Capítulo 2 – Um novo país industrializado 1960-1970.
Dijon
de MORAES, em seu livro Análise do design
brasileiro: entre mimese e mestiçagem, busca uma análise crítica sobre a
instituição no Brasil do design. Para
isso, parte da concepção de que o design
no Brasil tem sua origem na fundação das primeiras escolas de design, alinhando-se com o discurso de Lucy
NIEMEYER (1997) e, de certo modo, se opondo a perspectiva de pesquisas
apresentadas por CARDOSO (2004, 2005). Em alguns momentos, MORAES, até procura
reconhecer a possibilidade de algumas iniciativas relacionadas ao design, porém deixa-as em segundo plano
de discussão, se concentrado a partir da análise de meados até o fim do século
XX.
Sua
escolha é cronológica ─ do mais antigo ao mais recente ─ se inicia com a
formação, influencias e consolidações de uma estrutura de ensino de design no
Brasil.
O papel dos militares
e das multinacionais.
MORAES promove uma análise sobre como a
política adotada pelo regime militar impactou no desenvolvimento industrial do
país. Este argumento é importante, pois explica vários acontecimentos
posteriores vivenciados pelo design
brasileiro.
Apesar
da postura considerada de direita, e até mesmo nacionalista, MORAES revela que
a ideia de industrialização com base em incentivos adotada pelo governo,
principalmente por meio das indústrias multinacionais, como: doação de
terrenos, diminuição de impostos, e possibilidade de envio de lucros ao
exterior, incentivou um estilo de industrialização danoso à integração do design-indústria.
MORAES aponta que a corrida da industrialização brasileira ocorre de modo acentuado
entre 1967 e 1973, como um surto de industrialização como cita FAUSTO (1995) e MENDONÇA
(1995). Os planos de desenvolvimento e industrialização visavam transformar o
Brasil no “país do futuro”, porém, não de um modo sustentável, e apenas para
uma parcela da população. Fato, apontando por MORAES, é que a industrialização
acentuou as diferenças sociais, e deve benefícios concretos apenas para uma
parcela da população, originando uma “classe média”, responsável pelo
fortalecimento do mercado interno.
As
empresas multinacionais instaladas visavam o lucro rápido, o que era facilmente
obtido com a criação de uma política fiscal ”generosa”, somada a um controle da
mão de obra ─ enfraquecimento dos sindicatos ─, baixos salários, nenhuma
exigência de desenvolvimento de produto e um mercado interno, pouco crítico ─ o
que importava era o menor preço, e não a qualidade.
Nos
setores industriais em que as multinacionais, por inúmeros motivos, não
consolidaram sua presença, coube a figura do governo investir como telefonia,
transportes, portos, geração e distribuição de energia etc.
MORAES ressalta a necessidade de investimento em infraestrutura, financiados pelo
governo, o que aumentou o grau de endividamento do Brasil no exterior,
aumentando, consequentemente, a chamada “dívida externa”.
Uma
perspectiva, não abordada pelo autor, é de como se deu o processo de
desenvolvimento tecnológico no Brasil no período, tendo o governo como grande
incentivador e investidor, e por meio de obras grandiosas, como a Usina de
Itaipu e a Transamazônica, procurava transmitir um ideal de Brasil “moderno”,
do “país do futuro”.
Industrialização e modernidade.
Industrialização e modernidade.
A industrialização promove
uma revolução sociocultural na medida em que novos hábitos de consumo,
comportamento, alimentação e vestimenta são incorporados à forma de vida e
hábitos de uma população. A industrialização e a “modernização” caminham lado a
lado.
Até 1960, apenas 20% da
população brasileira vivia nas cidades. A industrialização gerou uma urbanização
acelerada, que desencadeou a violência urbana e o caos social nas cidades com o
aumento de periferias e favelas.
Na atualidade, mesmo com o
fenômeno da agroindústria, observa-se que tanto nos países industrializados
quanto nos Novos Países Industrializados, “ainda se mantém uma grande diferença
percentual em favor da indústria e do serviço em detrimento da agricultura”
(MORAES, 2009, p. 100).
O design no
contexto de uma industrialização forçada.
O milagre econômico
brasileiro gerou uma grande expansão no mercado e fez com que empresas privadas
locais destinassem a sua produção somente ao mercado interno. Com isso, o
desenvolvimento do design nacional
foi afetado, pois as empresas brasileiras não se deparavam com os desafios do
confronto e da competição do design
internacional.
Ao contrário do que ocorre
na esfera produtiva da indústria, no âmbito acadêmico, o design desenvolve-se acentuadamente por toda a década de 1970.
A pequena parcela de
brasileiros que podia consumir em larga escala o que era produzido, valorizava
o preço baixo em detrimento do design
e de outros valores agregados e percebidos nos artefatos industriais (MORAES,
2009, p. 102). Por essa razão, as multinacionais estabelecidas no Brasil adotaram
a prática de abastecer o mercado brasileiro com produtos baratos e obsoletos dos
seus países de origem. Era a chamada prática do down grade, eliminação de partes ou componentes de maior custo dos
produtos diminuindo, com isso, a qualidade final.
