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terça-feira, 12 de março de 2013

Artigo sobre a Litografia Paranaense: Jornal da Tarde 1976

Digitalização do artigo do Jornal da Tarde, publicada em 20 de julho de 1976. Transcrito do original por Alan Witikoski para aplicação em pesquisa acadêmica. Todo o crédito, assim como a escrita original, está mantida. O autor não está indicado no artigo.

Está matéria inicia uma série de três, com os resultados de uma pesquisa realizada em torno dos cartões postais que circulavam ou foram impressos em Curitiba no inicio do século, mostrando vários aspectos do passado. Desde os rudimentos de nossa publicidade, alguns humoristas e suas caricaturas, até os tiques sociais tradicionais, presentes em piqueniques onde as moçoilas sempre de vestido branco e comprido, chapéu, ou as festas escolares de fim de ano, professores encharpelados, alunos de calças e suspensórios. E mostra, também o inicio das artes gráficas em Curitiba, e o que era possível fazer, com os recursos disponíveis na época. Época em que a impressão era feita através de pesadas pedras calcáreas importadas.

[Primeira Chamada] O passado Ilustrado – I

[Segunda Chamada] Da prensa manual, às gravações e relevo.

Mais que uma forma de servir como instrumento para troca de correspondência, os cartões postais, no inicio do século, eles próprios, tinham suas mensagens a passar, extrapolando as imagens atuais, restritos hoje quase que exclusivamente a paisagens, e quando muito animais ou temas folclóricos. As temáticas dos velhos cartões postais uma série de colocações tanto na cultura, como das preocupações, e dos valores estéticos da época.
Na exposição, segunda Semana do Colecionado - Memória Visual que abre as 20h30min desta sexta-feira, na Casa Romário Martins. Poderão ser analisados cartões postais humorísticos, de publicidade, ou litografados com detalhes em seda, documentando paisagens urbanas, misses do passado, o folclore alemão, a moda feminina e masculina das décadas de vinte e trinta, e entre outras coisas, elencos de companhias teatrais, de ópera e circos que se apresentaram em Curitiba no inicio do século. Entre os cartões mais diferentes dos atuais, aquele, alusivo a um crime cometido por uma moça alemã em 1907, que vem ilustrado com a fotografia da própria e a legenda: “A Filha do prefeito de Beier a qual assassinou o seu noivo, engenheiro-chefe Pressler, no dia 14 de maio de 1907, foi executada à tiros a 23 de julho às 06:30 horas da manhã em Freiburg.”

Influência Alemã

Nesta exposição serão mostrados os 114 painéis contendo cada um, entre oito e onze postais, reunidos em acervos de quatro famílias: Bassler, Doubek, Raschndorfer e Stenzel – pelo litografo, desenhista e colecionador Rodolfo Doubek, que além de colecionador, trabalhou com postais indiretamente, fazendo e desenhando as legendas para aqueles com paisagens do interior e o litoral do Paraná e Santa Catarina, fotografado por Arthur Wischral, a partir da década de vinte. Doubek é descendente de alemães, assim como o são as quatro famílias em cujos “porões” andou pesquisando e procurando material, fato que não pode ser colocado como uma simples coincidência. Na verdade, tanto os postais estrangeiros que circularam em Curitiba no inicio do século, como aqueles que eram feito aqui mesmo, trazem uma forte influencia alemã. Por várias razões.
A primeira delas diz respeito as artes gráficas, e ao próprio processo de impressão em utilização nesta época, a litografia, que surgiu na Alemanha e naquele mesmo país teve seu maior desenvolvimento inicial. Tanto assim que ao ser introduzida no Brasil, era comum que nossas primeiras empresas gráficas mandassem buscar técnicos no exterior: Espanha, Itália, Suíça, mas especialmente na Alemanha. A própria Impressora Paranaense, nossa gráfica antiga de maior tradição, costumava, inclusive a mandar seus técnicos estrangeiros para sistemáticos cursos e estágios de atualização em uma importante escola de Ley Pazag naquele país.
Lógico, portanto que importássemos maior quantidade deste material da Alemanha, do que de outros países mesmo costumavam importar também de lá os cartões postais.
Outro fator que se relaciona intimamente com este é o que diz respeito a própria presença alemã no Paraná também desde o início deste século e final do século passado. Quando em 1862 se iniciava e posteriormente se intensificava a imigração teuta. Curitiba sempre ficou entre as cidades paranaenses escolhidas para fixação de residência de muitos alemães, cuja presença se fez notar, em curto espaço de tempo, no vários ramos de atividade da cidade, incluindo-se a indústria, o comércio, as instituições culturais e esportivas. Um exemplo pode ser tomado do próprio nome de estabelecimentos tradicionais “Painos Essenfelder”, “Fábrica de Balas, Doces e Bolachas Lucinda” (que já foi também confeitaria tradicional no centro da cidade e destilaria que produzia inclusive “Whisky”), “Müller e irmãos”, “Impressora Paranaense” (gráfica das mais antigas, que já no início do século fazia impressões para todos o país, e rodou o jornal Dezenove de Dezembro, o primeiro da imprensa paranaense), “Decalcomanias Fontanta”, ou “Sociedade Metalgráfica” (na qual trabalhavam dois alemães Schroeder e Kirstein, pioneiros da litografia no Paraná e introdutores da decalcomania no Brasil), antiga “Cervejaria Providência” (de Luiz Leitner, que produziu a primeira cerveja de baixa fermentação no parque Batel). Também a antiga “Sociedade Beneficente Rio Branco”, o “Clube Concórdia”, a “Sociedade de Educação Física Duque de Caxias”, “Sociedade Beneficente Cabral”, “Graciosa Country Club”, “Sociedade Thalia” são entidades sociais-esportivas fundadas pelos alemães, além do “Coritiba Futeboll Club” que é de origem alemã “coxa branca” alemã.

Artes Gráficas

Este presença se fez notar em outros tantos estabelecimentos não mencionados, como a antiga e extinta há pouco tempo Casa Crystal de Lourival Wemdrel, e entre outras atividades, no próprio ensino, com a criação de colégios como o Bom Jesus e Divina Providência, e no pioneirismo de criação de um rudimentar primeiro Corpo de Bombeiros que atendia a colônia, antes da cidade ter sua própria corporação. Esta influência estendeu-se como não podia deixar de ser ao campo da fotografia, tão intimamente ligada as artes gráficas. Assim, entre os estabelecimentos primeiros na cidade, os estúdios mais importantes e com propriedade de Volk, Fleury, Weiss, (que funciona até hoje na rua Marechal Deodoro, sob o nome pitoresco de Studio Moderno), e Heissler, que dominaram em fotografia até as primeiras décadas deste século. As papelarias não fugiram a esta regra: Mas Roesner, João Haupt, a recém extinta Cesar Schalz. Destas papelarias, as importações de artigos estrangeiros (numa época em que quase tudo o que consumíamos era importado) eram efetuadas, de preferência e em maior no país de origem dos seus proprietários, isto é, na Alemanha. Assim, no que concerna à cartões postais, estes, em sua maioria provinham mesmo da Alemanha. E, como as papelarias de alemães eram preferidas pela colônia alemã estabelecida em Curitiba, os cartões eram adquiridos e utilizados como sistemático hábito social. Na cidade e no Estado.
A vanguarda dos alemães em artes gráficas e especialmente em fotografia pode ser observada nos riquíssimos detalhes que envolviam a execução de um simples cartão postal. Entre aqueles que serão mostrados pela Casa Romário Martins, muitos com detalhes em seda, purpurina, em alto relevo, verdadeiros trabalhos artísticos e admiráveis se levar em conta principalmente na litografia, todas as provas e mesmo a matriz de impressão precisava ser desenhada em pedra. Mas pedra calcárea (que também era importada) pesadíssima, difícil inclusive de ser removida de uma prancheta a outra, que exigia para isso, um suporte especial, na base da alavanca. Se um cartão era feito em quatro, cinco ou seis cores (e eles eram bastante comuns), cada cor exigia uma prova separada; quer dizer, eram necessárias então, seis ou sete pedras calcáreas. Os cartões com detalhes em dourado (purpurina, ou como era mais conhecido o material “ouro em pó”), ocorria nas gráficas em verdadeiro carnaval: bem no início de utilização do material, não haviam máquinas específicas para a sua aplicação que ocorria manualmente, na seguinte situação: abria-se uma mesa no quintal da gráfica, e os funcionários iam colocando o pó para aderir a uma cola já aplicada dourada. Acontece que o pó se espalhava pelo ar, e bronzeava a mesa, e os próprios funcionários ...

