Páginas

Mostrando postagens com marcador Kirstein. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Kirstein. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de março de 2013

Textos da exposição sobre a litografia paranaense em 1975

Material retirado da Casa da Memória (FCC) sobre a exposição ocorrida em 29 de outubro de 1975, que produziu diversos materiais sobre o tema. Digitalizado por Alan Witikoski do datilografado. Infelizmente o original não possui nota sobre o autor do texto, se alguém comprovar o autor, ele será devidamente referenciado.
 
A exposição, “Rótulos e Embalagens Antigos ─ Litografia” é o resultado de um trabalho intensivo de coleta de material gráfico confeccionado em Curitiba pelo processo de impressão litográfico que antecedeu ao processo de impressão Offset. Para obtenção do referido material a Casa Romário Martins fez cerca de oitenta contatos entre industriais, descendentes e proprietários de antigas litografias de Curitiba.
Como resultado, mostraremos ao público, à partir de 29 de outubro:
Pedras litográficas confeccionadas em quatro estabelecimentos gráficos;
- Rótulos e embalagens confeccionados por cinco estabelecimentos;
- Coleção de duzentos rótulos confeccionados na Impressora Paranaense no período de 1914  a 1916;
- Coleção de rótulos e embalagens confeccionados pelo litógrafo Rodolfo Doubek no período entre 1929 a 1938, na Sociedade Metalgráfica;
- Coleção de caixas de fósforo mostrando a evolução da apresentação do produto;
- Coleção de embalagens de remédios manipulados desde o inicio do século;
- Coleção de cartazes publicitários confeccionados em três estabelecimentos gráficos;
- Álbum de rótulos de cervejas antigas de todo Brasil;
A exposição mostrará ainda:
- Painel fotográfico mostrando estabelecimentos gráficos antigos, o ambiente de trabalho de uma litografia, máquinas e litógrafos;
- Painel de documentos fotocopiados recortes de jornal referentes a litógrafos, litografias e sobre a introdução da decalcomania no Paraná;
- Painel especifico sobre a propaganda do Mate;

Todo o material será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos tomados pela Casa Romário Marins entre litógrafos e pessoas ligadas a litografia e que estarão a disposição do público para consultas. Durante a abertura será lançado o boletim, “Schroeder e Kirstein”, nome de dois alemão que segundo os depoimentos caracterizaram-se como verdadeiros pioneiros da indústria gráfica no Paraná e responsáveis pela introdução da decalcomania no Paraná e no Brasil.
Rótulos de barricas de mate, o nostálgico leque de compensado de velhos carnavais, e a bolota da Cervejaria Atlânctica, relíquia do folclórico Bar Okay, relembrando rodas de boemia, são algumas das peças que comporão a exposição, Rótulos e Embalagens Antigo ─ Litografia, que a Casa Romário Martins inaugura no próximo dia 29 de outubro.
E se a nota pitoresca será dada pelos rótulos de Cachaça com seus nomes bizarros: Nº 1, Só-Só, Arrasta pé, Três Tombos, Com esta que eu vou, a embalagem da pasta dentifrícia e os rótulos das cervejas Pomba, Providência e Cruzeiro farão lembrar uma época em que Curitiba tinha pelo menos dez cervejarias, além de centenas de outras pequenas indústrias.

Rótulos e Cartazes
Além de cerva de quatrocentos rótulos e embalagens, de variadas procedências, a Casa Romário Martins estará mostrando velhas latas floridas de biscoito que durante muito tempo serviram de “cestinho de bordado” para as vovós, uma coleção de caixas de fósforo desde o inicio do século, e as simpáticas garrafinhas de folha, brinde de uma cervejaria: elas eram rodadas nas mesas de bar, e quando paravam, apontavam o felizardo que teria que pagar ...
A exposição mostrará, também, o tempo que as firmas davam como brindes miniaturas de bebidas, canetas de pena, e o tempo em que o mate era exportado em barricas artesanais, hoje substituídas por sacos de plásticos. Não faltarão os cartazes de publicidade anunciando cervejas com apelos suis generis de, “auxilio a nossa agricultura”, ou o cartaz da Confederação dos Tingus.

Pedras e Fotografias

Pedras litográficas desenhadas em vários estabelecimentos gráficos darão ao público uma ideia do processo de impressão que antecedeu o Offset, quando o desenho de um rótulos precisava ser feito diretamente na pedra calcária, duríssima, importada e difícil de trabalhar. As possibilidades de correção eram mínimas e as palavras precisavam ser escritas da direita para esquerda.  Painéis fotográficos completarão a visão do processo litográfico, que será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos gravados pela casa Romário Martins com ex-litógrafos, descendentes e proprietários de antigas litografias.
Oscar Schrappe, da Impressora Paranaense, conta, entre outras coisas, como a Questão do Contestado influiu nos negócios da empresa; Rodolfo Doubek explica que no tempo da litografia não havia agência de publicidade e era o próprio litógrafo quem criava rótulos e embalagens, “colocando inclusive o dístico”, e Otto Schnneck fala no salário de aprendiz de litógrafo: “dava para comprar dois pares de sapato, e conta, também que uma das funções do aprendiz era procurar modelos para rótulos em revistas estrangeiras: “o trabalho não era copiado, mas tirava-se uma ideia”.

