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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Boletim informativo n.º 15 Casa Romário Martins, Schroeder e Kirstein, Rótulos e Embalagens Antigas – Litografia.

Notas sobre o texto:

O Boletim informativo nº 15 da Casa Romário Martins é uma das referências mais citadas  nos estudos da história das artes gráficas no Paraná, direta ou indiretamente.


Seu texto foi produzido com base em uma longa lista de contatos e entrevistas realizadas pela equipe da Casa Romário Martins durante a década de 1970, mas especificamente entre os anos de 1974-1975, e grande parte do acervo visual de rótulos da Casa da Memória de Curitiba pode ser creditado a este trabalho. Infelizmente grande parte dos contatos foram/estão perdidos.


Sabe-se da existência de 12 entrevistas que deram origem a este material, porém algumas ainda estão "perdidas". Neste espaço disponibilizei algumas entrevistas já digitalizadas e que espero, de algum maneira, possa contribuir para esta história ainda bastante incompleta. 

Outro estudo muito consultado, é o livro: História das Artes Gráficas em Curitiba, de Newton Carneiro, editado em 1975, com impressão pela editora Paiol em 1976. Mesmo no livro não contanto com as referências completas, ao menos na versão que consultei, acredito que estas obras estão conectadas, pois as referências de datas, locais, nomes e pessoas, "casam" perfeitamente com o que está disponibilizado nas entrevistas sobre a litografia.

Abaixo o texto do Boletim Informativo, o original está para consulta na Casa da Memória de Curitiba da Fundação Cultural de Curitiba com agendamento de horário. Os sublinhados são meus.

Boletim informativo n.º 15 Casa Romário Martins, outubro de 1975
Schroeder e Kirstein, Rótulos e Embalagens Antigas – Litografia.


O contrato social entre Schroeder e Kirstein nunca chegou a ser renovado. Ao contrário, a sociedade foi desfeita a 15 de setembro de 1924 e dela os sócios saíram apenas com o capital inicial, "sem lucros por não os haverli. Acontece, diz Thedoro, que o Fontana insistiu muito para que os dois alemães desfizessem a sociedade e abrissem outra com ele. No começo meu pai não queria, mas a insistência foi tão grande que ele e o Kirsteín acabaram concordando, e participaram na fundação da Sociedade Metalgráfica". 

Leonardo Bom dá sua versão: "os dois alemães sabiam de tudo. Começaram com uma pequena litografia na Mateus Leme onde o Leão e o Fontana mandavam confeccionar parte de seus rótulos. Como os alemães conheciam muito bem a técnica, inclusive da decalcomania mas não tinham capital necessário, se associaram ao Fontana e ao Leão e acabaram fechando eu próprio estabelecimento". Falando sobre criação da Sociedade Metalgráfica, diz Cesar Junior: “peio que eu ouvi contar tenho a impressão que o senhor Francisco Fido Fontana conheceu os dois alemães, Schroeder e Kirstein, gostou muito do trabalho deles e teve a idéia de montar uma firma, abrindo sociedade com os principais clientes dos produtos que esta firma iria produzir. Então foi formada a Sociedade Metalgráfica incluindo os dois alemães para suprir os demais sócios não só de rotulagem mas também embalagens. Contudo, o principal motivo da criação da Metalgráfica foi mesmo o ramo da decalcomania". 

Com efeito, a Junta Comercial do Paraná registrou no dia 7 de agosto de 1924 a "criação da Sociedade Metalgráfica, para indústria e comércio de estamparia litografia, tipografia, fabricação de latas e outros”.

Segundo o documento tratava-se de urna sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada, que entrou em operação no dia 15 de agosto de 1924. O capita era de 200.000$000 divididos em quarenta cotas iguais de cinco contos de réis da seguinte forma: Francisco Fontana - 19, Gabriel Leão Veiga - 6, Alexandre Schroeder - 4, Germano Kirstein - 4, Agostinho Ermelino de Leão - 2, Guilherme Whiters Junior - 2, Leocadio Souza - 2 e Percy VVhiters - 1. 

A cláusula quinta do contrato previa: "durante a vigência deste contrato, os sócios Alexandre Schroeder e Germano Kirstein não poderão empregar a sua atividade fora dos negócios da sociedade. E a sexta cláusula determinava: "a gerência da sociedade caberá ao sócio que for designado pelos demais, contando-se para tal escolha a razão de um voto por quota, ficando-lhe reservado o uso exclusivo da firma bem como a delegação de poderes". E a sétima cláusula: "o sócio que tiver a gerência retirará mensalmente a quantia de 1.000$000 (um conto de reis) e os sócios Alexandre Schroeder e Germano Kirstein retirarão cada um 600$000 mensais". E a décima cláusula finalizava: “as dúvidas que suscitarem na interpretação das cláusulas deste contrato, ou as divergências sobre os actos da Administração serão resolvidos pela maioria dos sócios e, só no caso destes não chegarem a acordo, será escolhido um árbitro que decidirá sem recursos".

Enquanto trabalhou na Sociedade Metalgráfica, Alexandre Schroeder participou da confecção em escala industrial das decalcomanias que eram vendidas em todo o Brasil e sempre ocupou o cargo de primeiro desenhista, desenhando diretamente nas pedras, gravando nelas, e exercendo uma atividade essencialmente de criação. Deste período, no entanto, Theodoro lembra de pouca coisa; "porque papai quase não falava de serviço em casa. Só sei que morávamos em cima da fábrica, no sobrado da Metalgráfica defronte o Passeio Público. Todas as tardes minha mãe fazia café e me mandava chamar papai e eu entrava na fábrica dizendo: "papa, cafee trinken. Por causa disto o Constante Moro que trabalhava junto com meu pai me apelidou de "cafestrinque".

Uma tênue referência ao trabalho de Schroeder e Kirstein aparece no jornal O Estado do Paraná, sob o título, "118 anos de Trabalho pela Economia do Paraná": "As Fábricas Fontanas se especializaram em dois ramos distintos de atividades: uma seção destinada à industrialização e ao beneficiamento do mate, e outra de litografia, originária das necessidades decorrentes da apresentação de produto, confeccionando as embalagens, estampadas e criando uma nova e importante atividade industrial em nosso Estado. Nesta última secção, com o auxílio de TÉCNICOS ALEMÃES, as Fábricas Fontana S/A tornaram-se as pioneiras de uma indústria inédita no Brasil: a fabricação de decalcomania ...." 

Rodolfo Doubek que participa na exposição, “Rótulos e Embalagens Antigas-Litografia", com a coleção de trabalhos criados por ele na Sociedade Metalgráfica sabe pouco sobre o trabalho do Schroeder: "meu setor na Metalgráfica era desenho sobre pedra e mais tarde sobre zinco. Com o falecimento de Schroeder que era um dos chefes da firma, assumi seu lugar de primeiro desenhista. Este trabalho consistia em criar o croqui de um rótulo".

Doubek conviveu pouco tempo com Schroeder mas mesmo assim opina sobre o seu trabalho: "para a época o trabalho de Schroeder era muito bom. E foi ele, juntamente com Kirstein que introduziram a decalcomania no Brasil".