A difícil Impressão

Na verdade o processo de impressão sofreu uma evolução muito grande neste século, acompanhada por alguns estabelecimentos gráficos da cidade, As máquinas iniciais, conhecidas com máquina de Gutemberg eram utilizados tipos móveis e no caso da litografia nossos estabelecimentos primeiros usavam a pedra, devidamente preparada, onde se passava o rolo de tinta e um pano molhado em água, à mão ...
Depois a prensa era girada, de maneira a produzir pressão sobre o papel colocado sobre a placa, de modo que a tinta passasse da placa para o papel. Este foi o começo, e pode-se dizer, num processo semi-mecanizado, com as tais “prensa de transporte”. Somente por volta de 1907 ou 1908 talvez pouco antes, sobreveio a grande invenção e grande aperfeiçoamento das máquinas chamadas “litográficas rápidas”. Estas eram movidas a motor, e já não havia mais a necessidade de se passar um pano úmido nas pedras. A máquina, correndo automaticamente, no vai e vem, passava ela própria pelo rolo de tinta e pelo rolo de água. Pelo processo de cilindro que corria sobre a pedra, a folha era levada automaticamente, só que ainda margeada a mão.  Só bem mais tarde é que se desenvolveu nos Estados Unidos, o sistema de impressão offset que veio substituir com vantagens as máquinas rápidas. Foi aí o início da impressão indireta, processo considerado moderno até hoje, com gradativas evoluções.
O trabalho e os resultados alcançados pela litografia realçam ainda mais, quando se leva em conta, o número infinito de problemas que precisavam ser enfrentados pelos técnicos da época. A começar pelos resíduos de areia, presentes no papel utilizando para a impressão. Segundo Oscar Scharpp, da Impressora Paranaense, o problema provinha da capacidade do papel ser uma consequência de mistura do caulim dentro de uma massa. “O caulim puro não contem areia, mas o cailum utilizado nas fábricas de papel continha e areia suficiente para inclusive estragar as chapas de impressão. Um grão de areia puxado sobre a pedra deixava um sulco profundo que por sua vez armazenava tinta, e qualquer risco passava então a compor também a impressão como um detalhe adicional inesperado. Toda a sujeira aparecia na hora da impressão, era uma coisa tremenda que só foi superada com o tempo.”

A Lenta Evolução

Este aspecto, especifico em relação a evolução das artes gráficas, é um dos atrativos da exposição, segunda Semana do Colecionador Memória Visual. Ela permita toda uma avaliação dos recursos disponíveis da época e dos resultados alcançados com eles, e a evolução do próprio formato do cartão postal, inicialmente indeciso, as vezes em forma de algum objeto especifico – como um pandeiro – outros ainda menores que os atuais, e outros, com a ilustração ovalada, tendo o cartão retangular como moldura. Outro aspecto que sobressai ainda na exposição é o próprio hábito de se colecionar cartões postais, que se restringem ao passado. É lógico que eles continuam a ser fabricados, vendidos, guardados e consumidos. Mas não como antigamente. Talvez hoje muitos viajantes prefiram mesmo utilizar o DDD, o telegrama, o telex. Ou talvez ainda, por que os cartões atuais “não digam mais como diziam antes”, o que pode causar graves exclamações de algumas pessoas idosas, do tipo “já não se fazem mais cartões postais como antigamente”.
na verdade, em épocas passadas, os cartões funcionaram , quem sabe, como os almanaques, e as atuais revistas de curiosidades humorísticas e de fofocas, pois além da ilustração carregavam toda uma mensagem. Fosse referente a concluso de Miss Universo realizado no Brasil, e que se acontecesse hoje seria documentado pelas revistas Manchete, Ou fatos e Fotos, ou o crime da filha do prefeito de uma cidade alemã que de também se ocorresse hoje, seria Manchete no jornal O Globo, daria uma ponta em Fantástico, e receberia mil crônicas, talvez uma série de reportagens, do cronista, Carlos Heitor Cony. E os cartões postais humorísticos, quem sabe, substituíssem no inicio do século, as revistas de crítica e humor, como mais tarde aconteceram em Curitiba, com o nome de Bomba, ou Olho da Rua, e tanta outras. E serviram, sem sombra de dúvidas, para que a colônia alemã estabelecida no Paraná cultivasse seus valores culturais, as tradições de sua terra natal, e o folclore e paisagem, naqueles cartões repletos de trevos, porcos como símbolo de sorte, miosótis, árvores natalinas cobertas de neve, Papais Noéis avermelhados, castelo, igrejas velhíssimas, duendes e anões. E a Alemanha, sob todos os ângulos e aspectos: desde a reprodução de seus quadros famosos, até a documentação de seus crimes “bombásticos” como aquele da filha do prefeito. E até, e porque não, cartão postal contendo o menu de um navio de terceira classe do Loyd Alemão, oferecendo para o jantar, entre outras coisas, batata cozida,  ou ainda os cartões postais feitos aqui especialmente para serem vendidos e com seus recursos auxiliarem os órfãos e viúvas da guerra. 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Textos da exposição sobre a litografia paranaense em 1975

Material retirado da Casa da Memória (FCC) sobre a exposição ocorrida em 29 de outubro de 1975, que produziu diversos materiais sobre o tema. Digitalizado por Alan Witikoski do datilografado. Infelizmente o original não possui nota sobre o autor do texto, se alguém comprovar o autor, ele será devidamente referenciado.
 
