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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 02

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

2. Panorama da produção gráfica no Paraná no século XIX (1850 - 1900) 

Em 1857 publicou-se o primeiro órgão literário paranaense, “O Jasmim”, em formato pequeno, que teve vida curta.

A década que se inicia em 1880 seria da mais alta significação para as atividades gráficas paranaenses. Poucos anos antes, fixara-se em Curitiba o dentista Luís Antonio da Silva Coelho, natural do Rio de Janeiro, o qual logo mobiliza ativo grupo de intelectuais e funda a “Revista Paranaense”, cujo primeiro número sai a 15 de junho de 1881 e no qual colaboraram diversos escritores e poetas; a revista seguia esmerado padrão gráfico e era impressa em excelente papel.


A grande inovação devida a Luís Coelho foi o prelo mecânico, que foi o posto a funcionar a 6 de outubro de 1880 e marcou época. Encorajado pelas novas perspectivas, de quem eram evidência o lançamento da “Gazeta Paranaense” e  do primeiro jornal em língua alemã, o “Der Pioner”, Luís Coelho vê chegado o momento de criar-se aqui uma litografia; faz contato, então, na Côrte com Narciso Figueras, desenhista catalão que trabalhara em gravura sobre pedra em Barcelona, o qual anima-se a vir para Curitiba. Aplicando algumas economias na aquisição de equipamentos para o seu estabelecimento, que instala por volta de 1884. A impressão litográfica era trabalhosa, exigindo talento para o desenho.


Quando Nivaldo Braga decide lançar, em 1887, a sua magnifica “Revista do Paraná”, já encontra a Litografia do Comércio, instalada por Figueras à rua Trajano, a estrutura litográfica indispensável. A composição tipográfica da revista era feita na tipografia Pêndula Meridional, que Luís Coelho adquirira e melhorara, permanecendo à Rua da Imperatriz (atual Rua das Flores), n,º 89. Ao ilustre lapeano se deve um dos primeiros “ex-libris” de Curitiba, rivalizando no pioneirismo com o do Dr. Joaquim de Almeida Faria.


Desavindo-se Nivaldo Braga e Narciso Figueras, decidiu este último a criar seu próprio periódico, a que deu o nome de “Galeria Ilustrada”, passando a divulgar as caricaturas desenhadas por ele próprio inspiradas na vida política local: sob o aspecto gráfico era da mais elevado qualidade, comáravel às melhores revistas brasileiras da época, ou mesmo dos grandes centros mundiais; mas era cara para o modesto padrão aquisitivo dos leitores curitibanos e paranaenses de então, e sua furação não se prolongou mais do que dezoito números.

A atividade tipográfica alcançara já elevada expressão, já se considerando os tipógrafos suficientemente numerosos e prestigiados para criar um órgão de classe, a que deram o nome de Agremiação Tipográfica. Segundo um relatório do presidente da Associação Comercial, em 1896 já havia sete tipografias em Curitiba. É de 1º de março o primeiro número do “Diário da Tarde”, o periódico de mais longa circulação no Paraná, sendo editado até hoje (1991).

A erva mate vivia momento excepcional nesse fim de década, impondo aos industriais paranaenses grande esforço de organização para atender às exigências crescente dos compradores estrangeiros. Começou-se substituindo o invólucro, que deixou de ser o surrão de couro cru e passou a ser a barrica de pinho, sugerida, anos antes, por André Rebouças; o novo recipiente já não precisava ser anônimo, com a bolsa de couro, e pedia etiqueta identificadora do fabricante e do importador. De início esses impressos ou rótulos eram simples e de uma só cor; aos poucos os compradores foram exigindo maior requinte, marcas fantasiosas, de rebuscado desenho e variada policromia. Inconformado com a estrutura incipiente de feição artesanal que prevalecia nas oficinas gráficas da cidade, decide Ildefonso Pereira Correia ─ O Barão do Serro Azul ─ reforçar essa atividade, fundando a Impressora Paranaense, que seria a rigor, sucessora da Tipografia Paranaense, com as suas instalações ampliadas com serviços complementares de litografia; foi instalada à Rua do Riachuelo, passando a operar em 1888 sob a gerência de Jesuíno da Silva Lopes, filho de Cândido Lopes.

