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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Considerações sobre o capítulo Os primeiros designers industriais. FORTY, Adrian. Objeto do desejo – design e sociedade desde 1750. São Paulo. Cosac Naify, 2007.

FORTY (2007) toma referência um estudo na indústria de cerâmica de Josiah Wedgwood para construir o argumento de como surgiu a atividade do designer no século XVIII. É relaciona com um uma modificação na estruturação e na divisão de trabalho dentro da indústria, com o objetivo de diminuir custos e, consequentemente, aumentar os lucros. Tal perspectiva sobre a consolidação do design nos meios industriais, refuta as premissas indicadas pelos historiadores do design, como Herwin SCHAEFER, que remetiam a incorporação do design no processo industrial como relacionado a incorporação de novas tecnologias.

Por meio de relatos de cartas de Wedwood para Bentley, seu sócio na indústria,  em conjunto com relatos sobre a história do desenvolvimento da indústria cerâmica na Inglaterra, FORTY (2007) estabelece que um conjunto de fatores de ordem, cultural, econômica e de certo modo estética, influenciaram todo o desenvolvimento da indústria da cerâmica.

Entre tais fatores, pode-se citar o saturamento do mercado de cerâmica, todos os potenciais clientes já possuíam peças de louça, portanto era necessária ou a criação de um novo mercado, destinado a um consumidor de renda inferior, ou a adoção de algum diferencial, no caso a qualidade das peças e os motivos (temas) retratos. Wedgwood, de certo modo, buscou ambas. Investiu em várias formas de produzir uma cerâmica de ótima qualidade, inovando em processos que permitiam uma produção em escala, em conjunto com um controle de qualidade, além de associar suas peças a um novo padrão estético, então vigente na época, o Neoclássico. É ressaltado de que este estilo estava em evidência, principalmente pelas descobertas de Herculano e Pompéia, o que encantou as classes elevadas, que viram dentro do estilo Neoclássico, um modo de se diferenciar e afirmar sua posição de prestígio. 

FORTY (2007) esclarece que o grande fator de sucesso de Wedgwood foi o de dividir em várias etapas o processo produtivo para que assim obtive-se um maior controle de qualidade de produção. Criando a função de modelador, responsável pelo projeto de moldes que seriam fabricados. Para tal função contava com o trabalho de alguns artistas, como John Flaxman, que eram remunerados por semana com valores superiores a um artesão normal.

Wedgwood contava um com uma rede de distribuição de peças em que enviava as lojas apenas peças para mostruário, exigindo que seu consumidor fizesse uma encomenda, deste modo reduzia seu capital investido em estoque.  A noção de mostruário também era incorporada em catálogo de peças, os vendedores iam até o consumidor, não deixando de ser uma venda “diferenciada”.

Junto a este contexto, Wedgwood adotou o estilo Neoclássico, de formas mais sóbrias, retas e simétricas que permitia um melhor rendimento na produção e facilidades para a confecção da decoração, o que colaborou para um aumento da produção e uma redução de custo por unidade produzida.

Pode-se observar que esta relação entre senso estético, produção industrial e mercado consumidor indicada por FORTY (2007), não é tão distante do contexto atual. Porém uma dúvida é, até que ponto os ensaios e melhorias no processo de queima, novos materiais, elementos de decoração, ou seja, a tecnologia, não influenciou o desenvolvimento e a adoção de novos elementos estéticos? Ou será que a demanda por novos elementos estéticos não motivou um desenvolvimento tecnológico? Ou ainda no fundo tudo era apenas uma questão econômica uma rede de interesses para se obter um maior lucro, com o menor investimento possível, usando a questão social e tecnológica como ferramenta?

Referências:
FORTY, Adrian. Objeto do desejo – design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Considerações sobre o capítulo 2 do livro CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do Design. Edgard Blücher. São Paulo, 2004.

CARDOSO (2004) segue uma linha já indicada por HOBSBAWN (2005) e FORTY (2007) para explicar as revoluções industriais e o processo de industrialização.