A exposição, “Rótulos e Embalagens Antigos ─ Litografia” é o resultado de um trabalho intensivo de coleta de material gráfico confeccionado em Curitiba pelo processo de impressão litográfico que antecedeu ao processo de impressão Offset. Para obtenção do referido material a Casa Romário Martins fez cerca de oitenta contatos entre industriais, descendentes e proprietários de antigas litografias de Curitiba.
Como resultado, mostraremos ao público, à partir de 29 de outubro:
Pedras litográficas confeccionadas em quatro estabelecimentos gráficos;
- Rótulos e embalagens confeccionados por cinco estabelecimentos;
- Coleção de duzentos rótulos confeccionados na Impressora Paranaense no período de 1914  a 1916;
- Coleção de rótulos e embalagens confeccionados pelo litógrafo Rodolfo Doubek no período entre 1929 a 1938, na Sociedade Metalgráfica;
- Coleção de caixas de fósforo mostrando a evolução da apresentação do produto;
- Coleção de embalagens de remédios manipulados desde o inicio do século;
- Coleção de cartazes publicitários confeccionados em três estabelecimentos gráficos;
- Álbum de rótulos de cervejas antigas de todo Brasil;
A exposição mostrará ainda:
- Painel fotográfico mostrando estabelecimentos gráficos antigos, o ambiente de trabalho de uma litografia, máquinas e litógrafos;
- Painel de documentos fotocopiados recortes de jornal referentes a litógrafos, litografias e sobre a introdução da decalcomania no Paraná;
- Painel especifico sobre a propaganda do Mate;

Todo o material será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos tomados pela Casa Romário Marins entre litógrafos e pessoas ligadas a litografia e que estarão a disposição do público para consultas. Durante a abertura será lançado o boletim, “Schroeder e Kirstein”, nome de dois alemão que segundo os depoimentos caracterizaram-se como verdadeiros pioneiros da indústria gráfica no Paraná e responsáveis pela introdução da decalcomania no Paraná e no Brasil.
Rótulos de barricas de mate, o nostálgico leque de compensado de velhos carnavais, e a bolota da Cervejaria Atlânctica, relíquia do folclórico Bar Okay, relembrando rodas de boemia, são algumas das peças que comporão a exposição, Rótulos e Embalagens Antigo ─ Litografia, que a Casa Romário Martins inaugura no próximo dia 29 de outubro.
E se a nota pitoresca será dada pelos rótulos de Cachaça com seus nomes bizarros: Nº 1, Só-Só, Arrasta pé, Três Tombos, Com esta que eu vou, a embalagem da pasta dentifrícia e os rótulos das cervejas Pomba, Providência e Cruzeiro farão lembrar uma época em que Curitiba tinha pelo menos dez cervejarias, além de centenas de outras pequenas indústrias.

Rótulos e Cartazes
Além de cerva de quatrocentos rótulos e embalagens, de variadas procedências, a Casa Romário Martins estará mostrando velhas latas floridas de biscoito que durante muito tempo serviram de “cestinho de bordado” para as vovós, uma coleção de caixas de fósforo desde o inicio do século, e as simpáticas garrafinhas de folha, brinde de uma cervejaria: elas eram rodadas nas mesas de bar, e quando paravam, apontavam o felizardo que teria que pagar ...
A exposição mostrará, também, o tempo que as firmas davam como brindes miniaturas de bebidas, canetas de pena, e o tempo em que o mate era exportado em barricas artesanais, hoje substituídas por sacos de plásticos. Não faltarão os cartazes de publicidade anunciando cervejas com apelos suis generis de, “auxilio a nossa agricultura”, ou o cartaz da Confederação dos Tingus.

Pedras e Fotografias

Pedras litográficas desenhadas em vários estabelecimentos gráficos darão ao público uma ideia do processo de impressão que antecedeu o Offset, quando o desenho de um rótulos precisava ser feito diretamente na pedra calcária, duríssima, importada e difícil de trabalhar. As possibilidades de correção eram mínimas e as palavras precisavam ser escritas da direita para esquerda.  Painéis fotográficos completarão a visão do processo litográfico, que será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos gravados pela casa Romário Martins com ex-litógrafos, descendentes e proprietários de antigas litografias.
Oscar Schrappe, da Impressora Paranaense, conta, entre outras coisas, como a Questão do Contestado influiu nos negócios da empresa; Rodolfo Doubek explica que no tempo da litografia não havia agência de publicidade e era o próprio litógrafo quem criava rótulos e embalagens, “colocando inclusive o dístico”, e Otto Schnneck fala no salário de aprendiz de litógrafo: “dava para comprar dois pares de sapato, e conta, também que uma das funções do aprendiz era procurar modelos para rótulos em revistas estrangeiras: “o trabalho não era copiado, mas tirava-se uma ideia”.

Decalcomania e Boletim

O depoimento de Miguel Raicosky, proprietário da Impressora Pontagrossense, hoje Cartográfica Industrial conta que apesar de ter oficina em Ponta Grossa dependia dos litógrafos curitibanos que faziam aqui o croqui de seus rótulos, trabalhando como “freelancer”, e Otto Stutz relembra que o litógrafo precisava fazer reduções à mão livre, de até vinte vezes porque era moda mostrar nos rótulos, a fachada de complexos industriais. A maioria destes depoimentos faz referências ao nome de dois alemães, Schroeder e Kirstein, apontados como pioneiros na litografia em Curitiba, e são notícias extraídas destes depoimentos que compõe o boletim que a Casa Romário Martins estará lançando no dia 29, sob o título “Schroeder e Kirstein”. Alexandre Schroeder nasceu na Alemanha onde aprendeu o ofício de litógrafo e veio ao Brasil no inicio do século. Estabeleceu-se em Curitiba e participou na criação de três estabelecimentos gráficos: Litografia Progresso, Sociedade Metalgráfica e Schroeder e Kirstein, este último juntamente com outro técnico, onde foram produzidas em escala industrial as primeiras decalcomanias do Brasil.

Nota:Acredito que existe uma falha cronológica no texto, Schroeder, de acordo com relatos, trabalhou na Impressora Paranaense, ainda na época de Jesuíno Lopes, onde conheceu Rômulo Cesar Alves. Com a compra por parte da familía Schrappe (de Santa Catarina) pediram demissão e fundaram a Litografia Progresso.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Entrevista: José Eros Alves comenta sobre a Litografia Progresso

José Eros Alves nasceu em Curitiba no dia 20 de março de 1920 e praticamente criou-se dentro da Litografia Progresso, fundada em 1912 por seu pai, Rômulo Cesar Alves em sociedade com o litógrafo Alexandre Schroeder.

Em seu depoimento, gravado no dia 12 de agosto de 1975, Eros explica porque esta sociedade foi dissolvida, relacionando o fato com a Guerra e a Lista Negra de Importação dos Estados Unidos, fala no seu pai, nos litógrafos que passaram pela Litografia Progresso e relembra como ele e os irmãos faziam a praça de Curitiba no velo fiat da firma, visitando indústria a indústria.

Cita a Odisseia para confecção dos rótulos em dourado, faz questão de relatar uma importação de purpurina embargado no Porto de Paranaguá porque as autoridades pensaram tratar-se de ouro em pó, e não deixa de definir a Litografia como uma espécie de Cada da Moeda do Paraná.

Entrevista cedida a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

1. Quando e onde começou a funcionar Litografia Progresso?
A Litografia Progresso foi fundada a rua São Francisco antigo número 37, hoje 215, por Barãozinho do Cerro Azul, Alexandre Schroeder e meu pai, Rômulo Cesar Alves. O nosso telefone foi um dos primeiros, número 42. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, por ser um dos sócios de nacionalidade alemã, nossa firma entrou para a Lista Negra das importações. Meu pai comprou a parte dele, acabou comprando a parte do outro sócio também, e afirma passou a ser individual. Até 1941 permaneceu razão social Rômulo Cesar Alves e aí mudou para Rômulo Cesar Alves & Cia Limitada com a admissão dos seus filhos como sócios. Mais tarde também foram admitidos outros dois sócios
(Nota: os outros nomes encontram-se rasurados no original, provavelmente a pedido).


2. Mas a litografia começou mesmo com outro nome, não foi?
Sim, em 1912 foi fundada com o denominação Schroeder & Cia Limitadada, paesar de ter já nesta época o nome fantasia de Litografia Progresso. Aliás, nesta época, não se dizia indústria gráfica, mas sim artes gráficas.

