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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Entrevista com Leonardo Born. A formação da gráfica Born e seu período de aprendiz na Sociedade Metalgráfica.

Entrevista cedida provavelmente a Rosirene Gemael, e transcrita do original datilografado por Alan Witikoski para pesquisa. Disponível para consulta na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Data provável é julho de 1975.

De todos os litógrafos entrevistados, Leonardo Born, da Gráfica Born mostrou-se mais entusiasta de seu antigo trabalho e não escondeu certo saudosismo pela arte litográfica, orgulhando-se de ter sido dos últimos a abandonar aquele sistema de impressão. Inaugurou o Offset com a edição do primeiro jornal grego do Paraná.

Em seu depoimento gravado em julho, Leonardo fala da época em que as fábricas de bebidas costumavam distribuir miniaturas, conta sobre o seu aprendizado na Sociedade Metalgráfica e mostra, com muito empenho, a importância do trabalho de dois alemães, Alexandre Schroeder e Germano Kristein no desenvolvimento da litografia no Paraná, especialmente pela introdução da decalcomania no Brasil, confeccionadas inicialmente numa pequena litografia da antiga rua Assunguy.

Entusiasta de seu mestre, tenta achar livros alemães sobre litografia que teria ganho dele: enterrou tudo no quintal durante a guerra e não consegui mais localizar.

A Gráfica Born foi criado em julho de 1947 por três sócios dos quais apenas dois ainda vivem: Leonardo Born, nosso entrevistado, e Irvino Born, seu primo. Situada à Rua Mateus Leme, está gráfica começou a operar em Offset em 1954, sendo o primeiro trabalho no novo processo, a confecção de um jornal em grego, o primeiro da América Latina. Sem compreender uma só palavra daquele idioma, Leonardo e Irvino limitavam-se a imprimir o jornal que era redigido e composto pelo jornalista grego, que também era o diretor e patrocinador. “O jornal durou cerca de dez anos e terminou com a morte de seu criador. As tiragens eram de 1000 exemplares mensais, distribuídos para todo o país especialmente para a colônia grega de Florianópolis”.

Apesar de dispor do equipamento para impressão em Offset, a Gráfica Born continuou um bom tempo a trabalhar com pedras litográficas e seus donos afirmam com certo orgulho, terem sido os últimos em Curitiba a deixaram a litografia em segundo plano; e afirmam, não sem certo ressentimento, que hoje em dia é praticamente impossível só trabalhar com pedras:

A matéria prima é difícil e cara, e não há mais profissionais no ramo. Os velhos mestres já foram embora e os últimos estão indo agora. Hoje é tudo na base do fotolito. A única máquina de impressão litográfica que ainda funciona na cidade é da Companhia Campos Hidalgo. Mas foi adaptada para imprimir zinco. Nela são feitas as latas de sabão e cêra.

A especialidade da Gráfica Born tem sido rótulos, apesar de já ter confeccionados diplomas, o jornal grego, além de pequenos rótulos para miniaturas de bebidas:

Estavam muito na moda. Todo fabricante distribuía as garrafinhas de brinde, até que o governo passou a exigir imposto e nossos fregueses desistiram. Nós fizemos algumas miniaturas bem interessantes, como aquelas com times de futebol nos rótulos. Duas muito disputadas foram do Coritiba Foot ball Club e Palestra Itália, grandes rivais na época.”

Leonardo acha que o melhor rótulo feito na Gráfica Born foi para a Cerveja Guairacá, da antiga Cervejaria Providência, e diz que fazia muito rótulo para Gengibirra, Cerveja de Sanso, e que de modo geral, quem dava a ideia para os rótulos, era mesmo o freguês: “Eles faziam o rascunho direitinho como queriam e a gente obedecia”. Na sua opinião, os melhores rótulos que viu em toda a sua carreira foram aqueles confeccionados pela Litografia Progresso: “o Alves sempre teve bons técnicos e era muito exigente. Teve, também, o melhor impressor, o Adolfo Kloss, e foi sócio, no início de Schroeder, um dos melhores mestres que trabalharam em Curitiba”.

Na Gráfica Born o trabalho sempre foi dividido em dois setores específicos: o de Irvino – impressão e preparo de pedras, e o de Leonardo – desenho. Leonardo desenhou sempre todos os rótulos, apesar de nunca ter frequentado um curso de desenho, além da aula semanal do Colégio Progresso. E desenhar na pedra ele aprendeu com 14 anos, quanto obteve seu primeiro emprego na Sociedade Metalgráfica, - “no tempo que ela funcionava perto do Passeio Público”. Leonardo e Irvino começaram juntos e ambos foram aprendizes de dois técnicos alemães considerados excelentes - Schroeder e Kristein -. 

Estes dois sabiam de tudo. Começaram com uma pequena litografia aqui na Mateus Leme, onde o Leão e o Fontana mandavam alguns rótulos para imprimir. Os alemães conheciam a técnica muito bem mas não tinham capital, e acabaram fechando sua litografia”.

