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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Artigo sobre a Impressora Pontagrossense

Da Impressora Pontagrossense pouca coisa foi preservada um balanço realizado 30 de dezembro de 1950, um exemplar do Jornal da Manhã de Ponta Grossa, em sua edição de 25 de janeiro de 1964, um exemplar da Revista Operária de Ponta Grossa do dia 30 de novembro de 1929, uma lista de preços do antigo estabelecimento gráfico Express e um exemplar da revista Vida Princesina de novembro-dezembro de 1952.

O artigo da Revista Princesina tem como título “Raiscosk e Traple” e inicia assim:
Tivemos o agradável ensejo em visitarmos nesta cidade a conceituada e acreditada firma Raicosk e Traple, da qual são componentes os nossos prezados patrícios senhores, Miguel Raicosk e Guilherme Traple, autêntico vanguardeiros no comércio tipográfico na Princesa do Campos. Teve o seu marco inicial em 28 de agosto de 1929, quando um grupo de profissionais resolveu criar nesta cidade, em modesta tenda, uma oficina tipográfica que pelo labor continuo de seus componentes, chegou a suprir em grande parte a necessidade dos nossos meios comerciais, avançando sempre para a senda do progresso, pois cada ano que transcorria mais se avolumava seu capital, seus maquinários, acompanhando em cada fase a evolução natural do ciclo artísticos das composições e o perfeito acabamento das encomendas que lhes foram confiadas”.
 
E no segundo parágrafo: 
Hoje, do remanescentes daquele pugilo de denodados trabalhadores avulta a figura laboriosa de Migual Rascoski Sobrinho, que em 1940 prevendo as necessidades do meio, o progresso de nossa terra, sentiu a necessidade de melhor ampliar o seu comércio se aliando sem sociedade ao profundo conhecedor do “metier” Sr. Guilherme Traple, verdadeiro artista do ramo, criação da Impressora Pontagrossense, firma esta de elavado crédito, que gira com um capital equivalente a mais de 2 milhões de cruzeiros.”
 
Depois de enumerar a produção tipográfica da Impressora Pontagrossense o artigo prossegue abordando a figura de Guilherme Traple que “como acima dissemos é um artista na verdadeira concepção da palavra, pois à sua pessoa está confiada a secção de litografia que produz com rara perfeição todo  serviço no gênero, em cores variadas, desenhos artísticos para cartazes, rótulos em geral, materiais para propaganda, etc.
 
Alusões ao parque gráfico: 
ainda recentemente foi adquirido, sob importação alemã, uma autêntica “ORIGINAL HEIDELBERG”, máquina automática que imprime um mínimo de 5 mil exemplares. Outra conquista de vulto consiste na compra recentíssima de uma rotativa para impressão, com tinta de anilina e clichês de borracha, com rebobinador, cortador de folhas, cortador longitudinal e transversal, em 3 cores, o que vem concorrer para a presteza e perfeição absoluta no concernente aos pedidos ou encomendas que esta firma vem atendendo, não só do nosso estado, mas também e todos os recantos do país. Outra secção digna de citação é a de fabrico de caixas em geral, para calçados, bombons, erva-mate, etc.
  
Os senhores Raicosky e Traple, cavalheiros de fino trato, mantém sob sua orientação nada menos de 50 operários, hábeis e capacitados, que são verdadeiros amigos de seus chefes, pois trabalham em ambientes sadios, com horas de trabalho pautadas dentro do que determinam as Leis Trabalhistas, descanso, remunerações, etc., estando todos satisfeitos em ambientes onde o trabalho se casa perfeitamente com o sentido de estar de produtividade.” 

Acompanham o artigo, fotos de seus fundadores, de maquinário e outra, do mostruário “da bem aparelhada organização Impressora Paranaense” na Exposição Industrial de Ponta Grossa em 19 de setembro de 1951 na qual a firma de Raicosk e Traple obteve diploma e medalha de ouro.
 
O jornal da manhã, de 25 de janeiro de 1964 sob o título “chlicherie-Notável Empreendimento Enriquecerá Parque Industrial de Ponta Grossa”, inicia com uma declaração de Miguel Raicosk: Há um longo tempo vimos estudando um esquema de ampliação dos meios de produção com a aquisição de equipamentos especializados, com recursos próprios, visto que, apesar dos esforços, não conseguimos com os órgãos oficiais um financiamento mínimo para dotar Ponta Grossa de moderna clicherie, conjuntamente com aquisição e montagem de uma máquina de impressão Offset, que achamos de adquirir e a qual possibilitará a execução de trabalhos gráficos poli crômicos de propaganda ou cartonagem. ”
 
Pouquíssimo material confeccionado pela Impressora Pontagrossense foi preservado. Quando o estabelecimento deixou de funcionar os “velhos papéis foram sendo postos fora, para não tomar lugar.” Uma semana antes de dar seu depoimento a Casa Romário Martins uma enorme caixa de velhos impressos, rótulos e embalagens foram queimadas. Por ocasião do nosso primeiro contato, foi “localizada” uma caixa de sapato que acidentalmente escapara da queimada. Nela coletamos alguns rótulos da Impressora Pontagrossense, que agora são mostrados na exposição, e também rótulos confeccionados por outras litografias que haviam sido levados à Impressora para serem reimpressos.

Nota: 
Este texto não tem a assinatura da autoria, porém imagina-se que tenha sido parte da pesquisa realizada em 1975 por Rosirene Gemael.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Boletim informativo n.º 15 Casa Romário Martins, Schroeder e Kirstein, Rótulos e Embalagens Antigas – Litografia.

Notas sobre o texto:

O Boletim informativo nº 15 da Casa Romário Martins é uma das referências mais citadas  nos estudos da história das artes gráficas no Paraná, direta ou indiretamente.


Seu texto foi produzido com base em uma longa lista de contatos e entrevistas realizadas pela equipe da Casa Romário Martins durante a década de 1970, mas especificamente entre os anos de 1974-1975, e grande parte do acervo visual de rótulos da Casa da Memória de Curitiba pode ser creditado a este trabalho. Infelizmente grande parte dos contatos foram/estão perdidos.


Sabe-se da existência de 12 entrevistas que deram origem a este material, porém algumas ainda estão "perdidas". Neste espaço disponibilizei algumas entrevistas já digitalizadas e que espero, de algum maneira, possa contribuir para esta história ainda bastante incompleta. 

Outro estudo muito consultado, é o livro: História das Artes Gráficas em Curitiba, de Newton Carneiro, editado em 1975, com impressão pela editora Paiol em 1976. Mesmo no livro não contanto com as referências completas, ao menos na versão que consultei, acredito que estas obras estão conectadas, pois as referências de datas, locais, nomes e pessoas, "casam" perfeitamente com o que está disponibilizado nas entrevistas sobre a litografia.

Abaixo o texto do Boletim Informativo, o original está para consulta na Casa da Memória de Curitiba da Fundação Cultural de Curitiba com agendamento de horário. Os sublinhados são meus.

Boletim informativo n.º 15 Casa Romário Martins, outubro de 1975
Schroeder e Kirstein, Rótulos e Embalagens Antigas – Litografia.


