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terça-feira, 11 de junho de 2013

A embalagem para a casa Romário Martins

Para a casa Romário Martins a exposição "Embalagens de Cigarro" marca o inicio da Semana do Colecionador. Por que esse tema para o lançamento da promoção? Não houve de nossa parte qualquer escolha. Decidimos que uma semana por mês colecionadores e pesquisadores determinariam a programação da CRM e foi isso que ocorreu. Herculano Martins Franco Filho e José Ricardo Pachaly foram os primeiros a se interessar nela promoção e nós acolhemos sua iniciativa.

O acervo que passamos a mostrar consta de novecentas embalagens de cigarro, de trezentas marcas diferentes. Há embalagens estrangeiras e nacionais, sendo interessante observar aquelas, de apelo popular, com cores, ilustrações, apelos de consumo e nomes peculiares como: TEFUMO, CRAQUE, SPUTINIQUE, SAMBA, ROMANCE, BEDUINO, SHOW, QUETAL; RINGO, CORINGA, MISBELA , VANGUARD, RAINHA, PARTICULARES e AMIGO.

Estas embalagens, encontradas pelos colecionado res especialmente em bairros bastante afastados do centro da cidade, diferem daquelas encontradas em clubes recreativos e defronte ao Teatro Guaíra, por exemplo, onde predominam as embalagens de cigarros estrangeiros ou nacionais com nomes estrangeiros dotados de ilustrações cuidadas, com muito dourado, evocando castelos, títulos de nobreza, ou brasões, como KING GEORGE, MONROE ou HILTON.

Segundo a origem, as embalagens expostas são classificadas em: Americanas – Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolívia, Estados Unidos e Canadá: Europeias - Inglaterra, França, Alemanha, Bulgária, Itália e Espanha: Asiáticas - Coréia, e Africanas - Líbano.

Entre as embalagens mais antigas, destacam-se aquelas de cigarro RI TIGRE e TRÊS BARRAS, que datam de antes da Guerra do Contestado (Observar na carteira a indicação de Três Barras, Paraná - Brasil) além de outras oito bastante plásticas, confeccionadas em Curitiba, no inicio do século, pelo processo de impressão litográfico: CIGARROS DARDANELLOS, TENNIS, ARACY, COMMENDADORES, ORLANDO e LOLA. Há ainda a embalagem em folha de flanders, em formato de estojo, do cigarro - EDEN, EXTRA MISTURA - com idade avaliada em torno de sessenta anos; e outras embalagens nacionais, de cerca de trinta anos, já desaparecidas do mercado como: CAPORAL, AMARELINHO , CIGARRO DAS AMERICAS, FARRAPOS e CRUZEIRO.

Corno aspecto curioso vale ressaltar as embalagens do cigarro INTERVALO, da fábrica Sudan S.A., ilustrada com fotografias de artistas - Glória Menezes, Lolita Rodrigues, Rogério Marcico, Valter Stuart - acompanhadas pela inscrição: "recorte e cole nas carteias distribuídas pela Sudan, para concorrer aos sorteios", e as embalagens brinde.  Entre essas últimas, há aquelas para consumo à bordo, distribuídas em aviões e navios, e a embalagem do cigarro HASTINGS, da fábrica Sudan, utilizada para promoção dos anéis de pistão Hastings, "projetados especialmente para mudança do seu motor".

Há ainda embalagens só para exportação, consumo interno, flip top box, de metal, estojos de luxo, e as carteiras que variam de setenta, oitenta e cinco, cem e cento e vinte milímetros, que ainda se subdividem em cigarros com ou sem filtro (ou ponteira ou cortiça). A enorme variação de embalagens demonstra claramente a sofisticação do público consumidor e do próprio produto, que assume características marcantes na economia nacional: segundo informações contidas no Caderno de Economia da Folha de São Paulo do dia 18 de janeiro de 1976, o IPI do fumo representou no primeiro trimestre do ano passado, 13,1 % da receita e 46 % do total de impostos recolhidos no país até julho de 1975.

Um detalhe final a ser observado na exposição que os colecionadores, apesar de trabalharem com embalagem de cigarro, não fumam, e que as embalagens americanas para exportação, assim como as brasileiras para consumo interno não apresentam nenhuma limitação em sua publicidade, ao contrário das americanas para consumo interno e mesmo algumas argentinas e colombianas. Que trazem impressos os avisos de: "Warning: the Surgeen General Has Determined that Cigarrette Smoking is Dangerous to your Health", ou então: "Caution. Cigarrette Smoking May Be Hazaudous to Your Health", sugerindo prejuízos causados à saúde pelo cigarro.

Para que a Semana do Colecionador não seja apenas outra exposição todos os meses, e dê resultados esperados, a CRM precisa contar com a resposta dos colecionadores e do público em geral. Avise-nos da existência de colecionadores e acervos particulares. E se você coleciona - embalagem de cigarro, mantenha contato com os colecionadores que expõe atualmente, na CRM: 

Herculano Martins Franco Filho (os dados de contato estão omitidos)

José Ricardo Pachaly  (os dados de contato estão omitidos)

O primeiro dispõe de cerca de setecentas embalagens de cigarro e o segundo em torno de quinhentas. Ambos estarão fazendo permuta no balcão de trocas durante a Semana do Colecionador e posteriormente em suas residências.

Nota: O texto não contém nenhuma indicação de autoria,  data, mas pelo contexto da exposição a autoria provável seria de Rosirene Gemael ou Valêncio Xavier em meados da década de 1970.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A embalagem para o publicitário:

Texto produzido por Ernani Buchmann, posssivelmente no ano de 1975, comentando um pouco sobre o papel dos colecionadores, e como a embalagem reflete algumas questões culturais importantes na construção e afirmação de identidades. Este texto está associado a exposição de 1975 sobre a litografia, e alguns dos rótulos de cigarro eram do processo. A digitalização do material datilografado foi feita por Alan Witikoski como material de referência para pesquisa.