Leonardo se empolga bastante quando fala dos mestres alemães e não esconde sua admiração por ele: 

"Foi o Kirstein, na pequena firma da Mateus Leme que fez a primeira decalcomania do Brasil, desenhada por Schroerder. Aprendemos com eles inclusive chegamos a fabricar decalcomanias aqui na firma por uns quatro anos. Depois desistimos porque os pedidos de rótulos eram muitos. Acabamos vendendo a matéria prima para o Fontana. Assim como nós, muita gente aprendeu a técnica e o desenho na pedra com os dois alemães”, porque eles eram mestres na Sociedade Metalgráfica. Quando o Schroeder morreu, o jornal alemão, Dass Kompass, escreveu muito bonito, mais ou menos assim: ”faleceu um dos maiores pioneiros da indústria gráfica do Paraná”.

Leonardo não se cansa de exaltar as qualidades de Schroeder: 

“Ele me contou que nasceu na cidade de Hamburgo. Quando jovem foi andar de patinete na neve, quebrou o pé que acabou perdendo, por isto tinha que usar sapatos especiais. Homem aleijado e ainda percorreu todo o mundo ... era um verdadeiro artista. Em gravura, então, ele era ótimo. Fazia gravuras na pedra que só ele e mais um outro da Impressora Paranaense sabia fazer. Ao invés de desenhar, gravava na pedra, dentro da pedra. Saiam aqueles rótulos lindos de charutos, cabeçalhos de papel de carta.” 

Leonardo foi aprendiz de Schroeder durante quatro anos, e lembra quando seu mestre perdeu um dedo:   

”Foi durante o trabalho, justamente quando ele fazia gravura. O dedo já estava machucado e depois acabou entrando ácido e ele teve que amputar. Mas continuou trabalhando do mesmo jeito. Schroeder foi um dos primeiros mestres que eu cheguei a conhecer. Saiu da Alemanha e foi parar na cidade portuária de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde trabalhou por pouco tempo na litografia de um alemão.

Do Rio Grande do Sul veio a Curitiba devido o clima e aqui começou a trabalhar na Impressora Paranaense. Mas não era fácil trabalhar com ele. Era muito enérgico. Eu não me mexeria na mesa no começo; só depois é que ele conversava comigo. Os dois eram muito enérgicos. Um dia um aprendiz parou na minha mesa e começamos a falar de futebol: o Schroeder deu bronca na gente e disse para o aprendiz não parar mais na mesa. O Kirstein era um chefe geral, lidava mais com os operários, fazia orçamentos, e o Schroeder era desenhista, litógrafo, fazia croqui, cono o Doubek, dava as  ideias. No final conversamos e ele até me emprestava os livro que sempre recebia de um amigo da Alemanha. Ele era estudioso e ensinava tudo." 

Segundo este depoimento, Schroeder conhece na Impressora Paranaense o Rômulo Cesar Alves com o qual se associou e iniciou um novo empreendimento gráfico:  

“Ele sofreu muito na época da guerra pelo fato de ser alemão. Já estava trabalhando com o Alves e na janela da litografia estava escrito – Schroeder e Alves – com o nome alemão na frente. Um dia quando ele chegou no estabelecimento para trabalhar seu nome estava riscado. Isto foi no ano de 1914, logo depois do Brasil entrou em guerra. O Schroeder ficou magoado e nem entrou mais na litografia. Quanto ele saiu da Sociedade Metalgráfica a família também ficou magoada. Mas direito pois era muito novo e não acompanhei. Mas parece que tinha um contrato de dez anos que terminou e o pessoal da Sociedade não quis renovar. Ele saiu e logo depois morreu. Mas antes de sai já estava doente”. 

Leonardo explica o antigo processo de impressão: 

1- “O processo litográfico era complicado. Primeiro pegava-se uma pedra pequena que era toda desenha à mão. Depois a pedra era preparada, tirava-se a prova, e passava-se o desenho para a pedra grande, matriz, que ia para a máquina. Cada cor tinha que ser passa separadamente. Primeiro o amarelo, depois o vermelho, azul e o preto. O mais difícil de tudo, é que a impressão é direta e por isto os desenhos e os escritos tinham que ser feitos sempre ao contrário”. E depois, todo o material era importando. As pedras vinham da Alemanha, Itália e Bélgica. As pedras eram inglesas e alemãs, a tinha vinha da França. 

Entusiasta da litografia, “que é difícil, mas artística," Seo Leonardo fala que na sua fase mais remota, a litografia do Paraná esteve na mão desenhistas alemães. Era o Schroeder, o Kirstein, o Adolfo kloss, Alberto Thile, todos de origem germânica. Pois foi inclusive um alemão Alois Senefelder que inventou a litografia. Ele precisava marcar o número de peças de roupa que a mãe lavava, e começou a marcar numa pedra. Assim é que começou a litografia.”