O contrato social entre Schroeder e Kirstein nunca chegou a ser renovado. Ao contrário, a sociedade foi desfeita a 15 de setembro de 1924 e dela os sócios saíram apenas com o capital inicial, "sem lucros por não os haverli. Acontece, diz Thedoro, que o Fontana insistiu muito para que os dois alemães desfizessem a sociedade e abrissem outra com ele. No começo meu pai não queria, mas a insistência foi tão grande que ele e o Kirsteín acabaram concordando, e participaram na fundação da Sociedade Metalgráfica". 

Leonardo Bom dá sua versão: "os dois alemães sabiam de tudo. Começaram com uma pequena litografia na Mateus Leme onde o Leão e o Fontana mandavam confeccionar parte de seus rótulos. Como os alemães conheciam muito bem a técnica, inclusive da decalcomania mas não tinham capital necessário, se associaram ao Fontana e ao Leão e acabaram fechando eu próprio estabelecimento". Falando sobre criação da Sociedade Metalgráfica, diz Cesar Junior: “peio que eu ouvi contar tenho a impressão que o senhor Francisco Fido Fontana conheceu os dois alemães, Schroeder e Kirstein, gostou muito do trabalho deles e teve a idéia de montar uma firma, abrindo sociedade com os principais clientes dos produtos que esta firma iria produzir. Então foi formada a Sociedade Metalgráfica incluindo os dois alemães para suprir os demais sócios não só de rotulagem mas também embalagens. Contudo, o principal motivo da criação da Metalgráfica foi mesmo o ramo da decalcomania". 

Com efeito, a Junta Comercial do Paraná registrou no dia 7 de agosto de 1924 a "criação da Sociedade Metalgráfica, para indústria e comércio de estamparia litografia, tipografia, fabricação de latas e outros”.

Segundo o documento tratava-se de urna sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada, que entrou em operação no dia 15 de agosto de 1924. O capita era de 200.000$000 divididos em quarenta cotas iguais de cinco contos de réis da seguinte forma: Francisco Fontana - 19, Gabriel Leão Veiga - 6, Alexandre Schroeder - 4, Germano Kirstein - 4, Agostinho Ermelino de Leão - 2, Guilherme Whiters Junior - 2, Leocadio Souza - 2 e Percy VVhiters - 1. 

A cláusula quinta do contrato previa: "durante a vigência deste contrato, os sócios Alexandre Schroeder e Germano Kirstein não poderão empregar a sua atividade fora dos negócios da sociedade. E a sexta cláusula determinava: "a gerência da sociedade caberá ao sócio que for designado pelos demais, contando-se para tal escolha a razão de um voto por quota, ficando-lhe reservado o uso exclusivo da firma bem como a delegação de poderes". E a sétima cláusula: "o sócio que tiver a gerência retirará mensalmente a quantia de 1.000$000 (um conto de reis) e os sócios Alexandre Schroeder e Germano Kirstein retirarão cada um 600$000 mensais". E a décima cláusula finalizava: “as dúvidas que suscitarem na interpretação das cláusulas deste contrato, ou as divergências sobre os actos da Administração serão resolvidos pela maioria dos sócios e, só no caso destes não chegarem a acordo, será escolhido um árbitro que decidirá sem recursos".

Enquanto trabalhou na Sociedade Metalgráfica, Alexandre Schroeder participou da confecção em escala industrial das decalcomanias que eram vendidas em todo o Brasil e sempre ocupou o cargo de primeiro desenhista, desenhando diretamente nas pedras, gravando nelas, e exercendo uma atividade essencialmente de criação. Deste período, no entanto, Theodoro lembra de pouca coisa; "porque papai quase não falava de serviço em casa. Só sei que morávamos em cima da fábrica, no sobrado da Metalgráfica defronte o Passeio Público. Todas as tardes minha mãe fazia café e me mandava chamar papai e eu entrava na fábrica dizendo: "papa, cafee trinken. Por causa disto o Constante Moro que trabalhava junto com meu pai me apelidou de "cafestrinque".

Uma tênue referência ao trabalho de Schroeder e Kirstein aparece no jornal O Estado do Paraná, sob o título, "118 anos de Trabalho pela Economia do Paraná": "As Fábricas Fontanas se especializaram em dois ramos distintos de atividades: uma seção destinada à industrialização e ao beneficiamento do mate, e outra de litografia, originária das necessidades decorrentes da apresentação de produto, confeccionando as embalagens, estampadas e criando uma nova e importante atividade industrial em nosso Estado. Nesta última secção, com o auxílio de TÉCNICOS ALEMÃES, as Fábricas Fontana S/A tornaram-se as pioneiras de uma indústria inédita no Brasil: a fabricação de decalcomania ...." 

Rodolfo Doubek que participa na exposição, “Rótulos e Embalagens Antigas-Litografia", com a coleção de trabalhos criados por ele na Sociedade Metalgráfica sabe pouco sobre o trabalho do Schroeder: "meu setor na Metalgráfica era desenho sobre pedra e mais tarde sobre zinco. Com o falecimento de Schroeder que era um dos chefes da firma, assumi seu lugar de primeiro desenhista. Este trabalho consistia em criar o croqui de um rótulo".

Doubek conviveu pouco tempo com Schroeder mas mesmo assim opina sobre o seu trabalho: "para a época o trabalho de Schroeder era muito bom. E foi ele, juntamente com Kirstein que introduziram a decalcomania no Brasil".

Doubek não confirma as ligações de Schroeder com o pessoal técnico da Alemanha: “eu não eles tinham um amigo que soprava as novidades da Alemanha eu não posso afirmar; só sei que fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo". Doubek como outros litógrafos citam o nome de Constante Moro como a pessoa mais indicada para falar em Schroeder. Acontece, porém, que ele convalesce de uma delicada intervenção cirúrgica e não pode atender a solicitação da Casa Romário Martins. 

Mas o jornal Dass Kompass, editado pela colônia alemã em Curitiba, mostra a participação dos dois alemães nos trabalhos da Sociedade Metalgráfica, com várias referências, Inicia por dizer: "situada na Avenida João Gualberto nº 9, acha-se um estabelecimento industrial que, no seu ramo, pode ser considerado de primeira classe. Trata-se da Sociedade Metalgráfica Ltda, com sua fábrica de embalagens de folhas de flanders, litografia e impressão sobre flanders, conduzida pelos senhores Alexandre Schroeder e Germano Kirstein.” E mais adiante: "a indústria tem no senhor Schroeder um litógrafo de grande habilidade. Todos os trabalhos por ele executados, sejam eles de grande ou de pequeno porte, trazem as marcas do bom gosto, na escolha das cores e da execução limpa e meticulosa que revelam o artista que ele é. Não é preciso ver mais do que os lindos quadrinhos por ele executados que enfeitam xícaras e canecos e que são a alegria das crianças, e suas concepções para a decoração das latas que se destinam a receber manteiga, conserva peixe, graxa para sapatos, etc., todas elas prova de alto nível artístico. Os trabalhos de impressão são feitos em máquina moderna Importada da Alemanha, constam, desde os mais simples, até aos multicoloridos. Além da impressão sobre folhas de flanders a firma se encarrega de qualquer tipo de litografia. Esta parte dos, trabalhos está a cargo do senhor Germano Kirstein, um profissional excelente, que tem a habilidade de reproduzir fielmente  o que a pena do seu amigo e companheiro criou". O artigo finaliza assim: "enche-nos de justificado orgulho o fato de serem alemães os homens responsáveis por este trabalho, e é razão de alegria fato de estar sendo recompensado com o devido reconhecimento e sucesso no setor prático.”