A qualidade dos trabalhos da Impressora era tanta, que sua diretoria chegou a ser pressionada para que fabricasse papel-moeda falso em benefício da Revolução Federalista. Na obstante as dificuldades do momento, a produção foi consideravelmente diversificada, ensaiando-se novas técnicas de impressão, sobretudo no terreno da policromia, que era desconhecida no Paraná; para esse avanço contribuíram tanto a Escola de Belas Artes, fundada alguns anos antes por Mariano de Lima, como a criação de empresa concorrente, a Litografia de Alfredo Hoffmann, estabelecida à mesma Rua do Riachuelo, n.º 79, que embora com equipamento mais modesto, contava com excelente equipe de tipógrafos e um especialista em litografia chegada do Alemanha, centro mundial das artes gráficas até a Segunda Guerra Mundial.

São desse tempo trabalhos de algo nível artístico e que situam a capital paranaense em posição de vanguarda no país: ilustrações religiosas, rótulos, etiquetas industriais, diplomas, etc.

O consagrado litógrafo Francisco Folch, de Barcelona, fez contato com o Barão, então no auge do entusiasmo pela sua empresa gráfica, que o contrata imediatamente para a Impressora Paranaense. É a Folch que se deve grande parte do renome que laureou a produção curitibana e tão lisonjeiras impressões inspirou, em 1897, aos visitantes da Exposição Industrial do Rio de Janeiro, como bem registrou o cronista do “O Paíz”:
Em litografia e tipografia ainda não vimos produtos mais lindos feitos entre nós [...] desenhos admiráveis e nitidez surpreendente [...] côres, muito bem combinadas e produzindo a par da beleza dos desenhos, resultados magníficos.”


Com a trágica morte do Barão, o controle acionário da Impressora passa às mãos de sua viúva, que, após ter suas finanças recuperadas, resolve promover a publicação de obras de autores locais, criando-se, em 1900, a “Biblioteca da Impressora Paranaense”, com livros de esmerado padrão tipográfico, que justificou a publicação de um dos primeiros jornais de propaganda a sair no Brasil, com o nome da empresa.

O momento era indiscutivelmente propício às promoções culturais, à confecção de livros de categoria. Coube à Livraria Econômia imprimir em duas obras de maior alcance didático que Curitiba vira até então: a “História do Paraná” de Romário Martins e a “Corografia do Paraná” de Sebastião Paraná. A oficina do jornal em língua alemã “Der Neobachter” produzia a revista “Azul”, que, como o nome diz, era impressa em cor azul, com tipo, vinheta e outros detalhes decorativos de grande requinte, e com retratos dos autores em sépia, litografados por Augusto Stresser, o que lhe oferecia harmonioso contraste.

O renome de Curitiba como adiantado centro de Artes Gráficas fora destacado, em 1895, pelo retrato em composição tipográfica que, do Presidente Prudente de Moraes, fizera Fernando Moreira, jovem tipógrafo de “A República”, sendo feita tiragem em seda, trabalho inédito, tanto aqui como no estrangeiro, causador de surpresa e admiração aos que o examinam, alcançando o mais elevado estágio na arte tipográfica.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Miguel Raicosky e a Impressora Pontagrossense.

Apesar da transcrição datilografada estar faltando, foi localizada uma já digitalizada. O autor da transcrição original não está identificado. Por conta das pesquisas, acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

O sobrenome do seu Miguel é apresentado coma  grafia  de três maneiras, Raicosky, Raicoski e Raicosk, isso em três textos diferentes. Não tento contato com a família e, com a escassez de documentos sobre o tema,  não posso afirmar com exatidão com a grafia correta, mas pela questão da escrita a mais provável é com y no final.