Doubek não confirma as ligações de Schroeder com o pessoal técnico da Alemanha: “eu não eles tinham um amigo que soprava as novidades da Alemanha eu não posso afirmar; só sei que fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo". Doubek como outros litógrafos citam o nome de Constante Moro como a pessoa mais indicada para falar em Schroeder. Acontece, porém, que ele convalesce de uma delicada intervenção cirúrgica e não pode atender a solicitação da Casa Romário Martins. 

Mas o jornal Dass Kompass, editado pela colônia alemã em Curitiba, mostra a participação dos dois alemães nos trabalhos da Sociedade Metalgráfica, com várias referências, Inicia por dizer: "situada na Avenida João Gualberto nº 9, acha-se um estabelecimento industrial que, no seu ramo, pode ser considerado de primeira classe. Trata-se da Sociedade Metalgráfica Ltda, com sua fábrica de embalagens de folhas de flanders, litografia e impressão sobre flanders, conduzida pelos senhores Alexandre Schroeder e Germano Kirstein.” E mais adiante: "a indústria tem no senhor Schroeder um litógrafo de grande habilidade. Todos os trabalhos por ele executados, sejam eles de grande ou de pequeno porte, trazem as marcas do bom gosto, na escolha das cores e da execução limpa e meticulosa que revelam o artista que ele é. Não é preciso ver mais do que os lindos quadrinhos por ele executados que enfeitam xícaras e canecos e que são a alegria das crianças, e suas concepções para a decoração das latas que se destinam a receber manteiga, conserva peixe, graxa para sapatos, etc., todas elas prova de alto nível artístico. Os trabalhos de impressão são feitos em máquina moderna Importada da Alemanha, constam, desde os mais simples, até aos multicoloridos. Além da impressão sobre folhas de flanders a firma se encarrega de qualquer tipo de litografia. Esta parte dos, trabalhos está a cargo do senhor Germano Kirstein, um profissional excelente, que tem a habilidade de reproduzir fielmente  o que a pena do seu amigo e companheiro criou". O artigo finaliza assim: "enche-nos de justificado orgulho o fato de serem alemães os homens responsáveis por este trabalho, e é razão de alegria fato de estar sendo recompensado com o devido reconhecimento e sucesso no setor prático.”

Segundo registro na Junta Comercial do Paraná, o contrato inicial da Sociedade Metalgráfica sofreu uma de suas enumeras modificações no dia 28 do de julho de 1934 quando, "Francisco Fido Fontana, Gabriel Leão Veiga, Agostinho Ermelino de Leão, Guilherme Whiters, Alexandre Schroeder e Germano Kirstein resolveram, de comum acordo, fazer nova alteração da seguinte forma: I- O quotista Alexandre Schroeder retira-se da Sociedade, transferindo as suas quotas total de 25:000$000 ao quotista Francisco Fito Fontana.” 

Neste dia, dois quesitos do contrato seriam também modificadas: ele deixava de ser válido por 10 anos passando a tempo indeterminado e a cláusula quinta, que determinava a exclusividade de trabalho dos técnicos alemães na Sociedade era abolida. Theodoro Schroeder fala na saída de pai da sociedade. "ele não chegou a cumprir os dez anos de contrata porque pegou uma pneumonia que complicou. Logo depois morreu e mamãe ficou sem nada." 

Theodoro e Lili lembram que o final de seu pai foi bastante triste: "ele quase não falava em problemas de trabalho na nossa frente, mas, várias vezes o ouvimos chorar para a mamãe. Ele teve muita mágoa, e não nos aconselhava a trabalhar no mesmo ramo que ele. Nos últimos dias, já quase sem poder andar, trancou-se no paiol no fundo de casa e dedicou-se a gravar em vidros com diamante, e bem no finzinno não podia mais nem desenhar...."

PASSAPORTE
Primeira página
Reinado da Prússia.
Registro nº 16
Válido até 16 de abril de 1904
para: O litógrafo Alexander Otto Theodor Schroeder
De: Quaryschen
Segunda página - Para: Brasil
Konigsberg, Neumark
17 de abril de 1903
Magistrado Real da Prússia.
Terceira página - Descrição do Portador data de nascimento: 16 de dezembro de 1869
estatura: pequena
cabelos: louro escuro
olhos: cinza escuro
outras características: anda de bengalas

Este passaporte, meia dúzia de fotografias, quatro cartas de recomendação de litografias alemães, dois croquis de rótulos, dois retratos a crayon, um livro alemão com modelos da arte "de gravar em pedra", recortes do jornal Dass Kompass, modelos, e um impresso comunicando o falecimento, é tudo o que os filhos tem ainda hoje de Alexandre Schroeder.


Segundo Theodoro Schroeder, filho mais velho, seu pai veio ao Brasil antes de 1910 com cerca de quarenta anos de idade, parando inicialmente na cidade de Rio Grande no Rio Grande do Sul onde trabalhou alguns mêses na litografia de um alemão. Lá teve notícias de Curitiba e devido a problemas de saude optou pelo clima daqui. 


Morou inicialmente na rua Coronel Dulcídio, onde uma senhora alugava quartos e logo em seguida começou a fazer refeições na rua Comendador Araujo, onde hoje é o Instituto de Identificação. "Era a casa da minha avó, onde papai conheceu, começou a namorar minha mãe, e logo se casou. Como a vida fosse difícil, depois do terceiro filho, seguindo exemplo da minha avó que foi uma das primeiras parteiras diplomadas de Curitiba, mamãe aprendeu este ofício para ajudar nas despesas de casa".

Da figura do pai, Theodoro e Lili tem lembranças claras: era pequeno, bigode tratados, manco, sempre de bengala e um lápis na mão, quase um dedo adicional com o qual estava sempre fazendo palavras cruzadas e desenhando: uma figurinha para alegrar as crianças, o retrato dos filhos ou da esposa numa pose engraçada, paisagens. "Uma ocasião, chegou a desenhar uma série de anõezinhos, cada quadro o anão em posição um pouco diferente, como se fosse um desenho animado. Ele chegou inclusive a fazer dois quadros humorísticos para um bilhar da rua XV de Novembro. Os quadros eram grandes e um deles mostrava o jogador enchendo um pneu de automóvel em cima da mesa, como se estivesse com o taco pronto para uma jogada". 

Segundo os filhos, Schroeder dedicava-se também a fotografia, e "adorava ele mesmo revela-las em casa onde tinha um laboratório. Bem falante, recebia muitos amigos principalmente o Guido Straube e Mário de Barros". Do Schroeder profissional os filhos lembram muito pouco: "papai era prussíano, certos assuntos crianças não deviam ouvir." Em seu depoimento Theodoro faz questão de lembrar a figura de outro alemão, Germano Kirstein nome associado ao de seu pai em vários depoimentos: "O Kirstein chegou ao Brasil mais tarde. Passou por Ponta Grossa mas acabou se fixando em Curitiba. Veio muito pobre, mal sabia falar o português e nos primeiros tempos morava nos fundos de nossa casa".