Segundo registro na Junta Comercial do Paraná, o contrato inicial da Sociedade Metalgráfica sofreu uma de suas enumeras modificações no dia 28 do de julho de 1934 quando, "Francisco Fido Fontana, Gabriel Leão Veiga, Agostinho Ermelino de Leão, Guilherme Whiters, Alexandre Schroeder e Germano Kirstein resolveram, de comum acordo, fazer nova alteração da seguinte forma: I- O quotista Alexandre Schroeder retira-se da Sociedade, transferindo as suas quotas total de 25:000$000 ao quotista Francisco Fito Fontana.” 

Neste dia, dois quesitos do contrato seriam também modificadas: ele deixava de ser válido por 10 anos passando a tempo indeterminado e a cláusula quinta, que determinava a exclusividade de trabalho dos técnicos alemães na Sociedade era abolida. Theodoro Schroeder fala na saída de pai da sociedade. "ele não chegou a cumprir os dez anos de contrata porque pegou uma pneumonia que complicou. Logo depois morreu e mamãe ficou sem nada." 

Theodoro e Lili lembram que o final de seu pai foi bastante triste: "ele quase não falava em problemas de trabalho na nossa frente, mas, várias vezes o ouvimos chorar para a mamãe. Ele teve muita mágoa, e não nos aconselhava a trabalhar no mesmo ramo que ele. Nos últimos dias, já quase sem poder andar, trancou-se no paiol no fundo de casa e dedicou-se a gravar em vidros com diamante, e bem no finzinno não podia mais nem desenhar...."

PASSAPORTE
Primeira página
Reinado da Prússia.
Registro nº 16
Válido até 16 de abril de 1904
para: O litógrafo Alexander Otto Theodor Schroeder
De: Quaryschen
Segunda página - Para: Brasil
Konigsberg, Neumark
17 de abril de 1903
Magistrado Real da Prússia.
Terceira página - Descrição do Portador data de nascimento: 16 de dezembro de 1869
estatura: pequena
cabelos: louro escuro
olhos: cinza escuro
outras características: anda de bengalas

Este passaporte, meia dúzia de fotografias, quatro cartas de recomendação de litografias alemães, dois croquis de rótulos, dois retratos a crayon, um livro alemão com modelos da arte "de gravar em pedra", recortes do jornal Dass Kompass, modelos, e um impresso comunicando o falecimento, é tudo o que os filhos tem ainda hoje de Alexandre Schroeder.


Segundo Theodoro Schroeder, filho mais velho, seu pai veio ao Brasil antes de 1910 com cerca de quarenta anos de idade, parando inicialmente na cidade de Rio Grande no Rio Grande do Sul onde trabalhou alguns mêses na litografia de um alemão. Lá teve notícias de Curitiba e devido a problemas de saude optou pelo clima daqui. 


Morou inicialmente na rua Coronel Dulcídio, onde uma senhora alugava quartos e logo em seguida começou a fazer refeições na rua Comendador Araujo, onde hoje é o Instituto de Identificação. "Era a casa da minha avó, onde papai conheceu, começou a namorar minha mãe, e logo se casou. Como a vida fosse difícil, depois do terceiro filho, seguindo exemplo da minha avó que foi uma das primeiras parteiras diplomadas de Curitiba, mamãe aprendeu este ofício para ajudar nas despesas de casa".

Da figura do pai, Theodoro e Lili tem lembranças claras: era pequeno, bigode tratados, manco, sempre de bengala e um lápis na mão, quase um dedo adicional com o qual estava sempre fazendo palavras cruzadas e desenhando: uma figurinha para alegrar as crianças, o retrato dos filhos ou da esposa numa pose engraçada, paisagens. "Uma ocasião, chegou a desenhar uma série de anõezinhos, cada quadro o anão em posição um pouco diferente, como se fosse um desenho animado. Ele chegou inclusive a fazer dois quadros humorísticos para um bilhar da rua XV de Novembro. Os quadros eram grandes e um deles mostrava o jogador enchendo um pneu de automóvel em cima da mesa, como se estivesse com o taco pronto para uma jogada". 

Segundo os filhos, Schroeder dedicava-se também a fotografia, e "adorava ele mesmo revela-las em casa onde tinha um laboratório. Bem falante, recebia muitos amigos principalmente o Guido Straube e Mário de Barros". Do Schroeder profissional os filhos lembram muito pouco: "papai era prussíano, certos assuntos crianças não deviam ouvir." Em seu depoimento Theodoro faz questão de lembrar a figura de outro alemão, Germano Kirstein nome associado ao de seu pai em vários depoimentos: "O Kirstein chegou ao Brasil mais tarde. Passou por Ponta Grossa mas acabou se fixando em Curitiba. Veio muito pobre, mal sabia falar o português e nos primeiros tempos morava nos fundos de nossa casa".

Na verdade sobrou muito pouco da imagem de Kirstein, pois todos as seus descendentes já faleceram. Sua família "foi perseguida pelo destino” segundo vários depoimentos que concordam com Doubek: “Ele teve dois filhos, ginastas de primeira ordem, pois um deles morreu afogado e outro em decorrência de uma operação". Depois resolveu adotar uma filha que acabou se suicidando, Segundo Theodoro, a viúva de Kirstein no final da vida, ficou bastante descontrolada e não se conformava com tanta desgraça. ”Encontrava a gente na rua e não parava de chorar.” 

Na verdade, desde que se conheceram, Schroeder e  Kirstein, sempre estiveram ligados profissionalmente. De início na firma que abriram na rua Assunguy, e logo depois na Sociedade Metalgráfica. É que um entendia de desenho e da técnica de impressionar a pedra e o outro da parte de impressão ", diz o filho Theodoro e confirma Leonardo Born. Esta ligação no entanto não chega a figurar nos editais mandados publicar em jornais de todo o Brasil pela Sociedade Metalgráfica no ano de 1954, que diziam em determinado trecho: ".... Em 1924 associou-se a um fabricante de decalcomania que, com o espírito de pioneiro Iniciava a produção deste artigo no Brasil".

Esta ligação amplamente reconhecida no depoimento de ex-litógrafos foi excluída mais uma vez no noticiário jornalístico por ocasião dos festejos comemorativos ao 125º aniversário das Fábricas Fontana que dizia, em entre outras coisas: "... interessante é registrar que esta indústria nasceu modestamente no Paraná e no Brasil em 1917, quando o senhor Germano Kirstein, técnico alemão e empregado da organização Fontana iniciou as primeiras experiências em um barracão no fundo de sua residência O senhor Fido Fontana na época, presidente da empresa ervateira, prevendo o futuro daquela indústria, associou-se ao senhor Kirstein, organizando, em 1924 a Sociedade Metalgráfica, que mais tarde incorporado as Fábricas Fontana. A previsão do senhor '. F. Fontana tornou-se realidade, pois, hoje as Fábricas Fontana, sob o comando de seu dinâmico e operoso filho, senhor Ildefonso C. Fontana, assessorado pelos senhores Gabriel Veiga, Humberto Sienenrok e Constante Moro, são consideradas a mais importante indústria de decalcomania da América do Sul e a qualidade de seus produtos só encontra similar entre as melhores congéneres dos país".

