teve um espirito muito progressista, sempre estava atualizando, e a litografia não era encarada como indústria, mas sim como uma arte.  Não havia um só operário que não fosse especializado, e a dificuldade era justamente esta: técnico. O maior celeiro destes profissionais era o estado de Santa Catarina. Quase todos os nossos operários vinham de lá e eram de origem alemã. Tanto assim, que muita gente pensava que nós também fossemos estrangeiros, apesar de meu pai ser de Paranaguá por quatro gerações. Naquela época, a litografia era explorada quase que exclusivamente por alemães, a própria litografia foi iniciada por alemães. Nosso serviõ, sem falsa modéstia era primoroso.

13. Seu pai aprendeu onde?
Ele foi aprendiz na antiga impressora Impressora Paranaense, no tempo de Jesuino Lopes. Ainda era garoto quanto começou a se interessar e aprender. Mais tarde, quando o Max Scrappe que tinha uma fábrica de linguiça em Joinville veio a Curitiba e comprou a Impressora, meu pai saiu e fundou a firme dele.

14. Então foi na Impressora Paranaense que ele conheceu o Schroeder?
Isto mesmo. Saíram os dois na mesma época. E precisaram de capital, porque naquele época as máquinas eram todas importadas da Alemanha. O Brasil era incipiente no setor, até as tintas eram importadas da França e também o papel. Mais tarde melhorou um pouco quando a fábrica de tintas francesa abriu uma filial no Rio de Janeiro, depois a Cromus em São Paulo, e depois ainda a Klabin, vendendo papel.

15. Qual era o setor de cada sócio?
Meu pai cuidava da parte do transporte, que um setor importante em se tratando de uma indústria gráfica. Existiam dois padrões de papel: o BB 66 x 96 e o AA 76 x 112. As máquinas antigas normalmente pegavam 76 x 96, a metade do papel. Dois centímetros de margem eram destinados a pinça, onde a máquina segurava o papel. A máquina era muito interessante. Havia uma moça marginadora, que colocava a folha na máquina. A pedra corria dentro de um carro. Atrás havia o tinteiro e na frente a mesa de feltro que trabalhava com água para evitar que o papel colasse na pedra. Tudo era automático: a moça colocava a folha, dava a volta, passava a pedra, outra moça tirava a folha e quando a pedra voltava passava na tinta. Meu pai fazia justamente a distribuição do impresso no papel porque nosso segredo estava justamente no racional aproveitamento do papel. Quando compramos a máquina grande, passamos a imprimir no papel inteiro. Havia então maior necessidade de se estudar a distribuição para não haver desperdício e consequentemente não encarecer o produto. A distribuição era tão cuidado, que não tínhamos aparas, assim mesmo, o pouco que juntava, nós pagávamos para o carroceiro levar embora, imagina se hoje faríamos o mesmo.

16. Quem fazia os desenhos dos rótulos na litografia?
Os desenhistas que eram chamados de cromistas. O freguês chegava lá, pedia o rótulo, explicava o produto e o cromista fazia o croqui. Naquele tempo existia, por exemplo, uma fábrica de saponáceo, e o rótulo eram simples em termos de ideia: uma panela, uma pessoa passando o saponáceo dentro, saindo uns brilhos para  fora ... O croqui era o desenho do róutlo feito a aquarela, e nele se definia o número de cores, complicado, porque cada cor era uma impressão, uma passa na máquina.

17. Onde os cromistas aprendiam a profissão?
Muitos cromistas de Curitiba aprenderam conosco. Eles tinham uma queda par ao desenho então, sem noção prática ou teórica, iam direto trabalhar. Primeiro dedicavam-se o preencher espaços pré-determinados, como exercícios para firmar a mão. Depois faziam retoques, e finalmente passavam aos primeiros rótulos, de uma só cor, que eram os mais simples. Quer dizer que nós mesmo formávamos nossos elementos.