Decalcomania e Boletim

O depoimento de Miguel Raicosky, proprietário da Impressora Pontagrossense, hoje Cartográfica Industrial conta que apesar de ter oficina em Ponta Grossa dependia dos litógrafos curitibanos que faziam aqui o croqui de seus rótulos, trabalhando como “freelancer”, e Otto Stutz relembra que o litógrafo precisava fazer reduções à mão livre, de até vinte vezes porque era moda mostrar nos rótulos, a fachada de complexos industriais. A maioria destes depoimentos faz referências ao nome de dois alemães, Schroeder e Kirstein, apontados como pioneiros na litografia em Curitiba, e são notícias extraídas destes depoimentos que compõe o boletim que a Casa Romário Martins estará lançando no dia 29, sob o título “Schroeder e Kirstein”. Alexandre Schroeder nasceu na Alemanha onde aprendeu o ofício de litógrafo e veio ao Brasil no inicio do século. Estabeleceu-se em Curitiba e participou na criação de três estabelecimentos gráficos: Litografia Progresso, Sociedade Metalgráfica e Schroeder e Kirstein, este último juntamente com outro técnico, onde foram produzidas em escala industrial as primeiras decalcomanias do Brasil.

Nota:Acredito que existe uma falha cronológica no texto, Schroeder, de acordo com relatos, trabalhou na Impressora Paranaense, ainda na época de Jesuíno Lopes, onde conheceu Rômulo Cesar Alves. Com a compra por parte da familía Schrappe (de Santa Catarina) pediram demissão e fundaram a Litografia Progresso.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Entrevista: Rodolpho Doubek comenta sobre a Sociedade Metalgráfica

A página de apresentação estava faltando, assim acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

Notas:
No texto existem alguns pontos interessantes. O que trata da aproximação dos litógrafos com as artes plásticas, as funções dentro de uma littografia, no caso a Litografia Metalgráfica e, quais e como eram criados os materiais gráficos.


1. Para começar, queríamos seu nome completo
Rodolfo Doubek. Nasci em Curitiba, num domingo de Páscoa, 15 de abril de 1906.

2. O senhor sempre gostou de desenho?
Sempre, desde guri sujava as paredes.

3. E estudou desenho?
Sim. Entrei no curso de pintor decorador da Escola Alfredo Andersen em 1926 ou 1928, não lembro direito. Depois abandonei e só voltei mais tarde, quando Andersen já havia morrido e o ateliê era orientado pelo filho dele. Daí estudei pintura mesmo e desenho, por quatro anos.

4. Conviveu durante quanto tempo com o Andersen?
Um ano e meio, mais ou menos.

5. Por que motivo o senhor abandonou a escola da primeira vez: acabou um curso específico ou desinteressou-se?
É fiquei doido pelo esporte, principalmente atletismo e basquete e acabei abandonando a pintura temporariamente. Comecei na Sociedade Duque de Caxias. Depois fui para o exército e lá me tornei mais desportista ainda, porque assim me livraria do trabalho do quartel. Mais tarde pratiquei esporte também na Sociedade Rio Branco.

6. O senhor chegou a participar de competições?
Ninguém acredita, mas eu sou campeão brasileiro de basquete. Foi em 1930. Neste ano São Paulo e o antigo Distrito Federal brigaram com a Confederação Brasileira de Desportos e se retiraram. Concorremos com Minas Gerais e o Estado do Rio, e vencemos.

7. Participou de outras?
As Ligas Atléticas do Paraná e do Rio Grande do Sul costumavam organizar campeonatos sul-brasileiros de atletismo, basquete e vôlei, e sempre os gaúchos levavam a melhor. Mas aí também fui campeão sul-brasileiro de basquete, pois conseguimos vencer uma vez em Porto Alegre.

8. Quando o senhor voltou a estudar na Escola Alfredo Andersen já havia deixado o esporte de lado?
Continuei no esporte, mas daí tudo já era mais regrado, e a escolha sob a orientação do filho de Andersen não era a mais a mesma de antes. No fim, larguei também aquilo e fui trabalhar como litógrafo na Sociedade Metalgráfica.

9. Este foi então seu primeiro emprego?
De profissão fixa foi, e fiquei na Sociedade cerca de nove anos.

10. Começou a pintar quadros na época?
Bem, eu já pintava desde a época em que era decorador, mas aí só fazia cópias.

11. E este trabalho do pintor decorador como era?
Fazia frisos, motivos gregos nas paredes. Naquele tempo usava-se muito chapeado e pintura à mão. Me especializei nisto e trabalhei nove anos.

12. Há ainda hoje alguma residência com parede decorada pelo senhor?
Duvido. Engraçado, numa de suas mudanças, o Departamento de Terras foi parar no Edifício Lins, na antiga rua Conselheiro Barradas, (do Clube Concórdia) e no quarto que antes fora ocupado pelas crianças ainda havia o meu friso.

13. Muita gente dedicava-se a este tipo de trabalho?
Naquele tempo não havia muito pintor. A maioria era de origem alemã, e eu era muito disputado. Todo mundo me convidava para trabalhar, mas sempre fiquei na firma do Roessie que era meio parente meu.

14. As, o senhor não trabalhava por conta própria, havia uma firma constituída só para este fim?
É era empregado. Era a firma Germano Roessie onde trabalhavam pai e filho, só para fazer decoração em paredes. Trabalhei com eles até 1928. Depois quando saí do exército trabalhei com um primo que era litógrafo. Ele sentou praça, e em virtude de seu desenho cartrográfico, foi mandado para o Rio de Janeiro, trabalho no Serviço Geográfico Militar. Quando voltou, ingressou na Universidade e fez curso de Agronomia. Continuou trabalhando no Estado e como tinha muito serviço particular de litografia, pediu para que eu trabalhasse com ele. Fiquei durante alguns meses.