 Afirmando desconhecer alguma razão para o fato de que os jornais atribuíssem quase que só a Kirstein a introdução da decalcomania, Cesar Pinto Junior propõe: "o que pode ter acontecido é que o Kirstein tinha mais contato com a clientela e por isto foi mais conhecido. Porque o Schroeder trabalhava na parte de cima da fábrica e os primeiros contatos com os clientes eram feitos pelo Kirstein. Eu atribuo a isto. Agora mais não sei se ele era mais responsável que o outro ou se era o conjunto. Só sei que foram eles quem introduziram a decalcomania produto que já conheciam na Alemanha antes de virem ao Brasil. Eu acho que ali o trabalho e a responsabilidade dos dois era igual. Cada um no seu setor contribuía em Pé de igualdade para a expansão da firma". Constante Moro, por telefone, tenta explicar-nos rapidamente: "O Kristein chegou ao Brasil em 1912. Neste ano voltou a Alemanha, retornando em 1914, trazendo uma prensa de mão, com a qual, no ano de 1917 fez as Primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil. Como não fosse desenhista, aproveitava desenhos trazidos da Alemanha ou então pedia a um litógrafo que lhe desenhasse. Mais !arde associou-se ao Schroeder, que passou então a desenhar estas decalcomanias no estabelecimento que abriram em sociedade, na Mateus Leme, esquina com Barão de Antonina". E especialmente sobre Schroeder, ele diz: "era muito bom gravador em pedra, uma arte só dominada no início por ele e por alguém da Impressora Paranaense. Era um bom profissional. Ele, Rômulo Cesar Alves e o Scrapp foram os melhores". 

A Kirstein o jornal Gazeta do Povo do dia 4 de dezembro de 1955 dedica uma matéria sob o titulo, "GERMANO HENRIQUE GUILHERME KIRSTEIN: BONS SERVIÇOS PRESTADOS AO BRASIL- OCORREU NOS ÚLTIMOS DIAS DE NOVEMBRO, O PASSAMENTO, NESTA CAPITAL DO SR. GERMANO HENRIQUE KIRSTEIN. 

Talvez que esse nome não possa significar muito para o nosso povo. Entretanto, constitui o nome de um dos pioneiros da indústria brasileira, atualmente situada dentro de um nível de progresso que a todos assombra inclusive ao próprio observador. De fato, G.H.G. Kirstein, imigrado da Alemanha em 1912, fabricava cinco anos mais tarde, a primeira decalcomania em bases industriais no pais. Em Curitiba, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, produziu o primeiro tipo de decalcomania a fogo, com a finalidade de ser utilizada em copos. Tinha como desenho, o retrato de Wenceslaw Bras, então presidente da República. Posteriormente, em virtude da alta receptividade daquele produto, já então na qualidade de fundador e diretor da fábrica Fontana, estabelecimento industrial altamente especializado e que, com o correr dos anos, transformou-se na principal e mais importante organização no gênero em todo o país. 

Para alcançar o ponto atingido por ocasião de seu falecimento, G.H.G. Kirstein viveu uma vida de cientista, com toda a sorte de dissabores. Experiências fracassadas, falta de matéria prima, ausência de auxiliares especializados e uma infinidade de obstáculos todos vencidos pela vontade e inteligência daquele digno cidadão. 

Nascido a 15 de janeiro de 1883 em Schweidnitz. Alemanha, Germano Kirstein chegou ao Brasil em 18 de janeiro de 1912. Depois de mais de quarenta anos de serviços úteis prestados a coletividade e ao Brasil, faleceu a 27 de novembro de 1955, deixando viúva a Sra. Stanislavva Kirstein, de cuja união teve dois filhos.

Outro recorte de jornal, (sem indicação de nome e data) guardado no álbum de recortes das Fábricas Fontana, sob o título, "Desenvolve-se a Indústria Brasileira de Decalcomania", inicia assim: "Rio,10 (FT) - O Brasil foi considerado, há pouco, o primeiro país de América do Sul na indústria de decalcomania, iniciada modestamente em 1917, no Paraná, nos fundos da residência do técnico alemão Germano Kirstein, em um barracão, a decalcomania rapidamente progrediu em quantidade e qualidade". E o artigo finaliza: "Procurado por um grupo econômico desejoso de criar uma grande indústria no ramo, o modesto técnico Kirstein aceitou a proposta e daí a nossa posição privilegiada no continente, em relação a este produto."

Nota do verso:
Durante certa época, os rótulos e embalagens de produtos industrializadas de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular. Através dos desenhos estampados nos rótulos e embalagens, a população tomava conhecimento não só dos modismos artísticos em voga, como também de uma visão — às vezes realista, às vezes onírica — do mundo.

A repetição constante de uma mesma imagem, durante anos, num mesmo produto, certamente haveria de criar uma nova imagem mental no consumidor, mais um dado referencial a ser compartilhado com outras pessoas. O assunto é vasto e permite um estudo até hoje não feito. Este Boletim, com uma precisa pesquisa de Rosirene Gemael para a exposição "Rótulos e Embalagens Antigas", inaugurada no dia 29 de outubro de 1975 na Casa Romário Martins, traz importantes subsídios para o estudo da influência deste meio de comunicação popular em Curitiba. 

VALÉNCIO XAVIER 


EDITOR: VALÉNCIO XAVIER
ARTE: MARIA DO ROSÁRIO DE FÁTIMA SE LEME
GRÁFICO: ITAMAR A. MARTINS
PRAÇA GARIBALDI NP 7, 80 000 - CURITIBA
FONES: 23-2722 e 23-2584


SOLICITAMOS PERMUTA BOLETIM DA FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
Nº 1 — DESEMBRULHANDO AS BALAS ZEQUINHA — V. XAVIER
Nº 2 — OS CAMINHOS DA PAVIMENTAÇÃO EM CURITIBA — R. GRECA
Nº 3— ROMÁRIO MARTINS — R. GRECA
Nº 4 — 3 CONTOS DE ARMANDO RIBEIRO PINTO
Nº 5— BENTO MUSSURUNGA — R ESELYS V. RODE RJAN
Nº 6 — MARIA BUENO — PEÇA DE ORACI GEMBA
Nº 7— O LAZER NA CURITIBA ANTIGA — V. XAVIER
Nº 8 — FREGUÉS DE CADERNO (ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS) — R. GRECA
Nº 9 — 3 CONTOS DE CLÁUDIO LACERDA
Nº 10— NOTÍCIAS SOBRE A IMPRENSA NO PARANÁ, ATÉ 1900— O. PILOTTO
Nº 11 — HISTÓRIA DE CURITIBA, EM QUADRINHOS — MOACIR CALESCO E. V. XAVIER
Nº 12 — CHICHORRO E SEUS CALUNGAS — NEWTON CARNEIRO
Nº 13 — PREMIADOS NO 1º CONCURSO MUNICIPAL DE CONTOS
Nº 14— LANCE MAIOR — ROTEIRO DO FILME DE SÍLVIO BACK

terça-feira, 28 de maio de 2013

Fragmento de texto sobre a exposição de litografia de 1975

Fragmento de texto, sem autoria, encontrado na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Digitalizado do datilografado por Alan Witikoski. Acredito que o texto tenha sido produzido por Rosirene Gemael.