Na verdade sobrou muito pouco da imagem de Kirstein, pois todos as seus descendentes já faleceram. Sua família "foi perseguida pelo destino” segundo vários depoimentos que concordam com Doubek: “Ele teve dois filhos, ginastas de primeira ordem, pois um deles morreu afogado e outro em decorrência de uma operação". Depois resolveu adotar uma filha que acabou se suicidando, Segundo Theodoro, a viúva de Kirstein no final da vida, ficou bastante descontrolada e não se conformava com tanta desgraça. ”Encontrava a gente na rua e não parava de chorar.” 

Na verdade, desde que se conheceram, Schroeder e  Kirstein, sempre estiveram ligados profissionalmente. De início na firma que abriram na rua Assunguy, e logo depois na Sociedade Metalgráfica. É que um entendia de desenho e da técnica de impressionar a pedra e o outro da parte de impressão ", diz o filho Theodoro e confirma Leonardo Born. Esta ligação no entanto não chega a figurar nos editais mandados publicar em jornais de todo o Brasil pela Sociedade Metalgráfica no ano de 1954, que diziam em determinado trecho: ".... Em 1924 associou-se a um fabricante de decalcomania que, com o espírito de pioneiro Iniciava a produção deste artigo no Brasil".

Esta ligação amplamente reconhecida no depoimento de ex-litógrafos foi excluída mais uma vez no noticiário jornalístico por ocasião dos festejos comemorativos ao 125º aniversário das Fábricas Fontana que dizia, em entre outras coisas: "... interessante é registrar que esta indústria nasceu modestamente no Paraná e no Brasil em 1917, quando o senhor Germano Kirstein, técnico alemão e empregado da organização Fontana iniciou as primeiras experiências em um barracão no fundo de sua residência O senhor Fido Fontana na época, presidente da empresa ervateira, prevendo o futuro daquela indústria, associou-se ao senhor Kirstein, organizando, em 1924 a Sociedade Metalgráfica, que mais tarde incorporado as Fábricas Fontana. A previsão do senhor '. F. Fontana tornou-se realidade, pois, hoje as Fábricas Fontana, sob o comando de seu dinâmico e operoso filho, senhor Ildefonso C. Fontana, assessorado pelos senhores Gabriel Veiga, Humberto Sienenrok e Constante Moro, são consideradas a mais importante indústria de decalcomania da América do Sul e a qualidade de seus produtos só encontra similar entre as melhores congéneres dos país".

 Afirmando desconhecer alguma razão para o fato de que os jornais atribuíssem quase que só a Kirstein a introdução da decalcomania, Cesar Pinto Junior propõe: "o que pode ter acontecido é que o Kirstein tinha mais contato com a clientela e por isto foi mais conhecido. Porque o Schroeder trabalhava na parte de cima da fábrica e os primeiros contatos com os clientes eram feitos pelo Kirstein. Eu atribuo a isto. Agora mais não sei se ele era mais responsável que o outro ou se era o conjunto. Só sei que foram eles quem introduziram a decalcomania produto que já conheciam na Alemanha antes de virem ao Brasil. Eu acho que ali o trabalho e a responsabilidade dos dois era igual. Cada um no seu setor contribuía em Pé de igualdade para a expansão da firma". Constante Moro, por telefone, tenta explicar-nos rapidamente: "O Kristein chegou ao Brasil em 1912. Neste ano voltou a Alemanha, retornando em 1914, trazendo uma prensa de mão, com a qual, no ano de 1917 fez as Primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil. Como não fosse desenhista, aproveitava desenhos trazidos da Alemanha ou então pedia a um litógrafo que lhe desenhasse. Mais !arde associou-se ao Schroeder, que passou então a desenhar estas decalcomanias no estabelecimento que abriram em sociedade, na Mateus Leme, esquina com Barão de Antonina". E especialmente sobre Schroeder, ele diz: "era muito bom gravador em pedra, uma arte só dominada no início por ele e por alguém da Impressora Paranaense. Era um bom profissional. Ele, Rômulo Cesar Alves e o Scrapp foram os melhores". 

A Kirstein o jornal Gazeta do Povo do dia 4 de dezembro de 1955 dedica uma matéria sob o titulo, "GERMANO HENRIQUE GUILHERME KIRSTEIN: BONS SERVIÇOS PRESTADOS AO BRASIL- OCORREU NOS ÚLTIMOS DIAS DE NOVEMBRO, O PASSAMENTO, NESTA CAPITAL DO SR. GERMANO HENRIQUE KIRSTEIN. 

Talvez que esse nome não possa significar muito para o nosso povo. Entretanto, constitui o nome de um dos pioneiros da indústria brasileira, atualmente situada dentro de um nível de progresso que a todos assombra inclusive ao próprio observador. De fato, G.H.G. Kirstein, imigrado da Alemanha em 1912, fabricava cinco anos mais tarde, a primeira decalcomania em bases industriais no pais. Em Curitiba, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, produziu o primeiro tipo de decalcomania a fogo, com a finalidade de ser utilizada em copos. Tinha como desenho, o retrato de Wenceslaw Bras, então presidente da República. Posteriormente, em virtude da alta receptividade daquele produto, já então na qualidade de fundador e diretor da fábrica Fontana, estabelecimento industrial altamente especializado e que, com o correr dos anos, transformou-se na principal e mais importante organização no gênero em todo o país. 

Para alcançar o ponto atingido por ocasião de seu falecimento, G.H.G. Kirstein viveu uma vida de cientista, com toda a sorte de dissabores. Experiências fracassadas, falta de matéria prima, ausência de auxiliares especializados e uma infinidade de obstáculos todos vencidos pela vontade e inteligência daquele digno cidadão. 

Nascido a 15 de janeiro de 1883 em Schweidnitz. Alemanha, Germano Kirstein chegou ao Brasil em 18 de janeiro de 1912. Depois de mais de quarenta anos de serviços úteis prestados a coletividade e ao Brasil, faleceu a 27 de novembro de 1955, deixando viúva a Sra. Stanislavva Kirstein, de cuja união teve dois filhos.

Outro recorte de jornal, (sem indicação de nome e data) guardado no álbum de recortes das Fábricas Fontana, sob o título, "Desenvolve-se a Indústria Brasileira de Decalcomania", inicia assim: "Rio,10 (FT) - O Brasil foi considerado, há pouco, o primeiro país de América do Sul na indústria de decalcomania, iniciada modestamente em 1917, no Paraná, nos fundos da residência do técnico alemão Germano Kirstein, em um barracão, a decalcomania rapidamente progrediu em quantidade e qualidade". E o artigo finaliza: "Procurado por um grupo econômico desejoso de criar uma grande indústria no ramo, o modesto técnico Kirstein aceitou a proposta e daí a nossa posição privilegiada no continente, em relação a este produto."

Nota do verso:
Durante certa época, os rótulos e embalagens de produtos industrializadas de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular. Através dos desenhos estampados nos rótulos e embalagens, a população tomava conhecimento não só dos modismos artísticos em voga, como também de uma visão — às vezes realista, às vezes onírica — do mundo.

A repetição constante de uma mesma imagem, durante anos, num mesmo produto, certamente haveria de criar uma nova imagem mental no consumidor, mais um dado referencial a ser compartilhado com outras pessoas. O assunto é vasto e permite um estudo até hoje não feito. Este Boletim, com uma precisa pesquisa de Rosirene Gemael para a exposição "Rótulos e Embalagens Antigas", inaugurada no dia 29 de outubro de 1975 na Casa Romário Martins, traz importantes subsídios para o estudo da influência deste meio de comunicação popular em Curitiba. 