18. Era muito complicado trabalhar com pedra?
Depois de desenhada a pedra ia para a seção de transporte onde o desenho era fixado e dava-se uma pequena saliência. Havia o preparo químico, muito complicado, onde a pedra recebia ácido, asfalto, maçarico, e cada cor era um trabalho à parte. Cada chapa de cada cor trazia cruzes nos pontos de referência. Estas cruzes deviam coincidir, senão dava maculatura, como o fantasma de televisão. Depois de utilizada, a pedra, os originais eram gravados em pedras pequenas chamadas de chapas, e as pedras grandes eram limpas com areia fina e postas no nível. Para isto a pedra precisava ser medida em todas as direções com réguas de ferro debaixo das quais passava-se um papel fino para constatar aos mínimas diferenças que deveriam ser acertadas. Isto era uma verdade arte, pois da precisão dependia o sucesso da impressão

19. O senhor fala muito em arte ...
Mas era a arte aplicada na indústria. Tanto assim, que a profissão de litógrafo não era litógrafo mas artista gráfico. No primeiro título de leitor do meu pai, começo do século, constava: profissão artista.

20. O Schroeder também desenhava?
Ele era um dos diretores, e os desenhistas eram os empregados. Mas meu mano lembra dele desenhando.

21. Lembra algum caso interessante relacionado especificamente com a confecção de rótulos?
Interessante ... As marcas de mate eram interessantes. Havia o Arminho, Cruz de Ferro, El Contrabandista, El Matador, Iguassu ... O mate El Matador mostrava no rótulo uma reprodução da carreta de Montevidéu e trazia escrito: “ a melhor gerba é trazida pela contrabandista”. O interessante é que as marcas eram de argentinos, uruguaios e chinelos; eles mandavam preparar a erva e depois vendiam lá. O rótulo do mate Real foi o primeiro que fizemos em relevo.

22. E sobre as etiquetas de balas?
A fábrica de balas do Gianpaoli tinha um tipo de bala de luxo, muito boa, finíssima que custava um tostão cada, e depois tinha umas balas com nome de mulher: Iris, Iná e Gioconda. Chegamos a fazer balas Zequinhas, e muitas outras balas de coleção: Estudante, Mutt and Jeff, eoutra não lembro o nome, que juntando os invólucros a criança formava um quebra cabeça. Sempre havia uma figurinha que era chamada de difícil e custava para completar a figura. Dizia-se, inclusive, que quem comprasse cinquenta balas, ganharia uma difícil, então o sonho da gurizada era arrumar dinheiro para comprar as cinquenta. Só que estas balas eram pura água e açúcar. Ah, tentamos também fazer as balas Chico Fumaça, mas não pegou.

23. Lembra algum prêmio ganho pela Litografia Progresso?
Lembro de um, numa exposição internacional em Montevidéu no ano de 1922, Ganhamos uma medalha de ouro e uma menção honrosa.

24. No inicio o senhor disse que a litografia fazia praticamente todos os selos do Estado. Porque?
Eram realizadas concorrências para São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná e nós tínhamos qualidade, honestidade e preço. A confecção dos selos era acompanhada de perto por funcionários da Fazenda que permaneciam dentro da Litografia.

25. E qual era a função destes funcionários?
Para que não fossem falsificados selos. No final do dia para a pedra não para sofrer interferências, eram cobertas com verniz e postas para secar, e o pessoal da Fazenda assinava em cima, para evitar falsificações. Isto era uma bobagem, porque éramos desenhistas e seria fácil para nós, desenhar uma assinatura ... De qualquer forma, os funcionários ficavam oito horas na Litografia, acompanhando todas as fases da confecção dos selos. Até tivemos um problema. É que os funcionários queriam começar a trabalhar às nove horas da  manhã, nós começávamos às sete e não queríamos deixar as máquinas paradas por duas horas. Chegamos a falar com o secretário da Fazendo e depois disto, passamos a pagar, do nosso bolsa, duas horas de salários para que os funcionários da Fazenda chegassem às sete horas.

26. E quem criava os selos?
O pessoal da Litografia, meus manos e eu. E tínhamos muitos catálogos para tirar ideias.

27. A litografia tinha trabalho o ano inteiro?
Nós só trabalhávamos sob encomenda, com “o pedido no prego”, como chamávamos. Havia uma época que chegávamos a trabalhar com duas turmas, 16 horas por dia. Havia outros, no entanto, em que resolvíamos fazer modificações, desmontar máquinas por falta de trabalho.