Sua articulação parte da construção do cenário político, econômico, técnico, ideológico e cultural que possibilitaram o desencadeamento do processo de mecanização do processo produtivo na Inglaterra durante o século XVIII. Em seu entendimento esta série de fatores, amplamente complexos de serem analisados, construíram o cenário ideal para tais acontecimentos.

Para Rafael, diferentemente do que se pressupõe, a função de fabricar não é do estado é uma premissa um tanto quando limitada, e altamente questionável. Por meio de relatos históricos apresenta com a consolidação dos estados nacionais na Europa deve um impacto na industrialização, uma vez que era o Estado o responsável pelas primeiras manufaturas reais, responsável por artigos considerados de luxo, que uma vez fabricados, eram exportados em forma de monopólio até suas colônias, ou para outros estados. Outra indústria financiada pelo estado era a fabricação de armas e de construção naval, pois são indústrias estratégicas para a própria autonomia dos estados.

A revolução industrial para
CARDOSO ocorre em modo de ondas, ou surtos, sendo que nem todas as fábricas tem um alto grau de mecanização de suas atividades. E mesmo aquelas que alcançam um grau de mecanização e automação de alguns sistemas produtivos, necessitam também de uma reorganização e redistribuição de tarefas, o que de acordo com CARDOSO , tem uma capacidade de melhorar o rendimento de produção com mais impacto do que com a aplicação de novas tecnologias. Neste contexto, o impacto das relações de trabalho é maior do que a tecnologia, não sendo capaz de separar complemente um elemento de outro, tendo em vista que a separação do trabalho gera a demanda por uma nova tecnologia, afim de otimizar o processo produtivo com um melhor rendimento, e consequentemente mais produtividade.
 

Dentro das características acima, CARDOSO, indica o surgimento de uma “figura” responsável por projetar/decorar, e que não trabalhava diretamente ligada a produção, mas a produção conceitual de um novo produto, tal “figura” pode ser interpretada como o surgimento da função de designer, com um cunho “moderno”.

Um problema deste processo de projetar e fabricar produtos, como cita CARDOSO, é a chamada pirataria. A pirataria consistia em copiar produtos e projetos já consagrados e vendê-los por preços inferiores. Numa tentativa de combater esta prática as leis de patentes são reformuladas.

Um elemento citado como fomentador e responsável pelo aumento do consumo, é relacionado  a possibilidade de oferecer modos de pagamentos parcelados, capacidade de abrir novos mercados externos e utilizar de meios de divulgação (publicidades).

 É ressaltado que no século XIX existe um grande desenvolvimento tecnológico, como as estradas de ferro, da navegação a vapor, do telegrafo, da fotografia etc. 

Referências: 
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher. 2004.
FORTY, Adrian. Objeto do desejo – Design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007.  
HOBSBAWM, Eric, J. A Era das Revoluções (1789-1848). Paz e Terra. 9ª edição. 2005.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

As influencias do design e da tecnologia nos rótulos de Cachaça do Paraná do acervo da Fundação Cultural de Curitiba

Palavras-chave: Design, cultura, tecnologia, rótulos, Cachaça, Paraná.

Introdução:
Esta é uma pesquisa em desenvolvimento para  o Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGTE/UTFPR) campus Curitiba. Os estudos realizados buscam reflexões sobre as relações entre o design, a cultura e a tecnologia, analisadas sob a perspectiva dos rótulos de Cachaça do Paraná do acervo da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Usou-se a análise semiótica com base peirceana como ferramenta. Procurou-se refletir sobre os aspectos plásticos, icônicos e lingüísticos, evidenciando o entrelaçamento dos processos técnicos, as tradições da gravura, oriundos do processo litográfico, dos valores culturais, os nuances históricos, a construção de identidades, as questões simbólicas, revelando a diversidade dessas peças gráficas. Além disso, é uma forma de se resgatar uma parte da história do design gráfico brasileiro, e principalmente paranaense, muitas vezes efetuado por anônimos.

