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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Considerações: A circulação de imagens no Brasil oitocentista: Uma história com marca registrada.

Este texto é uma produção de Lívia Lazzaro Rezende. Inicialmente é apresentado o cenário dos primórdios da produção gráfica brasileira nos tempos do Império do Brasil. Este panorama começa a ser traçado com a inserção do registro de marcas para quem quisesse tornar exclusiva a marca de seu produto para distingui-la dos outros do mercado. Para tal ação, bastava comparecer até a Junta Comercial, o proprietário da marca ou seu procurador, levando consigo dois exemplos impressos da marca a ser registrada.

Depois de cuidar dos tramites legais, era devolvido ao proprietário um exemplar carimbado como prova do registro. O outro exemplar era colado em um dos livros-registro, e posteriormente, publicado no diário oficial ou em algum jornal de grande circulação.

Estes livros-registro contêm exemplares significativos sobre a produção gráfica brasileira oitocentista. De acordo com a autora, por meio destes exemplos é possível observar diferentes características dos logotipos e rótulos produzidos no Brasil no período Imperial, além de seu processo de produção.

Lívia parte dos livros-registros para dar diversos exemplos, principalmente por meio de rótulos impressos no sistema litográfico, para apresentar alguns detalhes de como a produção gráfica brasileira oitocentista era rica, variada, com técnicas semelhantes às aplicadas no exterior, além de dialogar com o contexto cultural do período. 

Assim, Livia apresenta a perspectiva de como os elementos gráficos e os motivos aplicados nos rótulos, possuem vestígios do contexto histórico/cultural vigentes na época do Brasil Império. Nestes rótulos é possível detectar uma concepção liberal e progressista, paradoxalmente organizada em torno de um sistema escravocrata; a figura do bom selvagem; doses dos movimentos artísticos, como o Neoclássico; um teor político, como o uso de símbolos republicanos e outros como o Brasão Imperial; além de uma preocupação na criação, como o uso de enquadramentos, composições, tipografia e estruturação das imagens.

Outros pontos destacados são: o fato do ser e parecer moderno, como a chegada da litografia a vapor, que eram inscritas nos rótulos para a transmissão da ideia de moderno; a existência de uma conexão com o exterior, tanto por meio da mão de obra especializada, ou por referências de rótulos importados; e a informação verbal muitas vezes limitada as iniciais do fabricante ou um lema (tema ou slogan) do produto.

Existe uma preocupação dentro da organização do livro em colocar os temas de pesquisa numa tendência cronológica dentro do período estimado (1870-1960), o que também marca sua oposição a concepção de que o design brasileiro ocorreu apenas em meados do século XX.

Talvez, o termo design, ou desenho industrial, enquanto discurso de modernidade e quem sabe até como meio legitimador de uma ideologia, pode ter uma etapa de seu desenvolvimento estabelecido nos meados do século XX, abrindo assim uma consciência sobre os atributos da profissão. Porém as suas práticas, como é demonstrado nos exemplos impressos e em análises no transcorrer do livro em diferentes momentos da indústria gráfica, são evidentes antes de tal período.

Assim percebe-se que CARDOSO (2005) mostra que sua breve introdução a história de design lançada na virada do século XX para o XXI, tem sua voz reforçada, ao apresentar diferentes estudos entre a relação da cultura material, no caso representada pelos impressos, e o contexto social, tecnológico e econômico que está em seu entorno. 

Nos ensaios é possível estabelecer como a presença de diferentes “atores” sociais é capaz de atribuir e justificar determinadas escolhas em detrimento de outras, e apresenta um grau de complexidade quase “invisível” num primeiro contato, mas que ao ser analisado dentro de uma perspectiva histórica/cultural revela as diversas camadas de significados presentes. 

Referências: 
CARDOSO, Rafael. O design antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

As influencias do design e da tecnologia nos rótulos de Cachaça do Paraná do acervo da Fundação Cultural de Curitiba

Palavras-chave: Design, cultura, tecnologia, rótulos, Cachaça, Paraná.