Efetivamente, segundo o boletim de Belas Artes (Rio de Janeiro) em seu número especial de outubro/novembro de 1945, a arte litográfica foi inventada por Alois Senefelder, pobre músico de um teatro de Munique, compositor nas horas vagas. Para Imprimir suas obras faltavam-lhe recursos; lembrou-se então, de ser seu próprio editor, para tanto procurando um novo processo, fácil de executar sem o auxílio de oficinas complicadas. Depois de tentar a gravura em cobre, dispendiosa e lenta, lembrou-se de empregar pedras polidas. Suas tentativas andavam a meio quanto a sorte intercedeu, do seguinte modo: “Acabava eu de desbastar um bloco de pedra - conta Senefelder – quanto minha mãe veio perdir-me para anotar um rol de roupas. A lavanderia estava a espera, e para não retardá-la, lancei mão da tinta que ali estava, composta de cera, sabão e negro de fumo, anotando provisoriamente o rol num canto da placa de pedra que acabara de polir, pensando em copiá-la mais tarde, quando encontrasse papel. Quando tentei apagar o que ali escrevera, lembrei-me de tentar reproduzir aquele texto”. Estava descoberto o princípio da litografia. Senefelder, de inicio, pensava aplicar o sistema apenas à reprodução de músicas. Logo depois verificou que um grande campo se abria para reprodução de obras de arte. Patenteou seu método na Baviera em 1799 e em seguida em Londres. A nova invenção foi usada em Viena, Paris, Stutgart e na Itália, mas praticamente tentativas preliminares. A verdadeira solução do problema coube a dois franceses – Conde de Lateyrie e Eugelmann – que em 1812 e 1814 estiveram em Munique aperfeiçoando o processo. Compraram eles o direito de Senefelder, montando suas oficinas especiais, uma em Mulhose outra em Paris, em 1816”. 

Apesar de modesto, ocupando ainda hoje as mesmas dependências da época de sua criação, a Gráfica Born conserva grande parte do material que confeccionou. Seo Leonardo, uma do proprietários preocupou-se em guardar dois ou três rótulos de cada um que desenhou nestes vinte e oito anos de atividades.

A Gráfica Born conserva também considerável coleção de pedras litográficas, guardadas numa estante no estabelecimento, “ou porque foram bem feitos e podem ser usadas como modelos, ou porque ainda poderão ser usados”. Outro tanto de pedras está “encostada” no fundo do quintal e vem sendo vendido só para prova para o Trombine”.

Seo Leonardo conserva vários exemplares do jornal grego, decalcomanias que chegaram a confeccionar há vinte e cinco anos passados, diplomas e alguns trabalhos de sua autoria, da época em que era funcionário da Sociedade Metalgráfica. Seo Leonardo tinha ainda, exemplares do jornal alemão Koss Kompass e livros alemães sobre litografia, “que eu escondi para não ser queimado na época da guerra, e não consigo encontrar mais”. Seus instrumentos de trabalho como litógrafo – também estão guardados, “e eu ainda uso, de vez em quando”.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Evolução das artes gráficas em Curitiba - Parte 03

Evolução das artes gráficas em Curitiba. 

Autor: Roberson M. C. Nunes – Casa da Memória; Fundação Cultural de Curitiba. 1991.
Transcrito do datilografado por Alan Witikoski 

3. A consolidação da produção gráfica e o desenvolvimento da Litografia paranaense.

Em 1902, a Baronesa do Serro Azul vende a Impressora Paranaense para Francisco Folch, que de há muito exercia a sua direção técnica, que concentra-se nas atividades tipográficas e litográficas. A firma alcança a Medalha de Ouro na Exposição do Cinquentenário (1903), pelas litografias exibidas.

Efetivamente, é nas duas primeiras décadas do século que se multiplica o número de empresas gráficas especializadas, muitas das quais até hoje em franca atividade. Graças à adiantada estrutura técnico-industrial curitibana se pode produzir revistas satíricas “Olho da Rua” e “A Carga”, impressas em policromia e papel couchê. Em 1911 surge o “Paraná Moderno”, o primeiro a imprimir fotografia (clichê com retícula), dos irmãos Weszfog. “A Noite” e o “Commercio do Paraná” são os dois primeiros periódicos impressos em linotipo. 

Exemplo do perfeccionismo técnico e artístico de Folch é a revista “Paraná”, de Romário Martins, que se comparava às melhores revistas brasileiras da época. Em 1912, Folch fez fusão com a litografia de Max Schrappe, de Joinville, que possuía uma filial no Recreio Cruzeiro, no Batel, montada em 1910.

A Impressora Paranaense não poupou esforços nem recursos para manter-se na vanguarda do setor gráfico, acompanhado a evolução dos processo de impressão, como bem atestam alguns rótulos atribuídos ao litógrafo Raschendorf (1914-1917), bem como a implantação de moderna clicheria, em 1929. Neste mesmo ano, provavelmente, a sua equipe de desenhistas-litógrafos criou as figurinhas que embrulhavam as famosas Balas Zequinha, no formato 5x7, obedecendo às indicações dos donos da empresa que as fabricava., A Brandina, dos Irmãos Sobania. Os exemplos pioneirismo se repetem a cada novo passo, como ocorreu em 1936, com a implantação do sistema “Offset-tied”.