Entrevista com Miguel Raicosky 

Foi um depois da missa das nove. Miguel Raicosky saiu da Catedral de Ponta Grossa acompanhado pelo sogro e foi olhar a oficina Gutemberg que estava à venda. Coisa pequena: um prelinho manual, uma guilhotina manual, tudo pequeno. Seu Miguel olhou, gostou e acabou comprando por 15 contos de réis. Começou a trabalhar por conta própria em agosto de 1939 e em 1932 com grande euforia, comprou um prelo a pedal. Em 1940 instalou também uma litografia na firma que já tinha então o nome fantasia de Impressora Pontagrossnese e razão social Traple e Raicosky.


Em seu depoimento, gravado em Curitiba no dia 18 de agosto de 1975, Seu Miguel fala das dificuldades de transporte para atender seus clientes do noite do país e conta que era atendido por três litógrafos de Curitiba que faziam aqui os desenho que seriam impressos em Ponta Grossa.


1. Por favor seu nome e data de nascimento. 

Miguel Raicosky Sobrinho, Nasci no dia 10 de junho de 1905 na cidade de Ponta Grossa onde sempre vivi e onde comecei a trabalhar aos 10 anos de idade, em cima de um caixão para poder alcançar a mesa de trabalhos gráficos no Diário dos Campos. Nesta época, o jornal tinha como redator chefe o jornalista Hugo Borges dos Reis que depois transferiu-se para São Paulo.
 
2. Desde o início de sua vida profissional dedicou-se a funções gráficas?  

É, do Diário do campos fui trabalhar na Litografia Guimarães e de lá passei para o meu próprio estabelecimento no ano de 1929. Na firma do Guimarães fui chefe do departamento de tipografia.
 
3. Quando abriu o seu próprio estabelecimento o que produzia?  

Bem, eu soube que uma pequena oficina de Ponta Grossa estava à venda, coisa pequena, um prelinho manual, guilhotina manual, tudo pequeno. Então, no domingo, depois da missa das nove horas, saí da catedral em companhia do meu sogro e fui visitar a Tipografia Gutemberg que já estava fechada por um desentendimento entre seus sócios. Olhei tudo, achei que podia começar ali o meu próprio negócio e acabei comprando por 15 contos de réis. Comecei a trabalhar no dia 29 de agosto de 1929. Já em 1932 fui melhorando e comprei meu prelo com pedal.
 
4. Qual era a produção em sua fase inicial?  

Bem, os funcionários eram somente eu e mais três meninos, quer dizer, eu mesmo cortava o papel, fazia as provas, imprimia, entregava ... 
 
5. Começou a fazer rótulos desde o início?  

Não, comecei fazendo só tipografia: papel de carta, notas, duplicatas, cartões, fichas, essas coisas para o escritório. Só mais tarde é que fomos comprando maquinário, ampliando nosso trabalho, iniciamos a impressão litográfica e começamos a fazer rótulos.
 
6. As máquinas litográficas foram compradas na Alemanha?  

Não, compramos em São Paulo, de uma oficina gráfica que estava em reforma, adquirindo equipamento mais moderno. Inicialmente compramos 3 prelos mais tarde compramos outra máquina do Fontana, porque as emendas eram muitas e não estávamos dando conta.
 
7. Quando começou a trabalhar na litografia onde foi buscar os profissionais? 

Olha, o principal funcionário da fase da litografia era o Guilherme Traple, admitido desde o início como sócio, pois inclusive o nome do estabelecimento era Raicosky e Traple. O Guilherme já era profissional no ramo da litografia em Curitiba antes de transferir-se para Ponta Grossa. Já havia trabalhado na Metalgráfica Pradi e era um bom técnico. Quando decidiu ir à nossa cidade empregou-se inicialmente na oficina do Madalosso que trabalhava com latas.
 