A EMBALAGEM PARA O PUBLICITARIO:
 
A atração exercida por uma carteira de cigarros é indiscutível. Muito pouca gente consegue passar incólume pelo fascínio de uma carteira de cigarros, incluindo-se até: não fumantes, entre os que são subjugados pelas cores, pelo formato, pelo estilo deste objeto hoje tão representativo.

Mais o que uma embalagem, a carteira de cigarro chega, às vezes, a se transformar quase num fetiche, espécie de estrela no oceano dos objetos que trazem status.

Só ela - e não no seu conteúdo – é que traz em suas características apropriadas para envolver cada tipo determinado de personalidade. Uma carteira de cigarros pode nos dizer se o fumante do gênero esnobe, popular, destemido, modernos assim como na maneira de abrir nota-se o relaxado, o desligado, o compulsivo, o inseguro.

Tornou-se um símbolo, entre outros ao lado do automóvel, de um estilo de vida. Por exemplo, os cigarros Hilton mostram em quase todos os seus comerciais um Galaxie, ligado ao sujeito que fuma o cigarro em questão. Em compensação, os cigarros Arizona preferem ligar o "mocinho" do filme a um cavalo, sinal de destemor, do machismo. 

E o Marlboro, da terra de idem? Bom, este seguiu os passos do Arizona - em termos brasileiros - mas apenas na ambientação dos seus filmes publicitários. Enquanto o Arizona apela para um - tipo mais nacional Brasil, sem muita sofisticação, como é necessário a seu público de baixa renda, o Marlboro nos apresenta o típico oeste americano,  que se não fosse por outro aspecto, já seria pelo fato de que todos os filmes são produzidos nos Estados Unidos e apenas dublados no Brasil. Inclui também a tecnologia no Oeste - um exemplo: os helicópteros - criando a imagem que seus fumantes, também destemidos, são pessoas de sucesso na vida, indivíduos da classe em ascensão social.

Assim existem os Minister, os Carlton - do qual estou munido de um exemplar neste momento - os Hollywood, os Continental e centenas de outras marcas.

No entanto, a carteira de cigarros muito mais do que isso. Quantos e quantos já foram anotados ali, e perdidos por sujeitos que esqueceram que aquele pedaço de papel colorido trazia a única pista para encontrar uma mulher ou um amigo de velhos tempos. E os joguinhos sociais que as reminiscências de velhas marcas de cigarro permitem? Qual era a cor da embalagem dos cigarros Yolanda? E o formato do Liberty? E o preço do Columbia em 1956? A lista não tem fim.

Fico lembrando satisfeito daquele amigo que certa vez me deu um cinto todo feito com maços de Continental e Hollywood sem filtro. Por quanto tempo desfilei o meu orgulho com aquela tira colorida segurando as minhas calças de menino. 

Bilhões de cruzeiros são fumados todo dia pelos cinco cantos do mundo. Muita gente começa, assim como muita gente para se foi o último - de fumar a cada momento. Da mesma forma, muita gente tem por hábito colecionar carteiras de cigarro, um hobby bastante interessante.

Esses dois rapazes que hoje expõe, suas coleções de carteiras de cigarro na casa Romário Martins - José Ricardo Pachaly e - Herculano Martins Franco Filho - com certeza já foram obrigados a se abaixar centenas de vezes junto calçada pela simples visão de uma raridade. Para eles não há nada mais emocionante do que descobrir novas carteiras, receber exemplares do exterior e catalogar as que possuem.

São colecionadores e como tal qualquer esforço é válido. Para nós outros, mais afeitos a apenas abrir a carteira e fumar o vicio, a exposição de um acervo tão sui gêneris é uma experiência bastante agradável. 

No espirito puro dos dois jovens não esta em jogo a briga que a British American Tobacco (ou Souza Cruz, como queiram) desenvolve contra a Philip Morris e R. J. Reinolds pela conquista do mercado brasileiro. Nem interessa saber, por exemplo, quantos milhões de cruzeiros foram gastos no estudo da embalagem do novo lançamento, o Du Maurier, pela Souza Cruz (ou British American Tobacco, como queiram).

Para eles o principal é descobrir uma carteira do cigarro gaúcho Grenal ou do falecido Lincoln. Isso é que importa. 

ERNANI LOPES BUCHMANN, Chefe de Redação P.A.Z.,. Criação e Comunicação Ltda. e Ex-redator e chefe de Criação das agencias de propaganda cariocas SGE Publicidade e Promoções, LM Propaganda e IMC - Internacional Markting Cornmunications.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Fragmento de texto sobre a exposição de litografia de 1975

Fragmento de texto, sem autoria, encontrado na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Digitalizado do datilografado por Alan Witikoski. Acredito que o texto tenha sido produzido por Rosirene Gemael.

Rótulos Antigos.

Para o mês de outubro, a Casa Romário Martins já tem praticamente montada, a exposição de Rótulos Antigos, que, mostrará coleções de rótulos, cartazes e pedras litográficas, material reunido depois de dois meses de trabalho através de cerca de oitenta contatos entre gráficas, descendentes de proprietários de litografias já extintas, e nas próprias indústrias. A idéia inicial era diferente. Localizamos uma coleção de cerca de 2OO rótulos toda desenhada por uma mesma pessoa entre 1914 e 1916 preservada por um colecionador. Pretendíamos, então, nos restringir na tentativa de obtenção deste material e sua exposição. Porém, ao observarmos detalhadamente a coleção, constatamos  que documentava uma fase importante de nossa indústria gráfica, em sua fase "litográfica" tão artesanal e da qual restam pouquíssimos resíduos. E constatamos também, que através daqueles rótulos, obtém-se informações das mais variadas naturezas, como, por exemplo, hábitos de consumo de urna determinada época, e entre outras coisas, um tipo de economia, um tipo de estabelecimento industrial e de um tipo específico de comércio. 