28. Estas paradas tinham caráter cíclico?
Tinham sim, como reflexo da safra de mate.

29. Mas chegava a ocorrer crise?
Não. Todos os produtos fabricados na época precisavam levar a etiqueta, “indústria brasileira”, que era verde amarela. As firmas já aproveitavam para por nome, endereço, telefone. Quer dizer, toda indústria era um cliente em potencial porque não podia ficar sem impressos.

30. Bem no inicio, a Progresso enfrentava muita concorrência?
Naquela época, em litografia só trabalhávamos nós mesmos e a Impressora Paranaense. Pouco mais tarde surgiram outras. Nós tivemos um acordo com a Impressora Paranaense e compramos em conjunto uma gráfica em Blumenau, Empresa Gráfica Catarinense S.A. Isto foi no ano de 1939. Eu fui então para lá, permaneci por seis meses e fiquei chocado porque tudo era em alemão. Só a contabilidade era feita em português ... Até o aviso da porta, “proibida a entrada” era em idioma estrangeiro e eu tive que aprender na marra. Imediatamente a minha chegava disse que precisávamos mudar aquele norma e um dos funcionários falou: “É bom ir devagar se não vai criar problemas”. Agora recentemente quando fechamos a Litografia Progresso, vendemos nossas ações para a Impressora Paranaense.

31. A gráfica existe hoje? E seu nome foi mantido?
A gráfica ainda existe, só que passou a ser filial da Impressora Paranaense.

32. A parte do Schroeder na Litografia Progresso, qual era?
Era responsável por toda a parte de impressão, lidava com as pedras, mistura de cores, os tons. Naquela época vinham só as cores básicas e nós mesmos é que tínhamos que diluir, moer a tinta e preparar os tons.

33. E os rótulos e impressos com dourado, eram muito complicados? Parece que era o luxo ...
Eram impressos em verniz e para dourar passava-se um chumaço de algodão com purpurina. Acontece que nestas ocasiões todos os operários, máquinas e material ficavam cobertos pelo pó que se espalhava no ar. A pessoa que faria o trabalho precisava usar panos no rosto para se proteger. Era uma loucura, o que se perdia de purpurina não era brincadeira. Bem por isto, estes rótulos custavam uma fábula, exigiam um verdadeiro trabalho chinês. Mais tarde apareceram as primeiras máquinas que sacudiam o pó e passavam umas escovas em cima dos rótulos, simplificando um pouco. Do final tínhamos outra máquina mais moderna que oferecia também a vantagem de não desperdiçar a purpurina que reaproveitada através de exaustores.

34. Logo no inicio o papel nacional era bom?
Olha, algumas vezes tivemos problemas com o papel nacional. Você sabe que entra muito água na composição do papel. Pois bem, as vezes a água tinha muita areia e quando o papel passava na máquina os resíduos prendiam no rolo e danificavam a pedra. Então tínhamos que limpar este papel na maquina de dourar, sem dourar, aproveitando as escovas. Era um trabalho infernal ...

35. E porque afinal foi fechada a Litografia Progresso?
Havia dificuldade de se encontrar técnicos, pois hoje em dia ninguém quer se aprofundar nas coisas. Além disto, a indústria gráfica sofreu grandes transformações. Lembro que foi criado um grupo de comprar pelo Governo Federal para sanar as dificuldades de importação. Depois do grupo houve uma facilidade tão grande na importação de maquinário, à ponto de em São Paulo, quebrar uma gráfica por dia: muita concorrência desleal. Além disto, nossos sócios eram muito velhos, eu era o mais moço e não era técnico e a indústria gráfica não podia fazer sem o técnico. Hoje não, porque tudo é eletrônico, há o fotolito, desapareceu o artista. Chegamos a construir um prédio novo na frente da litografia, mas foi na época da guerra e havia muito dificuldade para importação. Quando acabou a guerra meu pai já estava doente e não nos animamos para uma nova aventura. Precisaríamos construir um novo prédio, agora fora do dentro da cidade, o que implicaria em grande capital,, e não havia um elemento novo que quisesse tocar a litografia. Porque a pessoa tem que viver a coisa. A Litografia é uma indústria muito bonita, você vê a ideia no croqui, depois a evolução para o croqui definitivo e finalmente a impressão, com o resultado do trabalho. Além disto, é uma indústria muito ingrata. Se ocorre um erro, joga-se tudo fora, não dá para vender para mais ninguém ...