8. Em que data a tipografia passou a ser também litografia? 

Bem, de 1929, data em que abri a oficina, até o ano de 1940 era tipografia e papelaria. Só a partir de 1940 é que começamos a trabalhar com as pedras, na rua XV de novembro , n.º 444. De início tínhamos 14 funcionários e, apesar da razão social da firma ser Raicosky e Traple, o noem fantasia era Impressora Pontagrossense. Este foi o segundo nome da firma que até então denominava-se Tipografia Expresso.
 
9. Nesta época Ponta Grossa contava com muitas litografia?  

Não, a nossa era a única.
 
10. Mas não foi a primeira ...  

A segunda. Primeira foi a do Guimarães, que operava com o sistema de pedras e máquinas planas. Foi nela, aliás, que tive o meu primeiro contato com a impressão litográfica, pois apesar de ser diretor da tipografia sempre dava uma mão na parte litográfica. Houve ainda outra firma que já citei, do Madalosso, que só trabalhava com latas.
 
11. Das litografia de Curitiba a parte técnica sempre esteve sob responsabilidade de alemães em Ponta Grossa também?  

Também, também. Naquela época os profissionais que trabalhavam em pedra ou tinham nascido na Alemanha ou eram descendentes de alemães. O próprio Seu Emilio que era mestre do Guimarães era nascido na Alemanha.

12. A litografia Guimarães terminou em que ano?  

Calculo que tenha terminado no ano de 1935.
 
13. E os desenhistas ou cromistas?  

Olha, é engraçado. Algum desenho era feito lá mesmo, em Ponta Grossa, mas muito pouco. A maior parte deste trabalho era executada em Curitiba. Tínhamos aqui um grupo de desenhistas vinculados a outras impressoras e que trabalhavam também para nós.
 
14. Mas como é que trabalhavam: eram vinculados a Impressora Pontagrossense ou trabalhavam para o Senhor como freelancer?

Eles não tinham vínculo com a minha Impressora. Trabalhavam particularmente. A gente trazia o serviço a Curitiba, eles executavam e depois nos mandavam. Fazia aqui inclusive as matrizes. Gravavam em zinco e depois a gente, lá em Ponta Grossa, tirava a cópia que seria transportada para a pedra matriz da máquina. Estes desenhistas eram todos de origem germânica, estavam ligados a outras impressoras e faziam o nosso trabalho em casa à noite, ou nos fins de semana.
 
15. Lembra o nome destes desenhistas?  

Sempre foram os mesmos: Otto Schnneck, Alfredo Oeler e Albino  Hoetlich.
 
16. Devia ser muito difícil trabalhar em Ponta Grossa dependendo dos desenhistas de Curitiba, se eram eles que deviam criar o rótulo, que antes de ser executado precisava ser apresentado a apreciação do freguês ... 

Era muito complicado mesmo. Mas de um modo em geral o freguês já trazia a ideia e, raramente, pedia uma criação nossa. Fazíamos o croqui, submetíamos a apreciação e dificilmente eram feitas alterações. Mas quem desenvolvia esta ideia era o desenhista que era o elemento mais criativo, o profissional mais qualificado.
 
17. Quer dizer que os desenhistas não eram registrados como funcionários da sua empresa. Não eram registrados, não. Aceitavam encomendas e recebiam por trabalho realizado.

 
18. E o trabalho do desenhista era caro?  

Olha, para a época era bem cobrado. Na verdade era um trabalho mais especializado, de profissional qualificado. Pela capacidade que tinham, era justo cobrar um bom preço. Depois o trabalho que faziam não era um trabalho comum então o preço era alto. Mas compensava, porque não podíamos prescindir deles.
 
19. Os fregueses da litografia eram só de Ponta Grossa? 

Tínhamos uma clientela muito boa em Ponta Grossa mas trabalhávamos muito para o Rio Grande do Sul, aquela região de Caxias, Bento Gonçalves e mais tarde fizemos também para o Norte do país, principalmente para engenhos de açúcar de Pernambuco. Tínhamos inclusive um representante nosso em Recife.