Caracterizados para nós como "fontes de informações" achamos que devíamos passar imediatamente para uma verdadeira "busca" de rótulos desta época (1914-1916), de épocas posteriores e se possível, dos primórdios da fase litográfica. O que mostraremos em nossa exposição é o resultado de um trabalho que será realizado indefinidamente, de acompanhamento de uma atividade que não pretende rotular-se de "pesquisa" mas apenas de coleta de material que seria fatalmente destruído. 

(Na maioria de nossos contatos verificamos a quase total ausência de preocupação de arquivos, documentação e preservação deste material, que segundo depoimentos tem sido, regularmente vendido como entulho).

Incentivo a Documentação

Descobrindo nos compradores de papel nossos maiores "concorrentes" para a obtenção de velhos documentos, fotografias e outros materiais de interesse, além de enriquecer nosso próprio acervo, procuramos incentivar nas pesquisas, as pessoas envolvidas pela preocupação pela documentação. Nos casos mais favoráveis, chegamos inclusive a receber a promessa de organização de pequenos museus, que serão catalogados por nós . A iniciativa mais concreta partiu da Indústria Todeschini, que preserva grande volume de material de interesse histórico e que vai partilhar a organização de um museu. No casos em que não conseguimos  sensibilizar as pessoas que detém as decisões, obtivemos ,porém, a promessa, de sermos consultados antes que determinados sejam “postos fora". Para guardar este material, no entanto, a Casa Romário Martins precisará dispor de mais espaço físico. Neste sentido, já foram mantidos contatos com o prefeito Saul Raiz para que se proceda a desapropriação da casa ao lado da Casa Romário Marfins, com o que atingiremos dois objetivos: a preservação de mais um prédio antigo no setor Histórico, e a organização de um Museu da Cidade.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nota Impressora Paranaense - 1953

Nota retirada do Álbum do Centenário do Paraná 1853 -1953, sem página.
Digitalização do original por Alan Witikoski.

Esta nota reitera alguns tópicos que surgem tangenciando como o desenvolvimento da indústria gráfica no Paraná, principalmente em Curitiba, e que não são abertamente apresentados. Sabe-se que os imigrantes alemães sofreram várias sanções no período relacionada as duas Guerras Mundiais, que afetaram as configurações das litografias paranaenses, porém quais, e como foram estes eventos, contam pouca ou quase nenhuma informação "oficial". 
Até o momento os principais seriam: a inclusão na "lista negra" do comércio, um incêndio a sede da Impressora Paranaense, na rua Comendador Araújo, e relatos de "destruição" de livros técnicos em alemão sobre processos gráficos nas litografias, devido ao medo de serem pegos com algum material "subversivo". 

Impressora Paranaense S.A.
Publicamos com satisfação, o editorial abaixo, assegurando o cabimento leal da asserção, pois, mourejando há anos no seio e intimidade da IMPRESSORA PARANAENSE S.A., convivendo, ao editarmos ininterruptamente, a nossa Revista, vimos sempre, nas diretrizes de seus destacados proprietários e auxiliares, grandeza e tolerância, trabalho e disciplina, e o pulsa de corações de brasilidade, muito devendo o Paraná a essa famosa e tradicional organização, fator inegavelmente preponderante de seu progresso e engrandecimento:

A IMPRESSORA PARANAENSE S.A., por seu diretor-presidente, abaixo assinado, vem declarar que, já tendo sido vítima de calúnias, lhe atribuindo atitudes politicas anti-nacionais, há vários anos atraz, do que lhe resultaram sérias e penosas dificuldades, calúnias estas creadas por elementos irresponsáveis, desafetos e acintosos, não deseja que o seu título e denominação de IMPRESSORA PARANAENSE seja confundido com denominações de outras “impressoras” que se acham atualmente envolvidas em polêmicas sobre questões de ideologias políticas.
A presente declaração é feito pelo fato de já haverem chegado ao conhecimento da Impressora Paranaense S.A. informações sobre confusões havidas neste sentido.”

(a) OSCAR SCHRAPPE SOBRINHO
Diretor Presidente.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

Entrevista com Otto Stutz, Gazeta do Povo

Digitalização de entrevista de Otto Stutz para Gazeta do povo, Nosso Bairro Água Verde. Infelizmente o material estava incompleto.

Otto Stutz. Gazeta do Povo
Para conseguir fazer esta entrevista com o artista plástico e desenhista Otto Stutz, nosso repórter precisou de insistência. A idéia partiu do nosso colaborador Haroldo Perdia, mas faltava o entrevistado aceitar a proposta. No início, ele resistiu, mas depois, com o pedido da filha Ângela e da amiga Eliane, Otto Stutz deciciu conceder esta entrevista para a memória do nosso bairro. Participaram da entrevista Haroldo Perolla e Angela M. Stutz Táws.

Vivi aqui e é aqui que pretendo "embarcar" 

É com orgulho que Otto fala do bairro em que vive, o Água Verde. Ele nasceu em 6 de maio de 1923, filho de pais austríacos. "Morei e me criei no bairro da Água Verde, e aqui pretendo embarcar", declara sorrindo. De sua infância no bairro, ele se lembra da Segunda Guerra Mundial, dos exercícios de blecaute onde ele, Cláudio Tedesco e o Haroldo Perolla tocavam o sino da Igreja da Água Verde, simulando um ataque aéreo que nunca aconteceu. Torcedor do Paraná Clube "desde o tempo em que se chamava Savoya, em homenagem à família real italiana". A ca-misa do time do Água Verde, quando foi campeão em 1957, foi desenhada por ele a pedido do falecido Arnaldo Thá e do Haroldo Perolla. Segundo Perolla, "era a camisa mais bonita do país na época". 