Não existia um departamento
próprio de desenvolvimento de produtos com designers
locais nas empresas multinacionais que operavam no Brasil. O que existiam eram
departamentos de projetos e de engenharia responsáveis pela adaptação dos
produtos vindos do exterior à realidade brasileira. Essa “adaptabilidade e
redesenho” de produtos vindos do exterior era conhecida pelo slogan “tropicalização do produto”.
A “tropicalização do
produto” provocou o empobrecimento do design,
pois além de reforçar a cópia de produtos do exterior na esfera local, também
distanciava o consumidor do acesso a qualidades inerentes ao produto.
Diante disso, “o ensino
apresenta-se aos designers
brasileiros como a melhor alternativa para colocar em prática as suas próprias
percepções e conceitos experimentais da atividade de design” (MORAES, 2009, p. 105).
A vinda das multinacionais trouxe
uma grande transformação quanto à inovação produtiva e à gestão do processo de
produção em série, mas o design foi
pouco desenvolvido no âmbito dessas empresas. As empresas locais acabaram sendo
influenciadas pelas multinacionais na aplicação do mimetismo fabril e
tecnológico.
De acordo com VERGANTI (1999, apud MORAES, 2009, p. 109), existem várias motivações que podem induzir
à inovação dos produtos industriais: fatores estratégicos, de mercado,
tecnológicos e normativos. Tais fatores não foram observados pelas
multinacionais estabelecidas no Brasil nessa época. A estratégia destas
empresas era o lucro fácil e rápido.
O efeito – positivo e
negativo – das multinacionais em território brasileiro proporcionou profundas
alterações na cena brasileira. Ocorreu uma “ocidentalização do Brasil”, na qual
os países mais industrializados enviavam ao Brasil, por meio das
multinacionais, modelos produtivos que não poderiam mais ser utilizados nos
seus países de origem, com larga margem de lucro, poluição e descaso com o
impacto ambiente e exploração de mão-de-obra (MORAES, 2009, p. 110).
Todas essas transformações
sociais vindas com a industrialização são conseqüências diretas da modernidade,
promovendo a ordem e o caos no Brasil.
É importante ressaltar que MORAES, aparentemente na escolha de seu discurso, não contemplou exemplos que
figuram na contra mão de suas afirmações, mesmo que de modo pontual, porém que
instigam a pensar que poderia ocorrer um movimento de interação entre este design exterior, sua tropicalização e a
cultura local. Citando alguns exemplos destas práticas: A concepção e
fabricação de automóveis considerados “fora de série”, Puma, Santa Matilde,
Bianco, GTB, Adamo etc ; automóveis desenvolvidos no Brasil; como VW Brasília,
Variant, Passat; GM, Chevette, lançado 6 meses antes do que seu similar europeu
o Kadett , e o caso da Gurgel, com o BR800. Do mesmo modo pode ser observado o
desenvolvimento de centros de desenvolvimento, que na sua tropicalização do
produto, acabavam tornando-o único, diferente do restante do mundo, e contaminado
por características locais. Um dos casos que pode ser citado é das lavadoras de
roupas, a entrada de roupas na maioria das vezes é superior, e mesmo numa
tentativa da entrada lateral, mais comum em outros países, não foi bem aceita
no mercado nacional, sendo mantida a entrada superior.
Seriam casos interesses que ocorreram na indústria “nacional” ─ empresas multinacionais com filiais no país ─ que poderiam entrar na análise de Moraes como um movimento de resistência, mesmo que tímido, do design nacional, transmitido por meio de sua cultura, afetando e configurando o artefato projetado.
Referências:
NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. Rio de Janeiro: 2AB, 1997.
Seriam casos interesses que ocorreram na indústria “nacional” ─ empresas multinacionais com filiais no país ─ que poderiam entrar na análise de Moraes como um movimento de resistência, mesmo que tímido, do design nacional, transmitido por meio de sua cultura, afetando e configurando o artefato projetado.
Referências:
NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. Rio de Janeiro: 2AB, 1997.
CARDOSO, Rafael. O design antes do design:
aspectos da história gráfica, 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do Design. Edgard Blücher. São Paulo, 2004.
MENDONÇA, Sonia. A industrialização Brasileira. São Paulo. Moderna. 1995.
FAUSTO , Boris. História do Brasil. São Paulo. Edusp. 2 ed. 1995.
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do Design. Edgard Blücher. São Paulo, 2004.
MENDONÇA, Sonia. A industrialização Brasileira. São Paulo. Moderna. 1995.
FAUSTO , Boris. História do Brasil. São Paulo. Edusp. 2 ed. 1995.
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