VALÉNCIO XAVIER 


EDITOR: VALÉNCIO XAVIER
ARTE: MARIA DO ROSÁRIO DE FÁTIMA SE LEME
GRÁFICO: ITAMAR A. MARTINS
PRAÇA GARIBALDI NP 7, 80 000 - CURITIBA
FONES: 23-2722 e 23-2584


SOLICITAMOS PERMUTA BOLETIM DA FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
Nº 1 — DESEMBRULHANDO AS BALAS ZEQUINHA — V. XAVIER
Nº 2 — OS CAMINHOS DA PAVIMENTAÇÃO EM CURITIBA — R. GRECA
Nº 3— ROMÁRIO MARTINS — R. GRECA
Nº 4 — 3 CONTOS DE ARMANDO RIBEIRO PINTO
Nº 5— BENTO MUSSURUNGA — R ESELYS V. RODE RJAN
Nº 6 — MARIA BUENO — PEÇA DE ORACI GEMBA
Nº 7— O LAZER NA CURITIBA ANTIGA — V. XAVIER
Nº 8 — FREGUÉS DE CADERNO (ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS) — R. GRECA
Nº 9 — 3 CONTOS DE CLÁUDIO LACERDA
Nº 10— NOTÍCIAS SOBRE A IMPRENSA NO PARANÁ, ATÉ 1900— O. PILOTTO
Nº 11 — HISTÓRIA DE CURITIBA, EM QUADRINHOS — MOACIR CALESCO E. V. XAVIER
Nº 12 — CHICHORRO E SEUS CALUNGAS — NEWTON CARNEIRO
Nº 13 — PREMIADOS NO 1º CONCURSO MUNICIPAL DE CONTOS
Nº 14— LANCE MAIOR — ROTEIRO DO FILME DE SÍLVIO BACK

terça-feira, 11 de junho de 2013

A embalagem para a casa Romário Martins

Para a casa Romário Martins a exposição "Embalagens de Cigarro" marca o inicio da Semana do Colecionador. Por que esse tema para o lançamento da promoção? Não houve de nossa parte qualquer escolha. Decidimos que uma semana por mês colecionadores e pesquisadores determinariam a programação da CRM e foi isso que ocorreu. Herculano Martins Franco Filho e José Ricardo Pachaly foram os primeiros a se interessar nela promoção e nós acolhemos sua iniciativa.

O acervo que passamos a mostrar consta de novecentas embalagens de cigarro, de trezentas marcas diferentes. Há embalagens estrangeiras e nacionais, sendo interessante observar aquelas, de apelo popular, com cores, ilustrações, apelos de consumo e nomes peculiares como: TEFUMO, CRAQUE, SPUTINIQUE, SAMBA, ROMANCE, BEDUINO, SHOW, QUETAL; RINGO, CORINGA, MISBELA , VANGUARD, RAINHA, PARTICULARES e AMIGO.

Estas embalagens, encontradas pelos colecionado res especialmente em bairros bastante afastados do centro da cidade, diferem daquelas encontradas em clubes recreativos e defronte ao Teatro Guaíra, por exemplo, onde predominam as embalagens de cigarros estrangeiros ou nacionais com nomes estrangeiros dotados de ilustrações cuidadas, com muito dourado, evocando castelos, títulos de nobreza, ou brasões, como KING GEORGE, MONROE ou HILTON.

Segundo a origem, as embalagens expostas são classificadas em: Americanas – Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolívia, Estados Unidos e Canadá: Europeias - Inglaterra, França, Alemanha, Bulgária, Itália e Espanha: Asiáticas - Coréia, e Africanas - Líbano.

Entre as embalagens mais antigas, destacam-se aquelas de cigarro RI TIGRE e TRÊS BARRAS, que datam de antes da Guerra do Contestado (Observar na carteira a indicação de Três Barras, Paraná - Brasil) além de outras oito bastante plásticas, confeccionadas em Curitiba, no inicio do século, pelo processo de impressão litográfico: CIGARROS DARDANELLOS, TENNIS, ARACY, COMMENDADORES, ORLANDO e LOLA. Há ainda a embalagem em folha de flanders, em formato de estojo, do cigarro - EDEN, EXTRA MISTURA - com idade avaliada em torno de sessenta anos; e outras embalagens nacionais, de cerca de trinta anos, já desaparecidas do mercado como: CAPORAL, AMARELINHO , CIGARRO DAS AMERICAS, FARRAPOS e CRUZEIRO.

Corno aspecto curioso vale ressaltar as embalagens do cigarro INTERVALO, da fábrica Sudan S.A., ilustrada com fotografias de artistas - Glória Menezes, Lolita Rodrigues, Rogério Marcico, Valter Stuart - acompanhadas pela inscrição: "recorte e cole nas carteias distribuídas pela Sudan, para concorrer aos sorteios", e as embalagens brinde.  Entre essas últimas, há aquelas para consumo à bordo, distribuídas em aviões e navios, e a embalagem do cigarro HASTINGS, da fábrica Sudan, utilizada para promoção dos anéis de pistão Hastings, "projetados especialmente para mudança do seu motor".

Há ainda embalagens só para exportação, consumo interno, flip top box, de metal, estojos de luxo, e as carteiras que variam de setenta, oitenta e cinco, cem e cento e vinte milímetros, que ainda se subdividem em cigarros com ou sem filtro (ou ponteira ou cortiça). A enorme variação de embalagens demonstra claramente a sofisticação do público consumidor e do próprio produto, que assume características marcantes na economia nacional: segundo informações contidas no Caderno de Economia da Folha de São Paulo do dia 18 de janeiro de 1976, o IPI do fumo representou no primeiro trimestre do ano passado, 13,1 % da receita e 46 % do total de impostos recolhidos no país até julho de 1975.

Um detalhe final a ser observado na exposição que os colecionadores, apesar de trabalharem com embalagem de cigarro, não fumam, e que as embalagens americanas para exportação, assim como as brasileiras para consumo interno não apresentam nenhuma limitação em sua publicidade, ao contrário das americanas para consumo interno e mesmo algumas argentinas e colombianas. Que trazem impressos os avisos de: "Warning: the Surgeen General Has Determined that Cigarrette Smoking is Dangerous to your Health", ou então: "Caution. Cigarrette Smoking May Be Hazaudous to Your Health", sugerindo prejuízos causados à saúde pelo cigarro.

Para que a Semana do Colecionador não seja apenas outra exposição todos os meses, e dê resultados esperados, a CRM precisa contar com a resposta dos colecionadores e do público em geral. Avise-nos da existência de colecionadores e acervos particulares. E se você coleciona - embalagem de cigarro, mantenha contato com os colecionadores que expõe atualmente, na CRM: 

Herculano Martins Franco Filho (os dados de contato estão omitidos)

José Ricardo Pachaly  (os dados de contato estão omitidos)

O primeiro dispõe de cerca de setecentas embalagens de cigarro e o segundo em torno de quinhentas. Ambos estarão fazendo permuta no balcão de trocas durante a Semana do Colecionador e posteriormente em suas residências.