36. E como era seu pai como pessoal?
Ele era excepcional, pai e amigo. Muito trabalhador, com uma tenacidade tremenda, um verdadeiro escravo do trabalho. Casou-se em 1903, morava na rua Paula Gomes e usava o trem de burro que ia da praça da Ordem até o Batel. Quando não o tostão da passagem lhe fazia falta e por isto trabalhava durante o  dia na Impressora e à noite no Correio. Deixou alguma coisa para os filhos e principalmente um nome muito limpo.

37. O senhor e seu irmão começaram a trabalhar cedo na litografia?
Meu irmão mais velho começou muito cedo, fez a escola prática do comércio e entrou na firma. O outro também. O Telange trabalhou até 1935 quando formou-se em Engenharia e passou alguns anos em São Paulo. Como precisava de mais gente, eu acabei do ginásio, fiz o curso de Perito Contador e comecei a trabalhar com o meu pai, em 1935, aos 16 anos de idade.

38. O senhor ficou diretamente ligado a Litografia até que ano?
Até o final.

39. Por favor, seu nome e data de nascimento.
Eros José Alves. Nasci na rua Floriano Peixoto no dia 19 de março de 1920. Sou o mais moço de seus filhos, quatro homens e duas mulheres. Agora, no entanto, só estamos em três.

40. Lembra mais algum caso interessante?
As histórias são tantas, no entanto é difícil lembra-las assim. O Acyr Guimarães, por exemplo, um dos funcionários da Gazeta do Povo, foi vendedor da Litografia Progresso. Fizemos capas de livros inclusive para o Romário Martins, Sebastião Paraná ...

41. Seus fregueses costumavam distribuir brindes?
Havia em Curitiba uma bebida suis generis “Sinalco” que distribuía uns cálices de cristal da Bohemia com o nome gravado, ficou lindo. Mas os brindes eram principalmente calendários, familiares e comerciais. O segundo era grande, e o primeiro geralmente com figuras e reprodução de quadros.

42. O consumo de purpurina era muito grande?
Aconteceu inclusive um caso engraçado. Uma vez importamos de uma firma americana duas toneladas de purpurina por talvez 8 contos de reis. Quando o fornecedor viu que nosso capital era de doze contos de reis, estranhou, e mandou uma carta perguntando como podíamos gastar tanto só com a purpurina. É que naquele tempo não havia credito em aberto; comprava-se a mercadoria e sacava-se uma letra de câmbio para 180 dias. Quer dizer, quase que se pagava com a utilização da própria mercadoria comprada. Outro caso ocorreu quando a purpurina chegou a porto de Paranaguá. Por erro de despachante, veio escrito que se tratava de ouro em pó, mas outro mesmo. Olha, foi uma luta. O porto embargou a mercadoria, tivemos que tirar uma amostra, não havia laboratório em Curitiba e então o material foi enviado a Porto Alegre para ser examinado. Isto ocorreu por volta de 1930, 1931 ...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Entrevista: Cesar Pinto Junior fala sobre a Sociedade Metalgráfica.

Cesar Pinto Junior foi apontado pela própria direção da Fábrica Fontana para falar sobre a Sociedade Metalgráfica. O depoimento foi gravado no dia 15 de setembro de 1975. Nele, o senhor Cesar, conta certos episódios que presenciou no período entre 1929 e 1935 quando trabalhou na empresa como contador, e na qual admite, com muita franqueza não ter conhecimento sobre certos fatos referentes a litografia.

Demonstra boa vontade. Faz inclusive um contato com Constante Moro, a pessoa mais indicada para falar e que, infelizmente encontra-se em restabelecimento de uma intervenção cirúrgica sem condições de atender a solicitação da Casa Romário Martins.