20. E a Impressora Pontagrossense tinha condições de atender todos os pedidos? 

Naquela época havia muita dificuldade de transporte, o serviço ficava encaixotado um tempão antes de chegar no destinatário. Era comum uma mercadoria ficar mais de um mês no Porto de Paranaguá esperando embarque, fora o tempo da viagem em si. Quer dizer, não havia capital que chegasse para trabalhar assim ... eram todos serviços grandes que ficavam parados depois de prontos e a gente esperando receber ... Além disso, como o desenvolvimento do Noite é mais recente, ele dependiam do Sul nesta parte de rotulagem e os pedidos eram muitos. Basta dizer que nós, particularmente atendíamos apenas 20% dos pedidos que recebíamos, não tínhamos condições de produzir mais, pois trabalhava-se como regra em prazos de 60 dias devido a demora do transporte.
 
21. Qual era o maquinário da litografia?  

Tínhamos 4 prelos e uma quantidade enorme de pedras. E todo o material empregado era importado: as próprias pedras, o papel telure, o material técnico para transporte ..

22. Até que ano a Impressora Pontagrossense trabalhou com pedras litográficas?  

Até o ano de 1945 quando partimos para o sistema Offset.
 
23. Porque decidiu a trocar a litografia pelo novo processo? 

Porque já estávamos sentido necessidade de maior produção e também de maior qualidade. O novo sistema apresentava uma tecnologia mais avançada e dava melhores condições de trabalho.
 
24. Os mesmos funcionários que trabalhavam com a litografia foram assimilados no nosso sistema?  

Alguns foram aproveitados, outros, no entanto, tiveram que ser substituídos.
 
25. A Impressora Pontagrossense terminou ou a Cartográfica Industrial, sediada em Curitiba é sua continuação? 

Bem, em 1963 montamos a firma aqui com o nome fantasia de Cartográfica Industrial, caracterizada com filial da Impressora Pontagrossense que permaneceu operando ainda por mais 2 anos em Ponta Grossa. Daí então fechamos a firma lá, eu me aposentei, e só ficou a Cartográfica que é dirigida por meus filhos. Eles começaram a trabalhar comigo desde pequenos. Hoje a firma é dirigida por Luís Norton Raicoski, diretor, técnico, Edos e Aronides Raicoski.

terça-feira, 12 de março de 2013

Artigo sobre a Litografia Paranaense: Jornal da Tarde 1976

Digitalização do artigo do Jornal da Tarde, publicada em 20 de julho de 1976. Transcrito do original por Alan Witikoski para aplicação em pesquisa acadêmica. Todo o crédito, assim como a escrita original, está mantida. O autor não está indicado no artigo.

Está matéria inicia uma série de três, com os resultados de uma pesquisa realizada em torno dos cartões postais que circulavam ou foram impressos em Curitiba no inicio do século, mostrando vários aspectos do passado. Desde os rudimentos de nossa publicidade, alguns humoristas e suas caricaturas, até os tiques sociais tradicionais, presentes em piqueniques onde as moçoilas sempre de vestido branco e comprido, chapéu, ou as festas escolares de fim de ano, professores encharpelados, alunos de calças e suspensórios. E mostra, também o inicio das artes gráficas em Curitiba, e o que era possível fazer, com os recursos disponíveis na época. Época em que a impressão era feita através de pesadas pedras calcáreas importadas.

[Primeira Chamada] O passado Ilustrado – I

[Segunda Chamada] Da prensa manual, às gravações e relevo.

