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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Resumo A Identidade Cultural na Pós-modernidade de Stuart Hall.

O texto de Hall foi publicado em 1992, e traduzido em 1997. Devido à complexidade dos temas apresentados pelo autor, optou-se em enfatizar sua metade final onde o tema Globalização é discutido.

Hall entende três concepções de identidade, a do sujeito do iluminismo (Humano, centrado e unificado); sujeito sociológico (mundo pessoal - mundo público, interior-exterior, estabiliza o sujeito a estrutura) e o sujeito pós-moderno (provisório, variável e problemático). São neles que o autor constrói os argumentos centrais de sua proposta.

Articula como um “sujeito humano”, com certas capacidades humanas fixas e um sentimento estável de identidade e lugar das coisas, se torna “centrado” nos discursos que moldaram a sociedade moderna. Este argumento é importante para Hall analisar o “sujeito moderno” e seus desdobramentos ocorridos na globalização. Em seu entendimento, a globalização faz parte do discurso moderno, e sua construção social tem um papel fundamental para analisar as particularidades presentes na relação Globalização-Identidades.

A “centralização” do sujeito para Hall se dá a partir do século XVII, com a “nova ciência” efetuando o deslocamento de Deus para a razão (ceticismo-método-dúvida), um sujeito racional, pensante e consciente, situado dentro do conhecimento, que é definido como um sujeito cartesiano (René Descartes). As descentralizações ocorrem por meio das teorias marxistas (Marx-Engels-Althusser), freudianas (Freud-Lacan), linguística (Saussurre) e os trabalhos de Michel Foucault. Entre os principais impactos estão nos movimentos das minorias (Feministas, Negro, Homossexuais, etc).

A partir deste quadro, Hall, apresenta as “áreas de combate” entre esta identidade centrada e a identidade descentralizada dentro do conceito da globalização e aponta como as forças políticas, econômicas e culturais se articulam nas negociações e construções de identidades.

Hall considera a globalização como:
Um complexo de processos e forças de mudança, [...] atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado.” p.67
 A globalização está profundamente enraizada na modernidade p.68

Uma das principais características da globalização é a “compressão de distâncias, escalas temporais e seus efeitos sobre as identidades culturais” p.68
Hall considera que existe uma diferença entre lugar e o espaço, e as define como:
- Lugar: é concreto, conhecido, familiar, delimitado, fixo, existem raízes.
- Espaço: é cruzado, superado, “destruição do espaço através do tempo” Harvey

Esta diferenciação cria uma “geografia imaginada” um local, uma paisagem, que induz a um lugar, de casa, de tradição, mesmo que inventada, mas que projeta uma volta ao passado, e insere em uma grande narrativa que conecta o indivíduo a acontecimentos históricos e relevantes. p.71-72 Assim, a compressão do espaço-tempo promovida pela globalização, afeta as identidades no momento em que altera o sistema de representação. Este sistema pode ser visto, por exemplo, nas artes no final do século XIX e começo do século XX (modernismo). p.70-71

Hall aponta que existem três possíveis consequências da globalização sobre as identidades:
- Desintegração: resultado da homogeneização cultural do “pós-moderno”;
- Reforçadas: pela resistência à globalização;
- Híbridas: “novas” identidades, articulados no declínio das identidades nacionais.

Em sua análise, Hall aponta que no processo de globalização há um enfraquecimento da Identidade Nacional, e fortalecimento de identidades regionais e comunitárias. Há uma concepção de uma Identidade “global”; fragmentada, múltipla e reforçada pelos fluxos culturais, constantemente reconfigurada e deslocada por meio do espaço-tempo-lugar, na expectativa de uma nova possibilidade. Além disso, coloca o contexto do mercado global (consumismo) com um dos fatores que provocam o contato com diferentes identidades (cada qual com seu apelo) das quais parece possível fazer uma escolha.

