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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Entrevista: Rodolpho Doubek comenta sobre a Sociedade Metalgráfica

A página de apresentação estava faltando, assim acredito que a entrevista tenho sido cedida a Rosirene Gemael, no ano de 1975. Transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

Notas:
No texto existem alguns pontos interessantes. O que trata da aproximação dos litógrafos com as artes plásticas, as funções dentro de uma littografia, no caso a Litografia Metalgráfica e, quais e como eram criados os materiais gráficos.


1. Para começar, queríamos seu nome completo
Rodolfo Doubek. Nasci em Curitiba, num domingo de Páscoa, 15 de abril de 1906.

2. O senhor sempre gostou de desenho?
Sempre, desde guri sujava as paredes.

3. E estudou desenho?
Sim. Entrei no curso de pintor decorador da Escola Alfredo Andersen em 1926 ou 1928, não lembro direito. Depois abandonei e só voltei mais tarde, quando Andersen já havia morrido e o ateliê era orientado pelo filho dele. Daí estudei pintura mesmo e desenho, por quatro anos.

4. Conviveu durante quanto tempo com o Andersen?
Um ano e meio, mais ou menos.

5. Por que motivo o senhor abandonou a escola da primeira vez: acabou um curso específico ou desinteressou-se?
É fiquei doido pelo esporte, principalmente atletismo e basquete e acabei abandonando a pintura temporariamente. Comecei na Sociedade Duque de Caxias. Depois fui para o exército e lá me tornei mais desportista ainda, porque assim me livraria do trabalho do quartel. Mais tarde pratiquei esporte também na Sociedade Rio Branco.

6. O senhor chegou a participar de competições?
Ninguém acredita, mas eu sou campeão brasileiro de basquete. Foi em 1930. Neste ano São Paulo e o antigo Distrito Federal brigaram com a Confederação Brasileira de Desportos e se retiraram. Concorremos com Minas Gerais e o Estado do Rio, e vencemos.

7. Participou de outras?
As Ligas Atléticas do Paraná e do Rio Grande do Sul costumavam organizar campeonatos sul-brasileiros de atletismo, basquete e vôlei, e sempre os gaúchos levavam a melhor. Mas aí também fui campeão sul-brasileiro de basquete, pois conseguimos vencer uma vez em Porto Alegre.

8. Quando o senhor voltou a estudar na Escola Alfredo Andersen já havia deixado o esporte de lado?
Continuei no esporte, mas daí tudo já era mais regrado, e a escolha sob a orientação do filho de Andersen não era a mais a mesma de antes. No fim, larguei também aquilo e fui trabalhar como litógrafo na Sociedade Metalgráfica.

9. Este foi então seu primeiro emprego?
De profissão fixa foi, e fiquei na Sociedade cerca de nove anos.

10. Começou a pintar quadros na época?
Bem, eu já pintava desde a época em que era decorador, mas aí só fazia cópias.

11. E este trabalho do pintor decorador como era?
Fazia frisos, motivos gregos nas paredes. Naquele tempo usava-se muito chapeado e pintura à mão. Me especializei nisto e trabalhei nove anos.

12. Há ainda hoje alguma residência com parede decorada pelo senhor?
Duvido. Engraçado, numa de suas mudanças, o Departamento de Terras foi parar no Edifício Lins, na antiga rua Conselheiro Barradas, (do Clube Concórdia) e no quarto que antes fora ocupado pelas crianças ainda havia o meu friso.

13. Muita gente dedicava-se a este tipo de trabalho?
Naquele tempo não havia muito pintor. A maioria era de origem alemã, e eu era muito disputado. Todo mundo me convidava para trabalhar, mas sempre fiquei na firma do Roessie que era meio parente meu.

14. As, o senhor não trabalhava por conta própria, havia uma firma constituída só para este fim?
É era empregado. Era a firma Germano Roessie onde trabalhavam pai e filho, só para fazer decoração em paredes. Trabalhei com eles até 1928. Depois quando saí do exército trabalhei com um primo que era litógrafo. Ele sentou praça, e em virtude de seu desenho cartrográfico, foi mandado para o Rio de Janeiro, trabalho no Serviço Geográfico Militar. Quando voltou, ingressou na Universidade e fez curso de Agronomia. Continuou trabalhando no Estado e como tinha muito serviço particular de litografia, pediu para que eu trabalhasse com ele. Fiquei durante alguns meses.

