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terça-feira, 7 de maio de 2013

Entrevista com Estanislau Skrobot sobre a Metalografia Pradi

Entrevista de Estanislau Skrobot para o projeto de documentação sobre a litografia em Curitiba para a exposição que ocorreu um outubro de 1975. A realização da entrevista possivelmente para Rosirene Gemael. Digitalizada por Alan Witikoski do original datilografado.

Fizemos contato telefônico com a Senhora Gisela Pradi, contando de nosso trabalho e apresentando nossa intenção de levantar material gráfico e informações sobre a Metalografia Pradi. Dona Gisela disse-nos que a empresa tinha sido vendida, indicou-nos uma forma onde localizamos algumas pedras litográficas e desculpou-se afirmando que não teria mais material a fornecer.

Por indicação do litógrafo Otto Schnenneck que estivera ligado a Metalografia Pradi entrevistamos o senhor Estanislau Skrobot, que trabalhou na empresa como contador e depois como diretor por 25 anos.

Seu depoimento foi gravado no dia 8 de outubro de 1975, na Casa Romário Martins. Seo Estanislau visando simplificar a entrevista, entregou a Casa, um documento elaborado por ele mesmo onde conta fatos do estabelecimento. 

- Material preparado por escrito pelo entrevistado 

Carlos Pradi nasceu em Porto de Cima Paraná, e era filho de Angelo Pradi, calceteiro italiano. 
Em 1912 estabeleceu-se com uma funilaria na Avenida Luiz Xavier, associado ao seu irmão João Pradi, no local onde hoje está estabelecida a Confeitaria Guairacá.

Devido a guerra de 1914 teve de interromper seu ofício e foi se estabelecer com o ramo de Secos e Molhados, à rua Saldanha Marinho, esquina com Brigadeiro Franco.
Em 1918 ou 1919 na sua Saldanha Marina n.º 12, em terreno adquirindo da família Xavier de Miranda, construiu o atual prédio e estabeleceu-se com o ramo de funilaria já ampliado para a fabricação de banheiros, caixas par água, caldeiras para água quente, canos para construções, brinquedos e outros. À par destes artigos ia se desenvolvendo a fabricação de latas para diversas indústrias, estas ainda com a folha de flanders ao natural.

Em 1926 (?) Carlos Pradi adquiriu um prelo litográfico, para a impressão de folhas de flanders e papel, surgindo daí a denominação de Metalografia Pradi. Posteriormente houve ampliações com a aquisição de novos prelos e novas máquinas operatrizes para a secção de latas.

Em 1931, em consequência da revolução de 1930 Carlos Pradi sofreu um derrame ficando praticamente inutilizado e teve que afastar-se do trabalho, permanecendo neste estado até a sua morte.

Com o afastamento do senhor Carlos Pradi, assumiu a direção da firma o contador Estanislau Pedro Skrobot, já com bastante prática e ao par de todos os assuntos e situação financeira da firma desde 9 de junho de 1925 data em que foi admitido.

O contador, com procuração de poderes gerais e com eficiente cooperação dos diretores técnicos nas diferentes seções, a firma continuou a prosperar e com todas as situações equilibradas, atingiu a meta de uma situação sólida financeiramente, livre de quaisquer dificuldades e em franco progresso.
Estas informações prevalecem até o dia 23 de outubro de 1950, data em que o contador, após mais de 25 anos de serviços prestados teve de retirar-se da firma por incompatibilidade com alguém eu foi introduzido na firma na qualidade de genro.

Cooperadores técnicos

João Pradi, chefe geral da secção de latas, cunhos, já falecido.
Alexandre Toscani Filho, sub chefe da mesma secção.
Guilherme Traple, chefe da secção litográfica. Já falecido.
João Thomas, chefe da secção de impressão. Este é um operário excepcional. Nunca faltou ao serviço, mesmo fazendo horas extras. Está na firma há quarenta anos.
(Para confirmar estas datas e outras informações poderão telefonar a senhora Adelaide Pradi) 

Entrevista Estanislau Skrobot. 

1. Em primeiro lugar queríamos seu nome completo. 
Estanislau Pedro Skrobot.

2. Quando e em que função começou a trabalhar na Metalografia Pradi?
Entrei como contador no ano de 1925, passando a direção por ocasião do falecimento de senhor Carlos Pradi, criador da empresa. 

3. Quem criou a Metalografia Pradi?  
O senhor Carlos Pradi, paranaense de Porto de Cima.

4. Conheceu muitos litógrafos que passaram pelo estabelecimento?
Só conheci o Guilherme Traple e o Otto Smith.

5. O Guilherme Traple acabou indo embora para Ponta Grossa mais tarde?
Foi para Ponta Grossa onde trabalhou em uma firma do mesmo ramo. 

6. O senhor sabe porquê ele resolveu ir embora? 
Foi embora para melhorar de situação, unicamente por causa disto. Ele queria mais vantagens, a outra firma estava se organizando e ofereceu vantagens para ele. Sabe qual foi o seu fim? Começou a falsificar selos e teve que se suicidar. 