15. Chegaram a constituir firma e registar uma litografia?
Não, não havia litografia. Naquele tempo era comum os desenhistas serem procurados particularmente. E assim foi. O meu primo me ensinou a fazer letras, trabalhamos juntos e depois, quando terminou a enxurrada de serviço, ele me arranjou emprego na Sociedade Metalgráfica.

16. Qual era o seu setor na Sociedade Metalgráfica?
Só litografia. Desenho sobre pedra e zinco. Mais tarde, com o falecimento do senhor Schroeder, que era um dos chefes da firma, passei a ser o Primeiro Desenhista. Daí trabalhava mais o croqui, dando ideias, estas coisas.

17. Então o senhor convivei muito pouco tempo com Schroeder ...
Bem pouco. Acho que foi um ano, um ano e meio.

18. Muitos litógrafos antigos afirmam hoje terem aprendido com o Schroeder. O senhor lembra de outros mestres no seu tempo?
Não, não lembro.

19. O trabalho do Schroeder era bom realmente?
Para a época era muito bom. Começamos quando a Sociedade ainda era uma metalografia. Trabalhávamos com a impressão sobre metal, folha de Flanders, fazendo embalagens de latas. Latas para banhas, por exemplo, com aquele bruta porco na frente. Era um serviço bem grosseiro. Só mais tarde é que começamos a trabalhar papel. Fazíamos rótulos, especialmente para barricas de mate. Agora, decalcomanias fizemos desde o ínicio.

20. O senhor tem ideia de quem tenha introduzido a decalcomania aqui? Parece que várias pessoas concordam que tenha sido a dupla Schroeder e Kirstein.
Os dois juntos. O Kirstein sabia a técnica, o Schroeder desenhava, e eles fabricaram as primeiras.

21. E isto parece que foi feito antes da Sociedade Metalgráfica. Numa firma que pertencia aos dois é isto mesmo?
Isto mesmo, era a firma Schroeder e Kirstein.

22. Mais tarde é que eles passaram para a Sociedade Metalgráfica?
É, depois se associaram a firma Fontana, constituíram a Sociedade Metalgráfica e introduziram a impressão em metal.

23. O senhor sabe alguma coisa à respeito da saída do Schroeder da Sociedade? Parece que a família tem muita mágoa à respeito.
Pois é, eu só soube disto por intermédio do filho dele, no último sábado. Só sei que o Schroeder morreu de pneumonia, contraída quando foi ao enterro de um filho do proprietário da Impressora Paranaense. Choveu neste dia, ele resfriou-se e depois complicou.

24. Á respeito do seu trabalho na Sociedade Metalgráfica, o que fazia o primeiro desenhista?
Vinham pedidos de todos os tipos: rótulos, mapas, e até música. Fizemos cartazes propaganda em geral. Tudo o que aparecia e que podíamos fazer, fazíamos.

25. Só para cliente de Curitiba?
Não, de toda parte. Trabalhamos até para o Uruguai, principalmente para exportadores de mate. Tínhamos representantes em todos os Estados do país.

26. A Sociedade Metalgráfica começou fazendo só decalcomanias e latas?
Quem pode lhe contar isto é o Constante Moro, porque eu não participei do começo.

27. E como era feito o trabalho: hoje, quando a pessoa precisa de uma embalagem vai a agência de publicidade ou ao departamento específico de empresa e lá há pessoas, por exemplo, só para dar a ideia que só dão o texto, e outra que desenham.
Naquele tempo era bem diferente, não havia nada disto. Algumas firmas vinham com uma ideia mais ou menos bolada e cabia ao primeiro desenhista desenvolvê-la, fazer o desenho e submetê-lo a apreciação. Mas, geralmente era o próprio desenhista quem dava a ideia, desenvolvia, e punha o texto também. Uma exemplo foi a ideia de um cartaz que fiz para uma facção política, mais tarde a UDN, a Confederação dos Tinguis. Bolei uma pessoa segurando um pinheiro, evitando que ele caísse. Eles gostaram, inclusive dístico que foi completado apenas por uma palavra pelo Erasto Gaertner. Fiz assim: “O Paraná confia na capacidade e no esforço de seus filhos”, e mandou finalizar: ”filhos dedicados”.

28. Quer dizer que além de desenhar o senhor tinha que dar também o texto?
Quase sempre era a gente mesmo que punha o dístico.

29. Mas então era difícil, e o primeiro desenhista tinha que ser o homem dos sete instrumentos.
Não, porque naquele tempo a gente não levava tão à sério este negócio. E também havia o plágio. A gente aproveitava uma ideia daqui, outra dalí e formava o texto junto do anúncio. Eu pouco usava este recurso porque geralmente tinha o dom para bolar a ideia mais ou menos. Mas ideia razoável para aquele tempo, porque se fosse hoje em dia não. Está tudo modificado, avançadíssimo. No meu tempo era tudo simples; quando vejo os cartazes atuais, sinto-me envergonhado.

30. Aconteceu de levarem à Sociedade Metalgráfica algum produto para o senhor escolher o nome, um lançamento?
Não trabalhávamos sempre com marcas e nomes já registrados, e estes nomes eram sempre escolhidos pelo próprio dono da empresa.

31. Lembra de algum problema, algo fato marcante no seu serviço?
Aconteceu que já tínhamos a justiça em cima da fábrica. Um dos casos envolveu aqueles enfeites imitando madre-peróla que uma determinada indústria costumava colocar nas máquinas de costura. Uma firma, não quero dizer o nome, encomendou os tais enfeites e nós fizemos, copiando direitinho. Seu proprietário recebia máquinas velhas para consertar, consertava e depois colocava a placa. Outro caso tivemos com os desenhos da Walt Disney. Começamos a fazer decalcomanias de todos os tipos inclusive daquelas figurinhas bonitinhas e aí veio uma multa em cima. Com a multa, a fábrica já aproveitou e comprou os direitos de reprodução e continuamos.