Rótulos Antigos.

Para o mês de outubro, a Casa Romário Martins já tem praticamente montada, a exposição de Rótulos Antigos, que, mostrará coleções de rótulos, cartazes e pedras litográficas, material reunido depois de dois meses de trabalho através de cerca de oitenta contatos entre gráficas, descendentes de proprietários de litografias já extintas, e nas próprias indústrias. A idéia inicial era diferente. Localizamos uma coleção de cerca de 2OO rótulos toda desenhada por uma mesma pessoa entre 1914 e 1916 preservada por um colecionador. Pretendíamos, então, nos restringir na tentativa de obtenção deste material e sua exposição. Porém, ao observarmos detalhadamente a coleção, constatamos  que documentava uma fase importante de nossa indústria gráfica, em sua fase "litográfica" tão artesanal e da qual restam pouquíssimos resíduos. E constatamos também, que através daqueles rótulos, obtém-se informações das mais variadas naturezas, como, por exemplo, hábitos de consumo de urna determinada época, e entre outras coisas, um tipo de economia, um tipo de estabelecimento industrial e de um tipo específico de comércio. 

Caracterizados para nós como "fontes de informações" achamos que devíamos passar imediatamente para uma verdadeira "busca" de rótulos desta época (1914-1916), de épocas posteriores e se possível, dos primórdios da fase litográfica. O que mostraremos em nossa exposição é o resultado de um trabalho que será realizado indefinidamente, de acompanhamento de uma atividade que não pretende rotular-se de "pesquisa" mas apenas de coleta de material que seria fatalmente destruído. 

(Na maioria de nossos contatos verificamos a quase total ausência de preocupação de arquivos, documentação e preservação deste material, que segundo depoimentos tem sido, regularmente vendido como entulho).

Incentivo a Documentação

Descobrindo nos compradores de papel nossos maiores "concorrentes" para a obtenção de velhos documentos, fotografias e outros materiais de interesse, além de enriquecer nosso próprio acervo, procuramos incentivar nas pesquisas, as pessoas envolvidas pela preocupação pela documentação. Nos casos mais favoráveis, chegamos inclusive a receber a promessa de organização de pequenos museus, que serão catalogados por nós . A iniciativa mais concreta partiu da Indústria Todeschini, que preserva grande volume de material de interesse histórico e que vai partilhar a organização de um museu. No casos em que não conseguimos  sensibilizar as pessoas que detém as decisões, obtivemos ,porém, a promessa, de sermos consultados antes que determinados sejam “postos fora". Para guardar este material, no entanto, a Casa Romário Martins precisará dispor de mais espaço físico. Neste sentido, já foram mantidos contatos com o prefeito Saul Raiz para que se proceda a desapropriação da casa ao lado da Casa Romário Marfins, com o que atingiremos dois objetivos: a preservação de mais um prédio antigo no setor Histórico, e a organização de um Museu da Cidade.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nota Impressora Paranaense - 1953

Nota retirada do Álbum do Centenário do Paraná 1853 -1953, sem página.
Digitalização do original por Alan Witikoski.

Esta nota reitera alguns tópicos que surgem tangenciando como o desenvolvimento da indústria gráfica no Paraná, principalmente em Curitiba, e que não são abertamente apresentados. Sabe-se que os imigrantes alemães sofreram várias sanções no período relacionada as duas Guerras Mundiais, que afetaram as configurações das litografias paranaenses, porém quais, e como foram estes eventos, contam pouca ou quase nenhuma informação "oficial". 
Até o momento os principais seriam: a inclusão na "lista negra" do comércio, um incêndio a sede da Impressora Paranaense, na rua Comendador Araújo, e relatos de "destruição" de livros técnicos em alemão sobre processos gráficos nas litografias, devido ao medo de serem pegos com algum material "subversivo". 

Impressora Paranaense S.A.
Publicamos com satisfação, o editorial abaixo, assegurando o cabimento leal da asserção, pois, mourejando há anos no seio e intimidade da IMPRESSORA PARANAENSE S.A., convivendo, ao editarmos ininterruptamente, a nossa Revista, vimos sempre, nas diretrizes de seus destacados proprietários e auxiliares, grandeza e tolerância, trabalho e disciplina, e o pulsa de corações de brasilidade, muito devendo o Paraná a essa famosa e tradicional organização, fator inegavelmente preponderante de seu progresso e engrandecimento:

A IMPRESSORA PARANAENSE S.A., por seu diretor-presidente, abaixo assinado, vem declarar que, já tendo sido vítima de calúnias, lhe atribuindo atitudes politicas anti-nacionais, há vários anos atraz, do que lhe resultaram sérias e penosas dificuldades, calúnias estas creadas por elementos irresponsáveis, desafetos e acintosos, não deseja que o seu título e denominação de IMPRESSORA PARANAENSE seja confundido com denominações de outras “impressoras” que se acham atualmente envolvidas em polêmicas sobre questões de ideologias políticas.
A presente declaração é feito pelo fato de já haverem chegado ao conhecimento da Impressora Paranaense S.A. informações sobre confusões havidas neste sentido.”

(a) OSCAR SCHRAPPE SOBRINHO
Diretor Presidente.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

Entrevista com Otto Stutz, Gazeta do Povo

Digitalização de entrevista de Otto Stutz para Gazeta do povo, Nosso Bairro Água Verde. Infelizmente o material estava incompleto.

Otto Stutz. Gazeta do Povo
Para conseguir fazer esta entrevista com o artista plástico e desenhista Otto Stutz, nosso repórter precisou de insistência. A idéia partiu do nosso colaborador Haroldo Perdia, mas faltava o entrevistado aceitar a proposta. No início, ele resistiu, mas depois, com o pedido da filha Ângela e da amiga Eliane, Otto Stutz deciciu conceder esta entrevista para a memória do nosso bairro. Participaram da entrevista Haroldo Perolla e Angela M. Stutz Táws.

Vivi aqui e é aqui que pretendo "embarcar" 

É com orgulho que Otto fala do bairro em que vive, o Água Verde. Ele nasceu em 6 de maio de 1923, filho de pais austríacos. "Morei e me criei no bairro da Água Verde, e aqui pretendo embarcar", declara sorrindo. De sua infância no bairro, ele se lembra da Segunda Guerra Mundial, dos exercícios de blecaute onde ele, Cláudio Tedesco e o Haroldo Perolla tocavam o sino da Igreja da Água Verde, simulando um ataque aéreo que nunca aconteceu. Torcedor do Paraná Clube "desde o tempo em que se chamava Savoya, em homenagem à família real italiana". A ca-misa do time do Água Verde, quando foi campeão em 1957, foi desenhada por ele a pedido do falecido Arnaldo Thá e do Haroldo Perolla. Segundo Perolla, "era a camisa mais bonita do país na época". 