A passagem do Zepelin 

Lembrando o tempo em que era estudante do Ginásio Paranaense (atual Pedro Macedo), Otto se recorda com satisfação da passagem do da passagem do imenso dirigível Zepelim por Curitiba. "Foi a maior sensação da Época. A cidade parou para ver o Zepelim". 

O trabalho Otto conta que desenhava desde criança. E confessa:
Nunca pensei que desenhando fosse ganhar a vida". 

Aos 14 anos de idade foi aprovado em concurso para trabalhar na Impressora Paranaense, a maior impressora da época. Entre os 8 desenhistas da sessão onde ele trabalhava, era o mais jovem, trabalhava igual aos demais mas recebia menos que os outros. Participou de um curso ministrado por professores e técnicos alemães, entre os quais o professor Alberto Thiele, para trabalhar com litografia. Saiu-se bem com o curso porque meses após já enviava seus trabalhos para a gráfica Ipiranga, de São Paulo. Com o tempo, com o aprimoramento de seu trabalho, houve negociações e aumentos salariais quando ele recebeu convite para trabalhar naquela gráfica paulista. Diante do aumento salarial, decidiu continuar na Impressora Paranaense. Ele recorda que "o nosso trabalho era feito com muito prazer. Quando encerrava o expediente eu reclamava que queria continuar trabalhando". Mas a litografia tornou-se uma técnica obsoleta com o passar do tempo porque imprimia de forma lenta diante das novas conquistas tecnológicas da época, a impressão "off-set". A impressora trouxe novamente outros técnicos alemães para ensinarem as técnicas, mas desta vez os professores não ensinaram tudo, apenas o básico, de forma que a Impressora Paranaense necessitasse dos técnicos alemães para a finalização dos trabalhos. Esse procedimento desagradou a Otto, que decidiu escrever uma carta para uma Escola Técnica da Alemanha. Semanas depois ele recebia pelo correio um curso completo, com livros e folhetos. Estudou bastante. Recebia trabalhos, dava idéias, iniciava e passava para os técnicos alemães finalizarem embora já dominasse a ... [o pequeno recorte acaba aqui]

terça-feira, 7 de maio de 2013

Entrevista com Estanislau Skrobot sobre a Metalografia Pradi

Entrevista de Estanislau Skrobot para o projeto de documentação sobre a litografia em Curitiba para a exposição que ocorreu um outubro de 1975. A realização da entrevista possivelmente para Rosirene Gemael. Digitalizada por Alan Witikoski do original datilografado.

Fizemos contato telefônico com a Senhora Gisela Pradi, contando de nosso trabalho e apresentando nossa intenção de levantar material gráfico e informações sobre a Metalografia Pradi. Dona Gisela disse-nos que a empresa tinha sido vendida, indicou-nos uma forma onde localizamos algumas pedras litográficas e desculpou-se afirmando que não teria mais material a fornecer.

Por indicação do litógrafo Otto Schnenneck que estivera ligado a Metalografia Pradi entrevistamos o senhor Estanislau Skrobot, que trabalhou na empresa como contador e depois como diretor por 25 anos.

Seu depoimento foi gravado no dia 8 de outubro de 1975, na Casa Romário Martins. Seo Estanislau visando simplificar a entrevista, entregou a Casa, um documento elaborado por ele mesmo onde conta fatos do estabelecimento. 

- Material preparado por escrito pelo entrevistado 

Carlos Pradi nasceu em Porto de Cima Paraná, e era filho de Angelo Pradi, calceteiro italiano. 
Em 1912 estabeleceu-se com uma funilaria na Avenida Luiz Xavier, associado ao seu irmão João Pradi, no local onde hoje está estabelecida a Confeitaria Guairacá.

Devido a guerra de 1914 teve de interromper seu ofício e foi se estabelecer com o ramo de Secos e Molhados, à rua Saldanha Marinho, esquina com Brigadeiro Franco.
Em 1918 ou 1919 na sua Saldanha Marina n.º 12, em terreno adquirindo da família Xavier de Miranda, construiu o atual prédio e estabeleceu-se com o ramo de funilaria já ampliado para a fabricação de banheiros, caixas par água, caldeiras para água quente, canos para construções, brinquedos e outros. À par destes artigos ia se desenvolvendo a fabricação de latas para diversas indústrias, estas ainda com a folha de flanders ao natural.

Em 1926 (?) Carlos Pradi adquiriu um prelo litográfico, para a impressão de folhas de flanders e papel, surgindo daí a denominação de Metalografia Pradi. Posteriormente houve ampliações com a aquisição de novos prelos e novas máquinas operatrizes para a secção de latas.

Em 1931, em consequência da revolução de 1930 Carlos Pradi sofreu um derrame ficando praticamente inutilizado e teve que afastar-se do trabalho, permanecendo neste estado até a sua morte.

Com o afastamento do senhor Carlos Pradi, assumiu a direção da firma o contador Estanislau Pedro Skrobot, já com bastante prática e ao par de todos os assuntos e situação financeira da firma desde 9 de junho de 1925 data em que foi admitido.

O contador, com procuração de poderes gerais e com eficiente cooperação dos diretores técnicos nas diferentes seções, a firma continuou a prosperar e com todas as situações equilibradas, atingiu a meta de uma situação sólida financeiramente, livre de quaisquer dificuldades e em franco progresso.
Estas informações prevalecem até o dia 23 de outubro de 1950, data em que o contador, após mais de 25 anos de serviços prestados teve de retirar-se da firma por incompatibilidade com alguém eu foi introduzido na firma na qualidade de genro.

Cooperadores técnicos

João Pradi, chefe geral da secção de latas, cunhos, já falecido.
Alexandre Toscani Filho, sub chefe da mesma secção.
Guilherme Traple, chefe da secção litográfica. Já falecido.
João Thomas, chefe da secção de impressão. Este é um operário excepcional. Nunca faltou ao serviço, mesmo fazendo horas extras. Está na firma há quarenta anos.
(Para confirmar estas datas e outras informações poderão telefonar a senhora Adelaide Pradi) 

Entrevista Estanislau Skrobot. 