No interior do discurso do consumismo global, as diferenças e as distinções culturais, que até então definiam a identidades ficam reduzidas a uma espécie de língua franca internacional, na qual as diferentes identidades podem ser traduzidas (mercadorias). Este fenômeno é conhecido como homogeneização cultural”.

Sempre houve uma tensão entre uma identidade particularista e outra mais universalista.
A primeira com o ideal de pertencimento reforçada principalmente a partir da consolidação dos estados-nação (sujeito-cartesiano). A segunda era influenciada pelo longo processo da modernidade (globalização) dando foco a um sistema global.

Hall considera um exagero a ideia de uma identidade homogeneizada. É simplista, exagerada e unilateral. Há uma mercantilização da diferença e um novo interesse pelo local, buscando estabelecer uma diferenciação do local na criação de “Nichos de mercado”, uma articulação entre o local e o global.

A globalização é desequilibrada pelo mundo, assim continuam existindo relações de poder desiguais. Por mais que exista um discurso sobre um processo trans-histórico e trans-nacional como uma força transcendente e universalizadora da modernização e da modernidade, o capitalismo global é, na verdade, um processo de ocidentalização ─ a exportação das mercadorias, dos valores, das prioridades, dos “modos” de vida ocidentais. A globalização, à medida que dissolve as barreiras da distância, torna o encontro entre o centro colonial e a periferia colonizada imediato e intenso.

A proliferação de escolhas e identidades é mais notória no centro do que na periferia. O conceito de uma periferia “fechada”, pura, culturalmente tradicional e intocada é uma fantasia ocidental, que os “imagina” puros, em locais exóticos e intocados. Os efeitos da globalização estão na periferia, porém em ritmo mais lento e desigual.

HALL, Stuart. A identidade na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&Z, 2005.

sábado, 27 de julho de 2013

Resumo do artigo: Memória e humor gráfico: caricaturas e releituras de Belmonte.


Resumo do artigo: Memória e humor gráfico: caricaturas e releituras de Belmonte, de Marilda Lopes Pinheiro Queluz, no livro Design e Cultura.

O texto é parte de um trabalho amplo que visa compreender a releitura como uma estratégia artística na reconstrução do sentido.  Como recorte, são usadas caricaturas de Benedito Bastos Barreto (Belmonte). A análise proposta parte das teorias de Mikhail Bakhtin buscando novas relações de tempo e espaço (cronotopo) por meio das construções de intertextualidade. 

A definição de caricatura adotada é uma concepção de Rivers (1991) onde não é considerada como uma entidade pré-existente, emoldurada por um contexto, mas situada numa dimensão que interage com o processo histórico que se constitui. Assim sua concepção é dinâmica, ao mesmo tempo em que é influenciada pelo contexto, acaba influenciando-o.

Dentro do contexto de enunciação-enunciador-enunciatário, a autora propõe que a caricatura é uma inversão da inversão, o avesso do avesso, onde o passado e o presente se encontram na afirmação e na negação da história num só tempo. Torna-se um jogo, onde a ironia apresenta um desencontro entre o enunciado e enunciação. Dentro deste discurso seu conteúdo contém o seu contrário.

Segundo a autora, a dessacralização é um dos elementos característicos da caricatura, assim como a ironia e a ambiguidade. Existe uma “capacidade” de deslocar constantemente o ponto de vista, transformando-o em múltiplas perspectivas interpretativas.

Outro ponto comentado, e importante sobre o entendimento da caricatura como uma linguagem urbana, buscando a perspectiva do leitor, deixando-o entrever os projetos fracassados, as contradições do sistema, os sonhos, desejos e frustrações de quem não está no centro das decisões. A cidade é construída a partir do “fazer ver” e “fazer ser visto”, em “jogos de visibilidade” dos atores sociais em suas diferentes funções.