Em 1914 retorna ao Brasil o litógrafo alemão Germano Henrique Guilherme Kirstein, trazendo para Curitiba uma prensa de mão, com a qual, em 1917, fez as primeiras decalcomanias fabricadas no Brasil, experimentalmente, utilizando-se de laboratórios improvisados e maquinismos rudimentares, com a finalidade de serem utilizadas em copo, aplicadas a fogo, utilizando retrato do então Presidente Wenceslau Braz. 

O gravador alemão Alexandre Schroeder, que estabeleceu-se em Curitiba no início do século e trabalhou algum tempo na Impressora Paranaense, onde conheceu Rômulo Cesar Alves, que funcionava à rua São Francisco n.º 37 (hoje n.º 215), com a participação de outros sócios, o Barãozinho do Serro Azul (Ildefonso Serro Azul) e Evaldo Wendler. A regra da casa era o rigor quanto à perfeição do trabalho, procurando a melhor impressão. Não obstante, a permanência de Schroeder nessa firma foi bastante curta, motivada pelo preconceito quanto à sua origem germânica. A Litografia Progresso teve sua atuação intensa na vida curitibana, sobretudo no período entre guerras, criando etiquetas e rótulos, a bem dizer, para todas as indústrias e casas comerciais da cidade; nesse período a cidade se torna centro universitário, a economia paranaense se tonifica e o pinho vai substituindo o mate como eixo industrial.

Em 1920 Schroeder associou-se a Kirstein, fundando a Litografia “Schoroeder e Kisrtein”, à rua Assunguy (atual Mateus Leme), números 57 e 59; essa associação seria de grande importância para o desenvolvimento da nossa indústria gráfica, pois ambos tinham, desde o início, o propósito de intensificar os ensaios para a produção das decalcomanias, chegando inclusive a fazer a primeira experiência de decalcomania em louça. Esse esforço pioneiro interessou o industrial Francisco Fido Fontana que, com os dois especialistas alemães e outros empresários locais, formaram a Sociedade Metalgráfica Limitada, visando “Indústria e comércio de estamparia, litografia, tipografia fabricação de latas e outros”, que entrou em operação a 15 de agosto de 1954, instalada num sobrado da atual Avenida João Gualberto, n.º 9.

Na qualidade de desenhista chefe da Metalgráfica, Schroeder executada trabalhos de alto nível artístico, marcadas pelo bom gosto na escolha das cores e pela execução limpa e meticulosa. Com o seu falecimento, ocorrido em 1934, assumiu o seu posto Rodolpho Doubek: “fazíamos na Sociedade coisas que só mais tarde foram feitas em outras litografias. Um exemplo eram os cartazes em relevo”. Na composição dos textos dos cartazes litográficos emerge toda uma sociedade, com suas crenças, valores e mesmo problemas, impregnados em casa uma das palavras do velho apelo ao consumo. A perda do reinado da litografia como soberana absoluta em processos de impressão nunca foi admitida como lógica por Doubek, apesar de alguns estabelecimentos em Curitiba só terem abandonado a litografia por volta de 1955/1958 (nota: existem informações que pode ter sido posterior, e como meio de reprodução artística se mantém).

A litografia conviveu lado a lado com todo o florescimento e apogeu do mate, que inclusive condicionava a sua atividade.  Para promover as diversas marcas de mate, produziu-se o mais variado material, desde rótulos de barricas até papéis de carta, cartões-postais, folhetos, marcadores de livros ou mesmo cupons e vales-brinde.

Os demais clientes das litografias eram principalmente fabricantes de doces, bolachas, produtos alimentícios e bebidas, estas com os rótulos mais cuidados e sofisticados (vinhos, runs, uísques, vermute, gengibirra, gasosas, guaraná, capilé, etc.), além de cigarros, charutos e produtos de perfumaria. Em Curitiba havia também algumas cervejarias e fábricas de “phosporos”, que não puderam sobreviver muito tempo à concorrência das filiais das grandes empresas, e assim se foi também a litografia, atropelada pelo Offset

Durante toda uma certa época, os rótulos e embalagens desses produtos industrializados de grande consumo se constituíram num importante meio de comunicação popular, através de seus desenhos, a população tomava conhecimento dos modismos em voga e participava de uma visão do mundo, realista ou onírica, cuja repetição constante, durante anos, criava uma nova imagem mental, constituindo um dado referencial compartilhado com outras pessoas. 

Posteriormente, a Sociedade Metalgráfica limitou-se a produzir exclusivamente decalcomanias, sendo incorporada às Fábricas Fontana, que transformaram-se na mais importante organização do gênero em todo país.

terça-feira, 12 de março de 2013

Artigo sobre a Litografia Paranaense: Jornal da Tarde 1976

Digitalização do artigo do Jornal da Tarde, publicada em 20 de julho de 1976. Transcrito do original por Alan Witikoski para aplicação em pesquisa acadêmica. Todo o crédito, assim como a escrita original, está mantida. O autor não está indicado no artigo.