Cesar Pinto Junior explica, por exemplo, porque a Sociedade Metalgráfica foi criada, fala sobre a fabricação da decalcomania e mostra a importância dos alemães, Alexandre Schroeder e Germano Henrique Kirstein, na introdução da decalcomania no Brasil.
Entrevista cedida a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

1. Em primeiro lugar queríamos o seu nome completo. 
Cesar Pinto Junior. 

2. O senhor trabalhou na Sociedade Metalgráfica em que período? 
Do ano de 1929 a 1935 

3. Qual era a sua função, então? 
Bem, quando eu sai de lá já era contador. Mas entrei como auxiliar de escritório e depois fui caixa. Saí da Sociedade Metalgráfica para vir trabalhar na Fábrica Fontana, daí ligado ao mate e não mais a litografia. 

4. Apesar de ocupar o setor administrativo, o senhor teve muito contato com o pessoal da litografia? 
Estava sempre em contato com eles porque a fábrica era praticamente junto ao escritório e, eu geralmente estava girando pela fábrica, vendo todo o movimento. 

5. Lembra quais eram os clientes da Sociedade Metalgráfica na época de trabalhou lá?

Em primeiro lugar estava a Fábrica Fontana, para a qual fazíamos todo o material impresso, inclusive as embalagens. Mas fazíamos também, para o Leão Junior, Cervejaria Atlanctica, Cervejaria Adriática, Emilie Van Linzeng de Rio Negro, que era ervateiro, e muitos fabricantes de cera e pasta para calçados entre eles o Alfredo Muller e Fábrica Kosmos. Faz muito tempo, é difícil recordar, eu sei que havia mais.

6. Pode-se dizer que a Sociedade Metalgráfica foi criada para suprir de rotulagem e embalagem a Fábrica Fontana?
Não só a Fábrica Fontana como também outra. Porque o Leão Júnior também era sócio da Metalgráfica. Mas o principal motivo da criação da firma foi mesmo o ramo de decalcomanias. No princípio o movimento de vendas neste setor não era muito grande porque o público desconhecia o produto. Além da decalcomania, trabalhamos também com litografia em papel-rotulagem e estamparia-confeccionando latas impressas. Falando nisso lembrei de outro cliente nosso, Senegaglia. Ele recebia folhas de Flandres impressas por nós e depois confeccionava a lata.

7. Pode nos contar como se deu a formação da Sociedade Metalgráfica?
Isso foi bem anterior a minha entrada na firma, quem poderia contar bem é o Constante Moro. Mas pelo que ouvi contar tenho a impressão que o senhor Francisco Fide Fontana conheceu os dois, Schroeder e Kirstein, gostou muito do trabalho deles e teve a idéia de montar uma firma abrindo sociedade com os principais prováveis clientes dos produtos que a fábrica iria produzir. Então, foi formada a sociedade incluindo os dois alemães, para suprir os demais industriais sócios não só de rotulagem como também de embalagem. É que naquele tempo as fábricas de erva-mate usavam barricas e havia necessidade dos rótulos que eram selados na tampa, para diferenciar as várias marcas de produto. Eram estes rótulos que a Metalgráfica fornecia especialmente aos ervateiros.
8. O senhor lembra de nomes de litógrafos que tenham trabalhado na Sociedade Metalgráfica?
Isto está difícil ... Faz muito tempo ... Lembro do André Baus, o próprio Constante Moro, o momento não lembro de outros. Espere um instante, vou tentar localizar o arquivo de funcionários (pausa). Infelizmente ninguém sabe onde este arquivo se encontra. É uma pena.

9. E a respeito da dupla Schroeder e Kirstein, o senhor os conheceu pessoalmente? Como era o trabalho deles?
O Schroeder era uma ótima pessoa, bom, muito bom desenhista, apesar do defeito que tinha na mão, um defeito no dedo. Trabalhava muito bem e todos os seus desenhos eram perfeitos.

10. Parece que o Schroeder foi o primeiro chefe da seção litográfica da Metalgráfica, o senhor concorda?
Bom, o Schroeder cuidava da parte de desenho. O chefe da fábrica mesmo era o Kirstein. O Schroeder cuidava não só dos desenhos que eram depois submetidos a apreciação dos clientes como também da confecção das chapas de impressão. Naquele tempo o desenho era feito diretamente nas pedras, que iam para os prelos, depois de devidamente preparadas.