A passagem do Zepelin 

Lembrando o tempo em que era estudante do Ginásio Paranaense (atual Pedro Macedo), Otto se recorda com satisfação da passagem do da passagem do imenso dirigível Zepelim por Curitiba. "Foi a maior sensação da Época. A cidade parou para ver o Zepelim". 

O trabalho Otto conta que desenhava desde criança. E confessa:
Nunca pensei que desenhando fosse ganhar a vida". 

Aos 14 anos de idade foi aprovado em concurso para trabalhar na Impressora Paranaense, a maior impressora da época. Entre os 8 desenhistas da sessão onde ele trabalhava, era o mais jovem, trabalhava igual aos demais mas recebia menos que os outros. Participou de um curso ministrado por professores e técnicos alemães, entre os quais o professor Alberto Thiele, para trabalhar com litografia. Saiu-se bem com o curso porque meses após já enviava seus trabalhos para a gráfica Ipiranga, de São Paulo. Com o tempo, com o aprimoramento de seu trabalho, houve negociações e aumentos salariais quando ele recebeu convite para trabalhar naquela gráfica paulista. Diante do aumento salarial, decidiu continuar na Impressora Paranaense. Ele recorda que "o nosso trabalho era feito com muito prazer. Quando encerrava o expediente eu reclamava que queria continuar trabalhando". Mas a litografia tornou-se uma técnica obsoleta com o passar do tempo porque imprimia de forma lenta diante das novas conquistas tecnológicas da época, a impressão "off-set". A impressora trouxe novamente outros técnicos alemães para ensinarem as técnicas, mas desta vez os professores não ensinaram tudo, apenas o básico, de forma que a Impressora Paranaense necessitasse dos técnicos alemães para a finalização dos trabalhos. Esse procedimento desagradou a Otto, que decidiu escrever uma carta para uma Escola Técnica da Alemanha. Semanas depois ele recebia pelo correio um curso completo, com livros e folhetos. Estudou bastante. Recebia trabalhos, dava idéias, iniciava e passava para os técnicos alemães finalizarem embora já dominasse a ... [o pequeno recorte acaba aqui]

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Entrevista com Leonardo Born. A formação da gráfica Born e seu período de aprendiz na Sociedade Metalgráfica.

Entrevista cedida provavelmente a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Data provável é julho de 1975.

De todos os litógrafos entrevistados, Leonardo Born, da Gráfica Born mostrou-se mais entusiasta de seu antigo trabalho e não escondeu certo saudosismo pela arte litográfica, orgulhando-se de ter sido dos últimos a abandonar aquele sistema de impressão. Inaugurou o Offset com a edição do primeiro jornal grego do Paraná.

Em seu depoimento gravado em julho, Leonardo fala da época em que as fábricas de bebidas costumavam distribuir miniaturas, conta sobre o seu aprendizado na Sociedade Metalgráfica e mostra, com muito empenho, a importância do trabalho de dois alemães, Alexandre Schroeder e Germano Kristein no desenvolvimento da litografia no Paraná, especialmente pela introdução da decalcomania no Brasil, confeccionadas inicialmente numa pequena litografia da antiga rua Assunguy.

Entusiasta de seu mestre, tenta achar livros alemães sobre litografia que teria ganho dele: enterrou tudo no quintal durante a guerra e não consegui mais localizar.

A Gráfica Born foi criado em julho de 1947 por três sócios dos quais apenas dois ainda vivem: Leonardo Born, nosso entrevistado, e Irvino Born, seu primo. Situada à Rua Mateus Leme, está gráfica começou a operar em Offset em 1954, sendo o primeiro trabalho no novo processo, a confecção de um jornal em grego, o primeiro da América Latina. Sem compreender uma só palavra daquele idioma, Leonardo e Irvino limitavam-se a imprimir o jornal que era redigido e composto pelo jornalista grego, que também era o diretor e patrocinador. “O jornal durou cerca de dez anos e terminou com a morte de seu criador. As tiragens eram de 1000 exemplares mensais, distribuídos para todo o país especialmente para a colônia grega de Florianópolis”.

Apesar de dispor do equipamento para impressão em Offset, a Gráfica Born continuou um bom tempo a trabalhar com pedras litográficas e seus donos afirmam com certo orgulho, terem sido os últimos em Curitiba a deixaram a litografia em segundo plano; e afirmam, não sem certo ressentimento, que hoje em dia é praticamente impossível só trabalhar com pedras:

A matéria prima é difícil e cara, e não há mais profissionais no ramo. Os velhos mestres já foram embora e os últimos estão indo agora. Hoje é tudo na base do fotolito. A única máquina de impressão litográfica que ainda funciona na cidade é da Companhia Campos Hidalgo. Mas foi adaptada para imprimir zinco. Nela são feitas as latas de sabão e cêra.

A especialidade da Gráfica Born tem sido rótulos, apesar de já ter confeccionados diplomas, o jornal grego, além de pequenos rótulos para miniaturas de bebidas:

Estavam muito na moda. Todo fabricante distribuía as garrafinhas de brinde, até que o governo passou a exigir imposto e nossos fregueses desistiram. Nós fizemos algumas miniaturas bem interessantes, como aquelas com times de futebol nos rótulos. Duas muito disputadas foram do Coritiba Foot ball Club e Palestra Itália, grandes rivais na época.”

Leonardo acha que o melhor rótulo feito na Gráfica Born foi para a Cerveja Guairacá, da antiga Cervejaria Providência, e diz que fazia muito rótulo para Gengibirra, Cerveja de Sanso, e que de modo geral, quem dava a ideia para os rótulos, era mesmo o freguês: “Eles faziam o rascunho direitinho como queriam e a gente obedecia”. Na sua opinião, os melhores rótulos que viu em toda a sua carreira foram aqueles confeccionados pela Litografia Progresso: “o Alves sempre teve bons técnicos e era muito exigente. Teve, também, o melhor impressor, o Adolfo Kloss, e foi sócio, no início de Schroeder, um dos melhores mestres que trabalharam em Curitiba”.

Na Gráfica Born o trabalho sempre foi dividido em dois setores específicos: o de Irvino – impressão e preparo de pedras, e o de Leonardo – desenho. Leonardo desenhou sempre todos os rótulos, apesar de nunca ter frequentado um curso de desenho, além da aula semanal do Colégio Progresso. E desenhar na pedra ele aprendeu com 14 anos, quanto obteve seu primeiro emprego na Sociedade Metalgráfica, - “no tempo que ela funcionava perto do Passeio Público”. Leonardo e Irvino começaram juntos e ambos foram aprendizes de dois técnicos alemães considerados excelentes - Schroeder e Kristein -. 