Objetivos:
O objetivo deste estudo é investigar as relações entre design, cultura e tecnologia. Tomou-se como referência o estudo sobre os rótulos de Cachaça, motivado por sua diversidade de representações e ligação com a História do Brasil. Para Cascudo (2005) o termo cachaça já era aplicado no inicio do século XVI.

Material e métodos:
Por se tratar de uma pesquisa em desenvolvimento, o material utilizado está referenciado principalmente no acervo da FCC, por meio da Casa da Memória. Atualmente ocorre um processo de catalogação e verificação do acervo técnico de obras raras, visando disponibilizar todos os rótulos existentes para o acesso público por meio de digitalização. Para tal processo há o apoio da Casa da Memória, por meio dos seus servidores, para auxiliar e estabelecer os parâmetros necessários para a correta disponibilização do acervo. O prazo estimado para o processo é de aproximadamente 3 a 4 meses finalizando no final de novembro de 2012. Uma vez estabelecida e catalogada a coleção, o objetivo é fichar e analisar os rótulos por meio da semiótica peirceana. Além disso, alguns contatos estão sendo efetuados na tentativa de mapear os rótulos e entender a “mobilidade” de seus exemplares, com colecionadores particulares, na capital, litoral e interior do estado.

Resultados e discussão:
A principal colaboração dos estudos é valorizar uma parte da história das artes gráficas brasileiras, por meio do entendimento da litografia como um processo não só de produção, mas criação de material gráfico, revelando seu diálogo com acontecimentos da história brasileira, e podem revelar muitas informações sobre a sociedade à qual pertencem. Por isso o entendimento da tríade (design ─ cultura ─ tecnologia) é importante para que este resgate torne estas práticas sociais “visíveis” e constituintes de uma “linguagem/identidade” cultural, de reinterpretações e resignifcações constante. Olhar estes objetos do cotidiano, no caso os rótulos de Cachaça produzidos por anônimos, com uma alta probabilidade de descarte rápido, é deslocar uma perspectiva social de um ponto de vista não usual, é perceber como, por quais meios, por qual interpretação um fato histórico marcante está retratado no cotidiano, mesmo que para a maioria das pessoas ele permaneça invisível.

Conclusão:
Acredita-se que com estudos voltados a cultura material abra-se um campo de estudos que contribua para a que as relações entre design, cultura e tecnologia ganhem uma representatividade dentro dos estudos sociais. Se a escolha de uma dada tecnologia ocorre em detrimento de outra, é porque atores sociais estabeleceram as condições necessárias para sua implementação, e ao se analisar os frutos de tais escolhas, no caso os objetos de consumo como os rótulos de Cachaça, é possível compreender melhor como, porquê, por quais caminhos, com quais reflexos, tais escolhas refletiram na sociedade.

Referências:   
BUCHANAN, R. A. The Power of the Machine. The Impact of the Technology from 1700 to the Present Day. Londres. Penguin Books. 1992. 
CÂMARA, Marcelo. Cachaça Prazer Brasileiro. Rio de Janeiro. Editora Mauad. 2004.
CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da Cachaça. São Paulo: Global, 2 ed. 2005. 
CARDOSO, Rafael D. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher. 2000. 
SANTAELLA, Lúcia; NÖTH Winfried. Imagem - Cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras. 1998.

Nota: Artigo resumido apresentado no 6º Congresso Nacional de Extensão Universitária na UNOPAR, em outubro de 2012. Este artigo é a base para um outro estudo de mesma temática, porém mais tenso e complexo.