1. Em primeiro lugar queríamos seu nome completo. 
Estanislau Pedro Skrobot.

2. Quando e em que função começou a trabalhar na Metalografia Pradi?
Entrei como contador no ano de 1925, passando a direção por ocasião do falecimento de senhor Carlos Pradi, criador da empresa. 

3. Quem criou a Metalografia Pradi?  
O senhor Carlos Pradi, paranaense de Porto de Cima.

4. Conheceu muitos litógrafos que passaram pelo estabelecimento?
Só conheci o Guilherme Traple e o Otto Smith.

5. O Guilherme Traple acabou indo embora para Ponta Grossa mais tarde?
Foi para Ponta Grossa onde trabalhou em uma firma do mesmo ramo. 

6. O senhor sabe porquê ele resolveu ir embora? 
Foi embora para melhorar de situação, unicamente por causa disto. Ele queria mais vantagens, a outra firma estava se organizando e ofereceu vantagens para ele. Sabe qual foi o seu fim? Começou a falsificar selos e teve que se suicidar. 

7. Isto ocorreu em Ponta Grossa? 
Em Ponta Grossa mesmo. 

8. Mas ele falsificava que tipo de selo? 
Selos do Estado. 

9. Este selos eram impressos na litografia onde ele trabalhava?
É, isto mesmo.

10. E o trabalho de Guilherme Traple era bom?
Ele era um artista de primeira ordem. Era inteligente mais muito interesseiro, muito apegado ás coisas do dinheiro. Iludiu-se com a promessa que fizeram para ele e foi fabricar selos. Foi uam tragédia. Na hora que o fiscal chegou com a polícia ele tomou ácido. Suicidou-se no próprio local de trabalho. Foi muito mal para o hospital mas tinha que morrer porque o ácido destruiu todo o seu organismo. Foi uma pena, pois era um grande artista.

11. Qual era o setor de Guilherme Traple na Metalografia Pradi?
O setor de impressão de folha de flanders e de papel. O ofício dele era de transportados, transportava o original para pedra de impressão. Ele desenhava na pedra também, as esta não era a sua especialidade.

12. Guilherme Traple era parente de Traple pintor?
Era irmão do Estanislau Trapel.

13. E no setor de desenho, quem trabalhava na Metalografia Pradi?
Otto Schenneck, Arnaldo Raschendorfer e a gente sempre pegava também desenhista avulso.

14. A Metalgrafia Pradi costumava contratar muito litógrafos por serviços?
É, para a parte de desenho.

15. E quem foi o desenhista efetivo por mais tempo na empresa?
Ultimamente foi o Otto Schenneck e antes dele o Raschendorfer.

16. O desenhista cobrava muito caro pelos serviços?
Não, acho que cobrava o preço que devia cobrar.

17. O senhor lembra de alguns clientes da Metalografia Pradi?
Fornecíamos para muitas indústrias. Os fabricantes de caramelos eram quase todos nossos fregueses.

18. Segundo o senhor Otto Schenneck a Metalografia só começou a trabalhar com rotulagem na época da guerra em função das dificuldades de importação das folhas de flanders o senhor concorda?
Não. A guerra não interrompeu nossa produção de lataria. Havia dificuldades de importação mas nós tínhamos direito a cota e recebíamos a matéria prima. Nunca paramos devido a falta de folhas e a impressão em papel e em folha foi simultânea toda a vida.

19. No inicio de operação toda a matéria prima da litografia era importada?
O senhor Carlos Pradi, que era o proprietário, tinha  costume de só importar. Quanto faltava folha, ou a importação demorava, a fábrica parava e trabalhar e suspendia os operários, que ficavam sem ganhar. Quanto eu assumi a direção mudei este sistema. Quando não havia importação eu comprava no Rio e São Paulo e assim a fábrica nunca mais parou nem os funcionários ficaram sem trabalho.

20, A Metalografia Pradi fechou em que ano? 
Ela não fechou, apenas passou para a família Mararazzo. Depois que eu saí fiquei sabendo que venderam as máquinas de impressão em papel.

21. O senhor desligou-se da firma porque?
Por incompatibilidade com o genro que entrou na firma.

22. O senhor acha que os rótulos e as embalagens da litografia Pradi eram diferentes? Mais caprichados?
Tudo tem sua época. No tempo da litografia o freguês chegava, pedia um croqui e depois ele aprovava ou não.

23. Lembra de algum rótulo ou embalagem feito pela Metalografia e que tenha marcado?
Sei que nunca houve reclamação. Fazíamos rótulos para barricas de mate para o Leão Júnior, David Carneiro, mais um rótulo em particular, assim de cabeça não dá para lembrar. 

24. Chegou a fazer etiquetas para balas de coleção?
Acho que só fizemos as balas Zequinha. Mais tarde surgiram outras que não pegaram e eu nem lembro delas.

25. A concorrência com a Sociedade Metalgráfica era muito grande?
Era, porque eles se estabelecem no ramo de litografia em folha de flanders antes que nós. Geralmente quando chegavam clientes em nossa fábrica para consultar os preços já havia passado antes da Sociedade Metalgráfica. Mas nós tínhamos preferência por causa de nosso trabalho. A parte técnica de lataria, confecção de cunhos e matrizes era mais aperfeiçoada do que a deles.

26. Eles teriam então maior preocupação com a impressão propriamente dita do que com a confecção das latas?
É, eles se preocupavam mais com a impressão onde eram competentes, mas, na parte de confecção nós éramos melhores. Tanto que muitos fregueses iam de lá e depois nós é que pegávamos o serviço.

27. O senhor chegou a conhecer Schroerder e Kirstein que eram os técnicos da Sociedade Metalgráfica?
Conheci. O trabalho deles era perfeito, que era justamente a parte de impressão em folhas e em papel. Mas na parte de confecção de latas não. Acho que eles não eram diretores da parte de confecção de latas, pois o serviço não era tão perfeito.