11. E a respeito de Kirstein?
Ele conhecia muito bem o processo de litografia, era um ótimo técnico inclusive da parte de decalcomania, que não deixava de ser litografia, só que em papel especial. Inicialmente, o Kirstein fazia também o orçamento de todos os pedidos da fábrica, mas com a evolução dos negócios, ele ficou só com a parte técnica e o gerente é que tomava conta desta parte. Quando entrei na firma, o diretor gerente era o Manoel Francisco Pereira que também era sócio, e que algum tempo depois foi substituído pelo Dr. Álvaro Junqueira Junior, que ficou muitos anos no cargo.

12. Alguns depoimentos colocam que o Schroeder teria sido um inovador na litografia do Paraná. O senhor concorda?
Penso que sim. Não posso dar resposta afirmativa porque ele trabalhava em um setor do qual era estava afastado. Mas ele tinha muitas ideias originais e calculo que tenha sido um dos inovadores.

13. Algumas pessoas apontam o Schroeder e o Kirstein como introdutores da decalcomania no Paraná e no Brasil. O senhor concorda?
Sim, no Brasil inteiro. Foram eles que introduziram a decalcomania, produto que eles já conheciam na Alemanha, antes de virem ao Brasil.

14. A fabricação inicial teria ocorrido antes mesmo da criação da Sociedade Metalgráfica?
É, no estabelecimento deles, antes da Metalgráfica, na firma Schroeder e Kirstein. Uma fábrica pequena, ali a decalcomania foi produzida pela primeira vez.

15. O senhor chegou a conhecer esta fábrica?
Esta eu não conheci pessoalmente porque deve ter sido criada mais ou menos em 1919 e eu comecei a trabalhar na Sociedade Metalgráfica apenas em 1929.

16. Apontaram que a Sociedade Metalgráfica teria sido o primeiro estabelecimento a imprimir latas no Estado. Esta afirmação procede?
Isto eu não posso afirmar. Quando comecei a trabalhar, se não me engano já existia a Metalgrafica Pradi, contudo não sei se a Metalgráfica foi a primeira.

17. Como já lhe citei em conversa, estranhamos muito o fato de que os jornais da época atribuem quase que só a Kirstein a introdução da Decalcomania no Paraná. Existia alguma razão para isto?
Desconheço. O que pode ter acontecido é que o Kirstein tinha mais contato com a clientela e por isto era mais conhecido. Porque o Schroeder trabalha na parte de cima da fábrica, e os primeiros contatos com os clientes eram feito só pelo Kirstein. Eu atribuo a isto. Agora não sei se efetivamente ele era mais responsável, ou se era o conjunto.

18. Inclusive pode ter pesado o fato de Kirstein ter morrido muito mais tarde que o Schroeder ...
É, o Kirstein morreu bem mais tarde, e trabalhou na firma até morrer.

19. Qual teria sido o ponto alto da produção da Sociedade Metalgráfica: Lataria, rotulagem ou decalcomanias?
Inicialmente era as latas que foram fabricadas até ocorrer a incorporação da Sociedade Metalgráfica às Fábricas Fontana. Depois é que venderam o maquinário de estamparia e se limitaram a litografia incluindo aí a decalcomania. 

20. Em que época ocorreu o auge da venda de decalcomania? Parece que no começo houve muita dificuldade na comercialização do produto ...
No começo, de fato, havia certa dificuldade porque o produto era desconhecido. Mas, com o passar do tempo, os produtos da Metalgráfica tornaram-se bastante conhecidos no Brasil inteiro. Mesmo pedidos pequenos, recebíamos de todos os cantos do país. O grande cliente em decalcomanias, no entanto, era São Paulo. Quanto a fase área, não posso dizer, porque poderia ter ocorrido justamente depois que saí da firma.

21. Que tipo de decalcomania era mais produzida no início?
Decalcomania a água. Naquele tempo fazíamos mais decalcomania a água e muito pouco para cerâmica.

22. E nesta época a decalcomania destinava-se especialmente a fins decorativos, de cunho didático para crianças, ou para a publicidade?
Inicialmente a decalcomania se destinava as crianças. Mas, logo em seguida, foi iniciada a decalcomania como propaganda e também existiam fins decorativos.