 

domingo, 16 de setembro de 2012

Manual do Paraná - Análise inicial

Neste pequeno texto é apresentado uma maneira de ler, analisar e interpretar um livro com o objetivo de utilizá-lo para uma consulta posterior. A estrutura trata a primeira leitura como relatar, literalmente o texto com os principais pontos, eventualmente pontuar algum comentário para futura utilização em um texto crítico. Todo texto é lido com um objetivo e com uma perspectiva, no caso desta leitura, foi estabelecer de modo geral um contato com a história do Paraná e identificar de que modo a Cachaça é/está/foi relacionada.  Num segundo momento, identifica-se qual é a impressão geral do texto, qual a "sensação" transmitida, estes valores são subjetivos e servem para classificar o texto numa futura consulta. No terceiro contato busca-se organizar a leitura com os objetivos selecionados e relacionar com os argumentos usados, como eles se orientam e como a perspectiva do autor se articula com outras leituras. Ao fim, faz-se um inventário de possíveis citações para trabalhos futuros, ali constam "categorias" atribuídas pelo leitor e que são aplicáveis dentro do contexto de seu estudo. Além disso, há na página a transcrição da possível citação.
O "modelo" adotado é pessoal, subjetivo e presta-se a auxiliar em estudos, não definitivo, nem único. É um modo para organizar e estabelecer uma ferramenta de "catalogação" ou uma "ficha de leitura".
Lembre-se que a leitura é um ação subjetiva e as opiniões e análises apresentadas são pessoais, frutos de uma série de eventos. Leia sempre o original e tire suas próprias conclusões. Crie suas ideias

Título:

FENIANOS, Eduardo E. Manual Paraná: nosso Estado em suas mãos. Curitiba: Univer Cidade, 2007.

Primeiro contato:

Apresentação:
O livro é um desdobramento de expedições efetuados pelo autor, Eduardo Fenianos, dentro do estado do Paraná. Está relacionado com dois álbuns fotográficos e uma série de televisão. A estrutura do livro apresenta primeiramente as características Natureza (física - geográfica) do Paraná, com a terra, a água, a flora e a fauna. No segundo capítulo forma-se um tópico sobre a história da ocupação, envolvendo o periodo histórico entre o século XVI até o século XXI. O último capitulo, chamado de presente, forma um relato sobre o Paraná nos primeiros anos do século XXI, com temas relacionados aos planaltos, economia e estrutura, a cultura paranaense, arte e artesanato, grupos folclóricos, Fandago e a culinária.

Capítulo 1: Natureza

Apresenta os dados oficiais do estado com referência ao ano de 2005, porém não coloca qual a fonte utilizada. Existe um mapa com todos os municipios do estado. Entre os símbolos do Paraná são citados a Bandeira, o Brasão de armas e o Hino.  Faltam informações referentes a importância e simbologia associada a cada um dos elementos como por exemplo o ramo de pinheiro e de mate.
Com relação a formação do solo, relacionado ao tema A Terra, encontra-se um mapa Litológico, exemplificando as razões geológicas (formação dos solos) que levaram o Estado a possuir uma forte economia agricola. O relevo por meio de sua divisão em regiões (Litoral, Primeiro Planalto, Segundo Planalto e Terceiro Planalto) são brevemente comentados, pelo uso de texto e imagens.
Nas Águas há um texto breve comentando sobre o Paraná, significar em Tupi, Rio, e que a Bacia do Paraná ocupa 92% do território paranaense, em momento algum é citado se durante a expedição a preservação dos rios do estado contava com algum apoio, programa, ou se seu estado era de descaso, ou se alguns rios já sofriam ações de degradação, das 3 páginas e meia de fotos, poderiam ser adicionados tais informações, o que enriqueceria o material.
Na Flora é destacado a Mata de Araucária que chegou  a cobrir 40% da área do estado e hoje ocupada menos de 5%. É citado que tal degradação é fruto da agricultura e pecuária. O processo de degradação da cobertura original é visível no infográfico mostrado na página 16. É feito uma breve descrição sobre os tipos de vegetação (Floresta Subtropical, Mata Atlântica, Campos e Cerrados.
Na Fauna são relacionadas as principais espécies presentes no estado. Existe destaque para a Gralha Azul e o Gavião Real, presente no Brasão do Paraná.