Está matéria inicia uma série de três, com os resultados de uma pesquisa realizada em torno dos cartões postais que circulavam ou foram impressos em Curitiba no inicio do século, mostrando vários aspectos do passado. Desde os rudimentos de nossa publicidade, alguns humoristas e suas caricaturas, até os tiques sociais tradicionais, presentes em piqueniques onde as moçoilas sempre de vestido branco e comprido, chapéu, ou as festas escolares de fim de ano, professores encharpelados, alunos de calças e suspensórios. E mostra, também o inicio das artes gráficas em Curitiba, e o que era possível fazer, com os recursos disponíveis na época. Época em que a impressão era feita através de pesadas pedras calcáreas importadas.

[Primeira Chamada] O passado Ilustrado – I

[Segunda Chamada] Da prensa manual, às gravações e relevo.

Mais que uma forma de servir como instrumento para troca de correspondência, os cartões postais, no inicio do século, eles próprios, tinham suas mensagens a passar, extrapolando as imagens atuais, restritos hoje quase que exclusivamente a paisagens, e quando muito animais ou temas folclóricos. As temáticas dos velhos cartões postais uma série de colocações tanto na cultura, como das preocupações, e dos valores estéticos da época.
Na exposição, segunda Semana do Colecionado - Memória Visual que abre as 20h30min desta sexta-feira, na Casa Romário Martins. Poderão ser analisados cartões postais humorísticos, de publicidade, ou litografados com detalhes em seda, documentando paisagens urbanas, misses do passado, o folclore alemão, a moda feminina e masculina das décadas de vinte e trinta, e entre outras coisas, elencos de companhias teatrais, de ópera e circos que se apresentaram em Curitiba no inicio do século. Entre os cartões mais diferentes dos atuais, aquele, alusivo a um crime cometido por uma moça alemã em 1907, que vem ilustrado com a fotografia da própria e a legenda: “A Filha do prefeito de Beier a qual assassinou o seu noivo, engenheiro-chefe Pressler, no dia 14 de maio de 1907, foi executada à tiros a 23 de julho às 06:30 horas da manhã em Freiburg.”

Influência Alemã

Nesta exposição serão mostrados os 114 painéis contendo cada um, entre oito e onze postais, reunidos em acervos de quatro famílias: Bassler, Doubek, Raschndorfer e Stenzel – pelo litografo, desenhista e colecionador Rodolfo Doubek, que além de colecionador, trabalhou com postais indiretamente, fazendo e desenhando as legendas para aqueles com paisagens do interior e o litoral do Paraná e Santa Catarina, fotografado por Arthur Wischral, a partir da década de vinte. Doubek é descendente de alemães, assim como o são as quatro famílias em cujos “porões” andou pesquisando e procurando material, fato que não pode ser colocado como uma simples coincidência. Na verdade, tanto os postais estrangeiros que circularam em Curitiba no inicio do século, como aqueles que eram feito aqui mesmo, trazem uma forte influencia alemã. Por várias razões.
A primeira delas diz respeito as artes gráficas, e ao próprio processo de impressão em utilização nesta época, a litografia, que surgiu na Alemanha e naquele mesmo país teve seu maior desenvolvimento inicial. Tanto assim que ao ser introduzida no Brasil, era comum que nossas primeiras empresas gráficas mandassem buscar técnicos no exterior: Espanha, Itália, Suíça, mas especialmente na Alemanha. A própria Impressora Paranaense, nossa gráfica antiga de maior tradição, costumava, inclusive a mandar seus técnicos estrangeiros para sistemáticos cursos e estágios de atualização em uma importante escola de Ley Pazag naquele país.
Lógico, portanto que importássemos maior quantidade deste material da Alemanha, do que de outros países mesmo costumavam importar também de lá os cartões postais.
Outro fator que se relaciona intimamente com este é o que diz respeito a própria presença alemã no Paraná também desde o início deste século e final do século passado. Quando em 1862 se iniciava e posteriormente se intensificava a imigração teuta. Curitiba sempre ficou entre as cidades paranaenses escolhidas para fixação de residência de muitos alemães, cuja presença se fez notar, em curto espaço de tempo, no vários ramos de atividade da cidade, incluindo-se a indústria, o comércio, as instituições culturais e esportivas. Um exemplo pode ser tomado do próprio nome de estabelecimentos tradicionais “Painos Essenfelder”, “Fábrica de Balas, Doces e Bolachas Lucinda” (que já foi também confeitaria tradicional no centro da cidade e destilaria que produzia inclusive “Whisky”), “Müller e irmãos”, “Impressora Paranaense” (gráfica das mais antigas, que já no início do século fazia impressões para todos o país, e rodou o jornal Dezenove de Dezembro, o primeiro da imprensa paranaense), “Decalcomanias Fontanta”, ou “Sociedade Metalgráfica” (na qual trabalhavam dois alemães Schroeder e Kirstein, pioneiros da litografia no Paraná e introdutores da decalcomania no Brasil), antiga “Cervejaria Providência” (de Luiz Leitner, que produziu a primeira cerveja de baixa fermentação no parque Batel). Também a antiga “Sociedade Beneficente Rio Branco”, o “Clube Concórdia”, a “Sociedade de Educação Física Duque de Caxias”, “Sociedade Beneficente Cabral”, “Graciosa Country Club”, “Sociedade Thalia” são entidades sociais-esportivas fundadas pelos alemães, além do “Coritiba Futeboll Club” que é de origem alemã “coxa branca” alemã.