15. Chegaram a constituir firma e registar uma litografia?
Não, não havia litografia. Naquele tempo era comum os desenhistas serem procurados particularmente. E assim foi. O meu primo me ensinou a fazer letras, trabalhamos juntos e depois, quando terminou a enxurrada de serviço, ele me arranjou emprego na Sociedade Metalgráfica.

16. Qual era o seu setor na Sociedade Metalgráfica?
Só litografia. Desenho sobre pedra e zinco. Mais tarde, com o falecimento do senhor Schroeder, que era um dos chefes da firma, passei a ser o Primeiro Desenhista. Daí trabalhava mais o croqui, dando ideias, estas coisas.

17. Então o senhor convivei muito pouco tempo com Schroeder ...
Bem pouco. Acho que foi um ano, um ano e meio.

18. Muitos litógrafos antigos afirmam hoje terem aprendido com o Schroeder. O senhor lembra de outros mestres no seu tempo?
Não, não lembro.

19. O trabalho do Schroeder era bom realmente?
Para a época era muito bom. Começamos quando a Sociedade ainda era uma metalografia. Trabalhávamos com a impressão sobre metal, folha de Flanders, fazendo embalagens de latas. Latas para banhas, por exemplo, com aquele bruta porco na frente. Era um serviço bem grosseiro. Só mais tarde é que começamos a trabalhar papel. Fazíamos rótulos, especialmente para barricas de mate. Agora, decalcomanias fizemos desde o ínicio.

20. O senhor tem ideia de quem tenha introduzido a decalcomania aqui? Parece que várias pessoas concordam que tenha sido a dupla Schroeder e Kirstein.
Os dois juntos. O Kirstein sabia a técnica, o Schroeder desenhava, e eles fabricaram as primeiras.

21. E isto parece que foi feito antes da Sociedade Metalgráfica. Numa firma que pertencia aos dois é isto mesmo?
Isto mesmo, era a firma Schroeder e Kirstein.

22. Mais tarde é que eles passaram para a Sociedade Metalgráfica?
É, depois se associaram a firma Fontana, constituíram a Sociedade Metalgráfica e introduziram a impressão em metal.

23. O senhor sabe alguma coisa à respeito da saída do Schroeder da Sociedade? Parece que a família tem muita mágoa à respeito.
Pois é, eu só soube disto por intermédio do filho dele, no último sábado. Só sei que o Schroeder morreu de pneumonia, contraída quando foi ao enterro de um filho do proprietário da Impressora Paranaense. Choveu neste dia, ele resfriou-se e depois complicou.

24. Á respeito do seu trabalho na Sociedade Metalgráfica, o que fazia o primeiro desenhista?
Vinham pedidos de todos os tipos: rótulos, mapas, e até música. Fizemos cartazes propaganda em geral. Tudo o que aparecia e que podíamos fazer, fazíamos.

25. Só para cliente de Curitiba?
Não, de toda parte. Trabalhamos até para o Uruguai, principalmente para exportadores de mate. Tínhamos representantes em todos os Estados do país.

26. A Sociedade Metalgráfica começou fazendo só decalcomanias e latas?
Quem pode lhe contar isto é o Constante Moro, porque eu não participei do começo.

27. E como era feito o trabalho: hoje, quando a pessoa precisa de uma embalagem vai a agência de publicidade ou ao departamento específico de empresa e lá há pessoas, por exemplo, só para dar a ideia que só dão o texto, e outra que desenham.
Naquele tempo era bem diferente, não havia nada disto. Algumas firmas vinham com uma ideia mais ou menos bolada e cabia ao primeiro desenhista desenvolvê-la, fazer o desenho e submetê-lo a apreciação. Mas, geralmente era o próprio desenhista quem dava a ideia, desenvolvia, e punha o texto também. Uma exemplo foi a ideia de um cartaz que fiz para uma facção política, mais tarde a UDN, a Confederação dos Tinguis. Bolei uma pessoa segurando um pinheiro, evitando que ele caísse. Eles gostaram, inclusive dístico que foi completado apenas por uma palavra pelo Erasto Gaertner. Fiz assim: “O Paraná confia na capacidade e no esforço de seus filhos”, e mandou finalizar: ”filhos dedicados”.