Introdução:
Esta é uma pesquisa em desenvolvimento para  o Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGTE/UTFPR) campus Curitiba. Os estudos realizados buscam reflexões sobre as relações entre o design, a cultura e a tecnologia, analisadas sob a perspectiva dos rótulos de Cachaça do Paraná do acervo da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Usou-se a análise semiótica com base peirceana como ferramenta. Procurou-se refletir sobre os aspectos plásticos, icônicos e lingüísticos, evidenciando o entrelaçamento dos processos técnicos, as tradições da gravura, oriundos do processo litográfico, dos valores culturais, os nuances históricos, a construção de identidades, as questões simbólicas, revelando a diversidade dessas peças gráficas. Além disso, é uma forma de se resgatar uma parte da história do design gráfico brasileiro, e principalmente paranaense, muitas vezes efetuado por anônimos.

Objetivos:
O objetivo deste estudo é investigar as relações entre design, cultura e tecnologia. Tomou-se como referência o estudo sobre os rótulos de Cachaça, motivado por sua diversidade de representações e ligação com a História do Brasil. Para Cascudo (2005) o termo cachaça já era aplicado no inicio do século XVI.

Material e métodos:
Por se tratar de uma pesquisa em desenvolvimento, o material utilizado está referenciado principalmente no acervo da FCC, por meio da Casa da Memória. Atualmente ocorre um processo de catalogação e verificação do acervo técnico de obras raras, visando disponibilizar todos os rótulos existentes para o acesso público por meio de digitalização. Para tal processo há o apoio da Casa da Memória, por meio dos seus servidores, para auxiliar e estabelecer os parâmetros necessários para a correta disponibilização do acervo. O prazo estimado para o processo é de aproximadamente 3 a 4 meses finalizando no final de novembro de 2012. Uma vez estabelecida e catalogada a coleção, o objetivo é fichar e analisar os rótulos por meio da semiótica peirceana. Além disso, alguns contatos estão sendo efetuados na tentativa de mapear os rótulos e entender a “mobilidade” de seus exemplares, com colecionadores particulares, na capital, litoral e interior do estado.

Resultados e discussão:
A principal colaboração dos estudos é valorizar uma parte da história das artes gráficas brasileiras, por meio do entendimento da litografia como um processo não só de produção, mas criação de material gráfico, revelando seu diálogo com acontecimentos da história brasileira, e podem revelar muitas informações sobre a sociedade à qual pertencem. Por isso o entendimento da tríade (design ─ cultura ─ tecnologia) é importante para que este resgate torne estas práticas sociais “visíveis” e constituintes de uma “linguagem/identidade” cultural, de reinterpretações e resignifcações constante. Olhar estes objetos do cotidiano, no caso os rótulos de Cachaça produzidos por anônimos, com uma alta probabilidade de descarte rápido, é deslocar uma perspectiva social de um ponto de vista não usual, é perceber como, por quais meios, por qual interpretação um fato histórico marcante está retratado no cotidiano, mesmo que para a maioria das pessoas ele permaneça invisível.

Conclusão:
Acredita-se que com estudos voltados a cultura material abra-se um campo de estudos que contribua para a que as relações entre design, cultura e tecnologia ganhem uma representatividade dentro dos estudos sociais. Se a escolha de uma dada tecnologia ocorre em detrimento de outra, é porque atores sociais estabeleceram as condições necessárias para sua implementação, e ao se analisar os frutos de tais escolhas, no caso os objetos de consumo como os rótulos de Cachaça, é possível compreender melhor como, porquê, por quais caminhos, com quais reflexos, tais escolhas refletiram na sociedade.

Referências:   
BUCHANAN, R. A. The Power of the Machine. The Impact of the Technology from 1700 to the Present Day. Londres. Penguin Books. 1992. 
CÂMARA, Marcelo. Cachaça Prazer Brasileiro. Rio de Janeiro. Editora Mauad. 2004.
CASCUDO, Luís da Câmara. Prelúdio da Cachaça. São Paulo: Global, 2 ed. 2005. 
CARDOSO, Rafael D. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher. 2000. 
SANTAELLA, Lúcia; NÖTH Winfried. Imagem - Cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras. 1998.

Nota: Artigo resumido apresentado no 6º Congresso Nacional de Extensão Universitária na UNOPAR, em outubro de 2012. Este artigo é a base para um outro estudo de mesma temática, porém mais tenso e complexo.