Artes Gráficas

Este presença se fez notar em outros tantos estabelecimentos não mencionados, como a antiga e extinta há pouco tempo Casa Crystal de Lourival Wemdrel, e entre outras atividades, no próprio ensino, com a criação de colégios como o Bom Jesus e Divina Providência, e no pioneirismo de criação de um rudimentar primeiro Corpo de Bombeiros que atendia a colônia, antes da cidade ter sua própria corporação. Esta influência estendeu-se como não podia deixar de ser ao campo da fotografia, tão intimamente ligada as artes gráficas. Assim, entre os estabelecimentos primeiros na cidade, os estúdios mais importantes e com propriedade de Volk, Fleury, Weiss, (que funciona até hoje na rua Marechal Deodoro, sob o nome pitoresco de Studio Moderno), e Heissler, que dominaram em fotografia até as primeiras décadas deste século. As papelarias não fugiram a esta regra: Mas Roesner, João Haupt, a recém extinta Cesar Schalz. Destas papelarias, as importações de artigos estrangeiros (numa época em que quase tudo o que consumíamos era importado) eram efetuadas, de preferência e em maior no país de origem dos seus proprietários, isto é, na Alemanha. Assim, no que concerna à cartões postais, estes, em sua maioria provinham mesmo da Alemanha. E, como as papelarias de alemães eram preferidas pela colônia alemã estabelecida em Curitiba, os cartões eram adquiridos e utilizados como sistemático hábito social. Na cidade e no Estado.
A vanguarda dos alemães em artes gráficas e especialmente em fotografia pode ser observada nos riquíssimos detalhes que envolviam a execução de um simples cartão postal. Entre aqueles que serão mostrados pela Casa Romário Martins, muitos com detalhes em seda, purpurina, em alto relevo, verdadeiros trabalhos artísticos e admiráveis se levar em conta principalmente na litografia, todas as provas e mesmo a matriz de impressão precisava ser desenhada em pedra. Mas pedra calcárea (que também era importada) pesadíssima, difícil inclusive de ser removida de uma prancheta a outra, que exigia para isso, um suporte especial, na base da alavanca. Se um cartão era feito em quatro, cinco ou seis cores (e eles eram bastante comuns), cada cor exigia uma prova separada; quer dizer, eram necessárias então, seis ou sete pedras calcáreas. Os cartões com detalhes em dourado (purpurina, ou como era mais conhecido o material “ouro em pó”), ocorria nas gráficas em verdadeiro carnaval: bem no início de utilização do material, não haviam máquinas específicas para a sua aplicação que ocorria manualmente, na seguinte situação: abria-se uma mesa no quintal da gráfica, e os funcionários iam colocando o pó para aderir a uma cola já aplicada dourada. Acontece que o pó se espalhava pelo ar, e bronzeava a mesa, e os próprios funcionários ...

A difícil Impressão

Na verdade o processo de impressão sofreu uma evolução muito grande neste século, acompanhada por alguns estabelecimentos gráficos da cidade, As máquinas iniciais, conhecidas com máquina de Gutemberg eram utilizados tipos móveis e no caso da litografia nossos estabelecimentos primeiros usavam a pedra, devidamente preparada, onde se passava o rolo de tinta e um pano molhado em água, à mão ...
Depois a prensa era girada, de maneira a produzir pressão sobre o papel colocado sobre a placa, de modo que a tinta passasse da placa para o papel. Este foi o começo, e pode-se dizer, num processo semi-mecanizado, com as tais “prensa de transporte”. Somente por volta de 1907 ou 1908 talvez pouco antes, sobreveio a grande invenção e grande aperfeiçoamento das máquinas chamadas “litográficas rápidas”. Estas eram movidas a motor, e já não havia mais a necessidade de se passar um pano úmido nas pedras. A máquina, correndo automaticamente, no vai e vem, passava ela própria pelo rolo de tinta e pelo rolo de água. Pelo processo de cilindro que corria sobre a pedra, a folha era levada automaticamente, só que ainda margeada a mão.  Só bem mais tarde é que se desenvolveu nos Estados Unidos, o sistema de impressão offset que veio substituir com vantagens as máquinas rápidas. Foi aí o início da impressão indireta, processo considerado moderno até hoje, com gradativas evoluções.
O trabalho e os resultados alcançados pela litografia realçam ainda mais, quando se leva em conta, o número infinito de problemas que precisavam ser enfrentados pelos técnicos da época. A começar pelos resíduos de areia, presentes no papel utilizando para a impressão. Segundo Oscar Scharpp, da Impressora Paranaense, o problema provinha da capacidade do papel ser uma consequência de mistura do caulim dentro de uma massa. “O caulim puro não contem areia, mas o cailum utilizado nas fábricas de papel continha e areia suficiente para inclusive estragar as chapas de impressão. Um grão de areia puxado sobre a pedra deixava um sulco profundo que por sua vez armazenava tinta, e qualquer risco passava então a compor também a impressão como um detalhe adicional inesperado. Toda a sujeira aparecia na hora da impressão, era uma coisa tremenda que só foi superada com o tempo.”

