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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 02

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

2. Panorama da produção gráfica no Paraná no século XIX (1850 - 1900) 

Em 1857 publicou-se o primeiro órgão literário paranaense, “O Jasmim”, em formato pequeno, que teve vida curta.

A década que se inicia em 1880 seria da mais alta significação para as atividades gráficas paranaenses. Poucos anos antes, fixara-se em Curitiba o dentista Luís Antonio da Silva Coelho, natural do Rio de Janeiro, o qual logo mobiliza ativo grupo de intelectuais e funda a “Revista Paranaense”, cujo primeiro número sai a 15 de junho de 1881 e no qual colaboraram diversos escritores e poetas; a revista seguia esmerado padrão gráfico e era impressa em excelente papel.


A grande inovação devida a Luís Coelho foi o prelo mecânico, que foi o posto a funcionar a 6 de outubro de 1880 e marcou época. Encorajado pelas novas perspectivas, de quem eram evidência o lançamento da “Gazeta Paranaense” e  do primeiro jornal em língua alemã, o “Der Pioner”, Luís Coelho vê chegado o momento de criar-se aqui uma litografia; faz contato, então, na Côrte com Narciso Figueras, desenhista catalão que trabalhara em gravura sobre pedra em Barcelona, o qual anima-se a vir para Curitiba. Aplicando algumas economias na aquisição de equipamentos para o seu estabelecimento, que instala por volta de 1884. A impressão litográfica era trabalhosa, exigindo talento para o desenho.


Quando Nivaldo Braga decide lançar, em 1887, a sua magnifica “Revista do Paraná”, já encontra a Litografia do Comércio, instalada por Figueras à rua Trajano, a estrutura litográfica indispensável. A composição tipográfica da revista era feita na tipografia Pêndula Meridional, que Luís Coelho adquirira e melhorara, permanecendo à Rua da Imperatriz (atual Rua das Flores), n,º 89. Ao ilustre lapeano se deve um dos primeiros “ex-libris” de Curitiba, rivalizando no pioneirismo com o do Dr. Joaquim de Almeida Faria.


Desavindo-se Nivaldo Braga e Narciso Figueras, decidiu este último a criar seu próprio periódico, a que deu o nome de “Galeria Ilustrada”, passando a divulgar as caricaturas desenhadas por ele próprio inspiradas na vida política local: sob o aspecto gráfico era da mais elevado qualidade, comáravel às melhores revistas brasileiras da época, ou mesmo dos grandes centros mundiais; mas era cara para o modesto padrão aquisitivo dos leitores curitibanos e paranaenses de então, e sua furação não se prolongou mais do que dezoito números.

A atividade tipográfica alcançara já elevada expressão, já se considerando os tipógrafos suficientemente numerosos e prestigiados para criar um órgão de classe, a que deram o nome de Agremiação Tipográfica. Segundo um relatório do presidente da Associação Comercial, em 1896 já havia sete tipografias em Curitiba. É de 1º de março o primeiro número do “Diário da Tarde”, o periódico de mais longa circulação no Paraná, sendo editado até hoje (1991).

A erva mate vivia momento excepcional nesse fim de década, impondo aos industriais paranaenses grande esforço de organização para atender às exigências crescente dos compradores estrangeiros. Começou-se substituindo o invólucro, que deixou de ser o surrão de couro cru e passou a ser a barrica de pinho, sugerida, anos antes, por André Rebouças; o novo recipiente já não precisava ser anônimo, com a bolsa de couro, e pedia etiqueta identificadora do fabricante e do importador. De início esses impressos ou rótulos eram simples e de uma só cor; aos poucos os compradores foram exigindo maior requinte, marcas fantasiosas, de rebuscado desenho e variada policromia. Inconformado com a estrutura incipiente de feição artesanal que prevalecia nas oficinas gráficas da cidade, decide Ildefonso Pereira Correia ─ O Barão do Serro Azul ─ reforçar essa atividade, fundando a Impressora Paranaense, que seria a rigor, sucessora da Tipografia Paranaense, com as suas instalações ampliadas com serviços complementares de litografia; foi instalada à Rua do Riachuelo, passando a operar em 1888 sob a gerência de Jesuíno da Silva Lopes, filho de Cândido Lopes.

A qualidade dos trabalhos da Impressora era tanta, que sua diretoria chegou a ser pressionada para que fabricasse papel-moeda falso em benefício da Revolução Federalista. Na obstante as dificuldades do momento, a produção foi consideravelmente diversificada, ensaiando-se novas técnicas de impressão, sobretudo no terreno da policromia, que era desconhecida no Paraná; para esse avanço contribuíram tanto a Escola de Belas Artes, fundada alguns anos antes por Mariano de Lima, como a criação de empresa concorrente, a Litografia de Alfredo Hoffmann, estabelecida à mesma Rua do Riachuelo, n.º 79, que embora com equipamento mais modesto, contava com excelente equipe de tipógrafos e um especialista em litografia chegada do Alemanha, centro mundial das artes gráficas até a Segunda Guerra Mundial.

São desse tempo trabalhos de algo nível artístico e que situam a capital paranaense em posição de vanguarda no país: ilustrações religiosas, rótulos, etiquetas industriais, diplomas, etc.