3. Como foi mesmo a saída do Schroeder da firma?
Havia o quebra-quebra, a Lista Negra dos americanos na época da guerra. Nós importávamos tudo e a Alemanha foi cortada das importações. Tendo um sócio alemão a firma não podia importar e praticamente não podia trabalhar. Então ficou só o meu pai, que era brasileiro.

4. Em outro depoimento foi contado que um dia o Schroeder chegou para trabalhar e viu seu nome cortado do letreiro da janela da firma, o senhor confirma?
Este caso ocorreu mesmo, eu lembro que meu pai contava. Foi por causa disto que ele resolveu desfazer a sociedade. Até o Brasílio Marques, filho do Generoso Marques, aconselhou meu pai a separar-se do sócio, porque estava sofrendo problemas imensos.

5. Mas ele chegou mesmo a sofrer algum problema?
Chegou, pois foi proibido de importar ...

6. Inicialmente a Litografia Progresso confeccionava que tipo de material?
Só rótulos. Depois é que foi evoluindo, aperfeiçoando, comprando maquinário e diversificando a produção.

7. E o equipamento, como era?
No ano de 1939 adquirimos um novo parque industrial, um prelo BB 76 x 96, o maior prelo de Curitiba, que imprimia uma folha inteira. Naquele tempo éramos especialistas em todo tipo de rótulos, fazíamos gráficos para a estrada de ferro, mapas para o Serviço Nacional de Terras e Geografia do Estado, e fomos, durante muitos anos, praticamente a Casa da Moeda do Paraná, fornecíamos os selos para a Secretária da Fazenda. Selos de consignação, selos de existência, (lei criada pelo interventor Manoel Ribas) e, selos adesivos. Fizemos também os antigos diplomas da Universidade Federal do Paraná, com patente nossa, um processo exclusivo de impressão em pergaminho. Mais tarde ainda, enriquecemos o parque industrial com um setor de tipografia para confecção de blocos, envelopes, papel de carta e notas fiscais.

8. A Litografia trabalhou com pedras até que ano?
Bem, depois das pedras ainda passamos para as chapas de zinco, porque as pedras eram importadas, e esta importação era difícil. Elas mediam de 10 a 12 cm de largura, eram pesadíssimas e complicadas. Devido ao uso excessivo, as pedras afinavam e a gente precisava colar, com uma cola especial, uma placa de mármore para poder utilizar o outro lado. Só depois é que utilizamos o offset, mas não posso precisar o ano.

9. A Litografia Progresso fornecia impressos só para o Paraná?
Fornecíamos do Amazonas ao Rio Grande do Sul, enfrentando aquelas dificuldades todas no despacho das mercadorias. Para o Norte, a gente embarcava via Paranaguá; esperava longos meses um navio costeiro ou do Loyde Nacional. A carga ia assim até Belém do Pará onde pegava a companhia que fazia o rio Amazonas, levando em média 120 a 150 dias para chegar em Manaus.

10. Aqui no Paraná, quais eram os clientes da Litografia Progresso?
Naquela época, o forte do Paraná era a indústria extrativista e especialmente o mate. Aquele engenhos tradicionais, dos quais só existem dois atualmente. A erva era exportada em barricas e os rótulos redondos, obedeciam a vários tamanhos: Inteiros, meios, quartos e oitatvos de barricas, cortados em máquinas especiais, tipo balancim. Imprimimos também etiquetas para balas de fábricas que nem existem mais como  Beneoito, Gianpaoli, Irmãos Sobania, João Marcassa, Pedro Kulo, Francisco Lashoski. Na parte de bebidas, tínhamos muito mais fábricas do que temos hoje. A antiga Atlanctica,o Rigolino, Cervejaria Providência, Cervejaria Brasileira, hii, eram muitas. Fábricas pequenas, mas realmente paranaenses. Havia uma indústria farmacêutica fazendo pasta dentifrícia, vinho reconstituinte, não havia os cartéis estrangeiros de laboratórios como há hoje.

11. Então a cliente era realmente grande ...
Muito grande. Em Curitiba, nós fazíamos a praça. Depois do almoços, nós os filhos pegávamos o carro da firma, um fiat, e um visitávamos um e outro, e era uma coisa. Nas fábricas de bebidas, por exemplo, obrigavam a gente a beber seus produtos.

12. E qual era o espírito da Litografia Progresso?
Meu pai, além de técnico, sempre teve um espirito muito progressista, sempre estava atualizando, e a litografia não era encarada como indústria, mas sim como uma arte.  Não havia um só operário que não fosse especializado, e a dificuldade era justamente esta: técnico. O maior celeiro destes profissionais era o estado de Santa Catarina. Quase todos os nossos operários vinham de lá e eram de origem alemã. Tanto assim, que muita gente pensava que nós também fossemos estrangeiros, apesar de meu pai ser de Paranaguá por quatro gerações. Naquela época, a litografia era explorada quase que exclusivamente por alemães, a própria litografia foi iniciada por alemães. Nosso serviõ, sem falsa modéstia era primoroso.

13. Seu pai aprendeu onde?
Ele foi aprendiz na antiga impressora Impressora Paranaense, no tempo de Jesuino Lopes. Ainda era garoto quanto começou a se interessar e aprender. Mais tarde, quando o Max Scrappe que tinha uma fábrica de linguiça em Joinville veio a Curitiba e comprou a Impressora, meu pai saiu e fundou a firme dele.

14. Então foi na Impressora Paranaense que ele conheceu o Schroeder?
Isto mesmo. Saíram os dois na mesma época. E precisaram de capital, porque naquele época as máquinas eram todas importadas da Alemanha. O Brasil era incipiente no setor, até as tintas eram importadas da França e também o papel. Mais tarde melhorou um pouco quando a fábrica de tintas francesa abriu uma filial no Rio de Janeiro, depois a Cromus em São Paulo, e depois ainda a Klabin, vendendo papel.

15. Qual era o setor de cada sócio?
Meu pai cuidava da parte do transporte, que um setor importante em se tratando de uma indústria gráfica. Existiam dois padrões de papel: o BB 66 x 96 e o AA 76 x 112. As máquinas antigas normalmente pegavam 76 x 96, a metade do papel. Dois centímetros de margem eram destinados a pinça, onde a máquina segurava o papel. A máquina era muito interessante. Havia uma moça marginadora, que colocava a folha na máquina. A pedra corria dentro de um carro. Atrás havia o tinteiro e na frente a mesa de feltro que trabalhava com água para evitar que o papel colasse na pedra. Tudo era automático: a moça colocava a folha, dava a volta, passava a pedra, outra moça tirava a folha e quando a pedra voltava passava na tinta. Meu pai fazia justamente a distribuição do impresso no papel porque nosso segredo estava justamente no racional aproveitamento do papel. Quando compramos a máquina grande, passamos a imprimir no papel inteiro. Havia então maior necessidade de se estudar a distribuição para não haver desperdício e consequentemente não encarecer o produto. A distribuição era tão cuidado, que não tínhamos aparas, assim mesmo, o pouco que juntava, nós pagávamos para o carroceiro levar embora, imagina se hoje faríamos o mesmo.

16. Quem fazia os desenhos dos rótulos na litografia?
Os desenhistas que eram chamados de cromistas. O freguês chegava lá, pedia o rótulo, explicava o produto e o cromista fazia o croqui. Naquele tempo existia, por exemplo, uma fábrica de saponáceo, e o rótulo eram simples em termos de ideia: uma panela, uma pessoa passando o saponáceo dentro, saindo uns brilhos para  fora ... O croqui era o desenho do róutlo feito a aquarela, e nele se definia o número de cores, complicado, porque cada cor era uma impressão, uma passa na máquina.