Nota: O texto não contém nenhuma indicação de autoria,  data, mas pelo contexto da exposição a autoria provável seria de Rosirene Gemael ou Valêncio Xavier em meados da década de 1970.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A embalagem para o publicitário:

Texto produzido por Ernani Buchmann, posssivelmente no ano de 1975, comentando um pouco sobre o papel dos colecionadores, e como a embalagem reflete algumas questões culturais importantes na construção e afirmação de identidades. Este texto está associado a exposição de 1975 sobre a litografia, e alguns dos rótulos de cigarro eram do processo. A digitalização do material datilografado foi feita por Alan Witikoski como material de referência para pesquisa.

A EMBALAGEM PARA O PUBLICITARIO:
 
A atração exercida por uma carteira de cigarros é indiscutível. Muito pouca gente consegue passar incólume pelo fascínio de uma carteira de cigarros, incluindo-se até: não fumantes, entre os que são subjugados pelas cores, pelo formato, pelo estilo deste objeto hoje tão representativo.

Mais o que uma embalagem, a carteira de cigarro chega, às vezes, a se transformar quase num fetiche, espécie de estrela no oceano dos objetos que trazem status.

Só ela - e não no seu conteúdo – é que traz em suas características apropriadas para envolver cada tipo determinado de personalidade. Uma carteira de cigarros pode nos dizer se o fumante do gênero esnobe, popular, destemido, modernos assim como na maneira de abrir nota-se o relaxado, o desligado, o compulsivo, o inseguro.

Tornou-se um símbolo, entre outros ao lado do automóvel, de um estilo de vida. Por exemplo, os cigarros Hilton mostram em quase todos os seus comerciais um Galaxie, ligado ao sujeito que fuma o cigarro em questão. Em compensação, os cigarros Arizona preferem ligar o "mocinho" do filme a um cavalo, sinal de destemor, do machismo. 

E o Marlboro, da terra de idem? Bom, este seguiu os passos do Arizona - em termos brasileiros - mas apenas na ambientação dos seus filmes publicitários. Enquanto o Arizona apela para um - tipo mais nacional Brasil, sem muita sofisticação, como é necessário a seu público de baixa renda, o Marlboro nos apresenta o típico oeste americano,  que se não fosse por outro aspecto, já seria pelo fato de que todos os filmes são produzidos nos Estados Unidos e apenas dublados no Brasil. Inclui também a tecnologia no Oeste - um exemplo: os helicópteros - criando a imagem que seus fumantes, também destemidos, são pessoas de sucesso na vida, indivíduos da classe em ascensão social.

Assim existem os Minister, os Carlton - do qual estou munido de um exemplar neste momento - os Hollywood, os Continental e centenas de outras marcas.

No entanto, a carteira de cigarros muito mais do que isso. Quantos e quantos já foram anotados ali, e perdidos por sujeitos que esqueceram que aquele pedaço de papel colorido trazia a única pista para encontrar uma mulher ou um amigo de velhos tempos. E os joguinhos sociais que as reminiscências de velhas marcas de cigarro permitem? Qual era a cor da embalagem dos cigarros Yolanda? E o formato do Liberty? E o preço do Columbia em 1956? A lista não tem fim.

Fico lembrando satisfeito daquele amigo que certa vez me deu um cinto todo feito com maços de Continental e Hollywood sem filtro. Por quanto tempo desfilei o meu orgulho com aquela tira colorida segurando as minhas calças de menino. 

Bilhões de cruzeiros são fumados todo dia pelos cinco cantos do mundo. Muita gente começa, assim como muita gente para se foi o último - de fumar a cada momento. Da mesma forma, muita gente tem por hábito colecionar carteiras de cigarro, um hobby bastante interessante.

Esses dois rapazes que hoje expõe, suas coleções de carteiras de cigarro na casa Romário Martins - José Ricardo Pachaly e - Herculano Martins Franco Filho - com certeza já foram obrigados a se abaixar centenas de vezes junto calçada pela simples visão de uma raridade. Para eles não há nada mais emocionante do que descobrir novas carteiras, receber exemplares do exterior e catalogar as que possuem.

São colecionadores e como tal qualquer esforço é válido. Para nós outros, mais afeitos a apenas abrir a carteira e fumar o vicio, a exposição de um acervo tão sui gêneris é uma experiência bastante agradável. 

No espirito puro dos dois jovens não esta em jogo a briga que a British American Tobacco (ou Souza Cruz, como queiram) desenvolve contra a Philip Morris e R. J. Reinolds pela conquista do mercado brasileiro. Nem interessa saber, por exemplo, quantos milhões de cruzeiros foram gastos no estudo da embalagem do novo lançamento, o Du Maurier, pela Souza Cruz (ou British American Tobacco, como queiram).

Para eles o principal é descobrir uma carteira do cigarro gaúcho Grenal ou do falecido Lincoln. Isso é que importa. 

ERNANI LOPES BUCHMANN, Chefe de Redação P.A.Z.,. Criação e Comunicação Ltda. e Ex-redator e chefe de Criação das agencias de propaganda cariocas SGE Publicidade e Promoções, LM Propaganda e IMC - Internacional Markting Cornmunications.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Fragmento de texto sobre a exposição de litografia de 1975

Fragmento de texto, sem autoria, encontrado na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Digitalizado do datilografado por Alan Witikoski. Acredito que o texto tenha sido produzido por Rosirene Gemael.

Rótulos Antigos.

Para o mês de outubro, a Casa Romário Martins já tem praticamente montada, a exposição de Rótulos Antigos, que, mostrará coleções de rótulos, cartazes e pedras litográficas, material reunido depois de dois meses de trabalho através de cerca de oitenta contatos entre gráficas, descendentes de proprietários de litografias já extintas, e nas próprias indústrias. A idéia inicial era diferente. Localizamos uma coleção de cerca de 2OO rótulos toda desenhada por uma mesma pessoa entre 1914 e 1916 preservada por um colecionador. Pretendíamos, então, nos restringir na tentativa de obtenção deste material e sua exposição. Porém, ao observarmos detalhadamente a coleção, constatamos  que documentava uma fase importante de nossa indústria gráfica, em sua fase "litográfica" tão artesanal e da qual restam pouquíssimos resíduos. E constatamos também, que através daqueles rótulos, obtém-se informações das mais variadas naturezas, como, por exemplo, hábitos de consumo de urna determinada época, e entre outras coisas, um tipo de economia, um tipo de estabelecimento industrial e de um tipo específico de comércio. 

Caracterizados para nós como "fontes de informações" achamos que devíamos passar imediatamente para uma verdadeira "busca" de rótulos desta época (1914-1916), de épocas posteriores e se possível, dos primórdios da fase litográfica. O que mostraremos em nossa exposição é o resultado de um trabalho que será realizado indefinidamente, de acompanhamento de uma atividade que não pretende rotular-se de "pesquisa" mas apenas de coleta de material que seria fatalmente destruído. 

(Na maioria de nossos contatos verificamos a quase total ausência de preocupação de arquivos, documentação e preservação deste material, que segundo depoimentos tem sido, regularmente vendido como entulho).