A Lenta Evolução

Este aspecto, especifico em relação a evolução das artes gráficas, é um dos atrativos da exposição, segunda Semana do Colecionador Memória Visual. Ela permita toda uma avaliação dos recursos disponíveis da época e dos resultados alcançados com eles, e a evolução do próprio formato do cartão postal, inicialmente indeciso, as vezes em forma de algum objeto especifico – como um pandeiro – outros ainda menores que os atuais, e outros, com a ilustração ovalada, tendo o cartão retangular como moldura. Outro aspecto que sobressai ainda na exposição é o próprio hábito de se colecionar cartões postais, que se restringem ao passado. É lógico que eles continuam a ser fabricados, vendidos, guardados e consumidos. Mas não como antigamente. Talvez hoje muitos viajantes prefiram mesmo utilizar o DDD, o telegrama, o telex. Ou talvez ainda, por que os cartões atuais “não digam mais como diziam antes”, o que pode causar graves exclamações de algumas pessoas idosas, do tipo “já não se fazem mais cartões postais como antigamente”.
na verdade, em épocas passadas, os cartões funcionaram , quem sabe, como os almanaques, e as atuais revistas de curiosidades humorísticas e de fofocas, pois além da ilustração carregavam toda uma mensagem. Fosse referente a concluso de Miss Universo realizado no Brasil, e que se acontecesse hoje seria documentado pelas revistas Manchete, Ou fatos e Fotos, ou o crime da filha do prefeito de uma cidade alemã que de também se ocorresse hoje, seria Manchete no jornal O Globo, daria uma ponta em Fantástico, e receberia mil crônicas, talvez uma série de reportagens, do cronista, Carlos Heitor Cony. E os cartões postais humorísticos, quem sabe, substituíssem no inicio do século, as revistas de crítica e humor, como mais tarde aconteceram em Curitiba, com o nome de Bomba, ou Olho da Rua, e tanta outras. E serviram, sem sombra de dúvidas, para que a colônia alemã estabelecida no Paraná cultivasse seus valores culturais, as tradições de sua terra natal, e o folclore e paisagem, naqueles cartões repletos de trevos, porcos como símbolo de sorte, miosótis, árvores natalinas cobertas de neve, Papais Noéis avermelhados, castelo, igrejas velhíssimas, duendes e anões. E a Alemanha, sob todos os ângulos e aspectos: desde a reprodução de seus quadros famosos, até a documentação de seus crimes “bombásticos” como aquele da filha do prefeito. E até, e porque não, cartão postal contendo o menu de um navio de terceira classe do Loyd Alemão, oferecendo para o jantar, entre outras coisas, batata cozida,  ou ainda os cartões postais feitos aqui especialmente para serem vendidos e com seus recursos auxiliarem os órfãos e viúvas da guerra. 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Textos da exposição sobre a litografia paranaense em 1975

Material retirado da Casa da Memória (FCC) sobre a exposição ocorrida em 29 de outubro de 1975, que produziu diversos materiais sobre o tema. Digitalizado por Alan Witikoski do datilografado. Infelizmente o original não possui nota sobre o autor do texto, se alguém comprovar o autor, ele será devidamente referenciado.
 
A exposição, “Rótulos e Embalagens Antigos ─ Litografia” é o resultado de um trabalho intensivo de coleta de material gráfico confeccionado em Curitiba pelo processo de impressão litográfico que antecedeu ao processo de impressão Offset. Para obtenção do referido material a Casa Romário Martins fez cerca de oitenta contatos entre industriais, descendentes e proprietários de antigas litografias de Curitiba.
Como resultado, mostraremos ao público, à partir de 29 de outubro:
Pedras litográficas confeccionadas em quatro estabelecimentos gráficos;
- Rótulos e embalagens confeccionados por cinco estabelecimentos;
- Coleção de duzentos rótulos confeccionados na Impressora Paranaense no período de 1914  a 1916;
- Coleção de rótulos e embalagens confeccionados pelo litógrafo Rodolfo Doubek no período entre 1929 a 1938, na Sociedade Metalgráfica;
- Coleção de caixas de fósforo mostrando a evolução da apresentação do produto;
- Coleção de embalagens de remédios manipulados desde o inicio do século;
- Coleção de cartazes publicitários confeccionados em três estabelecimentos gráficos;
- Álbum de rótulos de cervejas antigas de todo Brasil;
A exposição mostrará ainda:
- Painel fotográfico mostrando estabelecimentos gráficos antigos, o ambiente de trabalho de uma litografia, máquinas e litógrafos;
- Painel de documentos fotocopiados recortes de jornal referentes a litógrafos, litografias e sobre a introdução da decalcomania no Paraná;
- Painel especifico sobre a propaganda do Mate;