Mais que uma forma de servir como instrumento para troca de correspondência, os cartões postais, no inicio do século, eles próprios, tinham suas mensagens a passar, extrapolando as imagens atuais, restritos hoje quase que exclusivamente a paisagens, e quando muito animais ou temas folclóricos. As temáticas dos velhos cartões postais uma série de colocações tanto na cultura, como das preocupações, e dos valores estéticos da época.
Na exposição, segunda Semana do Colecionado - Memória Visual que abre as 20h30min desta sexta-feira, na Casa Romário Martins. Poderão ser analisados cartões postais humorísticos, de publicidade, ou litografados com detalhes em seda, documentando paisagens urbanas, misses do passado, o folclore alemão, a moda feminina e masculina das décadas de vinte e trinta, e entre outras coisas, elencos de companhias teatrais, de ópera e circos que se apresentaram em Curitiba no inicio do século. Entre os cartões mais diferentes dos atuais, aquele, alusivo a um crime cometido por uma moça alemã em 1907, que vem ilustrado com a fotografia da própria e a legenda: “A Filha do prefeito de Beier a qual assassinou o seu noivo, engenheiro-chefe Pressler, no dia 14 de maio de 1907, foi executada à tiros a 23 de julho às 06:30 horas da manhã em Freiburg.”

Influência Alemã

Nesta exposição serão mostrados os 114 painéis contendo cada um, entre oito e onze postais, reunidos em acervos de quatro famílias: Bassler, Doubek, Raschndorfer e Stenzel – pelo litografo, desenhista e colecionador Rodolfo Doubek, que além de colecionador, trabalhou com postais indiretamente, fazendo e desenhando as legendas para aqueles com paisagens do interior e o litoral do Paraná e Santa Catarina, fotografado por Arthur Wischral, a partir da década de vinte. Doubek é descendente de alemães, assim como o são as quatro famílias em cujos “porões” andou pesquisando e procurando material, fato que não pode ser colocado como uma simples coincidência. Na verdade, tanto os postais estrangeiros que circularam em Curitiba no inicio do século, como aqueles que eram feito aqui mesmo, trazem uma forte influencia alemã. Por várias razões.
A primeira delas diz respeito as artes gráficas, e ao próprio processo de impressão em utilização nesta época, a litografia, que surgiu na Alemanha e naquele mesmo país teve seu maior desenvolvimento inicial. Tanto assim que ao ser introduzida no Brasil, era comum que nossas primeiras empresas gráficas mandassem buscar técnicos no exterior: Espanha, Itália, Suíça, mas especialmente na Alemanha. A própria Impressora Paranaense, nossa gráfica antiga de maior tradição, costumava, inclusive a mandar seus técnicos estrangeiros para sistemáticos cursos e estágios de atualização em uma importante escola de Ley Pazag naquele país.
Lógico, portanto que importássemos maior quantidade deste material da Alemanha, do que de outros países mesmo costumavam importar também de lá os cartões postais.
Outro fator que se relaciona intimamente com este é o que diz respeito a própria presença alemã no Paraná também desde o início deste século e final do século passado. Quando em 1862 se iniciava e posteriormente se intensificava a imigração teuta. Curitiba sempre ficou entre as cidades paranaenses escolhidas para fixação de residência de muitos alemães, cuja presença se fez notar, em curto espaço de tempo, no vários ramos de atividade da cidade, incluindo-se a indústria, o comércio, as instituições culturais e esportivas. Um exemplo pode ser tomado do próprio nome de estabelecimentos tradicionais “Painos Essenfelder”, “Fábrica de Balas, Doces e Bolachas Lucinda” (que já foi também confeitaria tradicional no centro da cidade e destilaria que produzia inclusive “Whisky”), “Müller e irmãos”, “Impressora Paranaense” (gráfica das mais antigas, que já no início do século fazia impressões para todos o país, e rodou o jornal Dezenove de Dezembro, o primeiro da imprensa paranaense), “Decalcomanias Fontanta”, ou “Sociedade Metalgráfica” (na qual trabalhavam dois alemães Schroeder e Kirstein, pioneiros da litografia no Paraná e introdutores da decalcomania no Brasil), antiga “Cervejaria Providência” (de Luiz Leitner, que produziu a primeira cerveja de baixa fermentação no parque Batel). Também a antiga “Sociedade Beneficente Rio Branco”, o “Clube Concórdia”, a “Sociedade de Educação Física Duque de Caxias”, “Sociedade Beneficente Cabral”, “Graciosa Country Club”, “Sociedade Thalia” são entidades sociais-esportivas fundadas pelos alemães, além do “Coritiba Futeboll Club” que é de origem alemã “coxa branca” alemã.