17. Onde os cromistas aprendiam a profissão?
Muitos cromistas de Curitiba aprenderam conosco. Eles tinham uma queda par ao desenho então, sem noção prática ou teórica, iam direto trabalhar. Primeiro dedicavam-se o preencher espaços pré-determinados, como exercícios para firmar a mão. Depois faziam retoques, e finalmente passavam aos primeiros rótulos, de uma só cor, que eram os mais simples. Quer dizer que nós mesmo formávamos nossos elementos.

18. Era muito complicado trabalhar com pedra?
Depois de desenhada a pedra ia para a seção de transporte onde o desenho era fixado e dava-se uma pequena saliência. Havia o preparo químico, muito complicado, onde a pedra recebia ácido, asfalto, maçarico, e cada cor era um trabalho à parte. Cada chapa de cada cor trazia cruzes nos pontos de referência. Estas cruzes deviam coincidir, senão dava maculatura, como o fantasma de televisão. Depois de utilizada, a pedra, os originais eram gravados em pedras pequenas chamadas de chapas, e as pedras grandes eram limpas com areia fina e postas no nível. Para isto a pedra precisava ser medida em todas as direções com réguas de ferro debaixo das quais passava-se um papel fino para constatar aos mínimas diferenças que deveriam ser acertadas. Isto era uma verdade arte, pois da precisão dependia o sucesso da impressão

19. O senhor fala muito em arte ...
Mas era a arte aplicada na indústria. Tanto assim, que a profissão de litógrafo não era litógrafo mas artista gráfico. No primeiro título de leitor do meu pai, começo do século, constava: profissão artista.

20. O Schroeder também desenhava?
Ele era um dos diretores, e os desenhistas eram os empregados. Mas meu mano lembra dele desenhando.

21. Lembra algum caso interessante relacionado especificamente com a confecção de rótulos?
Interessante ... As marcas de mate eram interessantes. Havia o Arminho, Cruz de Ferro, El Contrabandista, El Matador, Iguassu ... O mate El Matador mostrava no rótulo uma reprodução da carreta de Montevidéu e trazia escrito: “ a melhor gerba é trazida pela contrabandista”. O interessante é que as marcas eram de argentinos, uruguaios e chinelos; eles mandavam preparar a erva e depois vendiam lá. O rótulo do mate Real foi o primeiro que fizemos em relevo.

22. E sobre as etiquetas de balas?
A fábrica de balas do Gianpaoli tinha um tipo de bala de luxo, muito boa, finíssima que custava um tostão cada, e depois tinha umas balas com nome de mulher: Iris, Iná e Gioconda. Chegamos a fazer balas Zequinhas, e muitas outras balas de coleção: Estudante, Mutt and Jeff, eoutra não lembro o nome, que juntando os invólucros a criança formava um quebra cabeça. Sempre havia uma figurinha que era chamada de difícil e custava para completar a figura. Dizia-se, inclusive, que quem comprasse cinquenta balas, ganharia uma difícil, então o sonho da gurizada era arrumar dinheiro para comprar as cinquenta. Só que estas balas eram pura água e açúcar. Ah, tentamos também fazer as balas Chico Fumaça, mas não pegou.

23. Lembra algum prêmio ganho pela Litografia Progresso?
Lembro de um, numa exposição internacional em Montevidéu no ano de 1922, Ganhamos uma medalha de ouro e uma menção honrosa.

24. No inicio o senhor disse que a litografia fazia praticamente todos os selos do Estado. Porque?
Eram realizadas concorrências para São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná e nós tínhamos qualidade, honestidade e preço. A confecção dos selos era acompanhada de perto por funcionários da Fazenda que permaneciam dentro da Litografia.

25. E qual era a função destes funcionários?
Para que não fossem falsificados selos. No final do dia para a pedra não para sofrer interferências, eram cobertas com verniz e postas para secar, e o pessoal da Fazenda assinava em cima, para evitar falsificações. Isto era uma bobagem, porque éramos desenhistas e seria fácil para nós, desenhar uma assinatura ... De qualquer forma, os funcionários ficavam oito horas na Litografia, acompanhando todas as fases da confecção dos selos. Até tivemos um problema. É que os funcionários queriam começar a trabalhar às nove horas da  manhã, nós começávamos às sete e não queríamos deixar as máquinas paradas por duas horas. Chegamos a falar com o secretário da Fazendo e depois disto, passamos a pagar, do nosso bolsa, duas horas de salários para que os funcionários da Fazenda chegassem às sete horas.

26. E quem criava os selos?
O pessoal da Litografia, meus manos e eu. E tínhamos muitos catálogos para tirar ideias.

27. A litografia tinha trabalho o ano inteiro?
Nós só trabalhávamos sob encomenda, com “o pedido no prego”, como chamávamos. Havia uma época que chegávamos a trabalhar com duas turmas, 16 horas por dia. Havia outros, no entanto, em que resolvíamos fazer modificações, desmontar máquinas por falta de trabalho.

28. Estas paradas tinham caráter cíclico?
Tinham sim, como reflexo da safra de mate.

29. Mas chegava a ocorrer crise?
Não. Todos os produtos fabricados na época precisavam levar a etiqueta, “indústria brasileira”, que era verde amarela. As firmas já aproveitavam para por nome, endereço, telefone. Quer dizer, toda indústria era um cliente em potencial porque não podia ficar sem impressos.

30. Bem no inicio, a Progresso enfrentava muita concorrência?
Naquela época, em litografia só trabalhávamos nós mesmos e a Impressora Paranaense. Pouco mais tarde surgiram outras. Nós tivemos um acordo com a Impressora Paranaense e compramos em conjunto uma gráfica em Blumenau, Empresa Gráfica Catarinense S.A. Isto foi no ano de 1939. Eu fui então para lá, permaneci por seis meses e fiquei chocado porque tudo era em alemão. Só a contabilidade era feita em português ... Até o aviso da porta, “proibida a entrada” era em idioma estrangeiro e eu tive que aprender na marra. Imediatamente a minha chegava disse que precisávamos mudar aquele norma e um dos funcionários falou: “É bom ir devagar se não vai criar problemas”. Agora recentemente quando fechamos a Litografia Progresso, vendemos nossas ações para a Impressora Paranaense.

31. A gráfica existe hoje? E seu nome foi mantido?
A gráfica ainda existe, só que passou a ser filial da Impressora Paranaense.

32. A parte do Schroeder na Litografia Progresso, qual era?
Era responsável por toda a parte de impressão, lidava com as pedras, mistura de cores, os tons. Naquela época vinham só as cores básicas e nós mesmos é que tínhamos que diluir, moer a tinta e preparar os tons.

33. E os rótulos e impressos com dourado, eram muito complicados? Parece que era o luxo ...
Eram impressos em verniz e para dourar passava-se um chumaço de algodão com purpurina. Acontece que nestas ocasiões todos os operários, máquinas e material ficavam cobertos pelo pó que se espalhava no ar. A pessoa que faria o trabalho precisava usar panos no rosto para se proteger. Era uma loucura, o que se perdia de purpurina não era brincadeira. Bem por isto, estes rótulos custavam uma fábula, exigiam um verdadeiro trabalho chinês. Mais tarde apareceram as primeiras máquinas que sacudiam o pó e passavam umas escovas em cima dos rótulos, simplificando um pouco. Do final tínhamos outra máquina mais moderna que oferecia também a vantagem de não desperdiçar a purpurina que reaproveitada através de exaustores.