28. Quer dizer que além de desenhar o senhor tinha que dar também o texto?
Quase sempre era a gente mesmo que punha o dístico.

29. Mas então era difícil, e o primeiro desenhista tinha que ser o homem dos sete instrumentos.
Não, porque naquele tempo a gente não levava tão à sério este negócio. E também havia o plágio. A gente aproveitava uma ideia daqui, outra dalí e formava o texto junto do anúncio. Eu pouco usava este recurso porque geralmente tinha o dom para bolar a ideia mais ou menos. Mas ideia razoável para aquele tempo, porque se fosse hoje em dia não. Está tudo modificado, avançadíssimo. No meu tempo era tudo simples; quando vejo os cartazes atuais, sinto-me envergonhado.

30. Aconteceu de levarem à Sociedade Metalgráfica algum produto para o senhor escolher o nome, um lançamento?
Não trabalhávamos sempre com marcas e nomes já registrados, e estes nomes eram sempre escolhidos pelo próprio dono da empresa.

31. Lembra de algum problema, algo fato marcante no seu serviço?
Aconteceu que já tínhamos a justiça em cima da fábrica. Um dos casos envolveu aqueles enfeites imitando madre-peróla que uma determinada indústria costumava colocar nas máquinas de costura. Uma firma, não quero dizer o nome, encomendou os tais enfeites e nós fizemos, copiando direitinho. Seu proprietário recebia máquinas velhas para consertar, consertava e depois colocava a placa. Outro caso tivemos com os desenhos da Walt Disney. Começamos a fazer decalcomanias de todos os tipos inclusive daquelas figurinhas bonitinhas e aí veio uma multa em cima. Com a multa, a fábrica já aproveitou e comprou os direitos de reprodução e continuamos.

32. Depois de quanto tempo a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrentes na confecção de decalcomanias?
Não sei. Só posso dizer que mais tarde surgiu uma fábrica em São Paulo, e depois surgiram fábricas de decalcomanias a quente que nós também fabricávamos. Era uma impressão normal, com breu em pó por cima. Depois ia ao forno, o breu derretia, e ficava preso na tinta. Dá punha-se o papel em cima, passava-se o ferro, e o desenho ficava.

33.As decalcomanias produzidas aqui eram vendidas em todo o Brasil?
As decalcomanias para crianças (figurinhas, bandeiras, personagens históricos, brasões) iam para todo país, pois tínhamos representantes em todos os Estados.

34. Quais eram os tipos de decalcomanias?
Fazíamos inclusive decalcomania para louça, atendendo pedido específico de temas, de acordo com o interesse do comprador: sobre datas, festejos, paisagens, etc. O volume de venda destas decalcomanias era tão grande que as outras, para crianças deixávamos em segundo plano. Era quase que só para a louça e os pedidos maiores vinham de São Paulo e Campo Largo.

35.A decalcomania para louça é muito diferente?
São tintas especiais, mas a decalcomania é tirada normalmente. Molha-se o papel na água, coloca-se na xícara ou no prato e deixa secar. Depois leva-se ao forno, lá ele derrete e fica para sempre. No finzinho da minha permanência na Sociedade Metalgráfica,, ao invés de desenhar a decalcomania na pedra já se estava usando a fotografia, o que facilitou em muito.

36. E era muito difícil desenhar decalcomanias?
Sim; era preciso saber alguma técnica, principalmente para a decalcomania em louça; As cores, por exemplo, não podiam ser impressas umas sobre as outras senão a louça rachava no forno. Mas além do conhecimento na aplicação da tinta, o processo era o mesmo.