Capítulo 2: História

O capitulo é construído com a divisão entre séculos do XVI até o XIX, o século XX é dividido em décadas, ficando por fim os primeiros anos do século XXI. É relatado os principais acontecimentos do estado de modo breve sendo pouco explorado a relação entre eles, e como cada ação poderia ter contribuindo para cada acontecimento futuro. Funciona como um relato de acontecimentos. O uso de imagens (fotografias) para ilustrar algumas passagens histórias é significativo.

Capítulo 3: O Paraná Hoje

A descrição das regiões se inicia do Leste para Oeste, tendo como referência a divisão por relevo, atribuída no capitulo 1 sobre a Terra. Com isso o Litoral e a Serra do Mar são os primeiros tema abordados. São retratados por meio de texto e imagens os principais prédios históricos e regiões mais significativas no entendimento do autor sobre a região são citados:
Morretes (Barreado); Ilha do Mel (Gruta das Encantadas e Farol), Guaraqueçaba, Antonina, mercado municipal de Paranaguá, e a Igreja Matriz de Guaratuba.
No Primeiro Planalto o destaque é a capital do estado Curitiba. São explorados sua densidade demográfica e sua economia com o predominio das áreas de serviço e indústrial. Entre os principais pontos turisticos, com um breve resumo, estão: Ópera de Arame, Parque Tanguá, Teatro Paiol, prédio da Universidade Federal do Paraná e Jardim Botânico. A região metropolitana de Curitiba tem suas principais regiões citadas com um histórico e sua principal conexão com Curitiba e o Paraná.
No segundo Planalto é ressaltada a importância do movimento dos tropeiros para a formação de vilas que se tornariam cidades, como Ponta Grossa, Castro, Lapa e Jaguariaíva. Outro fator destacado é a presença de imigrantes, principalmente no século XIX, como italianos, holandeses, alemãos, poloneses, ucranianos etc, que contribuíram tanto para a consolidação de atividades economicas e a presença de estilos arquitetônicos diferenciados.
No terceiro Planalto, que ocupa quase dois terços do território paranaense, o destaque é dado a Londrina, segunda maior cidade do estado; e a Maringá, terceira maior cidade do Paraná, ambas cidades consideradas jovens (fundadas em meados do século XX) suas economias são focadas na agroindustria e em serviços. Outras cidades citadas com uma imagem e breve descrição são: Guarapuava, Mandaguari, Cascavel, Toledo, Marechal Cândido Rondon. Foz do Iguaçu não é mencionada. Nas imagens há um destaque principalmente aos elementos arquitetônicos e ao contraste entre cidade e campo.
Economia e Estrutura: Apesar de ser conhecido como um “Estado Agrícola” e possuir uma grande área destinada a plantações, os dados apontam uma realidade diferente. No século XXI, a agricultura tem uma participação de 14% de todo o volume de riquezas produzidos. O setor industrial representa 41%, enquanto serviços representa quase metade, 45%.
No caso da agricultura os latifundios representam 12% das propriedades rurais, e são responsávei por 58% da produção agrícola do estado, os outros 86% das propriedades, e os 42% da produção são resultados de pequenos agricultores (menos de 50 hectares) que empregam cerca de ¾ de toda a mão de obra do setor. Os destaques estão para a produção de soja, milho e trigo e a criação de gado leiteiro e de corte.
A Cultura Paranaense: Parte-se dos primeiros habitantes do atual território paranaense, por meio de resquicios, estima-se uma ocupação entre 3000 a 6000 anos atrás. São citados basicamente 4 grupos indigenas, cada um em uma faixa territorial, os Tupis, Gês (Jês), Kaingang e Xetá. Durante o século XVI os portugueses e espanhóis iniciaram um processo de “desbravamento” da região em busca de terras e ouro (mineração), entrando em contato com estes grupos indigenas. De acordo com o autor, é neste momento que a população paranaense sofre um processo de “mistura de raças”  tende a sensação de que esta construção ocorreu de modo pacífico.
Os imigrantes: Chegaram a partir da segunda metade do Século XIX por meio de políticas de incentivo. Entre os citados estão: os alemães, franceses, poloneses, italianos, ucranianos, holandeses, japoneses, árabes, suícos e chineses. Cada grupo de imigrantes conta com um pequeno texto esclarecendo qual região do estado foi ocupada fisicamente, além de contribuições para a economia do estado. Novamente é enaltecido a questão da diversidade cultural.
Arte e Artesanato: Resultado dos povos que colonizaram o estado. Misturam-se técnicas, formas, materiais e temas. De acordo com o autor a miscigenação de povos acontece com  a produção do artesanato. São referenciados: as pêssankas (ucranianos), trabalhos com fibras como cestariase objetos de decoração (indigenas - litoral), entalhes (quadros e esculturas) em madeira, e uso de palha na confecção de bonecos (indigenas - oeste)  
Grupos Folclóricos: O texto foca em dois momentos, um relacionado ao Fandango e outro aos grupos relacionados a imigração. O Fandango é uma dança considerada típica do litoral paranaense. Se estabelece no século XVII com portugueses e espanhóis. Existem relatos que a presença da Cachaça como um ritual de passagem de uma música para outra, com o objetivo de “soltar” a voz e a dança. Os instrumentos usados são: viola, rabeca e um adufo (pandeiro). A dança se caracteriza por algumas pessoas dançando como uma “valsa” e outros coreografando uma dança onde batem tamancos de madeira por entre os músicos. É relatada também algumas alterações, como a amplificação dos instrumentos, a adoção de um tablado de madeira para apresentação e de uma iluminação colorida.
Lendas: São apresentadas as lendas da Gralha Azul, das Cataratas do Iguaçu e de Vila Velha. Todas com caracteristicas indigenas.
Culinária: Assim como outras manifestações culturais a culinária paranaense tem influencia de sua colonização. Entre os destaques está o pinhão, semente do pinheiro (araucária) típico da região e muito consumido pelos indigenas no inverno. O consumo mais usual é assado em brasa, aproveitando os próprios galhos secos do pinheiro. Também de origem indigena tem origem o hábito de ingerir erva-mate, resultando no chimarrão e no mate gelado. O Barreado, considerado o prato típico mais conhecido do Paraná, tem sua origem no litoral do estado, e de acordo com a história oral relatada pelo autor, tem sua origem no contato entre os imigrantes portugueses e os indios. Acompanhado do Barreado, tradicionalmente são servidos a banana e a farinha de mandioca, além da Cachaça.