28. A Metalografia Pradi não cogitou em contrata-los?
Não, não precisava e pelo contrário, não se davam bem. Eram muito combativos um com o outro. O senhor Carlos Pradi não gostava deles, e eles não gostavam do senhor Carlos porque eram concorrentes.

29. O senhor chegou a conhecer o Schroeder pessoalmente? E como era o seu trabalho?
Só sei que ele era um artista, nunca ouvi nada contra ele.

30. Ele teria sido um inovador?
Pode ser

31. E o Kirstein o senhor conheceu?
Era do mesmo ofício que o Guilherme Traple, transportador. Seu trabalho acho que era bom, porque a impressão da Metalgráfica era boa.

32. O senhor sabe alguma coisa sobre o início da fabricação da decalcomania?
A única firma que fazia era a deles.

33. A Metalografia nunca pensou em fabricar decalcomanias?
O Guilherme Traple tinha o projeto mas o Carlos Pradi nunca quis. Aliás, o serviço de decalcomanias na Sociedade era muito bom, pois eles tinham representantes de todo o Brasil.

34. Algumas pessoas dizem que a maioria dos litógrafos e técnicos em litografia eram de origem alemã. O senhor concorda?
Sim, eram todos alemães.

35. O senhor chegou a conhecer mulheres litógrafas?
Quando a gente estava com trabalho e precisava de litógrafo, levávamos para uma moça que morava na Silva Jrdim e que era funcionária efetiva da Impressora Paranaense. Era a Hedwin Krause.

36. Além da Dona Krause, o senhor conheceu mais alguma? Que tipo de serviço era feito pelas mulheres dentro de uma litografia?
Como litógrafa conheci a dona Krause. As outras mulheres só lidavam com papel, trabalhos de empacotamento.

37.  A Metalografia Pradi teria sido a segunda firma a imprimir em folhas de flanders no Estado?
Foi a segunda firma, depois da Sociedade Metalgráfica. Depois surgiu a Madalosso em Ponta Grossa.

38. Qual foi o primeiro endereço da Metalográfica Pradi?
O mesmo de hoje, Saldanha Marinho, n.º120. Na época de sua criação a indústria tinha a mesma fachada. Mais tarde foi adquirida a propriedade da rua Augusto Stellfeld, e a fábrica passou a dar frente para a outra rua.

39. Pode mostrar a evolução do maquinário de Matalografia Pradi?
Na fundação tínhamos apenas um prelo, guilhotina. Depois fomos aumentando, adquirindo mais prelos, máquinas só para imprimir papel e o prelo inicial passou então a imprimir apenas folhas de flanders. No começo as duas impressões eram feitas em uma máquina só.

40. O forte da produção de Metalografia Pradi pode-se dizer que era a impressão em folha?
Sim. Nós imprimíamos papel e folhas, mas o forte era mesmo as latas. No começo lavemos tempo fazendo as latas em branco. Só em 1926 é que iniciamos a impressão.

41. Por que a Metalografia Pradi não dispunha de um corpo próprio de litógrafos?
Porque não era preciso. O Guilherme Traple se relacionava com eles e sabia onde encontra-los para pedir serviço. Eles de um modo geral trabalhavam em casa e só algumas vezes, para aperfeiçoar alguns detalhes, é que passavam algumas horas na firma.

42. Porque a Metalografia Prado não dava a mesma prioridade a impressão em papel?
Porque esta parte de rotulagem tinha mais concorrência, então não era tão interessante para nós. Era melhor trabalhar mais com as filhas e concorrer somente com a Sociedade Metalgráfica. Mais tarde a Sociedade Metalgráfica fechou este setor, vendeu suas máquinas para o Senegaglia, ficou fazendo só decalcomanias e só nós imprimindo folhas de flanders. Porque o Senagaglia fazia latas mas não imprimia.

43. A medida em que o tempo foi passando, vários produtos que eram embalados em latas receberam outro tipo de invólucro madeira, papelão, papel e mesmo sacos plásticos. Por que?
Tentamos fazer caixas até para o mate mas não deu certo porque a madeira mudava o gosto do produto e não conservava tão bem. Depois passaram a fazer estas embalagens de papel em função do preço da folha de flanders, que é muito cara. Para se ter uma ideia, uma lata de azeite vazia, hoje, deve custar por volta de 2,00, só a embalagem, veja bem ...

44. Que tipo de problema surgia com a importação de matéria prima?
Antes da guerra não havia dificuldade nenhuma de importação. Era só pedir, aceitar o preço e pronto. Com os americanos era diferente, porque eles exigiam pagamento adiantado. Eu acabei  isto durante a minha gestão; só pagava quando enviavam a mercadoria, porque considerava esta exigência falta de confiança.

45. A Metalografia supria de latas comerciantes de outros Estados?
Não, só do Paraná e Santa Catarina.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Entrevista com Leonardo Born. A formação da gráfica Born e seu período de aprendiz na Sociedade Metalgráfica.

Entrevista cedida provavelmente a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Data provável é julho de 1975.

De todos os litógrafos entrevistados, Leonardo Born, da Gráfica Born mostrou-se mais entusiasta de seu antigo trabalho e não escondeu certo saudosismo pela arte litográfica, orgulhando-se de ter sido dos últimos a abandonar aquele sistema de impressão. Inaugurou o Offset com a edição do primeiro jornal grego do Paraná.

Em seu depoimento gravado em julho, Leonardo fala da época em que as fábricas de bebidas costumavam distribuir miniaturas, conta sobre o seu aprendizado na Sociedade Metalgráfica e mostra, com muito empenho, a importância do trabalho de dois alemães, Alexandre Schroeder e Germano Kristein no desenvolvimento da litografia no Paraná, especialmente pela introdução da decalcomania no Brasil, confeccionadas inicialmente numa pequena litografia da antiga rua Assunguy.