Incentivo a Documentação

Descobrindo nos compradores de papel nossos maiores "concorrentes" para a obtenção de velhos documentos, fotografias e outros materiais de interesse, além de enriquecer nosso próprio acervo, procuramos incentivar nas pesquisas, as pessoas envolvidas pela preocupação pela documentação. Nos casos mais favoráveis, chegamos inclusive a receber a promessa de organização de pequenos museus, que serão catalogados por nós . A iniciativa mais concreta partiu da Indústria Todeschini, que preserva grande volume de material de interesse histórico e que vai partilhar a organização de um museu. No casos em que não conseguimos  sensibilizar as pessoas que detém as decisões, obtivemos ,porém, a promessa, de sermos consultados antes que determinados sejam “postos fora". Para guardar este material, no entanto, a Casa Romário Martins precisará dispor de mais espaço físico. Neste sentido, já foram mantidos contatos com o prefeito Saul Raiz para que se proceda a desapropriação da casa ao lado da Casa Romário Marfins, com o que atingiremos dois objetivos: a preservação de mais um prédio antigo no setor Histórico, e a organização de um Museu da Cidade.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nota Impressora Paranaense - 1953

Nota retirada do Álbum do Centenário do Paraná 1853 -1953, sem página.
Digitalização do original por Alan Witikoski.

Esta nota reitera alguns tópicos que surgem tangenciando como o desenvolvimento da indústria gráfica no Paraná, principalmente em Curitiba, e que não são abertamente apresentados. Sabe-se que os imigrantes alemães sofreram várias sanções no período relacionada as duas Guerras Mundiais, que afetaram as configurações das litografias paranaenses, porém quais, e como foram estes eventos, contam pouca ou quase nenhuma informação "oficial". 
Até o momento os principais seriam: a inclusão na "lista negra" do comércio, um incêndio a sede da Impressora Paranaense, na rua Comendador Araújo, e relatos de "destruição" de livros técnicos em alemão sobre processos gráficos nas litografias, devido ao medo de serem pegos com algum material "subversivo". 

Impressora Paranaense S.A.
Publicamos com satisfação, o editorial abaixo, assegurando o cabimento leal da asserção, pois, mourejando há anos no seio e intimidade da IMPRESSORA PARANAENSE S.A., convivendo, ao editarmos ininterruptamente, a nossa Revista, vimos sempre, nas diretrizes de seus destacados proprietários e auxiliares, grandeza e tolerância, trabalho e disciplina, e o pulsa de corações de brasilidade, muito devendo o Paraná a essa famosa e tradicional organização, fator inegavelmente preponderante de seu progresso e engrandecimento:

A IMPRESSORA PARANAENSE S.A., por seu diretor-presidente, abaixo assinado, vem declarar que, já tendo sido vítima de calúnias, lhe atribuindo atitudes politicas anti-nacionais, há vários anos atraz, do que lhe resultaram sérias e penosas dificuldades, calúnias estas creadas por elementos irresponsáveis, desafetos e acintosos, não deseja que o seu título e denominação de IMPRESSORA PARANAENSE seja confundido com denominações de outras “impressoras” que se acham atualmente envolvidas em polêmicas sobre questões de ideologias políticas.
A presente declaração é feito pelo fato de já haverem chegado ao conhecimento da Impressora Paranaense S.A. informações sobre confusões havidas neste sentido.”

(a) OSCAR SCHRAPPE SOBRINHO
Diretor Presidente.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

Entrevista com Otto Stutz, Gazeta do Povo

Digitalização de entrevista de Otto Stutz para Gazeta do povo, Nosso Bairro Água Verde. Infelizmente o material estava incompleto.

Otto Stutz. Gazeta do Povo
Para conseguir fazer esta entrevista com o artista plástico e desenhista Otto Stutz, nosso repórter precisou de insistência. A idéia partiu do nosso colaborador Haroldo Perdia, mas faltava o entrevistado aceitar a proposta. No início, ele resistiu, mas depois, com o pedido da filha Ângela e da amiga Eliane, Otto Stutz deciciu conceder esta entrevista para a memória do nosso bairro. Participaram da entrevista Haroldo Perolla e Angela M. Stutz Táws.

Vivi aqui e é aqui que pretendo "embarcar" 

É com orgulho que Otto fala do bairro em que vive, o Água Verde. Ele nasceu em 6 de maio de 1923, filho de pais austríacos. "Morei e me criei no bairro da Água Verde, e aqui pretendo embarcar", declara sorrindo. De sua infância no bairro, ele se lembra da Segunda Guerra Mundial, dos exercícios de blecaute onde ele, Cláudio Tedesco e o Haroldo Perolla tocavam o sino da Igreja da Água Verde, simulando um ataque aéreo que nunca aconteceu. Torcedor do Paraná Clube "desde o tempo em que se chamava Savoya, em homenagem à família real italiana". A ca-misa do time do Água Verde, quando foi campeão em 1957, foi desenhada por ele a pedido do falecido Arnaldo Thá e do Haroldo Perolla. Segundo Perolla, "era a camisa mais bonita do país na época". 

A passagem do Zepelin 

Lembrando o tempo em que era estudante do Ginásio Paranaense (atual Pedro Macedo), Otto se recorda com satisfação da passagem do da passagem do imenso dirigível Zepelim por Curitiba. "Foi a maior sensação da Época. A cidade parou para ver o Zepelim". 

O trabalho Otto conta que desenhava desde criança. E confessa:
Nunca pensei que desenhando fosse ganhar a vida". 

Aos 14 anos de idade foi aprovado em concurso para trabalhar na Impressora Paranaense, a maior impressora da época. Entre os 8 desenhistas da sessão onde ele trabalhava, era o mais jovem, trabalhava igual aos demais mas recebia menos que os outros. Participou de um curso ministrado por professores e técnicos alemães, entre os quais o professor Alberto Thiele, para trabalhar com litografia. Saiu-se bem com o curso porque meses após já enviava seus trabalhos para a gráfica Ipiranga, de São Paulo. Com o tempo, com o aprimoramento de seu trabalho, houve negociações e aumentos salariais quando ele recebeu convite para trabalhar naquela gráfica paulista. Diante do aumento salarial, decidiu continuar na Impressora Paranaense. Ele recorda que "o nosso trabalho era feito com muito prazer. Quando encerrava o expediente eu reclamava que queria continuar trabalhando". Mas a litografia tornou-se uma técnica obsoleta com o passar do tempo porque imprimia de forma lenta diante das novas conquistas tecnológicas da época, a impressão "off-set". A impressora trouxe novamente outros técnicos alemães para ensinarem as técnicas, mas desta vez os professores não ensinaram tudo, apenas o básico, de forma que a Impressora Paranaense necessitasse dos técnicos alemães para a finalização dos trabalhos. Esse procedimento desagradou a Otto, que decidiu escrever uma carta para uma Escola Técnica da Alemanha. Semanas depois ele recebia pelo correio um curso completo, com livros e folhetos. Estudou bastante. Recebia trabalhos, dava idéias, iniciava e passava para os técnicos alemães finalizarem embora já dominasse a ... [o pequeno recorte acaba aqui]

terça-feira, 7 de maio de 2013

Entrevista com Estanislau Skrobot sobre a Metalografia Pradi

Entrevista de Estanislau Skrobot para o projeto de documentação sobre a litografia em Curitiba para a exposição que ocorreu um outubro de 1975. A realização da entrevista possivelmente para Rosirene Gemael. Digitalizada por Alan Witikoski do original datilografado.