7. Isto ocorreu em Ponta Grossa? 
Em Ponta Grossa mesmo. 

8. Mas ele falsificava que tipo de selo? 
Selos do Estado. 

9. Este selos eram impressos na litografia onde ele trabalhava?
É, isto mesmo.

10. E o trabalho de Guilherme Traple era bom?
Ele era um artista de primeira ordem. Era inteligente mais muito interesseiro, muito apegado ás coisas do dinheiro. Iludiu-se com a promessa que fizeram para ele e foi fabricar selos. Foi uam tragédia. Na hora que o fiscal chegou com a polícia ele tomou ácido. Suicidou-se no próprio local de trabalho. Foi muito mal para o hospital mas tinha que morrer porque o ácido destruiu todo o seu organismo. Foi uma pena, pois era um grande artista.

11. Qual era o setor de Guilherme Traple na Metalografia Pradi?
O setor de impressão de folha de flanders e de papel. O ofício dele era de transportados, transportava o original para pedra de impressão. Ele desenhava na pedra também, as esta não era a sua especialidade.

12. Guilherme Traple era parente de Traple pintor?
Era irmão do Estanislau Trapel.

13. E no setor de desenho, quem trabalhava na Metalografia Pradi?
Otto Schenneck, Arnaldo Raschendorfer e a gente sempre pegava também desenhista avulso.

14. A Metalgrafia Pradi costumava contratar muito litógrafos por serviços?
É, para a parte de desenho.

15. E quem foi o desenhista efetivo por mais tempo na empresa?
Ultimamente foi o Otto Schenneck e antes dele o Raschendorfer.

16. O desenhista cobrava muito caro pelos serviços?
Não, acho que cobrava o preço que devia cobrar.

17. O senhor lembra de alguns clientes da Metalografia Pradi?
Fornecíamos para muitas indústrias. Os fabricantes de caramelos eram quase todos nossos fregueses.

18. Segundo o senhor Otto Schenneck a Metalografia só começou a trabalhar com rotulagem na época da guerra em função das dificuldades de importação das folhas de flanders o senhor concorda?
Não. A guerra não interrompeu nossa produção de lataria. Havia dificuldades de importação mas nós tínhamos direito a cota e recebíamos a matéria prima. Nunca paramos devido a falta de folhas e a impressão em papel e em folha foi simultânea toda a vida.

19. No inicio de operação toda a matéria prima da litografia era importada?
O senhor Carlos Pradi, que era o proprietário, tinha  costume de só importar. Quanto faltava folha, ou a importação demorava, a fábrica parava e trabalhar e suspendia os operários, que ficavam sem ganhar. Quanto eu assumi a direção mudei este sistema. Quando não havia importação eu comprava no Rio e São Paulo e assim a fábrica nunca mais parou nem os funcionários ficaram sem trabalho.

20, A Metalografia Pradi fechou em que ano? 
Ela não fechou, apenas passou para a família Mararazzo. Depois que eu saí fiquei sabendo que venderam as máquinas de impressão em papel.

21. O senhor desligou-se da firma porque?
Por incompatibilidade com o genro que entrou na firma.

22. O senhor acha que os rótulos e as embalagens da litografia Pradi eram diferentes? Mais caprichados?
Tudo tem sua época. No tempo da litografia o freguês chegava, pedia um croqui e depois ele aprovava ou não.

23. Lembra de algum rótulo ou embalagem feito pela Metalografia e que tenha marcado?
Sei que nunca houve reclamação. Fazíamos rótulos para barricas de mate para o Leão Júnior, David Carneiro, mais um rótulo em particular, assim de cabeça não dá para lembrar. 

24. Chegou a fazer etiquetas para balas de coleção?
Acho que só fizemos as balas Zequinha. Mais tarde surgiram outras que não pegaram e eu nem lembro delas.

25. A concorrência com a Sociedade Metalgráfica era muito grande?
Era, porque eles se estabelecem no ramo de litografia em folha de flanders antes que nós. Geralmente quando chegavam clientes em nossa fábrica para consultar os preços já havia passado antes da Sociedade Metalgráfica. Mas nós tínhamos preferência por causa de nosso trabalho. A parte técnica de lataria, confecção de cunhos e matrizes era mais aperfeiçoada do que a deles.

26. Eles teriam então maior preocupação com a impressão propriamente dita do que com a confecção das latas?
É, eles se preocupavam mais com a impressão onde eram competentes, mas, na parte de confecção nós éramos melhores. Tanto que muitos fregueses iam de lá e depois nós é que pegávamos o serviço.

27. O senhor chegou a conhecer Schroerder e Kirstein que eram os técnicos da Sociedade Metalgráfica?
Conheci. O trabalho deles era perfeito, que era justamente a parte de impressão em folhas e em papel. Mas na parte de confecção de latas não. Acho que eles não eram diretores da parte de confecção de latas, pois o serviço não era tão perfeito.