34. Logo no inicio o papel nacional era bom?
Olha, algumas vezes tivemos problemas com o papel nacional. Você sabe que entra muito água na composição do papel. Pois bem, as vezes a água tinha muita areia e quando o papel passava na máquina os resíduos prendiam no rolo e danificavam a pedra. Então tínhamos que limpar este papel na maquina de dourar, sem dourar, aproveitando as escovas. Era um trabalho infernal ...

35. E porque afinal foi fechada a Litografia Progresso?
Havia dificuldade de se encontrar técnicos, pois hoje em dia ninguém quer se aprofundar nas coisas. Além disto, a indústria gráfica sofreu grandes transformações. Lembro que foi criado um grupo de comprar pelo Governo Federal para sanar as dificuldades de importação. Depois do grupo houve uma facilidade tão grande na importação de maquinário, à ponto de em São Paulo, quebrar uma gráfica por dia: muita concorrência desleal. Além disto, nossos sócios eram muito velhos, eu era o mais moço e não era técnico e a indústria gráfica não podia fazer sem o técnico. Hoje não, porque tudo é eletrônico, há o fotolito, desapareceu o artista. Chegamos a construir um prédio novo na frente da litografia, mas foi na época da guerra e havia muito dificuldade para importação. Quando acabou a guerra meu pai já estava doente e não nos animamos para uma nova aventura. Precisaríamos construir um novo prédio, agora fora do dentro da cidade, o que implicaria em grande capital,, e não havia um elemento novo que quisesse tocar a litografia. Porque a pessoa tem que viver a coisa. A Litografia é uma indústria muito bonita, você vê a ideia no croqui, depois a evolução para o croqui definitivo e finalmente a impressão, com o resultado do trabalho. Além disto, é uma indústria muito ingrata. Se ocorre um erro, joga-se tudo fora, não dá para vender para mais ninguém ...

36. E como era seu pai como pessoal?
Ele era excepcional, pai e amigo. Muito trabalhador, com uma tenacidade tremenda, um verdadeiro escravo do trabalho. Casou-se em 1903, morava na rua Paula Gomes e usava o trem de burro que ia da praça da Ordem até o Batel. Quando não o tostão da passagem lhe fazia falta e por isto trabalhava durante o  dia na Impressora e à noite no Correio. Deixou alguma coisa para os filhos e principalmente um nome muito limpo.

37. O senhor e seu irmão começaram a trabalhar cedo na litografia?
Meu irmão mais velho começou muito cedo, fez a escola prática do comércio e entrou na firma. O outro também. O Telange trabalhou até 1935 quando formou-se em Engenharia e passou alguns anos em São Paulo. Como precisava de mais gente, eu acabei do ginásio, fiz o curso de Perito Contador e comecei a trabalhar com o meu pai, em 1935, aos 16 anos de idade.

38. O senhor ficou diretamente ligado a Litografia até que ano?
Até o final.

39. Por favor, seu nome e data de nascimento.
Eros José Alves. Nasci na rua Floriano Peixoto no dia 19 de março de 1920. Sou o mais moço de seus filhos, quatro homens e duas mulheres. Agora, no entanto, só estamos em três.

40. Lembra mais algum caso interessante?
As histórias são tantas, no entanto é difícil lembra-las assim. O Acyr Guimarães, por exemplo, um dos funcionários da Gazeta do Povo, foi vendedor da Litografia Progresso. Fizemos capas de livros inclusive para o Romário Martins, Sebastião Paraná ...

41. Seus fregueses costumavam distribuir brindes?
Havia em Curitiba uma bebida suis generis “Sinalco” que distribuía uns cálices de cristal da Bohemia com o nome gravado, ficou lindo. Mas os brindes eram principalmente calendários, familiares e comerciais. O segundo era grande, e o primeiro geralmente com figuras e reprodução de quadros.

42. O consumo de purpurina era muito grande?
Aconteceu inclusive um caso engraçado. Uma vez importamos de uma firma americana duas toneladas de purpurina por talvez 8 contos de reis. Quando o fornecedor viu que nosso capital era de doze contos de reis, estranhou, e mandou uma carta perguntando como podíamos gastar tanto só com a purpurina. É que naquele tempo não havia credito em aberto; comprava-se a mercadoria e sacava-se uma letra de câmbio para 180 dias. Quer dizer, quase que se pagava com a utilização da própria mercadoria comprada. Outro caso ocorreu quando a purpurina chegou a porto de Paranaguá. Por erro de despachante, veio escrito que se tratava de ouro em pó, mas outro mesmo. Olha, foi uma luta. O porto embargou a mercadoria, tivemos que tirar uma amostra, não havia laboratório em Curitiba e então o material foi enviado a Porto Alegre para ser examinado. Isto ocorreu por volta de 1930, 1931 ...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Entrevista: Cesar Pinto Junior fala sobre a Sociedade Metalgráfica.

Cesar Pinto Junior foi apontado pela própria direção da Fábrica Fontana para falar sobre a Sociedade Metalgráfica. O depoimento foi gravado no dia 15 de setembro de 1975. Nele, o senhor Cesar, conta certos episódios que presenciou no período entre 1929 e 1935 quando trabalhou na empresa como contador, e na qual admite, com muita franqueza não ter conhecimento sobre certos fatos referentes a litografia.

Demonstra boa vontade. Faz inclusive um contato com Constante Moro, a pessoa mais indicada para falar e que, infelizmente encontra-se em restabelecimento de uma intervenção cirúrgica sem condições de atender a solicitação da Casa Romário Martins.

Cesar Pinto Junior explica, por exemplo, porque a Sociedade Metalgráfica foi criada, fala sobre a fabricação da decalcomania e mostra a importância dos alemães, Alexandre Schroeder e Germano Henrique Kirstein, na introdução da decalcomania no Brasil.
Entrevista cedida a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Fundação Cultural de Curitiba.

1. Em primeiro lugar queríamos o seu nome completo. 
Cesar Pinto Junior. 

2. O senhor trabalhou na Sociedade Metalgráfica em que período? 
Do ano de 1929 a 1935 

3. Qual era a sua função, então? 
Bem, quando eu sai de lá já era contador. Mas entrei como auxiliar de escritório e depois fui caixa. Saí da Sociedade Metalgráfica para vir trabalhar na Fábrica Fontana, daí ligado ao mate e não mais a litografia. 

4. Apesar de ocupar o setor administrativo, o senhor teve muito contato com o pessoal da litografia? 
Estava sempre em contato com eles porque a fábrica era praticamente junto ao escritório e, eu geralmente estava girando pela fábrica, vendo todo o movimento. 

5. Lembra quais eram os clientes da Sociedade Metalgráfica na época de trabalhou lá?

Em primeiro lugar estava a Fábrica Fontana, para a qual fazíamos todo o material impresso, inclusive as embalagens. Mas fazíamos também, para o Leão Junior, Cervejaria Atlanctica, Cervejaria Adriática, Emilie Van Linzeng de Rio Negro, que era ervateiro, e muitos fabricantes de cera e pasta para calçados entre eles o Alfredo Muller e Fábrica Kosmos. Faz muito tempo, é difícil recordar, eu sei que havia mais.