32. Depois de quanto tempo a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrentes na confecção de decalcomanias?
Não sei. Só posso dizer que mais tarde surgiu uma fábrica em São Paulo, e depois surgiram fábricas de decalcomanias a quente que nós também fabricávamos. Era uma impressão normal, com breu em pó por cima. Depois ia ao forno, o breu derretia, e ficava preso na tinta. Dá punha-se o papel em cima, passava-se o ferro, e o desenho ficava.

33.As decalcomanias produzidas aqui eram vendidas em todo o Brasil?
As decalcomanias para crianças (figurinhas, bandeiras, personagens históricos, brasões) iam para todo país, pois tínhamos representantes em todos os Estados.

34. Quais eram os tipos de decalcomanias?
Fazíamos inclusive decalcomania para louça, atendendo pedido específico de temas, de acordo com o interesse do comprador: sobre datas, festejos, paisagens, etc. O volume de venda destas decalcomanias era tão grande que as outras, para crianças deixávamos em segundo plano. Era quase que só para a louça e os pedidos maiores vinham de São Paulo e Campo Largo.

35.A decalcomania para louça é muito diferente?
São tintas especiais, mas a decalcomania é tirada normalmente. Molha-se o papel na água, coloca-se na xícara ou no prato e deixa secar. Depois leva-se ao forno, lá ele derrete e fica para sempre. No finzinho da minha permanência na Sociedade Metalgráfica,, ao invés de desenhar a decalcomania na pedra já se estava usando a fotografia, o que facilitou em muito.

36. E era muito difícil desenhar decalcomanias?
Sim; era preciso saber alguma técnica, principalmente para a decalcomania em louça; As cores, por exemplo, não podiam ser impressas umas sobre as outras senão a louça rachava no forno. Mas além do conhecimento na aplicação da tinta, o processo era o mesmo.

37. E o desenho na pedra. É muito complicado?
Não até que é bom, muito bom.

38. Mas tem que ser feito com pena, não é?
Sim e com uma tinta especial em forma de bastão. Coloca-se esta tinta num vasilhame Côncavo e vai esfregando, esfregando, até aparecerem estrias mais claras. Depois deixa-se a tinta descansar e no outro dia já pode começar a trabalhar. A tinta é boa de trabalhar porque não borra, não se espalha, faz traços finíssimos ou grossos, como quiser.

39. Com que o senhor aprendeu a trabalhar na pedra?
Com o meu primo, aquele que falei no inicio da entrevista. O processo só é meio complicado porque a gente tem o desenho e para fazer a matriz tem que fazer cruzetas na extremidade. A matriz de cada cor tem que ter suas cruzetas coincidentes com as cruzetas das outras cores, senão borra tudo.

40. Porque o senhor que tem tantos quadros, preferiu ser litografo em vez de pintor?
Acontece que eu não sou pintor; o pinto nas horas vagas. Deixei de pintar porque meu primo chegou a ser chefe da Seção Cartográfica do Departamento de Terras do Estado e me levou para lá. Entrei no Serviço Público e por isto deixei a Sociedade Metalgráfica. Fui especializando em mapas, e depois em mandaram par ao Rio de Janeiro para um curso de cartografia com duração e dois meses. Entrei no Estado em 1938 e permaneci até me aposentar.

41. Os mapas eram feitos, então, em pedras litográficas?
No meu trabalho não. Eu desenhava em papel canso e mandava para as litografias. Eram elas que faziam o trabalho de impressão.

42. E decalcomanias, quais eram os temas mais frequentes?
Flores, animais, e principalmente bandeiras de todos os países, as armas da República, dos Estados, emblemas, além de motivos próprios para crianças como bonecos, animais e objetos.

43. Lembra alguma história interessante a respeito dos rótulos?
Interessante não. Aquilo era um trabalho tão corriqueiro. Aquele tempo o Norte do país com exceção do Recife era muito primitivo. Tinhamos muitos fregueses por lá, Ceará, Bahia, e era muito fácil contentá-los.

44. Quando o senhor entrou na Sociedade Metalgráfica, quem mais fazia rótulos em Curitiba?
Só a Impressora Paranaense, que era a mais antiga, e a Litografia Progresso.

45. A Litografia Pradi começou em que época?
Ah, não recordo, só sei que quando a Sociedade Metalgráfica se desfez das máquinas de imprimir em folhas de flanders, se não me engano, foi a Pradi quem comprou.

46. A Sociedade Metalgráfica acabou em que época?
Ela não acabou. Com a saída do Schroeder e depois, com o falecimento do Kirstein ela mudou-se para a rua João Negrão com o nome de Fábrica Fontana.

47. O Kirstein era bom profissional?
Era muito bom. Sabia de tudo, aquele. Era um homezinho, do mesmo tamanho do Schroeder, só que era magrinho e manco e o Kirstein era forte. Além disto, era um brincalhão de mão cheia. Posso contar uma coisa não muito boa? Quando apareceu a ordem do governo para todo mundo de inscrever, por causa da carteira de saúde, o Kirstein chegou na Sociedade onde trabalhavam muitas moças e disse: “Amanhã venham todas de calça limpa para receber o pessoal da Saúde Pública.

48. O senhor lembra mais alguma coisa sobre ele? Está difícil obter informações por que toda a família desapareceu.
Está família foi perseguida pelo destino. Ele teve dois filhos, ginastas de primeira ordem. Pois um morreu em consequência de uma operação de apêndice, e o outro afogou-se. Depois, para o casal não ficar só, resolveram adotar uma moça. Ela estudou era inteligente, foi bancária, mas acabou se suicidando. Antes de acontecer tudo isto, o Kirstein tinha em mente abrir uma fábrica de conservas em Paranaguá.