Impressões do texto: descontraído e descompromissado. Informativo.

Comentários:
Faltam as referências bibliográficas da pesquisa na maior parte do texto o que inviabiliza a possibilidade de ir até a fonte original. O texto tem um carater informativo e, nos momentos que busca argumentos, recai na construção da misceginação dos povos, das culturas diversificadas, do bom samaritano, e que no Brasil tudo é “permitido”. Estudos relatam que no estado do Paraná o preconceito não era apenas direcionado a ex-escravos, mas também em imigrantes europeus e, algumas das tradições presentes tem um papel de resistência cultural, sua valorização ocorre posteriormente pela atuação destes mesmo imigrantes na sociedade, buscando um reconhecimento de sua cultura e suas práticas sociais.
As imagens utilizadas são significativas, uma vez que buscam afirmar as informações do texto, criam-se dois meios de construção da informação, um contado pelo texto e o outro, pelas imagens.
O argumento e a “história” contada se alinham com a orientação da “história oficial” reproduzida nas escolas, e reflete as “tradições e discursos” inventados na construção de uma ideia de estado, no caso uma ideia de Paraná. Porém, apresenta como mérito, uma linguagem acessível e pode convidar seu possível leitor a investigar alguns detalhes particulares, despertando para alguns questionamentos de porquê tais caracteristicas foram assimiladas em detrimentos de outras e como estão relacionados com o momento do Estado.
Existe o comentário de dois momentos da presença da Cachaça na cultura paranaense, ambos relacionados ao litoral. O primeiro momento é com o Fandango, e o segundo com o Barreado. Interessante é a presença da Cachaça em duas “tradições” paranaenses classificadas como “genuínas”.