23. E qual destes tipos firmou-se mais?
Não posso dizer isto, calculo que o desenvolvimento tenha sido igual, dos três tipos.

24. Á partir de que época a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrente na produção de decalcomania?
Isto eu desconheço pois é posterior a minha saída da firma. Este assunto também o Moro informaria. Quer que arrisque um telefonema para ele? 
─ (Eu tentei ligar ontem novamente. Ele continua doente. Ficaram de me dar uma resposta na próxima semana, se ele fará ou não o depoimento)

Descrição da gravação do telefonema de Constance Moro cedida a partir da solicitação de Cesar Pinto Junior, autor das perguntas.

[Moro] Sei, então os litógrafos eram Schroeder, Rodolfo Doubek, Rodolfo Korbel, havia mais um, sim o Leonardo Born. Isto. (pausa). No começo era decalcomania a água e um pouco para cerâmica ... A cerâmica foi iniciada no ano de 1940. Anteriormente era só a água. (pausa). Ah, e à fogo também, e também à quente, agora estou lembrando, para colocar em roupa, isto.
[Cesar] Agora você me diga uma coisa: a decalcomania à água, vendia-se uma parte com finalidade decorativa e outra parte para criança, não é?
[Moro] Isto, figurinha para tirar, a tradução em alemão ...[Cesar] Qual era a parte maior sem considerar a propaganda?[Moro] Ah, a decorativa foi maior.
[Cesar] A decalcomania para propaganda foi bem mais tarde, não é?
[Moro] Mais ou menos em 1932─1933.
[Cesar] Sim, é claro, faz muito anos. Não tem importância não quero te incomodar.  É ela me disse tentou falar com você, e você não estava muito bem. Olha, eu não quero te incomodar, vá descansar, qualquer dia nós conversamos. Um abraço para você Constance. Não, ela compreende, eu expliquei o caso a ela. Obrigado, um abraço. 
(retomando, após a conversa com Constance Moro)
Olha, havia mais dois tipos de decalcomania que eu não lembrava, à fogo e à quente. Fazíamos também, monogramas, assinaturas, marcas, fizemos a marca da Arpp de Joinville à quente para ser pregada nas meias.

25. Como o senhor coloca o trabalho de Schroeder e Kirstein no sucesso alcançado pelo Sociedade Metalgráfica?
Eu acho que ali o trabalho e a responsabilidade dos dois era igual. Cada um no seu setor contribuía em pé de igualdade para a expansão da firma.

26. Eu quero dizer, que eles eram elementos de peso da ...
Elementos chave, elementos chave na parte de produção.

27. E eles eram bons profissionais?
Bons profissionais, responsáveis, e com muitas boas ideias. Ambos tinham boas ideias.

28. A Metalgráfica costumava manter turmas de aprendizes visando formar seu pessoal?
Em geral, quase todos que entravam lá, entravam praticamente aprendizes. Eu me lembro inclusive do caso de Doubek que já era desenhista, mas não estava acostumado com litografia e foi aprendendo até chegar a ocupar o lugar de Schroeder, quando o segundo afastou-se.


29. E neste caso, quem era os mestres?
Bom, naquele tempo não era como hoje, mestre e aluno. Todos ensinavam e todos aprendiam uma coisa ou outra. Hoje existem escolas de formação profissional que não existiam então. Todos aprendiam dentro da própria empresa, e todos partiram de Schroeder e Kirstein que eram os mestres em seu setor.

30. Quem dava a ideia para um rótulo de litografia?
Bom, isto é relativo porque antigamente o industrial estudava um desenho que queria fazer, e dava as indicações para os litógrafos. Outras vezes, o próprio litógrafo dava ideia que o industrial aprovava ou não. Hoje é tudo muito diferente, mais fácil, porque existem firmas de publicidade que já entregam o layout pronto para a impressão.

31.O litógrafo então precisava ser uma pessoa criativa ...
Precisava, além da habilidade para desenhar precisava ter criação.