49. Parece que o Schroeder e o Kirstein tinham um amigo que soprava da Alemanha as últimas novidades no ramo, e eles introduziram aqui, como no caso da decalcomania.
Pode ser, não posso afirmar. Só sei que fazíamos coisas como cartazes em relevo, que naquele tempo ninguém conhecia. A pedra era preparada com asfalto e a parte que sairia no relevo ficaria descoberta, o ácido ia comendo. Isto diversas vezes até chegar na profundida necessária. Depois fazia-se o contrário, para se obter o positivo e o negativo, pois eram duas chapas.

50. Este tipo de cartaz foi usado para que, por exemplo?
Lembro que fizemos um sobre o Hotel Johnscher que foi pregado em trens. Tínhamos um contrato e o trabalho foi feito em uma semana. Fiz o cartaz durante uma noite e depois as matrizes. E até que ficou bonitinho. Dizia mais ou menos assim: ”Vai a Curitiba, hospede-se no Hotel Johnscher!”

51. Lembra do nome de pessoas que tenham sido bons litógrafos, reconhecidos pela maioria?
Havia um alemão muito bom, mas já esqueci o nome. O Wenceslau Fraple trabalhou, também com lápis litográfico, mas foi por pouco tempo.

52. O litografo ganhava bem?
Eu era o primeiro desenhista e quando saí da Sociedade Metalgráfica ganhava 16 mil réis por dia. Passei para o Estado ganhando 360 mil réis por mês, mas lá trabalhava meio dia, com mais liberdade. Na Sociedade, não, era trabalho no duro, das sete horas da manhã às cinco horas da tarde.

53. Como era composta a equipe de trabalho: quem trabalhava além do primeiro desenhista?
Havia os litógrafos e na Sociedade chegamos a trabalhar até com três. O melhor deles era Rodolfo Koerpel rápido e eficiente, já falecido.

54. O que precisava ser para chegar a primeiro desenhista?
Primeiro desenhista precisava, além de saber desenhar, ter ideias para desenvolver o croqui.

55. Antes do senhor, o primeiro desenhista sempre foi o Schroeder?
Sempre, desde a fundação da Sociedade.

56. Porque os rótulos de gasosa eram tão parecidos?
É que o produto era muito baratinho e não pagava rótulos caros. Então as fábricas usavam a mesma matriz, só mudando o nome do produto. O mesmo desenho.

57. E este anúncio da Cerveja Imperial Pilsen com a garrafinha recortada, é que sobre para a mesa, a ideia foi sua?
Não, foi copiado de uma revista alemã. Depois fizemos uma garrafinha em folha com um prego e dois palitos atrás. A pessoa tirava os palitos, rodava a garrafa e quando ela parava apontava o gargalo para a pessoa que teria que pagar a conta do bar.

58. Alguns poucos rótulos levavam dourado.
Estes rótulos eram considerados de luxo. Davam mais trabalho porque eram impressos em verniz e imediatamente passava-se em chumaço de algodão com purpurina em cima e deixava secar.

59. Muito rótulos foram feitos em letras góticas, por que? Era moda?
Não, é que letras góticas eram a minha especialidade.

60. E este rótulo da Fábrica Princesa, de Ponta Grossa parece diferente dos demais.
Este foi o meu de mais folego. Eu dei a ideia, fiz o desenho e eu mesmo quis passar para a pedra. Deu muito trabalho porque eram cinco cores, cada uma numa pedra diferente, e levei de três a quatro dias para desenhar cada pedra. Devo ter levado um mês para concluí-lo.

61. E esta música “Adoração” porque o senhor guardou?
Guardei todos os meus trabalhos. A Sociedade imprimia muita música e esta, “Adoração”, tem letra e música de Emydio de A. Trilho que era tesoureiro da firma. Fiz a capa com lápis litográfico, e acho que ficou horrível.

62. Estas decalcomanias de vultos históricos, como o senhor desenhava?
Procurava modelos em livros e reduzia. Era copiado. Este D. Pedro que fiz, por exemplo, ficou com o nariz meio fora de jeito.

63. O senhor fez muitos cartazes, qual foi o primeiro?
Este, da Exposição Rodoferroviária e Feria Inter-Estadual Comemorativos do Cinquentenário da Estrada de Ferro do Paraná, do ano de 1935.

64. Chegou a receber algum prêmio?
Tirei, quando já estava na Sociedade Metalgráfica. Fizeram um concurso de cartazes para uma Companhia de Aviação e tirei o primeiro lugar. O engraçado que o prêmio era uma viagem de avião para São Paulo, e como eu tinha medo, vendi aos  filhos do Fontana.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Entrevista: Cesar Pinto Junior fala sobre a Sociedade Metalgráfica.

Cesar Pinto Junior foi apontado pela própria direção da Fábrica Fontana para falar sobre a Sociedade Metalgráfica. O depoimento foi gravado no dia 15 de setembro de 1975. Nele, o senhor Cesar, conta certos episódios que presenciou no período entre 1929 e 1935 quando trabalhou na empresa como contador, e na qual admite, com muita franqueza não ter conhecimento sobre certos fatos referentes a litografia.

Demonstra boa vontade. Faz inclusive um contato com Constante Moro, a pessoa mais indicada para falar e que, infelizmente encontra-se em restabelecimento de uma intervenção cirúrgica sem condições de atender a solicitação da Casa Romário Martins.