6. Pode-se dizer que a Sociedade Metalgráfica foi criada para suprir de rotulagem e embalagem a Fábrica Fontana?
Não só a Fábrica Fontana como também outra. Porque o Leão Júnior também era sócio da Metalgráfica. Mas o principal motivo da criação da firma foi mesmo o ramo de decalcomanias. No princípio o movimento de vendas neste setor não era muito grande porque o público desconhecia o produto. Além da decalcomania, trabalhamos também com litografia em papel-rotulagem e estamparia-confeccionando latas impressas. Falando nisso lembrei de outro cliente nosso, Senegaglia. Ele recebia folhas de Flandres impressas por nós e depois confeccionava a lata.

7. Pode nos contar como se deu a formação da Sociedade Metalgráfica?
Isso foi bem anterior a minha entrada na firma, quem poderia contar bem é o Constante Moro. Mas pelo que ouvi contar tenho a impressão que o senhor Francisco Fide Fontana conheceu os dois, Schroeder e Kirstein, gostou muito do trabalho deles e teve a idéia de montar uma firma abrindo sociedade com os principais prováveis clientes dos produtos que a fábrica iria produzir. Então, foi formada a sociedade incluindo os dois alemães, para suprir os demais industriais sócios não só de rotulagem como também de embalagem. É que naquele tempo as fábricas de erva-mate usavam barricas e havia necessidade dos rótulos que eram selados na tampa, para diferenciar as várias marcas de produto. Eram estes rótulos que a Metalgráfica fornecia especialmente aos ervateiros.
8. O senhor lembra de nomes de litógrafos que tenham trabalhado na Sociedade Metalgráfica?
Isto está difícil ... Faz muito tempo ... Lembro do André Baus, o próprio Constante Moro, o momento não lembro de outros. Espere um instante, vou tentar localizar o arquivo de funcionários (pausa). Infelizmente ninguém sabe onde este arquivo se encontra. É uma pena.

9. E a respeito da dupla Schroeder e Kirstein, o senhor os conheceu pessoalmente? Como era o trabalho deles?
O Schroeder era uma ótima pessoa, bom, muito bom desenhista, apesar do defeito que tinha na mão, um defeito no dedo. Trabalhava muito bem e todos os seus desenhos eram perfeitos.

10. Parece que o Schroeder foi o primeiro chefe da seção litográfica da Metalgráfica, o senhor concorda?
Bom, o Schroeder cuidava da parte de desenho. O chefe da fábrica mesmo era o Kirstein. O Schroeder cuidava não só dos desenhos que eram depois submetidos a apreciação dos clientes como também da confecção das chapas de impressão. Naquele tempo o desenho era feito diretamente nas pedras, que iam para os prelos, depois de devidamente preparadas.

11. E a respeito de Kirstein?
Ele conhecia muito bem o processo de litografia, era um ótimo técnico inclusive da parte de decalcomania, que não deixava de ser litografia, só que em papel especial. Inicialmente, o Kirstein fazia também o orçamento de todos os pedidos da fábrica, mas com a evolução dos negócios, ele ficou só com a parte técnica e o gerente é que tomava conta desta parte. Quando entrei na firma, o diretor gerente era o Manoel Francisco Pereira que também era sócio, e que algum tempo depois foi substituído pelo Dr. Álvaro Junqueira Junior, que ficou muitos anos no cargo.

12. Alguns depoimentos colocam que o Schroeder teria sido um inovador na litografia do Paraná. O senhor concorda?
Penso que sim. Não posso dar resposta afirmativa porque ele trabalhava em um setor do qual era estava afastado. Mas ele tinha muitas ideias originais e calculo que tenha sido um dos inovadores.

13. Algumas pessoas apontam o Schroeder e o Kirstein como introdutores da decalcomania no Paraná e no Brasil. O senhor concorda?
Sim, no Brasil inteiro. Foram eles que introduziram a decalcomania, produto que eles já conheciam na Alemanha, antes de virem ao Brasil.

14. A fabricação inicial teria ocorrido antes mesmo da criação da Sociedade Metalgráfica?
É, no estabelecimento deles, antes da Metalgráfica, na firma Schroeder e Kirstein. Uma fábrica pequena, ali a decalcomania foi produzida pela primeira vez.

15. O senhor chegou a conhecer esta fábrica?
Esta eu não conheci pessoalmente porque deve ter sido criada mais ou menos em 1919 e eu comecei a trabalhar na Sociedade Metalgráfica apenas em 1929.

16. Apontaram que a Sociedade Metalgráfica teria sido o primeiro estabelecimento a imprimir latas no Estado. Esta afirmação procede?
Isto eu não posso afirmar. Quando comecei a trabalhar, se não me engano já existia a Metalgrafica Pradi, contudo não sei se a Metalgráfica foi a primeira.

17. Como já lhe citei em conversa, estranhamos muito o fato de que os jornais da época atribuem quase que só a Kirstein a introdução da Decalcomania no Paraná. Existia alguma razão para isto?
Desconheço. O que pode ter acontecido é que o Kirstein tinha mais contato com a clientela e por isto era mais conhecido. Porque o Schroeder trabalha na parte de cima da fábrica, e os primeiros contatos com os clientes eram feito só pelo Kirstein. Eu atribuo a isto. Agora não sei se efetivamente ele era mais responsável, ou se era o conjunto.

18. Inclusive pode ter pesado o fato de Kirstein ter morrido muito mais tarde que o Schroeder ...
É, o Kirstein morreu bem mais tarde, e trabalhou na firma até morrer.

19. Qual teria sido o ponto alto da produção da Sociedade Metalgráfica: Lataria, rotulagem ou decalcomanias?
Inicialmente era as latas que foram fabricadas até ocorrer a incorporação da Sociedade Metalgráfica às Fábricas Fontana. Depois é que venderam o maquinário de estamparia e se limitaram a litografia incluindo aí a decalcomania. 

20. Em que época ocorreu o auge da venda de decalcomania? Parece que no começo houve muita dificuldade na comercialização do produto ...
No começo, de fato, havia certa dificuldade porque o produto era desconhecido. Mas, com o passar do tempo, os produtos da Metalgráfica tornaram-se bastante conhecidos no Brasil inteiro. Mesmo pedidos pequenos, recebíamos de todos os cantos do país. O grande cliente em decalcomanias, no entanto, era São Paulo. Quanto a fase área, não posso dizer, porque poderia ter ocorrido justamente depois que saí da firma.

21. Que tipo de decalcomania era mais produzida no início?
Decalcomania a água. Naquele tempo fazíamos mais decalcomania a água e muito pouco para cerâmica.

22. E nesta época a decalcomania destinava-se especialmente a fins decorativos, de cunho didático para crianças, ou para a publicidade?
Inicialmente a decalcomania se destinava as crianças. Mas, logo em seguida, foi iniciada a decalcomania como propaganda e também existiam fins decorativos.

23. E qual destes tipos firmou-se mais?
Não posso dizer isto, calculo que o desenvolvimento tenha sido igual, dos três tipos.

24. Á partir de que época a Sociedade Metalgráfica encontrou concorrente na produção de decalcomania?
Isto eu desconheço pois é posterior a minha saída da firma. Este assunto também o Moro informaria. Quer que arrisque um telefonema para ele? 
─ (Eu tentei ligar ontem novamente. Ele continua doente. Ficaram de me dar uma resposta na próxima semana, se ele fará ou não o depoimento)

Descrição da gravação do telefonema de Constance Moro cedida a partir da solicitação de Cesar Pinto Junior, autor das perguntas.