32. Lembra de algum rótulo ou cartaz especial feito pela Sociedade Metalgráfica?
Eu me lembro de uns quadros, decalcomania sobre madeira, para propaganda de uma marca de chapéu. Esta decalcomania imitava tipos de madeira-caviuna, peroba. Os quadros ficavam expostos nas casas de comércio. Isto foi muito marcante na época. Também fizemos para a Cervejaria Adriática uns cartazes em folha, com a impressão de uma garrafa cheia de cerveja com a seguinte inscrição: “Pão líquido”.

33. Lembra de algum prêmio ganho pela Sociedade em exposições de produtos gráficos?
Em quase todas as exposições ganhávamos prêmios. Este prêmios eram diplomas, mas que não existem mais.

34. Qual o aspecto que o senhor acha importante a ressaltar no trabalho da Sociedade Metalgráfica?
O mais importante para mim, é o fato da Sociedade ter sido pioneira na decalcomania. Baseada na Metalgráfica foram fundadas diversas firmas especializadas neste tipo de propaganda, muitas delas até hoje em ótimas condições.

35. É verdade que a maioria dos litógrafos e mesmo técnicos eram de origem alemã?
Sim, praticamente todos eles. Ou eram naturais da Alemanha ou eram filhos de alemães. Além disso, a Sociedade recebia da Alemanha muitos folhetos, livros sobre o assunto.

36. Tem notícia de alguma mulher litógrafa na Sociedade?
Não nenhuma.

37. Mas havia mulheres trabalhando na litografia?
Havia. Elas trabalhavam nas máquinas, na escolha (escolha do material em perfeitas condições). As mulheres inclusive eram numerosas, só que ocupavam funções secundárias.


38. Muitas litografias viram-se, no inicio diante da necessidade de buscar técnicos no estrangeiro. O mesmo ocorreu com a Sociedade?
Não que eu tenha conhecimento.

39. Sabe o porquê da saída de Schroeder da Sociedade Metalgráfica?
Não posso afirmar, mas tenho a impressão que ele já andava doente e devido a isto deve ter pedido o seu afastamento.

40. O Kirstein permaneceu na firma até o final de sua vida?
Permaneceu.

41. Algum tipo de trabalho foi preservado pela Fábrica Fontana, referente a Sociedade?
Diversos, mas infelizmente foi tudo destruído pelo incêndio.

42. Este incêndio ocorreu em que data?
No dia 22 de março de 1975.

43. E de lá para cá as atividades continuam paralisadas?
Sim, continuam.

44. E qual será o destino da Fábrica Fontana?
Ainda não podemos afirmar nada de positivo. Tudo depende da liquidação do seguro. Apareceram alguns problemas, houve demora, e ainda falta liquidar uma parte que envolve máquinas de importação. Tivemos que fazer um estudo, atualização de preço destas máquinas ...

45. Como se explica a incorporação da Sociedade Metalgráfica pelas Fábricas Fontana?
Bom, acharam que seria mais prático, uma vez que havia muita ligação e praticamente os sócios de um estabelecimento também eram sócios do outro. Acharam mais prático fazer a incorporação que iria melhorar a administração, com mais possibilidades na parte da produção. E também, as instalações da Sociedade estariam melhores aqui, junto a Fábrica Fontana do que no prédio antigo.

46. Qual foi o primeiro endereço da Sociedade Metalgráfica?
Avenida João Gualberto, n.º 113, funcionava a fábrica, escritório e havia também uma residência no primeiro andar, geralmente ocupada por um funcionário.

47. A mudança de endereço ocorreu por ocasião da incorporação?
Não, já havia mudado antes, mas em caráter provisório.

48. No inicio de suas operações a Metalgráfica tinha muitas litografias concorrentes?
Se não me engano, apenas havia a Litografia Progresso, a Impressora Paranaense e não sei se já havia a Metalgrafia Pradi.

49. O trabalho da litografia estava sujeito a fases cíclicas em decorrência da safra de mate?
Isto de fato ocorria no que diz respeito ao fornecimento destinado aos exportadores de mate. Fora disto, havia outros clientes com serviços sistemáticos.

50. E a respeito de fornecimento de papel, como se processava?
Normal, sem problemas, como também não havia problemas no fornecimento de folhas de Flanders, e nas tintas, apesar de ser tudo importado.

51. Mais algum detalhe que o senhor queria citar?
Não. Tudo já foi tido, espero que seja suficiente.