Cesar Pinto Junior explica, por exemplo, porque a Sociedade Metalgráfica foi criada, fala sobre a fabricação da decalcomania e mostra a importância dos alemães, Alexandre Schroeder e Germano Henrique Kirstein, na introdução da decalcomania no Brasil.
Entrevista cedida a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

1. Em primeiro lugar queríamos o seu nome completo. 
Cesar Pinto Junior. 

2. O senhor trabalhou na Sociedade Metalgráfica em que período? 
Do ano de 1929 a 1935 

3. Qual era a sua função, então? 
Bem, quando eu sai de lá já era contador. Mas entrei como auxiliar de escritório e depois fui caixa. Saí da Sociedade Metalgráfica para vir trabalhar na Fábrica Fontana, daí ligado ao mate e não mais a litografia. 

4. Apesar de ocupar o setor administrativo, o senhor teve muito contato com o pessoal da litografia? 
Estava sempre em contato com eles porque a fábrica era praticamente junto ao escritório e, eu geralmente estava girando pela fábrica, vendo todo o movimento. 

5. Lembra quais eram os clientes da Sociedade Metalgráfica na época de trabalhou lá?

Em primeiro lugar estava a Fábrica Fontana, para a qual fazíamos todo o material impresso, inclusive as embalagens. Mas fazíamos também, para o Leão Junior, Cervejaria Atlanctica, Cervejaria Adriática, Emilie Van Linzeng de Rio Negro, que era ervateiro, e muitos fabricantes de cera e pasta para calçados entre eles o Alfredo Muller e Fábrica Kosmos. Faz muito tempo, é difícil recordar, eu sei que havia mais.

6. Pode-se dizer que a Sociedade Metalgráfica foi criada para suprir de rotulagem e embalagem a Fábrica Fontana?
Não só a Fábrica Fontana como também outra. Porque o Leão Júnior também era sócio da Metalgráfica. Mas o principal motivo da criação da firma foi mesmo o ramo de decalcomanias. No princípio o movimento de vendas neste setor não era muito grande porque o público desconhecia o produto. Além da decalcomania, trabalhamos também com litografia em papel-rotulagem e estamparia-confeccionando latas impressas. Falando nisso lembrei de outro cliente nosso, Senegaglia. Ele recebia folhas de Flandres impressas por nós e depois confeccionava a lata.

7. Pode nos contar como se deu a formação da Sociedade Metalgráfica?
Isso foi bem anterior a minha entrada na firma, quem poderia contar bem é o Constante Moro. Mas pelo que ouvi contar tenho a impressão que o senhor Francisco Fide Fontana conheceu os dois, Schroeder e Kirstein, gostou muito do trabalho deles e teve a idéia de montar uma firma abrindo sociedade com os principais prováveis clientes dos produtos que a fábrica iria produzir. Então, foi formada a sociedade incluindo os dois alemães, para suprir os demais industriais sócios não só de rotulagem como também de embalagem. É que naquele tempo as fábricas de erva-mate usavam barricas e havia necessidade dos rótulos que eram selados na tampa, para diferenciar as várias marcas de produto. Eram estes rótulos que a Metalgráfica fornecia especialmente aos ervateiros.
8. O senhor lembra de nomes de litógrafos que tenham trabalhado na Sociedade Metalgráfica?
Isto está difícil ... Faz muito tempo ... Lembro do André Baus, o próprio Constante Moro, o momento não lembro de outros. Espere um instante, vou tentar localizar o arquivo de funcionários (pausa). Infelizmente ninguém sabe onde este arquivo se encontra. É uma pena.

9. E a respeito da dupla Schroeder e Kirstein, o senhor os conheceu pessoalmente? Como era o trabalho deles?
O Schroeder era uma ótima pessoa, bom, muito bom desenhista, apesar do defeito que tinha na mão, um defeito no dedo. Trabalhava muito bem e todos os seus desenhos eram perfeitos.

10. Parece que o Schroeder foi o primeiro chefe da seção litográfica da Metalgráfica, o senhor concorda?
Bom, o Schroeder cuidava da parte de desenho. O chefe da fábrica mesmo era o Kirstein. O Schroeder cuidava não só dos desenhos que eram depois submetidos a apreciação dos clientes como também da confecção das chapas de impressão. Naquele tempo o desenho era feito diretamente nas pedras, que iam para os prelos, depois de devidamente preparadas.

11. E a respeito de Kirstein?
Ele conhecia muito bem o processo de litografia, era um ótimo técnico inclusive da parte de decalcomania, que não deixava de ser litografia, só que em papel especial. Inicialmente, o Kirstein fazia também o orçamento de todos os pedidos da fábrica, mas com a evolução dos negócios, ele ficou só com a parte técnica e o gerente é que tomava conta desta parte. Quando entrei na firma, o diretor gerente era o Manoel Francisco Pereira que também era sócio, e que algum tempo depois foi substituído pelo Dr. Álvaro Junqueira Junior, que ficou muitos anos no cargo.

12. Alguns depoimentos colocam que o Schroeder teria sido um inovador na litografia do Paraná. O senhor concorda?
Penso que sim. Não posso dar resposta afirmativa porque ele trabalhava em um setor do qual era estava afastado. Mas ele tinha muitas ideias originais e calculo que tenha sido um dos inovadores.

13. Algumas pessoas apontam o Schroeder e o Kirstein como introdutores da decalcomania no Paraná e no Brasil. O senhor concorda?
Sim, no Brasil inteiro. Foram eles que introduziram a decalcomania, produto que eles já conheciam na Alemanha, antes de virem ao Brasil.