São apresentadas três caricaturas de Belmonte da década de 1940 e suas releituras por três artistas diferentes no ano de 1996.  Em síntese as análises contêm em comum a características de deslocar o sentido, é estabelecida uma dinâmica interativa, um diálogo sobre o presente, uma intersemiose entre sistemas de signos diferentes. Atua-se no limite entre uma obra e outra, num processo de contaminação, o que ocasiona sempre uma nova reação, uma nova assimilação, uma nova conexão entre história e linguagem.  Cria-se uma paródia da paródia, num movimento constante de autocrítica, de produção de sentido.

Segundo a autora:
No jogo entre o presente e o passado, constitui-se uma trama de relações entre os tempos da história, a partir do olhar crítico, da ironia, da ambiguidade, da inversão. Reafirmam-se os modos de presença do outro, multiplicam-se os pontos de vista. As teias de intertextualidade mostram a história brasileira como um todo marcado pelas descontinuidades, uma constância entre camadas de nuances diversas. O olhar não se fixa nem na obra nem na releitura transita, percebendo as relações de sentido serem construídas nas fronteiras.

Para maiores detalhes, recomendo a leitura do artigo completo:
QUELUZ, Marilda, P. L.. 
Memória e humor gráfico: caricaturas e releituras de Belmonte. In: Marilda Lopes Pinheiro Queluz. (Org.). Design & Cultura. 1ed.Curitiba: Sol, 2005, v. , p. 111-131.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Resumo do artigo: Existe Design Brasileiro? Considerações sobre o conceito de identidade nacional.

Resumo do artigo: Existe Design Brasileiro? Considerações Sobre o Conceito de identidade Nacional, de Marinês Ribeiro dos Santos, no livro Design e Identidade.

Inicialmente a autora relata com a questão de uma identidade nacional brasileira no design é um tópico discutido há muito tempo dentro da profissão. E inicia suas considerações sobre um “design brasileiro” tendo como referência uma entrevista do designer Alexandre Wollner, onde declara a inexistência de um “design brasileiro”.

No entendimento da autora, a concepção de identidade de Wollner baseia-se na existência de uma identidade única, e intimamente ligada, à formação do povo brasileiro e que estaria se diluindo com os processos de globalização.

Com esta informação, SANTOS promove um desmonte da ideia de identidade pura e autêntica. Com base nos estudos de Stuart Hall, é chamada a atenção como a dimensão cultural está presente em qualquer prática social, e que toda prática depende e tem relação com um significado. Este significado não é intrínseco às coisas, mas é atribuído por fatores simbólicos e culturais, os quais são construídos por meio da linguagem e das representações. 

O conceito de identidade inicial de Wollner é deslocado para dentro da discussão acerca de linguagem e da representação, e assume a concepção de uma identidade construída discursivamente por intermédio das representações, deixando de ser “puras” e autênticas, mas encaradas como uma construção, uma negociação.

Em seu entendimento, a autora atribui a origem da identidade na diferença, portanto, a diferença poderá dar origem a variadas identidades que competem entre si. Assim, existem diferentes representações possíveis (identidades) e que podem ou não ser identificada com algum grupo de pessoas.

Da relação entre a subjetividade (interno – experiências vividas, compreensão de nós mesmos) e dos discursos culturais (externo – contexto cultural que dá significado as experiências) se dá a negociação para a possibilidade de uma “identidade”.

Dentro deste processo discursivo da negociação da identidade, existe um aspecto subjetivo que sugere a compreensão que temos de nós próprios (pensamento, emoções, consciência e inconsciência) inserido em um contexto social, no qual a linguagem e a cultura atribuem significados as experiências vividas.  Nesta perspectiva as identidades são perpassadas pelas representações dentro de um contexto cultural.

Para maiores detalhes, recomendo a leitura do artigo:
SANTOS, Marinês Ribeiro. Existe design brasileiro? Considerações sobre o conceito de identidade nacional. In: Marilda Lopes Pinheiro Queluz. (Org.). Design & Identidade. 1ed.Curitiba: Peregrina, 2008, v. , p. 35-49.