37. E o desenho na pedra. É muito complicado?
Não até que é bom, muito bom.

38. Mas tem que ser feito com pena, não é?
Sim e com uma tinta especial em forma de bastão. Coloca-se esta tinta num vasilhame Côncavo e vai esfregando, esfregando, até aparecerem estrias mais claras. Depois deixa-se a tinta descansar e no outro dia já pode começar a trabalhar. A tinta é boa de trabalhar porque não borra, não se espalha, faz traços finíssimos ou grossos, como quiser.

39. Com que o senhor aprendeu a trabalhar na pedra?
Com o meu primo, aquele que falei no inicio da entrevista. O processo só é meio complicado porque a gente tem o desenho e para fazer a matriz tem que fazer cruzetas na extremidade. A matriz de cada cor tem que ter suas cruzetas coincidentes com as cruzetas das outras cores, senão borra tudo.

40. Porque o senhor que tem tantos quadros, preferiu ser litografo em vez de pintor?
Acontece que eu não sou pintor; o pinto nas horas vagas. Deixei de pintar porque meu primo chegou a ser chefe da Seção Cartográfica do Departamento de Terras do Estado e me levou para lá. Entrei no Serviço Público e por isto deixei a Sociedade Metalgráfica. Fui especializando em mapas, e depois em mandaram par ao Rio de Janeiro para um curso de cartografia com duração e dois meses. Entrei no Estado em 1938 e permaneci até me aposentar.

41. Os mapas eram feitos, então, em pedras litográficas?
No meu trabalho não. Eu desenhava em papel canso e mandava para as litografias. Eram elas que faziam o trabalho de impressão.

42. E decalcomanias, quais eram os temas mais frequentes?
Flores, animais, e principalmente bandeiras de todos os países, as armas da República, dos Estados, emblemas, além de motivos próprios para crianças como bonecos, animais e objetos.

43. Lembra alguma história interessante a respeito dos rótulos?
Interessante não. Aquilo era um trabalho tão corriqueiro. Aquele tempo o Norte do país com exceção do Recife era muito primitivo. Tinhamos muitos fregueses por lá, Ceará, Bahia, e era muito fácil contentá-los.

44. Quando o senhor entrou na Sociedade Metalgráfica, quem mais fazia rótulos em Curitiba?
Só a Impressora Paranaense, que era a mais antiga, e a Litografia Progresso.

45. A Litografia Pradi começou em que época?
Ah, não recordo, só sei que quando a Sociedade Metalgráfica se desfez das máquinas de imprimir em folhas de flanders, se não me engano, foi a Pradi quem comprou.

46. A Sociedade Metalgráfica acabou em que época?
Ela não acabou. Com a saída do Schroeder e depois, com o falecimento do Kirstein ela mudou-se para a rua João Negrão com o nome de Fábrica Fontana.

47. O Kirstein era bom profissional?
Era muito bom. Sabia de tudo, aquele. Era um homezinho, do mesmo tamanho do Schroeder, só que era magrinho e manco e o Kirstein era forte. Além disto, era um brincalhão de mão cheia. Posso contar uma coisa não muito boa? Quando apareceu a ordem do governo para todo mundo de inscrever, por causa da carteira de saúde, o Kirstein chegou na Sociedade onde trabalhavam muitas moças e disse: “Amanhã venham todas de calça limpa para receber o pessoal da Saúde Pública.

48. O senhor lembra mais alguma coisa sobre ele? Está difícil obter informações por que toda a família desapareceu.
Está família foi perseguida pelo destino. Ele teve dois filhos, ginastas de primeira ordem. Pois um morreu em consequência de uma operação de apêndice, e o outro afogou-se. Depois, para o casal não ficar só, resolveram adotar uma moça. Ela estudou era inteligente, foi bancária, mas acabou se suicidando. Antes de acontecer tudo isto, o Kirstein tinha em mente abrir uma fábrica de conservas em Paranaguá.

49. Parece que o Schroeder e o Kirstein tinham um amigo que soprava da Alemanha as últimas novidades no ramo, e eles introduziram aqui, como no caso da decalcomania.
Pode ser, não posso afirmar. Só sei que fazíamos coisas como cartazes em relevo, que naquele tempo ninguém conhecia. A pedra era preparada com asfalto e a parte que sairia no relevo ficaria descoberta, o ácido ia comendo. Isto diversas vezes até chegar na profundida necessária. Depois fazia-se o contrário, para se obter o positivo e o negativo, pois eram duas chapas.