Todo o material será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos tomados pela Casa Romário Marins entre litógrafos e pessoas ligadas a litografia e que estarão a disposição do público para consultas. Durante a abertura será lançado o boletim, “Schroeder e Kirstein”, nome de dois alemão que segundo os depoimentos caracterizaram-se como verdadeiros pioneiros da indústria gráfica no Paraná e responsáveis pela introdução da decalcomania no Paraná e no Brasil.
Rótulos de barricas de mate, o nostálgico leque de compensado de velhos carnavais, e a bolota da Cervejaria Atlânctica, relíquia do folclórico Bar Okay, relembrando rodas de boemia, são algumas das peças que comporão a exposição, Rótulos e Embalagens Antigo ─ Litografia, que a Casa Romário Martins inaugura no próximo dia 29 de outubro.
E se a nota pitoresca será dada pelos rótulos de Cachaça com seus nomes bizarros: Nº 1, Só-Só, Arrasta pé, Três Tombos, Com esta que eu vou, a embalagem da pasta dentifrícia e os rótulos das cervejas Pomba, Providência e Cruzeiro farão lembrar uma época em que Curitiba tinha pelo menos dez cervejarias, além de centenas de outras pequenas indústrias.

Rótulos e Cartazes
Além de cerva de quatrocentos rótulos e embalagens, de variadas procedências, a Casa Romário Martins estará mostrando velhas latas floridas de biscoito que durante muito tempo serviram de “cestinho de bordado” para as vovós, uma coleção de caixas de fósforo desde o inicio do século, e as simpáticas garrafinhas de folha, brinde de uma cervejaria: elas eram rodadas nas mesas de bar, e quando paravam, apontavam o felizardo que teria que pagar ...
A exposição mostrará, também, o tempo que as firmas davam como brindes miniaturas de bebidas, canetas de pena, e o tempo em que o mate era exportado em barricas artesanais, hoje substituídas por sacos de plásticos. Não faltarão os cartazes de publicidade anunciando cervejas com apelos suis generis de, “auxilio a nossa agricultura”, ou o cartaz da Confederação dos Tingus.

Pedras e Fotografias

Pedras litográficas desenhadas em vários estabelecimentos gráficos darão ao público uma ideia do processo de impressão que antecedeu o Offset, quando o desenho de um rótulos precisava ser feito diretamente na pedra calcária, duríssima, importada e difícil de trabalhar. As possibilidades de correção eram mínimas e as palavras precisavam ser escritas da direita para esquerda.  Painéis fotográficos completarão a visão do processo litográfico, que será explicado através de legendas retiradas de doze depoimentos gravados pela casa Romário Martins com ex-litógrafos, descendentes e proprietários de antigas litografias.
Oscar Schrappe, da Impressora Paranaense, conta, entre outras coisas, como a Questão do Contestado influiu nos negócios da empresa; Rodolfo Doubek explica que no tempo da litografia não havia agência de publicidade e era o próprio litógrafo quem criava rótulos e embalagens, “colocando inclusive o dístico”, e Otto Schnneck fala no salário de aprendiz de litógrafo: “dava para comprar dois pares de sapato, e conta, também que uma das funções do aprendiz era procurar modelos para rótulos em revistas estrangeiras: “o trabalho não era copiado, mas tirava-se uma ideia”.

Decalcomania e Boletim

O depoimento de Miguel Raicosky, proprietário da Impressora Pontagrossense, hoje Cartográfica Industrial conta que apesar de ter oficina em Ponta Grossa dependia dos litógrafos curitibanos que faziam aqui o croqui de seus rótulos, trabalhando como “freelancer”, e Otto Stutz relembra que o litógrafo precisava fazer reduções à mão livre, de até vinte vezes porque era moda mostrar nos rótulos, a fachada de complexos industriais. A maioria destes depoimentos faz referências ao nome de dois alemães, Schroeder e Kirstein, apontados como pioneiros na litografia em Curitiba, e são notícias extraídas destes depoimentos que compõe o boletim que a Casa Romário Martins estará lançando no dia 29, sob o título “Schroeder e Kirstein”. Alexandre Schroeder nasceu na Alemanha onde aprendeu o ofício de litógrafo e veio ao Brasil no inicio do século. Estabeleceu-se em Curitiba e participou na criação de três estabelecimentos gráficos: Litografia Progresso, Sociedade Metalgráfica e Schroeder e Kirstein, este último juntamente com outro técnico, onde foram produzidas em escala industrial as primeiras decalcomanias do Brasil.

Nota:Acredito que existe uma falha cronológica no texto, Schroeder, de acordo com relatos, trabalhou na Impressora Paranaense, ainda na época de Jesuíno Lopes, onde conheceu Rômulo Cesar Alves. Com a compra por parte da familía Schrappe (de Santa Catarina) pediram demissão e fundaram a Litografia Progresso.