Artes Gráficas

Este presença se fez notar em outros tantos estabelecimentos não mencionados, como a antiga e extinta há pouco tempo Casa Crystal de Lourival Wemdrel, e entre outras atividades, no próprio ensino, com a criação de colégios como o Bom Jesus e Divina Providência, e no pioneirismo de criação de um rudimentar primeiro Corpo de Bombeiros que atendia a colônia, antes da cidade ter sua própria corporação. Esta influência estendeu-se como não podia deixar de ser ao campo da fotografia, tão intimamente ligada as artes gráficas. Assim, entre os estabelecimentos primeiros na cidade, os estúdios mais importantes e com propriedade de Volk, Fleury, Weiss, (que funciona até hoje na rua Marechal Deodoro, sob o nome pitoresco de Studio Moderno), e Heissler, que dominaram em fotografia até as primeiras décadas deste século. As papelarias não fugiram a esta regra: Mas Roesner, João Haupt, a recém extinta Cesar Schalz. Destas papelarias, as importações de artigos estrangeiros (numa época em que quase tudo o que consumíamos era importado) eram efetuadas, de preferência e em maior no país de origem dos seus proprietários, isto é, na Alemanha. Assim, no que concerna à cartões postais, estes, em sua maioria provinham mesmo da Alemanha. E, como as papelarias de alemães eram preferidas pela colônia alemã estabelecida em Curitiba, os cartões eram adquiridos e utilizados como sistemático hábito social. Na cidade e no Estado.
A vanguarda dos alemães em artes gráficas e especialmente em fotografia pode ser observada nos riquíssimos detalhes que envolviam a execução de um simples cartão postal. Entre aqueles que serão mostrados pela Casa Romário Martins, muitos com detalhes em seda, purpurina, em alto relevo, verdadeiros trabalhos artísticos e admiráveis se levar em conta principalmente na litografia, todas as provas e mesmo a matriz de impressão precisava ser desenhada em pedra. Mas pedra calcárea (que também era importada) pesadíssima, difícil inclusive de ser removida de uma prancheta a outra, que exigia para isso, um suporte especial, na base da alavanca. Se um cartão era feito em quatro, cinco ou seis cores (e eles eram bastante comuns), cada cor exigia uma prova separada; quer dizer, eram necessárias então, seis ou sete pedras calcáreas. Os cartões com detalhes em dourado (purpurina, ou como era mais conhecido o material “ouro em pó”), ocorria nas gráficas em verdadeiro carnaval: bem no início de utilização do material, não haviam máquinas específicas para a sua aplicação que ocorria manualmente, na seguinte situação: abria-se uma mesa no quintal da gráfica, e os funcionários iam colocando o pó para aderir a uma cola já aplicada dourada. Acontece que o pó se espalhava pelo ar, e bronzeava a mesa, e os próprios funcionários ...