Entusiasta de seu mestre, tenta achar livros alemães sobre litografia que teria ganho dele: enterrou tudo no quintal durante a guerra e não consegui mais localizar.

A Gráfica Born foi criado em julho de 1947 por três sócios dos quais apenas dois ainda vivem: Leonardo Born, nosso entrevistado, e Irvino Born, seu primo. Situada à Rua Mateus Leme, está gráfica começou a operar em Offset em 1954, sendo o primeiro trabalho no novo processo, a confecção de um jornal em grego, o primeiro da América Latina. Sem compreender uma só palavra daquele idioma, Leonardo e Irvino limitavam-se a imprimir o jornal que era redigido e composto pelo jornalista grego, que também era o diretor e patrocinador. “O jornal durou cerca de dez anos e terminou com a morte de seu criador. As tiragens eram de 1000 exemplares mensais, distribuídos para todo o país especialmente para a colônia grega de Florianópolis”.

Apesar de dispor do equipamento para impressão em Offset, a Gráfica Born continuou um bom tempo a trabalhar com pedras litográficas e seus donos afirmam com certo orgulho, terem sido os últimos em Curitiba a deixaram a litografia em segundo plano; e afirmam, não sem certo ressentimento, que hoje em dia é praticamente impossível só trabalhar com pedras:

A matéria prima é difícil e cara, e não há mais profissionais no ramo. Os velhos mestres já foram embora e os últimos estão indo agora. Hoje é tudo na base do fotolito. A única máquina de impressão litográfica que ainda funciona na cidade é da Companhia Campos Hidalgo. Mas foi adaptada para imprimir zinco. Nela são feitas as latas de sabão e cêra.

A especialidade da Gráfica Born tem sido rótulos, apesar de já ter confeccionados diplomas, o jornal grego, além de pequenos rótulos para miniaturas de bebidas:

Estavam muito na moda. Todo fabricante distribuía as garrafinhas de brinde, até que o governo passou a exigir imposto e nossos fregueses desistiram. Nós fizemos algumas miniaturas bem interessantes, como aquelas com times de futebol nos rótulos. Duas muito disputadas foram do Coritiba Foot ball Club e Palestra Itália, grandes rivais na época.”

Leonardo acha que o melhor rótulo feito na Gráfica Born foi para a Cerveja Guairacá, da antiga Cervejaria Providência, e diz que fazia muito rótulo para Gengibirra, Cerveja de Sanso, e que de modo geral, quem dava a ideia para os rótulos, era mesmo o freguês: “Eles faziam o rascunho direitinho como queriam e a gente obedecia”. Na sua opinião, os melhores rótulos que viu em toda a sua carreira foram aqueles confeccionados pela Litografia Progresso: “o Alves sempre teve bons técnicos e era muito exigente. Teve, também, o melhor impressor, o Adolfo Kloss, e foi sócio, no início de Schroeder, um dos melhores mestres que trabalharam em Curitiba”.

Na Gráfica Born o trabalho sempre foi dividido em dois setores específicos: o de Irvino – impressão e preparo de pedras, e o de Leonardo – desenho. Leonardo desenhou sempre todos os rótulos, apesar de nunca ter frequentado um curso de desenho, além da aula semanal do Colégio Progresso. E desenhar na pedra ele aprendeu com 14 anos, quanto obteve seu primeiro emprego na Sociedade Metalgráfica, - “no tempo que ela funcionava perto do Passeio Público”. Leonardo e Irvino começaram juntos e ambos foram aprendizes de dois técnicos alemães considerados excelentes - Schroeder e Kristein -. 

Estes dois sabiam de tudo. Começaram com uma pequena litografia aqui na Mateus Leme, onde o Leão e o Fontana mandavam alguns rótulos para imprimir. Os alemães conheciam a técnica muito bem mas não tinham capital, e acabaram fechando sua litografia”.

Leonardo se empolga bastante quando fala dos mestres alemães e não esconde sua admiração por ele: 

"Foi o Kirstein, na pequena firma da Mateus Leme que fez a primeira decalcomania do Brasil, desenhada por Schroerder. Aprendemos com eles inclusive chegamos a fabricar decalcomanias aqui na firma por uns quatro anos. Depois desistimos porque os pedidos de rótulos eram muitos. Acabamos vendendo a matéria prima para o Fontana. Assim como nós, muita gente aprendeu a técnica e o desenho na pedra com os dois alemães”, porque eles eram mestres na Sociedade Metalgráfica. Quando o Schroeder morreu, o jornal alemão, Dass Kompass, escreveu muito bonito, mais ou menos assim: ”faleceu um dos maiores pioneiros da indústria gráfica do Paraná”.

Leonardo não se cansa de exaltar as qualidades de Schroeder: 

“Ele me contou que nasceu na cidade de Hamburgo. Quando jovem foi andar de patinete na neve, quebrou o pé que acabou perdendo, por isto tinha que usar sapatos especiais. Homem aleijado e ainda percorreu todo o mundo ... era um verdadeiro artista. Em gravura, então, ele era ótimo. Fazia gravuras na pedra que só ele e mais um outro da Impressora Paranaense sabia fazer. Ao invés de desenhar, gravava na pedra, dentro da pedra. Saiam aqueles rótulos lindos de charutos, cabeçalhos de papel de carta.” 

Leonardo foi aprendiz de Schroeder durante quatro anos, e lembra quando seu mestre perdeu um dedo:   

”Foi durante o trabalho, justamente quando ele fazia gravura. O dedo já estava machucado e depois acabou entrando ácido e ele teve que amputar. Mas continuou trabalhando do mesmo jeito. Schroeder foi um dos primeiros mestres que eu cheguei a conhecer. Saiu da Alemanha e foi parar na cidade portuária de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde trabalhou por pouco tempo na litografia de um alemão.