Estes dois sabiam de tudo. Começaram com uma pequena litografia aqui na Mateus Leme, onde o Leão e o Fontana mandavam alguns rótulos para imprimir. Os alemães conheciam a técnica muito bem mas não tinham capital, e acabaram fechando sua litografia”.

Leonardo se empolga bastante quando fala dos mestres alemães e não esconde sua admiração por ele: 

"Foi o Kirstein, na pequena firma da Mateus Leme que fez a primeira decalcomania do Brasil, desenhada por Schroerder. Aprendemos com eles inclusive chegamos a fabricar decalcomanias aqui na firma por uns quatro anos. Depois desistimos porque os pedidos de rótulos eram muitos. Acabamos vendendo a matéria prima para o Fontana. Assim como nós, muita gente aprendeu a técnica e o desenho na pedra com os dois alemães”, porque eles eram mestres na Sociedade Metalgráfica. Quando o Schroeder morreu, o jornal alemão, Dass Kompass, escreveu muito bonito, mais ou menos assim: ”faleceu um dos maiores pioneiros da indústria gráfica do Paraná”.

Leonardo não se cansa de exaltar as qualidades de Schroeder: 

“Ele me contou que nasceu na cidade de Hamburgo. Quando jovem foi andar de patinete na neve, quebrou o pé que acabou perdendo, por isto tinha que usar sapatos especiais. Homem aleijado e ainda percorreu todo o mundo ... era um verdadeiro artista. Em gravura, então, ele era ótimo. Fazia gravuras na pedra que só ele e mais um outro da Impressora Paranaense sabia fazer. Ao invés de desenhar, gravava na pedra, dentro da pedra. Saiam aqueles rótulos lindos de charutos, cabeçalhos de papel de carta.” 

Leonardo foi aprendiz de Schroeder durante quatro anos, e lembra quando seu mestre perdeu um dedo:   

”Foi durante o trabalho, justamente quando ele fazia gravura. O dedo já estava machucado e depois acabou entrando ácido e ele teve que amputar. Mas continuou trabalhando do mesmo jeito. Schroeder foi um dos primeiros mestres que eu cheguei a conhecer. Saiu da Alemanha e foi parar na cidade portuária de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde trabalhou por pouco tempo na litografia de um alemão.

Do Rio Grande do Sul veio a Curitiba devido o clima e aqui começou a trabalhar na Impressora Paranaense. Mas não era fácil trabalhar com ele. Era muito enérgico. Eu não me mexeria na mesa no começo; só depois é que ele conversava comigo. Os dois eram muito enérgicos. Um dia um aprendiz parou na minha mesa e começamos a falar de futebol: o Schroeder deu bronca na gente e disse para o aprendiz não parar mais na mesa. O Kirstein era um chefe geral, lidava mais com os operários, fazia orçamentos, e o Schroeder era desenhista, litógrafo, fazia croqui, cono o Doubek, dava as  ideias. No final conversamos e ele até me emprestava os livro que sempre recebia de um amigo da Alemanha. Ele era estudioso e ensinava tudo." 

Segundo este depoimento, Schroeder conhece na Impressora Paranaense o Rômulo Cesar Alves com o qual se associou e iniciou um novo empreendimento gráfico:  

“Ele sofreu muito na época da guerra pelo fato de ser alemão. Já estava trabalhando com o Alves e na janela da litografia estava escrito – Schroeder e Alves – com o nome alemão na frente. Um dia quando ele chegou no estabelecimento para trabalhar seu nome estava riscado. Isto foi no ano de 1914, logo depois do Brasil entrou em guerra. O Schroeder ficou magoado e nem entrou mais na litografia. Quanto ele saiu da Sociedade Metalgráfica a família também ficou magoada. Mas direito pois era muito novo e não acompanhei. Mas parece que tinha um contrato de dez anos que terminou e o pessoal da Sociedade não quis renovar. Ele saiu e logo depois morreu. Mas antes de sai já estava doente”. 

Leonardo explica o antigo processo de impressão: 

1- “O processo litográfico era complicado. Primeiro pegava-se uma pedra pequena que era toda desenha à mão. Depois a pedra era preparada, tirava-se a prova, e passava-se o desenho para a pedra grande, matriz, que ia para a máquina. Cada cor tinha que ser passa separadamente. Primeiro o amarelo, depois o vermelho, azul e o preto. O mais difícil de tudo, é que a impressão é direta e por isto os desenhos e os escritos tinham que ser feitos sempre ao contrário”. E depois, todo o material era importando. As pedras vinham da Alemanha, Itália e Bélgica. As pedras eram inglesas e alemãs, a tinha vinha da França. 

Entusiasta da litografia, “que é difícil, mas artística," Seo Leonardo fala que na sua fase mais remota, a litografia do Paraná esteve na mão desenhistas alemães. Era o Schroeder, o Kirstein, o Adolfo kloss, Alberto Thile, todos de origem germânica. Pois foi inclusive um alemão Alois Senefelder que inventou a litografia. Ele precisava marcar o número de peças de roupa que a mãe lavava, e começou a marcar numa pedra. Assim é que começou a litografia.”

Efetivamente, segundo o boletim de Belas Artes (Rio de Janeiro) em seu número especial de outubro/novembro de 1945, a arte litográfica foi inventada por Alois Senefelder, pobre músico de um teatro de Munique, compositor nas horas vagas. Para Imprimir suas obras faltavam-lhe recursos; lembrou-se então, de ser seu próprio editor, para tanto procurando um novo processo, fácil de executar sem o auxílio de oficinas complicadas. Depois de tentar a gravura em cobre, dispendiosa e lenta, lembrou-se de empregar pedras polidas. Suas tentativas andavam a meio quanto a sorte intercedeu, do seguinte modo: “Acabava eu de desbastar um bloco de pedra - conta Senefelder – quanto minha mãe veio perdir-me para anotar um rol de roupas. A lavanderia estava a espera, e para não retardá-la, lancei mão da tinta que ali estava, composta de cera, sabão e negro de fumo, anotando provisoriamente o rol num canto da placa de pedra que acabara de polir, pensando em copiá-la mais tarde, quando encontrasse papel. Quando tentei apagar o que ali escrevera, lembrei-me de tentar reproduzir aquele texto”. Estava descoberto o princípio da litografia. Senefelder, de inicio, pensava aplicar o sistema apenas à reprodução de músicas. Logo depois verificou que um grande campo se abria para reprodução de obras de arte. Patenteou seu método na Baviera em 1799 e em seguida em Londres. A nova invenção foi usada em Viena, Paris, Stutgart e na Itália, mas praticamente tentativas preliminares. A verdadeira solução do problema coube a dois franceses – Conde de Lateyrie e Eugelmann – que em 1812 e 1814 estiveram em Munique aperfeiçoando o processo. Compraram eles o direito de Senefelder, montando suas oficinas especiais, uma em Mulhose outra em Paris, em 1816”. 

Apesar de modesto, ocupando ainda hoje as mesmas dependências da época de sua criação, a Gráfica Born conserva grande parte do material que confeccionou. Seo Leonardo, uma do proprietários preocupou-se em guardar dois ou três rótulos de cada um que desenhou nestes vinte e oito anos de atividades.