Fizemos contato telefônico com a Senhora Gisela Pradi, contando de nosso trabalho e apresentando nossa intenção de levantar material gráfico e informações sobre a Metalografia Pradi. Dona Gisela disse-nos que a empresa tinha sido vendida, indicou-nos uma forma onde localizamos algumas pedras litográficas e desculpou-se afirmando que não teria mais material a fornecer.

Por indicação do litógrafo Otto Schnenneck que estivera ligado a Metalografia Pradi entrevistamos o senhor Estanislau Skrobot, que trabalhou na empresa como contador e depois como diretor por 25 anos.

Seu depoimento foi gravado no dia 8 de outubro de 1975, na Casa Romário Martins. Seo Estanislau visando simplificar a entrevista, entregou a Casa, um documento elaborado por ele mesmo onde conta fatos do estabelecimento. 

- Material preparado por escrito pelo entrevistado 

Carlos Pradi nasceu em Porto de Cima Paraná, e era filho de Angelo Pradi, calceteiro italiano. 
Em 1912 estabeleceu-se com uma funilaria na Avenida Luiz Xavier, associado ao seu irmão João Pradi, no local onde hoje está estabelecida a Confeitaria Guairacá.

Devido a guerra de 1914 teve de interromper seu ofício e foi se estabelecer com o ramo de Secos e Molhados, à rua Saldanha Marinho, esquina com Brigadeiro Franco.
Em 1918 ou 1919 na sua Saldanha Marina n.º 12, em terreno adquirindo da família Xavier de Miranda, construiu o atual prédio e estabeleceu-se com o ramo de funilaria já ampliado para a fabricação de banheiros, caixas par água, caldeiras para água quente, canos para construções, brinquedos e outros. À par destes artigos ia se desenvolvendo a fabricação de latas para diversas indústrias, estas ainda com a folha de flanders ao natural.

Em 1926 (?) Carlos Pradi adquiriu um prelo litográfico, para a impressão de folhas de flanders e papel, surgindo daí a denominação de Metalografia Pradi. Posteriormente houve ampliações com a aquisição de novos prelos e novas máquinas operatrizes para a secção de latas.

Em 1931, em consequência da revolução de 1930 Carlos Pradi sofreu um derrame ficando praticamente inutilizado e teve que afastar-se do trabalho, permanecendo neste estado até a sua morte.

Com o afastamento do senhor Carlos Pradi, assumiu a direção da firma o contador Estanislau Pedro Skrobot, já com bastante prática e ao par de todos os assuntos e situação financeira da firma desde 9 de junho de 1925 data em que foi admitido.

O contador, com procuração de poderes gerais e com eficiente cooperação dos diretores técnicos nas diferentes seções, a firma continuou a prosperar e com todas as situações equilibradas, atingiu a meta de uma situação sólida financeiramente, livre de quaisquer dificuldades e em franco progresso.
Estas informações prevalecem até o dia 23 de outubro de 1950, data em que o contador, após mais de 25 anos de serviços prestados teve de retirar-se da firma por incompatibilidade com alguém eu foi introduzido na firma na qualidade de genro.

Cooperadores técnicos

João Pradi, chefe geral da secção de latas, cunhos, já falecido.
Alexandre Toscani Filho, sub chefe da mesma secção.
Guilherme Traple, chefe da secção litográfica. Já falecido.
João Thomas, chefe da secção de impressão. Este é um operário excepcional. Nunca faltou ao serviço, mesmo fazendo horas extras. Está na firma há quarenta anos.
(Para confirmar estas datas e outras informações poderão telefonar a senhora Adelaide Pradi) 

Entrevista Estanislau Skrobot. 

1. Em primeiro lugar queríamos seu nome completo. 
Estanislau Pedro Skrobot.

2. Quando e em que função começou a trabalhar na Metalografia Pradi?
Entrei como contador no ano de 1925, passando a direção por ocasião do falecimento de senhor Carlos Pradi, criador da empresa. 

3. Quem criou a Metalografia Pradi?  
O senhor Carlos Pradi, paranaense de Porto de Cima.

4. Conheceu muitos litógrafos que passaram pelo estabelecimento?
Só conheci o Guilherme Traple e o Otto Smith.

5. O Guilherme Traple acabou indo embora para Ponta Grossa mais tarde?
Foi para Ponta Grossa onde trabalhou em uma firma do mesmo ramo. 

6. O senhor sabe porquê ele resolveu ir embora? 
Foi embora para melhorar de situação, unicamente por causa disto. Ele queria mais vantagens, a outra firma estava se organizando e ofereceu vantagens para ele. Sabe qual foi o seu fim? Começou a falsificar selos e teve que se suicidar. 

7. Isto ocorreu em Ponta Grossa? 
Em Ponta Grossa mesmo. 

8. Mas ele falsificava que tipo de selo? 
Selos do Estado. 

9. Este selos eram impressos na litografia onde ele trabalhava?
É, isto mesmo.

10. E o trabalho de Guilherme Traple era bom?
Ele era um artista de primeira ordem. Era inteligente mais muito interesseiro, muito apegado ás coisas do dinheiro. Iludiu-se com a promessa que fizeram para ele e foi fabricar selos. Foi uam tragédia. Na hora que o fiscal chegou com a polícia ele tomou ácido. Suicidou-se no próprio local de trabalho. Foi muito mal para o hospital mas tinha que morrer porque o ácido destruiu todo o seu organismo. Foi uma pena, pois era um grande artista.

11. Qual era o setor de Guilherme Traple na Metalografia Pradi?
O setor de impressão de folha de flanders e de papel. O ofício dele era de transportados, transportava o original para pedra de impressão. Ele desenhava na pedra também, as esta não era a sua especialidade.

12. Guilherme Traple era parente de Traple pintor?
Era irmão do Estanislau Trapel.

13. E no setor de desenho, quem trabalhava na Metalografia Pradi?
Otto Schenneck, Arnaldo Raschendorfer e a gente sempre pegava também desenhista avulso.

14. A Metalgrafia Pradi costumava contratar muito litógrafos por serviços?
É, para a parte de desenho.

15. E quem foi o desenhista efetivo por mais tempo na empresa?
Ultimamente foi o Otto Schenneck e antes dele o Raschendorfer.

16. O desenhista cobrava muito caro pelos serviços?
Não, acho que cobrava o preço que devia cobrar.

17. O senhor lembra de alguns clientes da Metalografia Pradi?
Fornecíamos para muitas indústrias. Os fabricantes de caramelos eram quase todos nossos fregueses.

18. Segundo o senhor Otto Schenneck a Metalografia só começou a trabalhar com rotulagem na época da guerra em função das dificuldades de importação das folhas de flanders o senhor concorda?
Não. A guerra não interrompeu nossa produção de lataria. Havia dificuldades de importação mas nós tínhamos direito a cota e recebíamos a matéria prima. Nunca paramos devido a falta de folhas e a impressão em papel e em folha foi simultânea toda a vida.