50. Este tipo de cartaz foi usado para que, por exemplo?
Lembro que fizemos um sobre o Hotel Johnscher que foi pregado em trens. Tínhamos um contrato e o trabalho foi feito em uma semana. Fiz o cartaz durante uma noite e depois as matrizes. E até que ficou bonitinho. Dizia mais ou menos assim: ”Vai a Curitiba, hospede-se no Hotel Johnscher!”

51. Lembra do nome de pessoas que tenham sido bons litógrafos, reconhecidos pela maioria?
Havia um alemão muito bom, mas já esqueci o nome. O Wenceslau Fraple trabalhou, também com lápis litográfico, mas foi por pouco tempo.

52. O litografo ganhava bem?
Eu era o primeiro desenhista e quando saí da Sociedade Metalgráfica ganhava 16 mil réis por dia. Passei para o Estado ganhando 360 mil réis por mês, mas lá trabalhava meio dia, com mais liberdade. Na Sociedade, não, era trabalho no duro, das sete horas da manhã às cinco horas da tarde.

53. Como era composta a equipe de trabalho: quem trabalhava além do primeiro desenhista?
Havia os litógrafos e na Sociedade chegamos a trabalhar até com três. O melhor deles era Rodolfo Koerpel rápido e eficiente, já falecido.

54. O que precisava ser para chegar a primeiro desenhista?
Primeiro desenhista precisava, além de saber desenhar, ter ideias para desenvolver o croqui.

55. Antes do senhor, o primeiro desenhista sempre foi o Schroeder?
Sempre, desde a fundação da Sociedade.

56. Porque os rótulos de gasosa eram tão parecidos?
É que o produto era muito baratinho e não pagava rótulos caros. Então as fábricas usavam a mesma matriz, só mudando o nome do produto. O mesmo desenho.

57. E este anúncio da Cerveja Imperial Pilsen com a garrafinha recortada, é que sobre para a mesa, a ideia foi sua?
Não, foi copiado de uma revista alemã. Depois fizemos uma garrafinha em folha com um prego e dois palitos atrás. A pessoa tirava os palitos, rodava a garrafa e quando ela parava apontava o gargalo para a pessoa que teria que pagar a conta do bar.

58. Alguns poucos rótulos levavam dourado.
Estes rótulos eram considerados de luxo. Davam mais trabalho porque eram impressos em verniz e imediatamente passava-se em chumaço de algodão com purpurina em cima e deixava secar.

59. Muito rótulos foram feitos em letras góticas, por que? Era moda?
Não, é que letras góticas eram a minha especialidade.

60. E este rótulo da Fábrica Princesa, de Ponta Grossa parece diferente dos demais.
Este foi o meu de mais folego. Eu dei a ideia, fiz o desenho e eu mesmo quis passar para a pedra. Deu muito trabalho porque eram cinco cores, cada uma numa pedra diferente, e levei de três a quatro dias para desenhar cada pedra. Devo ter levado um mês para concluí-lo.

61. E esta música “Adoração” porque o senhor guardou?
Guardei todos os meus trabalhos. A Sociedade imprimia muita música e esta, “Adoração”, tem letra e música de Emydio de A. Trilho que era tesoureiro da firma. Fiz a capa com lápis litográfico, e acho que ficou horrível.

62. Estas decalcomanias de vultos históricos, como o senhor desenhava?
Procurava modelos em livros e reduzia. Era copiado. Este D. Pedro que fiz, por exemplo, ficou com o nariz meio fora de jeito.

63. O senhor fez muitos cartazes, qual foi o primeiro?
Este, da Exposição Rodoferroviária e Feria Inter-Estadual Comemorativos do Cinquentenário da Estrada de Ferro do Paraná, do ano de 1935.

64. Chegou a receber algum prêmio?
Tirei, quando já estava na Sociedade Metalgráfica. Fizeram um concurso de cartazes para uma Companhia de Aviação e tirei o primeiro lugar. O engraçado que o prêmio era uma viagem de avião para São Paulo, e como eu tinha medo, vendi aos  filhos do Fontana.

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