Ficha de citações:
Cachaça, Paraná, cultura, regional

A cada música os cantadores davam bons goles de pinga e explicavam que o ritural era para esquentar as cordas vocais e assim cantar mais alto.
p. 89


Cachaça, Paraná, cultura, regional
Barreado, tradicionalmente acompanhado de banana, da farinha de Mandioca e Cachaça, produzida astesanalmente no litoral do Paraná.
p.93

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O que fez designer

Talvez uma das principais motivações para os estudos em design é sua relação com áreas distintas. O design relacionado com outras áreas do conhecimento "empurra" o designer a transpor constantemente seus limites de conhecimento, promovendo formações diversificadas.

Isso ocorre no momento em que, clientes com produto/serviços demandam projetos variados e, um dos caminhos indicados pelas metodologias de projeto é: compreender o produto e/ou serviço em seu provável ambiente de uso/consumo.

Com este panorama, não é raro o designer precisar interagir com variados temas, nos quais o seu conhecimento é raso, proporcionando uma experiência, não só em leituras, mas em práticas. Para muitos designers este é o momento da "descoberta", do "novo", da "quebra", onde velhas concepções ganham novas perspectivas, transformando o designer em um profissional de conhecimentos ecléticos, em atuação em diferentes áreas e indiretamente favorecendo certa "miopia" no reconhecimento de suas atividades.

O "ser" designer tem como caminho este constante estado de formação, interpretação e significação. Mas como isso ocorre? Diferentemente da crença compartilhada por alguns indivíduos, a formação do designer, não começa e nem termina num curso de "computador", nem numa graduação ou pós-graduação. É possível encarar como estágios de desenvolvimento e amadurecimento, não só de trabalhos, mas de sensibilidade. Não é um caminho de mão única de retas infinitas, possui curvas, subidas, descidas e, em alguns casos, acidentes. Portanto é cômodo a alguns designers apontarem o dedo com o "discurso": - Fiz uma graduação em design, portanto eu sou designer, você que não fez é um "micreiro". Não é difícil observar "trabalhos" de micreiros superiores ao de designers "formados". É difícil para alguns setores aceitarem que uma graduação não irá construir isoladamente um designer competente e profissional  mas depende também do empenho pessoal, e este problema não é visto apenas no design, mas em outras áreas do conhecimento.

Outro fator determinante é a capacidade de interpretação adquirida. Por mais que as instituições acadêmicas formais de ensino apresentem disciplinas importantes para a formação, é impossível apresentar todo o conhecimento, ou mesmo para os discentes, reterem a quantidade de informações que são submetidos. Portanto, ocorre constantes edições, sejam por parte dos docentes na confecção das emendas de disciplinas, ou pelos discentes, com interesses diversificados. Além disso, a facilidade e a quantidade de informações obtidas fora das instituições de ensino formais é absurdamente grande, e é necessário aprender em como obter, o que fazer, como filtrar e como estruturar estas informações, o que seria um primeiro passo a interpretação das mesmas.

A significação é a grande contribuição do designer. Esta significação pode ser compreendida como a ação/efeito de, por meio de intervenções, proporcionar uma melhor qualidade de vida na sociedade. Não há uma linha entre formação, interpretação e significação, ela são permeadas a todo instante.

Esta tríade é, talvez até um excesso, responsável por esta "motivação" de tantos designers "apaixonados" por esta profissão, as tão vezes mal compreendida e, em alguns casos, difícil de ser verbalizada.