Do Rio Grande do Sul veio a Curitiba devido o clima e aqui começou a trabalhar na Impressora Paranaense. Mas não era fácil trabalhar com ele. Era muito enérgico. Eu não me mexeria na mesa no começo; só depois é que ele conversava comigo. Os dois eram muito enérgicos. Um dia um aprendiz parou na minha mesa e começamos a falar de futebol: o Schroeder deu bronca na gente e disse para o aprendiz não parar mais na mesa. O Kirstein era um chefe geral, lidava mais com os operários, fazia orçamentos, e o Schroeder era desenhista, litógrafo, fazia croqui, cono o Doubek, dava as  ideias. No final conversamos e ele até me emprestava os livro que sempre recebia de um amigo da Alemanha. Ele era estudioso e ensinava tudo." 

Segundo este depoimento, Schroeder conhece na Impressora Paranaense o Rômulo Cesar Alves com o qual se associou e iniciou um novo empreendimento gráfico:  

“Ele sofreu muito na época da guerra pelo fato de ser alemão. Já estava trabalhando com o Alves e na janela da litografia estava escrito – Schroeder e Alves – com o nome alemão na frente. Um dia quando ele chegou no estabelecimento para trabalhar seu nome estava riscado. Isto foi no ano de 1914, logo depois do Brasil entrou em guerra. O Schroeder ficou magoado e nem entrou mais na litografia. Quanto ele saiu da Sociedade Metalgráfica a família também ficou magoada. Mas direito pois era muito novo e não acompanhei. Mas parece que tinha um contrato de dez anos que terminou e o pessoal da Sociedade não quis renovar. Ele saiu e logo depois morreu. Mas antes de sai já estava doente”. 

Leonardo explica o antigo processo de impressão: 

1- “O processo litográfico era complicado. Primeiro pegava-se uma pedra pequena que era toda desenha à mão. Depois a pedra era preparada, tirava-se a prova, e passava-se o desenho para a pedra grande, matriz, que ia para a máquina. Cada cor tinha que ser passa separadamente. Primeiro o amarelo, depois o vermelho, azul e o preto. O mais difícil de tudo, é que a impressão é direta e por isto os desenhos e os escritos tinham que ser feitos sempre ao contrário”. E depois, todo o material era importando. As pedras vinham da Alemanha, Itália e Bélgica. As pedras eram inglesas e alemãs, a tinha vinha da França. 

Entusiasta da litografia, “que é difícil, mas artística," Seo Leonardo fala que na sua fase mais remota, a litografia do Paraná esteve na mão desenhistas alemães. Era o Schroeder, o Kirstein, o Adolfo kloss, Alberto Thile, todos de origem germânica. Pois foi inclusive um alemão Alois Senefelder que inventou a litografia. Ele precisava marcar o número de peças de roupa que a mãe lavava, e começou a marcar numa pedra. Assim é que começou a litografia.”

Efetivamente, segundo o boletim de Belas Artes (Rio de Janeiro) em seu número especial de outubro/novembro de 1945, a arte litográfica foi inventada por Alois Senefelder, pobre músico de um teatro de Munique, compositor nas horas vagas. Para Imprimir suas obras faltavam-lhe recursos; lembrou-se então, de ser seu próprio editor, para tanto procurando um novo processo, fácil de executar sem o auxílio de oficinas complicadas. Depois de tentar a gravura em cobre, dispendiosa e lenta, lembrou-se de empregar pedras polidas. Suas tentativas andavam a meio quanto a sorte intercedeu, do seguinte modo: “Acabava eu de desbastar um bloco de pedra - conta Senefelder – quanto minha mãe veio perdir-me para anotar um rol de roupas. A lavanderia estava a espera, e para não retardá-la, lancei mão da tinta que ali estava, composta de cera, sabão e negro de fumo, anotando provisoriamente o rol num canto da placa de pedra que acabara de polir, pensando em copiá-la mais tarde, quando encontrasse papel. Quando tentei apagar o que ali escrevera, lembrei-me de tentar reproduzir aquele texto”. Estava descoberto o princípio da litografia. Senefelder, de inicio, pensava aplicar o sistema apenas à reprodução de músicas. Logo depois verificou que um grande campo se abria para reprodução de obras de arte. Patenteou seu método na Baviera em 1799 e em seguida em Londres. A nova invenção foi usada em Viena, Paris, Stutgart e na Itália, mas praticamente tentativas preliminares. A verdadeira solução do problema coube a dois franceses – Conde de Lateyrie e Eugelmann – que em 1812 e 1814 estiveram em Munique aperfeiçoando o processo. Compraram eles o direito de Senefelder, montando suas oficinas especiais, uma em Mulhose outra em Paris, em 1816”. 

Apesar de modesto, ocupando ainda hoje as mesmas dependências da época de sua criação, a Gráfica Born conserva grande parte do material que confeccionou. Seo Leonardo, uma do proprietários preocupou-se em guardar dois ou três rótulos de cada um que desenhou nestes vinte e oito anos de atividades.

A Gráfica Born conserva também considerável coleção de pedras litográficas, guardadas numa estante no estabelecimento, “ou porque foram bem feitos e podem ser usadas como modelos, ou porque ainda poderão ser usados”. Outro tanto de pedras está “encostada” no fundo do quintal e vem sendo vendido só para prova para o Trombine”.

Seo Leonardo conserva vários exemplares do jornal grego, decalcomanias que chegaram a confeccionar há vinte e cinco anos passados, diplomas e alguns trabalhos de sua autoria, da época em que era funcionário da Sociedade Metalgráfica. Seo Leonardo tinha ainda, exemplares do jornal alemão Koss Kompass e livros alemães sobre litografia, “que eu escondi para não ser queimado na época da guerra, e não consigo encontrar mais”. Seus instrumentos de trabalho como litógrafo – também estão guardados, “e eu ainda uso, de vez em quando”.