19. No inicio de operação toda a matéria prima da litografia era importada?
O senhor Carlos Pradi, que era o proprietário, tinha  costume de só importar. Quanto faltava folha, ou a importação demorava, a fábrica parava e trabalhar e suspendia os operários, que ficavam sem ganhar. Quanto eu assumi a direção mudei este sistema. Quando não havia importação eu comprava no Rio e São Paulo e assim a fábrica nunca mais parou nem os funcionários ficaram sem trabalho.

20, A Metalografia Pradi fechou em que ano? 
Ela não fechou, apenas passou para a família Mararazzo. Depois que eu saí fiquei sabendo que venderam as máquinas de impressão em papel.

21. O senhor desligou-se da firma porque?
Por incompatibilidade com o genro que entrou na firma.

22. O senhor acha que os rótulos e as embalagens da litografia Pradi eram diferentes? Mais caprichados?
Tudo tem sua época. No tempo da litografia o freguês chegava, pedia um croqui e depois ele aprovava ou não.

23. Lembra de algum rótulo ou embalagem feito pela Metalografia e que tenha marcado?
Sei que nunca houve reclamação. Fazíamos rótulos para barricas de mate para o Leão Júnior, David Carneiro, mais um rótulo em particular, assim de cabeça não dá para lembrar. 

24. Chegou a fazer etiquetas para balas de coleção?
Acho que só fizemos as balas Zequinha. Mais tarde surgiram outras que não pegaram e eu nem lembro delas.

25. A concorrência com a Sociedade Metalgráfica era muito grande?
Era, porque eles se estabelecem no ramo de litografia em folha de flanders antes que nós. Geralmente quando chegavam clientes em nossa fábrica para consultar os preços já havia passado antes da Sociedade Metalgráfica. Mas nós tínhamos preferência por causa de nosso trabalho. A parte técnica de lataria, confecção de cunhos e matrizes era mais aperfeiçoada do que a deles.

26. Eles teriam então maior preocupação com a impressão propriamente dita do que com a confecção das latas?
É, eles se preocupavam mais com a impressão onde eram competentes, mas, na parte de confecção nós éramos melhores. Tanto que muitos fregueses iam de lá e depois nós é que pegávamos o serviço.

27. O senhor chegou a conhecer Schroerder e Kirstein que eram os técnicos da Sociedade Metalgráfica?
Conheci. O trabalho deles era perfeito, que era justamente a parte de impressão em folhas e em papel. Mas na parte de confecção de latas não. Acho que eles não eram diretores da parte de confecção de latas, pois o serviço não era tão perfeito.

28. A Metalografia Pradi não cogitou em contrata-los?
Não, não precisava e pelo contrário, não se davam bem. Eram muito combativos um com o outro. O senhor Carlos Pradi não gostava deles, e eles não gostavam do senhor Carlos porque eram concorrentes.

29. O senhor chegou a conhecer o Schroeder pessoalmente? E como era o seu trabalho?
Só sei que ele era um artista, nunca ouvi nada contra ele.

30. Ele teria sido um inovador?
Pode ser

31. E o Kirstein o senhor conheceu?
Era do mesmo ofício que o Guilherme Traple, transportador. Seu trabalho acho que era bom, porque a impressão da Metalgráfica era boa.

32. O senhor sabe alguma coisa sobre o início da fabricação da decalcomania?
A única firma que fazia era a deles.

33. A Metalografia nunca pensou em fabricar decalcomanias?
O Guilherme Traple tinha o projeto mas o Carlos Pradi nunca quis. Aliás, o serviço de decalcomanias na Sociedade era muito bom, pois eles tinham representantes de todo o Brasil.

34. Algumas pessoas dizem que a maioria dos litógrafos e técnicos em litografia eram de origem alemã. O senhor concorda?
Sim, eram todos alemães.

35. O senhor chegou a conhecer mulheres litógrafas?
Quando a gente estava com trabalho e precisava de litógrafo, levávamos para uma moça que morava na Silva Jrdim e que era funcionária efetiva da Impressora Paranaense. Era a Hedwin Krause.

36. Além da Dona Krause, o senhor conheceu mais alguma? Que tipo de serviço era feito pelas mulheres dentro de uma litografia?
Como litógrafa conheci a dona Krause. As outras mulheres só lidavam com papel, trabalhos de empacotamento.

37.  A Metalografia Pradi teria sido a segunda firma a imprimir em folhas de flanders no Estado?
Foi a segunda firma, depois da Sociedade Metalgráfica. Depois surgiu a Madalosso em Ponta Grossa.

38. Qual foi o primeiro endereço da Metalográfica Pradi?
O mesmo de hoje, Saldanha Marinho, n.º120. Na época de sua criação a indústria tinha a mesma fachada. Mais tarde foi adquirida a propriedade da rua Augusto Stellfeld, e a fábrica passou a dar frente para a outra rua.

39. Pode mostrar a evolução do maquinário de Matalografia Pradi?
Na fundação tínhamos apenas um prelo, guilhotina. Depois fomos aumentando, adquirindo mais prelos, máquinas só para imprimir papel e o prelo inicial passou então a imprimir apenas folhas de flanders. No começo as duas impressões eram feitas em uma máquina só.

40. O forte da produção de Metalografia Pradi pode-se dizer que era a impressão em folha?
Sim. Nós imprimíamos papel e folhas, mas o forte era mesmo as latas. No começo lavemos tempo fazendo as latas em branco. Só em 1926 é que iniciamos a impressão.

41. Por que a Metalografia Pradi não dispunha de um corpo próprio de litógrafos?
Porque não era preciso. O Guilherme Traple se relacionava com eles e sabia onde encontra-los para pedir serviço. Eles de um modo geral trabalhavam em casa e só algumas vezes, para aperfeiçoar alguns detalhes, é que passavam algumas horas na firma.

42. Porque a Metalografia Prado não dava a mesma prioridade a impressão em papel?
Porque esta parte de rotulagem tinha mais concorrência, então não era tão interessante para nós. Era melhor trabalhar mais com as filhas e concorrer somente com a Sociedade Metalgráfica. Mais tarde a Sociedade Metalgráfica fechou este setor, vendeu suas máquinas para o Senegaglia, ficou fazendo só decalcomanias e só nós imprimindo folhas de flanders. Porque o Senagaglia fazia latas mas não imprimia.

43. A medida em que o tempo foi passando, vários produtos que eram embalados em latas receberam outro tipo de invólucro madeira, papelão, papel e mesmo sacos plásticos. Por que?
Tentamos fazer caixas até para o mate mas não deu certo porque a madeira mudava o gosto do produto e não conservava tão bem. Depois passaram a fazer estas embalagens de papel em função do preço da folha de flanders, que é muito cara. Para se ter uma ideia, uma lata de azeite vazia, hoje, deve custar por volta de 2,00, só a embalagem, veja bem ...

44. Que tipo de problema surgia com a importação de matéria prima?
Antes da guerra não havia dificuldade nenhuma de importação. Era só pedir, aceitar o preço e pronto. Com os americanos era diferente, porque eles exigiam pagamento adiantado. Eu acabei  isto durante a minha gestão; só pagava quando enviavam a mercadoria, porque considerava esta exigência falta de confiança.

45. A Metalografia supria de latas comerciantes de outros Estados?
Não, só do Paraná e Santa Catarina.