14. A fabricação inicial teria ocorrido antes mesmo da criação da Sociedade Metalgráfica?
É, no estabelecimento deles, antes da Metalgráfica, na firma Schroeder e Kirstein. Uma fábrica pequena, ali a decalcomania foi produzida pela primeira vez.

15. O senhor chegou a conhecer esta fábrica?
Esta eu não conheci pessoalmente porque deve ter sido criada mais ou menos em 1919 e eu comecei a trabalhar na Sociedade Metalgráfica apenas em 1929.

16. Apontaram que a Sociedade Metalgráfica teria sido o primeiro estabelecimento a imprimir latas no Estado. Esta afirmação procede?
Isto eu não posso afirmar. Quando comecei a trabalhar, se não me engano já existia a Metalgrafica Pradi, contudo não sei se a Metalgráfica foi a primeira.

17. Como já lhe citei em conversa, estranhamos muito o fato de que os jornais da época atribuem quase que só a Kirstein a introdução da Decalcomania no Paraná. Existia alguma razão para isto?
Desconheço. O que pode ter acontecido é que o Kirstein tinha mais contato com a clientela e por isto era mais conhecido. Porque o Schroeder trabalha na parte de cima da fábrica, e os primeiros contatos com os clientes eram feito só pelo Kirstein. Eu atribuo a isto. Agora não sei se efetivamente ele era mais responsável, ou se era o conjunto.

18. Inclusive pode ter pesado o fato de Kirstein ter morrido muito mais tarde que o Schroeder ...
É, o Kirstein morreu bem mais tarde, e trabalhou na firma até morrer.

19. Qual teria sido o ponto alto da produção da Sociedade Metalgráfica: Lataria, rotulagem ou decalcomanias?
Inicialmente era as latas que foram fabricadas até ocorrer a incorporação da Sociedade Metalgráfica às Fábricas Fontana. Depois é que venderam o maquinário de estamparia e se limitaram a litografia incluindo aí a decalcomania. 

20. Em que época ocorreu o auge da venda de decalcomania? Parece que no começo houve muita dificuldade na comercialização do produto ...
No começo, de fato, havia certa dificuldade porque o produto era desconhecido. Mas, com o passar do tempo, os produtos da Metalgráfica tornaram-se bastante conhecidos no Brasil inteiro. Mesmo pedidos pequenos, recebíamos de todos os cantos do país. O grande cliente em decalcomanias, no entanto, era São Paulo. Quanto a fase área, não posso dizer, porque poderia ter ocorrido justamente depois que saí da firma.

21. Que tipo de decalcomania era mais produzida no início?
Decalcomania a água. Naquele tempo fazíamos mais decalcomania a água e muito pouco para cerâmica.

22. E nesta época a decalcomania destinava-se especialmente a fins decorativos, de cunho didático para crianças, ou para a publicidade?
Inicialmente a decalcomania se destinava as crianças. Mas, logo em seguida, foi iniciada a decalcomania como propaganda e também existiam fins decorativos.

23. E qual destes tipos firmou-se mais?
Não posso dizer isto, calculo que o desenvolvimento tenha sido igual, dos três tipos.

24. Á partir de que época a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrente na produção de decalcomania?
Isto eu desconheço pois é posterior a minha saída da firma. Este assunto também o Moro informaria. Quer que arrisque um telefonema para ele? 
─ (Eu tentei ligar ontem novamente. Ele continua doente. Ficaram de me dar uma resposta na próxima semana, se ele fará ou não o depoimento)

Descrição da gravação do telefonema de Constance Moro cedida a partir da solicitação de Cesar Pinto Junior, autor das perguntas.

[Moro] Sei, então os litógrafos eram Schroeder, Rodolfo Doubek, Rodolfo Korbel, havia mais um, sim o Leonardo Born. Isto. (pausa). No começo era decalcomania a água e um pouco para cerâmica ... A cerâmica foi iniciada no ano de 1940. Anteriormente era só a água. (pausa). Ah, e à fogo também, e também à quente, agora estou lembrando, para colocar em roupa, isto.
[Cesar] Agora você me diga uma coisa: a decalcomania à água, vendia-se uma parte com finalidade decorativa e outra parte para criança, não é?
[Moro] Isto, figurinha para tirar, a tradução em alemão ...[Cesar] Qual era a parte maior sem considerar a propaganda?[Moro] Ah, a decorativa foi maior.
[Cesar] A decalcomania para propaganda foi bem mais tarde, não é?
[Moro] Mais ou menos em 1932─1933.
[Cesar] Sim, é claro, faz muito anos. Não tem importância não quero te incomodar.  É ela me disse tentou falar com você, e você não estava muito bem. Olha, eu não quero te incomodar, vá descansar, qualquer dia nós conversamos. Um abraço para você Constance. Não, ela compreende, eu expliquei o caso a ela. Obrigado, um abraço. 
(retomando, após a conversa com Constance Moro)
Olha, havia mais dois tipos de decalcomania que eu não lembrava, à fogo e à quente. Fazíamos também, monogramas, assinaturas, marcas, fizemos a marca da Arpp de Joinville à quente para ser pregada nas meias.

25. Como o senhor coloca o trabalho de Schroeder e Kirstein no sucesso alcançado pelo Sociedade Metalgráfica?
Eu acho que ali o trabalho e a responsabilidade dos dois era igual. Cada um no seu setor contribuía em pé de igualdade para a expansão da firma.

26. Eu quero dizer, que eles eram elementos de peso da ...
Elementos chave, elementos chave na parte de produção.

27. E eles eram bons profissionais?
Bons profissionais, responsáveis, e com muitas boas ideias. Ambos tinham boas ideias.