28. A Metalografia Pradi não cogitou em contrata-los?
Não, não precisava e pelo contrário, não se davam bem. Eram muito combativos um com o outro. O senhor Carlos Pradi não gostava deles, e eles não gostavam do senhor Carlos porque eram concorrentes.

29. O senhor chegou a conhecer o Schroeder pessoalmente? E como era o seu trabalho?
Só sei que ele era um artista, nunca ouvi nada contra ele.

30. Ele teria sido um inovador?
Pode ser

31. E o Kirstein o senhor conheceu?
Era do mesmo ofício que o Guilherme Traple, transportador. Seu trabalho acho que era bom, porque a impressão da Metalgráfica era boa.

32. O senhor sabe alguma coisa sobre o início da fabricação da decalcomania?
A única firma que fazia era a deles.

33. A Metalografia nunca pensou em fabricar decalcomanias?
O Guilherme Traple tinha o projeto mas o Carlos Pradi nunca quis. Aliás, o serviço de decalcomanias na Sociedade era muito bom, pois eles tinham representantes de todo o Brasil.

34. Algumas pessoas dizem que a maioria dos litógrafos e técnicos em litografia eram de origem alemã. O senhor concorda?
Sim, eram todos alemães.

35. O senhor chegou a conhecer mulheres litógrafas?
Quando a gente estava com trabalho e precisava de litógrafo, levávamos para uma moça que morava na Silva Jrdim e que era funcionária efetiva da Impressora Paranaense. Era a Hedwin Krause.

36. Além da Dona Krause, o senhor conheceu mais alguma? Que tipo de serviço era feito pelas mulheres dentro de uma litografia?
Como litógrafa conheci a dona Krause. As outras mulheres só lidavam com papel, trabalhos de empacotamento.

37.  A Metalografia Pradi teria sido a segunda firma a imprimir em folhas de flanders no Estado?
Foi a segunda firma, depois da Sociedade Metalgráfica. Depois surgiu a Madalosso em Ponta Grossa.

38. Qual foi o primeiro endereço da Metalográfica Pradi?
O mesmo de hoje, Saldanha Marinho, n.º120. Na época de sua criação a indústria tinha a mesma fachada. Mais tarde foi adquirida a propriedade da rua Augusto Stellfeld, e a fábrica passou a dar frente para a outra rua.

39. Pode mostrar a evolução do maquinário de Matalografia Pradi?
Na fundação tínhamos apenas um prelo, guilhotina. Depois fomos aumentando, adquirindo mais prelos, máquinas só para imprimir papel e o prelo inicial passou então a imprimir apenas folhas de flanders. No começo as duas impressões eram feitas em uma máquina só.

40. O forte da produção de Metalografia Pradi pode-se dizer que era a impressão em folha?
Sim. Nós imprimíamos papel e folhas, mas o forte era mesmo as latas. No começo lavemos tempo fazendo as latas em branco. Só em 1926 é que iniciamos a impressão.

41. Por que a Metalografia Pradi não dispunha de um corpo próprio de litógrafos?
Porque não era preciso. O Guilherme Traple se relacionava com eles e sabia onde encontra-los para pedir serviço. Eles de um modo geral trabalhavam em casa e só algumas vezes, para aperfeiçoar alguns detalhes, é que passavam algumas horas na firma.

42. Porque a Metalografia Prado não dava a mesma prioridade a impressão em papel?
Porque esta parte de rotulagem tinha mais concorrência, então não era tão interessante para nós. Era melhor trabalhar mais com as filhas e concorrer somente com a Sociedade Metalgráfica. Mais tarde a Sociedade Metalgráfica fechou este setor, vendeu suas máquinas para o Senegaglia, ficou fazendo só decalcomanias e só nós imprimindo folhas de flanders. Porque o Senagaglia fazia latas mas não imprimia.

43. A medida em que o tempo foi passando, vários produtos que eram embalados em latas receberam outro tipo de invólucro madeira, papelão, papel e mesmo sacos plásticos. Por que?
Tentamos fazer caixas até para o mate mas não deu certo porque a madeira mudava o gosto do produto e não conservava tão bem. Depois passaram a fazer estas embalagens de papel em função do preço da folha de flanders, que é muito cara. Para se ter uma ideia, uma lata de azeite vazia, hoje, deve custar por volta de 2,00, só a embalagem, veja bem ...

44. Que tipo de problema surgia com a importação de matéria prima?
Antes da guerra não havia dificuldade nenhuma de importação. Era só pedir, aceitar o preço e pronto. Com os americanos era diferente, porque eles exigiam pagamento adiantado. Eu acabei  isto durante a minha gestão; só pagava quando enviavam a mercadoria, porque considerava esta exigência falta de confiança.

45. A Metalografia supria de latas comerciantes de outros Estados?
Não, só do Paraná e Santa Catarina.

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