A difícil Impressão

Na verdade o processo de impressão sofreu uma evolução muito grande neste século, acompanhada por alguns estabelecimentos gráficos da cidade, As máquinas iniciais, conhecidas com máquina de Gutemberg eram utilizados tipos móveis e no caso da litografia nossos estabelecimentos primeiros usavam a pedra, devidamente preparada, onde se passava o rolo de tinta e um pano molhado em água, à mão ...
Depois a prensa era girada, de maneira a produzir pressão sobre o papel colocado sobre a placa, de modo que a tinta passasse da placa para o papel. Este foi o começo, e pode-se dizer, num processo semi-mecanizado, com as tais “prensa de transporte”. Somente por volta de 1907 ou 1908 talvez pouco antes, sobreveio a grande invenção e grande aperfeiçoamento das máquinas chamadas “litográficas rápidas”. Estas eram movidas a motor, e já não havia mais a necessidade de se passar um pano úmido nas pedras. A máquina, correndo automaticamente, no vai e vem, passava ela própria pelo rolo de tinta e pelo rolo de água. Pelo processo de cilindro que corria sobre a pedra, a folha era levada automaticamente, só que ainda margeada a mão.  Só bem mais tarde é que se desenvolveu nos Estados Unidos, o sistema de impressão offset que veio substituir com vantagens as máquinas rápidas. Foi aí o início da impressão indireta, processo considerado moderno até hoje, com gradativas evoluções.
O trabalho e os resultados alcançados pela litografia realçam ainda mais, quando se leva em conta, o número infinito de problemas que precisavam ser enfrentados pelos técnicos da época. A começar pelos resíduos de areia, presentes no papel utilizando para a impressão. Segundo Oscar Scharpp, da Impressora Paranaense, o problema provinha da capacidade do papel ser uma consequência de mistura do caulim dentro de uma massa. “O caulim puro não contem areia, mas o cailum utilizado nas fábricas de papel continha e areia suficiente para inclusive estragar as chapas de impressão. Um grão de areia puxado sobre a pedra deixava um sulco profundo que por sua vez armazenava tinta, e qualquer risco passava então a compor também a impressão como um detalhe adicional inesperado. Toda a sujeira aparecia na hora da impressão, era uma coisa tremenda que só foi superada com o tempo.”

A Lenta Evolução

Este aspecto, especifico em relação a evolução das artes gráficas, é um dos atrativos da exposição, segunda Semana do Colecionador Memória Visual. Ela permita toda uma avaliação dos recursos disponíveis da época e dos resultados alcançados com eles, e a evolução do próprio formato do cartão postal, inicialmente indeciso, as vezes em forma de algum objeto especifico – como um pandeiro – outros ainda menores que os atuais, e outros, com a ilustração ovalada, tendo o cartão retangular como moldura. Outro aspecto que sobressai ainda na exposição é o próprio hábito de se colecionar cartões postais, que se restringem ao passado. É lógico que eles continuam a ser fabricados, vendidos, guardados e consumidos. Mas não como antigamente. Talvez hoje muitos viajantes prefiram mesmo utilizar o DDD, o telegrama, o telex. Ou talvez ainda, por que os cartões atuais “não digam mais como diziam antes”, o que pode causar graves exclamações de algumas pessoas idosas, do tipo “já não se fazem mais cartões postais como antigamente”.
na verdade, em épocas passadas, os cartões funcionaram , quem sabe, como os almanaques, e as atuais revistas de curiosidades humorísticas e de fofocas, pois além da ilustração carregavam toda uma mensagem. Fosse referente a concluso de Miss Universo realizado no Brasil, e que se acontecesse hoje seria documentado pelas revistas Manchete, Ou fatos e Fotos, ou o crime da filha do prefeito de uma cidade alemã que de também se ocorresse hoje, seria Manchete no jornal O Globo, daria uma ponta em Fantástico, e receberia mil crônicas, talvez uma série de reportagens, do cronista, Carlos Heitor Cony. E os cartões postais humorísticos, quem sabe, substituíssem no inicio do século, as revistas de crítica e humor, como mais tarde aconteceram em Curitiba, com o nome de Bomba, ou Olho da Rua, e tanta outras. E serviram, sem sombra de dúvidas, para que a colônia alemã estabelecida no Paraná cultivasse seus valores culturais, as tradições de sua terra natal, e o folclore e paisagem, naqueles cartões repletos de trevos, porcos como símbolo de sorte, miosótis, árvores natalinas cobertas de neve, Papais Noéis avermelhados, castelo, igrejas velhíssimas, duendes e anões. E a Alemanha, sob todos os ângulos e aspectos: desde a reprodução de seus quadros famosos, até a documentação de seus crimes “bombásticos” como aquele da filha do prefeito. E até, e porque não, cartão postal contendo o menu de um navio de terceira classe do Loyd Alemão, oferecendo para o jantar, entre outras coisas, batata cozida,  ou ainda os cartões postais feitos aqui especialmente para serem vendidos e com seus recursos auxiliarem os órfãos e viúvas da guerra.