28. A Metalgráfica costumava manter turmas de aprendizes visando formar seu pessoal?
Em geral, quase todos que entravam lá, entravam praticamente aprendizes. Eu me lembro inclusive do caso de Doubek que já era desenhista, mas não estava acostumado com litografia e foi aprendendo até chegar a ocupar o lugar de Schroeder, quando o segundo afastou-se.


29. E neste caso, quem era os mestres?
Bom, naquele tempo não era como hoje, mestre e aluno. Todos ensinavam e todos aprendiam uma coisa ou outra. Hoje existem escolas de formação profissional que não existiam então. Todos aprendiam dentro da própria empresa, e todos partiram de Schroeder e Kirstein que eram os mestres em seu setor.

30. Quem dava a ideia para um rótulo de litografia?
Bom, isto é relativo porque antigamente o industrial estudava um desenho que queria fazer, e dava as indicações para os litógrafos. Outras vezes, o próprio litógrafo dava ideia que o industrial aprovava ou não. Hoje é tudo muito diferente, mais fácil, porque existem firmas de publicidade que já entregam o layout pronto para a impressão.

31.O litógrafo então precisava ser uma pessoa criativa ...
Precisava, além da habilidade para desenhar precisava ter criação.

32. Lembra de algum rótulo ou cartaz especial feito pela Sociedade Metalgráfica?
Eu me lembro de uns quadros, decalcomania sobre madeira, para propaganda de uma marca de chapéu. Esta decalcomania imitava tipos de madeira-caviuna, peroba. Os quadros ficavam expostos nas casas de comércio. Isto foi muito marcante na época. Também fizemos para a Cervejaria Adriática uns cartazes em folha, com a impressão de uma garrafa cheia de cerveja com a seguinte inscrição: “Pão líquido”.

33. Lembra de algum prêmio ganho pela Sociedade em exposições de produtos gráficos?
Em quase todas as exposições ganhávamos prêmios. Este prêmios eram diplomas, mas que não existem mais.

34. Qual o aspecto que o senhor acha importante a ressaltar no trabalho da Sociedade Metalgráfica?
O mais importante para mim, é o fato da Sociedade ter sido pioneira na decalcomania. Baseada na Metalgráfica foram fundadas diversas firmas especializadas neste tipo de propaganda, muitas delas até hoje em ótimas condições.

35. É verdade que a maioria dos litógrafos e mesmo técnicos eram de origem alemã?
Sim, praticamente todos eles. Ou eram naturais da Alemanha ou eram filhos de alemães. Além disso, a Sociedade recebia da Alemanha muitos folhetos, livros sobre o assunto.

36. Tem notícia de alguma mulher litógrafa na Sociedade?
Não nenhuma.

37. Mas havia mulheres trabalhando na litografia?
Havia. Elas trabalhavam nas máquinas, na escolha (escolha do material em perfeitas condições). As mulheres inclusive eram numerosas, só que ocupavam funções secundárias.


38. Muitas litografias viram-se, no inicio diante da necessidade de buscar técnicos no estrangeiro. O mesmo ocorreu com a Sociedade?
Não que eu tenha conhecimento.

39. Sabe o porquê da saída de Schroeder da Sociedade Metalgráfica?
Não posso afirmar, mas tenho a impressão que ele já andava doente e devido a isto deve ter pedido o seu afastamento.

40. O Kirstein permaneceu na firma até o final de sua vida?
Permaneceu.

41. Algum tipo de trabalho foi preservado pela Fábrica Fontana, referente a Sociedade?
Diversos, mas infelizmente foi tudo destruído pelo incêndio.

42. Este incêndio ocorreu em que data?
No dia 22 de março de 1975.

43. E de lá para cá as atividades continuam paralisadas?
Sim, continuam.

44. E qual será o destino da Fábrica Fontana?
Ainda não podemos afirmar nada de positivo. Tudo depende da liquidação do seguro. Apareceram alguns problemas, houve demora, e ainda falta liquidar uma parte que envolve máquinas de importação. Tivemos que fazer um estudo, atualização de preço destas máquinas ...

45. Como se explica a incorporação da Sociedade Metalgráfica pelas Fábricas Fontana?
Bom, acharam que seria mais prático, uma vez que havia muita ligação e praticamente os sócios de um estabelecimento também eram sócios do outro. Acharam mais prático fazer a incorporação que iria melhorar a administração, com mais possibilidades na parte da produção. E também, as instalações da Sociedade estariam melhores aqui, junto a Fábrica Fontana do que no prédio antigo.

46. Qual foi o primeiro endereço da Sociedade Metalgráfica?
Avenida João Gualberto, n.º 113, funcionava a fábrica, escritório e havia também uma residência no primeiro andar, geralmente ocupada por um funcionário.

47. A mudança de endereço ocorreu por ocasião da incorporação?
Não, já havia mudado antes, mas em caráter provisório.

48. No inicio de suas operações a Metalgráfica tinha muitas litografias concorrentes?
Se não me engano, apenas havia a Litografia Progresso, a Impressora Paranaense e não sei se já havia a Metalgrafia Pradi.

49. O trabalho da litografia estava sujeito a fases cíclicas em decorrência da safra de mate?
Isto de fato ocorria no que diz respeito ao fornecimento destinado aos exportadores de mate. Fora disto, havia outros clientes com serviços sistemáticos.

50. E a respeito de fornecimento de papel, como se processava?
Normal, sem problemas, como também não havia problemas no fornecimento de folhas de Flanders, e nas tintas, apesar de ser tudo importado.

51. Mais algum detalhe que o senhor queria citar?
Não. Tudo já foi tido, espero que seja suficiente.