O consagrado litógrafo Francisco Folch, de Barcelona, fez contato com o Barão, então no auge do entusiasmo pela sua empresa gráfica, que o contrata imediatamente para a Impressora Paranaense. É a Folch que se deve grande parte do renome que laureou a produção curitibana e tão lisonjeiras impressões inspirou, em 1897, aos visitantes da Exposição Industrial do Rio de Janeiro, como bem registrou o cronista do “O Paíz”:
Em litografia e tipografia ainda não vimos produtos mais lindos feitos entre nós [...] desenhos admiráveis e nitidez surpreendente [...] côres, muito bem combinadas e produzindo a par da beleza dos desenhos, resultados magníficos.”


Com a trágica morte do Barão, o controle acionário da Impressora passa às mãos de sua viúva, que, após ter suas finanças recuperadas, resolve promover a publicação de obras de autores locais, criando-se, em 1900, a “Biblioteca da Impressora Paranaense”, com livros de esmerado padrão tipográfico, que justificou a publicação de um dos primeiros jornais de propaganda a sair no Brasil, com o nome da empresa.

O momento era indiscutivelmente propício às promoções culturais, à confecção de livros de categoria. Coube à Livraria Econômia imprimir em duas obras de maior alcance didático que Curitiba vira até então: a “História do Paraná” de Romário Martins e a “Corografia do Paraná” de Sebastião Paraná. A oficina do jornal em língua alemã “Der Neobachter” produzia a revista “Azul”, que, como o nome diz, era impressa em cor azul, com tipo, vinheta e outros detalhes decorativos de grande requinte, e com retratos dos autores em sépia, litografados por Augusto Stresser, o que lhe oferecia harmonioso contraste.

O renome de Curitiba como adiantado centro de Artes Gráficas fora destacado, em 1895, pelo retrato em composição tipográfica que, do Presidente Prudente de Moraes, fizera Fernando Moreira, jovem tipógrafo de “A República”, sendo feita tiragem em seda, trabalho inédito, tanto aqui como no estrangeiro, causador de surpresa e admiração aos que o examinam, alcançando o mais elevado estágio na arte tipográfica.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 01

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 
Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski

1. O início da Produção gráfica oficial no estado do Paraná.


A atividade artesanal e artística em Curitiba, reduzidíssima até meados do século passado, vai adquirindo alguma intensidade a partir da emancipação da Província, em 1853, coincidindo com a implantação de novos serviços, decorrentes de novas necessidades, exigências e prerrogativas de capital, e com o momento imigratório que se engrossa sobretudo com profissionais urbanos e artesãos. 

Uma das caras mais tradicionais curitibanas, a da especialidade de artes gráficas, começa nessa época. Com a instalação da Província, figurou, no plano administrativo do Presidente Zacarias Goes e Vasconcelos, a instalação de uma tipografia que facilitasse a publicação dos atos de seu governo. Isso fez com que se transferisse para a nova província um profissional da arte de imprimir; aceitou a empreitada pioneira Cândido Martins Lopes, de Niterói. Para Curitiba trouxara, apenas, “pesada mesa de ferro, com prancha de composição e o tosco mecanismo que devia fixá-la. Por cima o rolo de correr; as caixinhas de tipo, algum material acessório, ferramentas”; com tal acervo constituiu a Typograpia Paranaense, a valor, cuja sede provisória instala no número 8 da rua das Flores, mudando-a pouco depois para o número 13. A 1º de abril de 1854 saía o primeiro número de “O Dezenove de Dezembro”, data na qual passou-se a comemorar o dia da Imprensa Paranaense.

Para publicação de atos oficiais, a folha recebia uma subvenção mensal de sessenta mil réis, como se depreende da leitura do próprio “O Dezenove de Dezembro”, na sua edição de 10 de junho de 1854, parte oficial, expediente  do dia 1º de maio de 1854:
Ao inspector interino da tesouraria. ─ Mande V.S. pagar ao proprietário da Typographia Paranaense Candido Martins Lopes, ou à pessoa a ele autorizada, a quantia de quatro centos mil réis por conta da prestação mensal de sessenta mil réis, que tenho marcado pela impressão dos actos officiaes no jornal Dezenove de Dezembro, que deve ser contado do passado mez de abril em diante.” 
No entanto, essa informação é contradita no “Relatório” do Presidente de 1º de julho de 1854:
”Devo dizer-vos, que tendo a tipografia vindo espontaneamente, nenhuma subvenção recebeu nem recebe do governo da Província, que limitou-se a fazer assinar uma porção de números de periódico para mandar distribuir por diversas autoridades e corporações, visto publicar o seu expediente.”
 
Durante toda a atividade de suas oficinas, o “Dezenove de Dezembro” constituiu-se em verdadeiro centro de aprendizado tipográfico e redatorial. Aquele que pode ser considerado o primeiro livro de grande porte publicado em Curitiba (com 203 páginas, sendo que os três anteriores meros folhetos ou livretos) vem à luz em 1863 pela Typographia Paranaense, o “Apontamento sobre suspeições e recusações Juriciário ...”, do bacharel Luís Francisco da Câmara Leal, a quem devemos a criação da Biblioteca Pública do Paraná. E, no final de 1880 ou inicio de 1881, a Typhographia imprime o possível primeiro livro de versos editado em Curitiba, “Sertaneja”, de autoria de Gabriel da Silva Pereira. O “Dezenove de Dezembro” deixa de circular em 1890, por não aceitar imposições políticas, sendo substituído, a 21 de abril, e usando-se as mesmas oficinas, pelo “Diário do Paraná”, órgão da União Republicana, dirigido por Nestor Victor.  Essas mesmas oficinas dariam vida, mais tarde, à Impressora Paranaense, como ver-se-á adiante.