[Moro] Sei, então os litógrafos eram Schroeder, Rodolfo Doubek, Rodolfo Korbel, havia mais um, sim o Leonardo Born. Isto. (pausa). No começo era decalcomania a água e um pouco para cerâmica ... A cerâmica foi iniciada no ano de 1940. Anteriormente era só a água. (pausa). Ah, e à fogo também, e também à quente, agora estou lembrando, para colocar em roupa, isto.
[Cesar] Agora você me diga uma coisa: a decalcomania à água, vendia-se uma parte com finalidade decorativa e outra parte para criança, não é?
[Moro] Isto, figurinha para tirar, a tradução em alemão ...[Cesar] Qual era a parte maior sem considerar a propaganda?[Moro] Ah, a decorativa foi maior.
[Cesar] A decalcomania para propaganda foi bem mais tarde, não é?
[Moro] Mais ou menos em 1932─1933.
[Cesar] Sim, é claro, faz muito anos. Não tem importância não quero te incomodar.  É ela me disse tentou falar com você, e você não estava muito bem. Olha, eu não quero te incomodar, vá descansar, qualquer dia nós conversamos. Um abraço para você Constance. Não, ela compreende, eu expliquei o caso a ela. Obrigado, um abraço. 
(retomando, após a conversa com Constance Moro)
Olha, havia mais dois tipos de decalcomania que eu não lembrava, à fogo e à quente. Fazíamos também, monogramas, assinaturas, marcas, fizemos a marca da Arpp de Joinville à quente para ser pregada nas meias.

25. Como o senhor coloca o trabalho de Schroeder e Kirstein no sucesso alcançado pelo Sociedade Metalgráfica?
Eu acho que ali o trabalho e a responsabilidade dos dois era igual. Cada um no seu setor contribuía em pé de igualdade para a expansão da firma.

26. Eu quero dizer, que eles eram elementos de peso da ...
Elementos chave, elementos chave na parte de produção.

27. E eles eram bons profissionais?
Bons profissionais, responsáveis, e com muitas boas ideias. Ambos tinham boas ideias.

28. A Metalgráfica costumava manter turmas de aprendizes visando formar seu pessoal?
Em geral, quase todos que entravam lá, entravam praticamente aprendizes. Eu me lembro inclusive do caso de Doubek que já era desenhista, mas não estava acostumado com litografia e foi aprendendo até chegar a ocupar o lugar de Schroeder, quando o segundo afastou-se.


29. E neste caso, quem era os mestres?
Bom, naquele tempo não era como hoje, mestre e aluno. Todos ensinavam e todos aprendiam uma coisa ou outra. Hoje existem escolas de formação profissional que não existiam então. Todos aprendiam dentro da própria empresa, e todos partiram de Schroeder e Kirstein que eram os mestres em seu setor.

30. Quem dava a ideia para um rótulo de litografia?
Bom, isto é relativo porque antigamente o industrial estudava um desenho que queria fazer, e dava as indicações para os litógrafos. Outras vezes, o próprio litógrafo dava ideia que o industrial aprovava ou não. Hoje é tudo muito diferente, mais fácil, porque existem firmas de publicidade que já entregam o layout pronto para a impressão.

31.O litógrafo então precisava ser uma pessoa criativa ...
Precisava, além da habilidade para desenhar precisava ter criação.

32. Lembra de algum rótulo ou cartaz especial feito pela Sociedade Metalgráfica?
Eu me lembro de uns quadros, decalcomania sobre madeira, para propaganda de uma marca de chapéu. Esta decalcomania imitava tipos de madeira-caviuna, peroba. Os quadros ficavam expostos nas casas de comércio. Isto foi muito marcante na época. Também fizemos para a Cervejaria Adriática uns cartazes em folha, com a impressão de uma garrafa cheia de cerveja com a seguinte inscrição: “Pão líquido”.

33. Lembra de algum prêmio ganho pela Sociedade em exposições de produtos gráficos?
Em quase todas as exposições ganhávamos prêmios. Este prêmios eram diplomas, mas que não existem mais.

34. Qual o aspecto que o senhor acha importante a ressaltar no trabalho da Sociedade Metalgráfica?
O mais importante para mim, é o fato da Sociedade ter sido pioneira na decalcomania. Baseada na Metalgráfica foram fundadas diversas firmas especializadas neste tipo de propaganda, muitas delas até hoje em ótimas condições.

35. É verdade que a maioria dos litógrafos e mesmo técnicos eram de origem alemã?
Sim, praticamente todos eles. Ou eram naturais da Alemanha ou eram filhos de alemães. Além disso, a Sociedade recebia da Alemanha muitos folhetos, livros sobre o assunto.

36. Tem notícia de alguma mulher litógrafa na Sociedade?
Não nenhuma.

37. Mas havia mulheres trabalhando na litografia?
Havia. Elas trabalhavam nas máquinas, na escolha (escolha do material em perfeitas condições). As mulheres inclusive eram numerosas, só que ocupavam funções secundárias.


38. Muitas litografias viram-se, no inicio diante da necessidade de buscar técnicos no estrangeiro. O mesmo ocorreu com a Sociedade?
Não que eu tenha conhecimento.

39. Sabe o porquê da saída de Schroeder da Sociedade Metalgráfica?
Não posso afirmar, mas tenho a impressão que ele já andava doente e devido a isto deve ter pedido o seu afastamento.

40. O Kirstein permaneceu na firma até o final de sua vida?
Permaneceu.

41. Algum tipo de trabalho foi preservado pela Fábrica Fontana, referente a Sociedade?
Diversos, mas infelizmente foi tudo destruído pelo incêndio.

42. Este incêndio ocorreu em que data?
No dia 22 de março de 1975.

43. E de lá para cá as atividades continuam paralisadas?
Sim, continuam.

44. E qual será o destino da Fábrica Fontana?
Ainda não podemos afirmar nada de positivo. Tudo depende da liquidação do seguro. Apareceram alguns problemas, houve demora, e ainda falta liquidar uma parte que envolve máquinas de importação. Tivemos que fazer um estudo, atualização de preço destas máquinas ...

45. Como se explica a incorporação da Sociedade Metalgráfica pelas Fábricas Fontana?
Bom, acharam que seria mais prático, uma vez que havia muita ligação e praticamente os sócios de um estabelecimento também eram sócios do outro. Acharam mais prático fazer a incorporação que iria melhorar a administração, com mais possibilidades na parte da produção. E também, as instalações da Sociedade estariam melhores aqui, junto a Fábrica Fontana do que no prédio antigo.

46. Qual foi o primeiro endereço da Sociedade Metalgráfica?
Avenida João Gualberto, n.º 113, funcionava a fábrica, escritório e havia também uma residência no primeiro andar, geralmente ocupada por um funcionário.

47. A mudança de endereço ocorreu por ocasião da incorporação?
Não, já havia mudado antes, mas em caráter provisório.

48. No inicio de suas operações a Metalgráfica tinha muitas litografias concorrentes?
Se não me engano, apenas havia a Litografia Progresso, a Impressora Paranaense e não sei se já havia a Metalgrafia Pradi.

49. O trabalho da litografia estava sujeito a fases cíclicas em decorrência da safra de mate?
Isto de fato ocorria no que diz respeito ao fornecimento destinado aos exportadores de mate. Fora disto, havia outros clientes com serviços sistemáticos.

50. E a respeito de fornecimento de papel, como se processava?
Normal, sem problemas, como também não havia problemas no fornecimento de folhas de Flanders, e nas tintas, apesar de ser tudo importado.

51. Mais algum detalhe que o senhor queria citar?
Não. Tudo já foi tido, espero que seja suficiente.