A Gráfica Born conserva também considerável coleção de pedras litográficas, guardadas numa estante no estabelecimento, “ou porque foram bem feitos e podem ser usadas como modelos, ou porque ainda poderão ser usados”. Outro tanto de pedras está “encostada” no fundo do quintal e vem sendo vendido só para prova para o Trombine”.

Seo Leonardo conserva vários exemplares do jornal grego, decalcomanias que chegaram a confeccionar há vinte e cinco anos passados, diplomas e alguns trabalhos de sua autoria, da época em que era funcionário da Sociedade Metalgráfica. Seo Leonardo tinha ainda, exemplares do jornal alemão Koss Kompass e livros alemães sobre litografia, “que eu escondi para não ser queimado na época da guerra, e não consigo encontrar mais”. Seus instrumentos de trabalho como litógrafo – também estão guardados, “e eu ainda uso, de vez em quando”.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 03

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 

Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

3. A consolidação da produção gráfica e o desenvolvimento da Litografia paranaense.

Em 1902, a Baronesa do Serro Azul vende a Impressora Paranaense para Francisco Folch, que de há muito exercia a sua direção técnica, que concentra-se nas atividades tipográficas e litográficas. A firma alcança a Medalha de Ouro na Exposição do Cinquentenário (1903), pelas litografias exibidas.

Efetivamente, é nas duas primeiras décadas do século que se multiplica o número de empresas gráficas especializadas, muitas das quais até hoje em franca atividade. Graças à adiantada estrutura técnico-industrial curitibana se pode produzir revistas satíricas “Olho da Rua” e “A Carga”, impressas em policromia e papel couchê. Em 1911 surge o “Paraná Moderno”, o primeiro a imprimir fotografia (clichê com retícula), dos irmãos Weszfog. “A Noite” e o “Commercio do Paraná” são os dois primeiros periódicos impressos em linotipo. 

Exemplo do perfeccionismo técnico e artístico de Folch é a revista “Paraná”, de Romário Martins, que se comparava às melhores revistas brasileiras da época. Em 1912, Folch fez fusão com a litografia de Max Schrappe, de Joinville, que possuía uma filial no Recreio Cruzeiro, no Batel, montada em 1910.

A Impressora Paranaense não poupou esforços nem recursos para manter-se na vanguarda do setor gráfico, acompanhado a evolução dos processo de impressão, como bem atestam alguns rótulos atribuídos ao litógrafo Raschendorf (1914-1917), bem como a implantação de moderna clicheria, em 1929. Neste mesmo ano, provavelmente, a sua equipe de desenhistas-litógrafos criou as figurinhas que embrulhavam as famosas Balas Zequinha, no formato 5x7, obedecendo às indicações dos donos da empresa que as fabricava., A Brandina, dos Irmãos Sobania. Os exemplos pioneirismo se repetem a cada novo passo, como ocorreu em 1936, com a implantação do sistema “Offset-tied”.

Em 1914 retorna ao Brasil o litógrafo alemão Germano Henrique Guilherme Kirstein, trazendo para Curitiba uma prensa de mão, com a qual, em 1917, fez as primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil, experimentalmente, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, com a finalidade de serem utilizadas em copo, aplicadas a fogo, utilizando retrato do então Presidente Wenceslau Braz. 

O gravador alemão Alexandre Schroeder, que estabeleceu-se em Curitiba no início do século e trabalhou algum tempo na Impressora Paranaense, onde conheceu Rômulo Cesar Alves, que funcionava à rua São Francisco n.º 37 (hoje n.º 215), com a participação de outros sócios, o Barãozinho do Serro Azul (Ildefonso Serro Azul) e Evaldo Wendler. A regra da casa era o rigor quanto à perfeição do trabalho, procurando a melhor impressão. Não obstante, a permanência de Schroeder nessa firma foi bastante curta, motivada pelo preconceito quanto à sua origem germânica. A Litografia Progresso teve sua atuação intensa na vida curitibana, sobretudo no período entre guerras, criando etiquetas e rótulos, a bem dizer, para todas as indústrias e casas comerciais da cidade; nesse período a cidade se torna centro universitário, a economia paranaense se tonifica e o pinho vai substituindo o mate como eixo industrial.

Em 1920 Schroeder associou-se a Kirstein, fundando a Litografia “Schoroeder e Kisrtein”, à rua Assunguy (atual Mateus Leme), números 57 e 59; essa associação seria de grande importância para o desenvolvimento da nossa indústria gráfica, pois ambos tinham, desde o início, o propósito de intensificar os ensaios para a produção das decalcomanias, chegando inclusive a fazer a primeira experiência de decalcomania em louça. Esse esforço pioneiro interessou o industrial Francisco Fido Fontana que, com os dois especialistas alemães e outros empresários locais, formaram a Sociedade Metalgráfica Limitada, visando “Indústria e comércio de estamparia, litografia, tipografia fabricação de latas e outros”, que entrou em operação a 15 de agosto de 1954, instalada num sobrado da atual Avenida João Gualberto, n.º 9.

Na qualidade de desenhista chefe da Metalgráfica, Schroeder executada trabalhos de alto nível artístico, marcadas pelo bom gosto na escolha das cores e pela execução limpa e meticulosa. Com o seu falecimento, ocorrido em 1934, assumiu o seu posto Rodolpho Doubek: “fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo”. Na composição dos textos dos cartazes litográficos emerge toda uma sociedade, com suas crenças, valores e mesmo problemas, impregnados em casa uma das palavras do velho apelo ao consumo. A perda do reinado da litografia como soberana absoluta em processos de impressão nunca foi admitida como lógica por Doubek, apesar de alguns estabelecimentos em Curitiba só terem abandonado a litografia por volta de 1955/1958 (nota: existem informações que pode ter sido posterior, e como meio de reprodução artística se mantém).

A litografia conviveu lado a lado com todo o florescimento e apogeu do mate, que inclusive condicionava a sua atividade.  Para promover as diversas marcas de mate, produziu-se o mais variado material, desde rótulos de barricas até papéis de carta, cartões-postais, folhetos, marcadores de livros ou mesmo cupons e vales-brinde.

Os demais clientes das litografias eram principalmente fabricantes de doces, bolachas, produtos alimentícios e bebidas, estas com os rótulos mais cuidados e sofisticados (vinhos, runs, uísques, vermute, gengibirra, gasosas, guaraná, capilé, etc.), além de cigarros, charutos e produtos de perfumaria. Em Curitiba havia também algumas cervejarias e fábricas de “phosporos”, que não puderam sobreviver muito tempo à concorrência das filiais das grandes empresas, e assim se foi também a litografia, atropelada pelo Offset

Durante toda uma certa época, os rótulos e embalagens desses produtos industrializados de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular, através de seus desenhos, a população tomava conhecimento dos modismos em voga e participava de uma visão do mundo, realista ou onírica, cuja repetição constante, durante anos, criava uma nova imagem mental, constituindo um dado referencial compartilhado com outras pessoas. 

Posteriormente, a Sociedade Metalgráfica limitou-se a produzir exclusivamente decalcomanias, sendo incorporada às Fábricas Fontana, que transformaram-se na mais importante organização do gênero em todo país.